Teonanacatl.org

Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

Cadastre-se para virar um membro da comunidade! Após seu cadastro, você poderá participar deste site adicionando seus próprios tópicos e postagens.

  • Por favor, leia com atenção as Regras e o Termo de Responsabilidade do Fórum. Ambos lhe ajudarão a entender o que esperamos em termos de conduta no Fórum e também o posicionamento legal do mesmo.

Vários tópicos de poesia e comentários reunidos

Coloco o chapéu dentro da minha cabeça..
ventos, vultos, vozes, verbos,


Mew!
Ficou muito boa sua poesia!
bem camuflada pra quem não conhece e bem direta para quem sabe do que ela fala.. rs
Parabens!
 
Última edição por um moderador:
Poesia: by um amigo meu , fernando:rolleyes:

come teu cogumelo
no coração do sagrado
fazendo sinais arcaicos
procura entre praias, montanhas
& mangues
a mutação das formas
sonha o mundo num só tempo
o cogumelo mostrará o caminho
só o predestinado fala
a luz lilás do cogumelo
levará ao rio das imagens
sombras dançam nesse Incêndio
 
O The Wall é indescritível, letras incríveis e, apesar de muitos discordarem, uma sonoridade belíssima! Diferente, comparada à sonoridade dos demais discos do Floyd, mas ainda assim muito bela!

Alguns poemas de André Onghero, um amigo aqui de SC.

02/10/2000
Tudo em paz
Todos tranqüilos com suas máscaras
E seguros
A verdade rasteja por canais subterrâneos

Tudo que se acreditava se mostrou falso
Todas as ilusões foram destruídas
Lhe mostraram a vida sem sentido
Talvez o colapso
Nada além dos sentidos
Mas destruíram seus sentidos
Funciona agora apenas como símbolo


20/04/2001
Sinto sua falta
Uma música lenta
Como a chuva calma no telhado
Sinto sua falta
Na luz amarela
No livro de poesia
Sinto sua falta
De olhos fechados
De olhos abertos
Sinto sua falta
Nas capas dos discos
Nas roupas penduradas
Sinto sua falta
Na cama
Embaixo das cobertas
Nem frio, nem calor
Apenas tua falta
Uma mão imaginária
Um corpo imaginário
Só tua falta
Da ponta dos cabelos
Até os dedos dos pés
E respiro diferente
Sinto cada parte
Ao mesmo tempo
Só ar, e tua falta
Me percorre
E sinto meu coração
Bombeando o sangue
Cheio do ar
E da tua falta

Não estou triste
Por sentir tua falta
Prefiro sentir do que não sentir
Deixar que os sentidos viajem
E procurem na memória
As sensações ainda vivas
E selvagens

É daqui que eu vejo
Essa tarde de chuva
Em que você está a quilômetros daqui
E nem sei fazendo o quê
E nem quero saber
Pois agora estou ocupado
Sentindo tua falta.


Escrever

A cada ano escrevo mais
Escrevo mais em minha vida
Escrever é falar com ninguém
Esperando ou pensando estar falando a todos
E para todos os tempos
Dialogando com os imortais
A pretensão e fascinação com o futuro
E a impossibilidade do presente
Mas escrever é eternizar o presente
É tentar dominar o impossível
E sempre adorei o impossível
É a realidade do momento
Que existe em minha cabeça
A partir
Apenas uma partida
E que não seja nunca um fim
Não é isso que eu quero
Geralmente não uso ponto final
Apenas um momento que se desvaira pelo tempo
Por um tempo sem tempo, um tempo fora do tempo
E faz tempo que sei que a maior eternidade é a do esquecimento
Mas isso não me perturba mais
Aprendo a ver a vida como caminho e não fim
Onde a alegria é dar cada passo sempre a caminho do próximo passo
Mas um de cada vez
Uma letra de cada vez
E estou a escrever e só queria dizer
Que escrevo mais a cada ano
E acho que é por que estou
Cada vez mais só


11/06/2001
Entre o Nada e Lugar Nenhum

Quando não me encontrei mais em mim mesmo
E nada ao redor me refletia
Abandonado pelo que me importava, me abandonei também
E apenas a liberdade me prendia
Fui com desespero e vontade
Por uma estrada desconhecida
Não levei nem meu corpo, pois minha mala já estava cheia
De sonhos, de lembranças, de vontade de viver
Cada passo, mesmo sem chão
Deixava pegadas em forma de frases
E nem sempre havia papel
Fui andando sem direção
E era um tempo de ausência
Calei-me para as pessoas
E comecei a falar com as coisas
O sol, as árvores, as nuvens, a terra, a água, os animais
E principalmente as lembranças

É uma estrada bonita e tranqüila
Mas depende da forma de ver
Por que aqui o bem e o mal estão juntos
E também os tempos, passado, presente e futuro
Acontecem ao mesmo tempo
Aqui você também não está separado do mundo
Aqui no nada, tudo faz parte de tudo
Pois é tudo um grande nada
É o palco de todas as possibilidades
Pois é tudo impossível
E vou andando sem pressa,
Acho que estou me aproximando
De lugar nenhum
Mas talvez ainda falte muito pra chegar lá
E esse caminho pode ser bem interessante!


22/06/2001
Cale minha boca com tua boca para que eu não precise mais falar
Me liberte do meu corpo mantendo-o junto ao teu
Sossega minha mente com o som da tua voz
Apenas o som, sem palavras
Não preciso mais pensar, apenas tocar tua pele
Deslizar para além da minha vida
Me liberte, me liberte de mim
Quero ser só amor


17/02/2002
O santuário

I
O fim de uma tarde de outono
Tem a mesma cor todos os anos
Quando o sol já se põe mais ao Norte
E sua luz doura os galhos dos pinheiros
Os mesmos pinheiros do ano todo
Hoje ganham um dourado em seu verde escuro
E no céu aquelas nuvens que um dia já olhei
Com os olhos cheios de lágrimas
Este é meu santuário
E aqui lembrarei de mim
A olhar e admirar cada pedaço
Deste pedaço de mundo

II
Olhando nessa direção
Estão os quadros que não pintei
Os versos, que sem papel, voaram
Para junto das aves
As lágrimas que o sol secou
As paixões que o sol levou
O amor que o sol iluminou


14/08/2002
Os dias voam e não sei o que pensar
O que nos espera o amanhã?
Depois de passado o amanhecer da vida
Não será fatigante o sol do alto dia?
Os dias são iguais, os anos mais curtos
Trabalhamos e acumulamos
E traçamos objetivos sem muito refletir
Já pouco paramos
Os amigos se vão, os sonhos se perdem
Os momentos alegres têm ar de nostalgia
Nos cabe relembrar o ontem
Que quando era hoje não nos satisfazia
Queríamos o amanhã
Agora queremos o ontem
Enquanto o hoje se vai
E a vida segue meio sem gosto
E a sensação de vazio nos encontra
Quando não estamos cansados demais
Pouco visitamos o templo sagrado do coração
Trocamos as idéias abstratas
Pelos problemas simples e imediatos
Nos tornamos adultos e quase iguais
Achamos que nossa incapacidade
De nos adaptarmos é um dom em potencial
Que nos torna pessoas especiais
Nos inspiramos nos relógios
Cresce a miopia e os cabelos brancos
O sol está alto no céu e nossas sombras pequenas


26/12/2004
Dança

Cada árvore balança
Da sua própria forma
Nas variações do vento

A dança que busca
A continuidade nas variações
E as variações na continuidade
Como a melodia no ritmo
Como o ritmo na melodia
O vento nas folhas
As ondas na água
O movimento
A volta, a mudança, a intensidade
A dança de Shiva destrói e recria o mundo
A dança da tribo em um ritual junto com os espíritos mantém a ordem cósmica
A vida é música e o silêncio existe mas não a ausência de som
Por toda parte existe o “OM”
E por todos os lados o mundo dança

Quem quiser pode perceber
Ou continuar imitando a máquina


29/01/2005
Palavras

Agora ando, mas arrastado
Caí na armadilha
Estou preso nas palavras
Elas prenderam minha mente
E formaram uma grade
Na qual meus desejos rugem como animais nas jaulas
As palavras, peguei-as emprestadas do povo
Aviões de papel para levar idéias

A verdade viva não pode ser falada
Talvez sentida, mas se pensarmos sobre ela
Já estamos a perseguindo com as algemas
Das palavras


06/10/2005
Na escuridão

Quando encontro comigo mesmo
Não consigo impedir as lágrimas
E me sinto imerso em um rio
A escuridão
Tão frágil quanto um bebê
Mas agora o útero é o concreto duro e frio
Somente a escuridão é abrigo
E o sonho, liberdade


02/03/2006
Se há no mundo alguma verdade
Ela escapa de minhas mãos
Evito pensamentos conclusivos
Penso o tempo em um conjunto maior
O tempo é tudo que estou procurando ter
Para poder ocupá-lo sem determiná-lo
Talvez seja o que se pode chamar de liberdade
Dentro das limitações
É o tempo o valor
Tempo para sonhar
Para olhar, lembrar, pensar
Ler, ouvir, sentir
Escrever, tocar, andar
Algumas coisas passam com o tempo
Algumas parecem ficar para sempre
As coisas acontecem sem que eu possa controlá-las
Houve enganos
Por isso não quero perder tempo
Tentando conclusões

Nem sempre ouço a música do mundo
Nem sempre quero ouvir
Muitas vezes não há nada que motive
A transformar em música o ar
Ou riscar folhas de papel
Me sinto por fora de tantos mundos
E às vezes sinto estar envelhecendo
Mas não quero concluir
Acho que não sei
Talvez tenha medo
De que a conclusão seja um fim


16/04/2006
Tarde de outono

Me ame suavemente numa tarde de outono
Em que o tempo parece não passar
Me permita sonhar com a vida que desejo
Mergulhe comigo em sonhos sem limites
Em que fecho meus olhos a deslizar
Por um mundo imaginário
Onde eu possa ser tão pequeno
Que escorregue pelos teus cabelos
E menor ainda, possa nadar em teus olhos
Tua pele percorrer como dunas de areia
E ser levado pelo vento de tua respiração

Tenho em mim a vontade
De estar em tudo e ser nada
Tenho em mim o desejo
Que hoje se volta à tua imagem
Que se conservou no fundo das retinas
Mas que mora também em lembranças
E dúvidas sobre o passado
Por isso deixo uma leve esperança
Que tenho medo de perder
Mas sei que a poesia está em mim
E na vontade de te querer

Me ame suavemente nesta tarde de outono
Mesmo que seja em febre
Mesmo que seja em sonho
Por mais que seja ilusão
Me abrace e me envolva
E alegre-me ao despertar
Silencie meu pensamento
Permita-me ver teu sorriso
E em tuas mãos dormir

Na verdade estou tão sozinho
E com medo de cada pôr do sol.


19/04/2006
Escrevia não apenas para fazer letras de música
Escrevia porque tinha em mim uma angústia
Que se expressava através das palavras
Manuscritas em rascunhos, a lápis no início
A música existia em mim há tempos, instintiva
E quando tive a oportunidade
De aprender as primeiras técnicas no violão
Rapidamente aliaram-se as palavras escritas
Com os ritmos que embalavam meu mundo mental
Nunca foram os ritmos que faziam dançar
Ou que animavam as festas populares
Até mesmo as canções do rádio
Me influenciaram por pouco tempo
Apeguei-me apenas às músicas que atribuí algum significado
Justamente por tornarem-se parte de meu mundo particular
Ao mesmo tempo a música era uma ponte
Entre esse meu mundo isolado e o mundo real
Ou a outros mundos sugeridos pelas composições
De artistas distantes no tempo e no espaço
Assim, a criação da minha identidade social na adolescência
Esteve relacionada à música
E até hoje é uma forma de segregação social ou delimitação de grupos
Os gostos musicais diferentes ou semelhantes
Ocasionam aproximação ou distanciamento entre pessoas
Determinam freqüência ou não a lugares
Neste sentido a música está bem mais presente
Ou exteriorizada do que a escrita, a poesia
Que é isolada, subterrânea
Também não é comum o hábito de leitura de poesia ou literatura
E por ser algo tão pessoal também não possibilita
Uma discussão menos aprofundada
Como ocorre com as generalidades da música
Como instrumentos, bandas e artistas
Há anos escrevo bem mais do que consigo compor
Talvez desde sempre
Mas nos últimos anos
A escrita vem superando enormemente a composição musical
Muitas vezes já pensei nisso
Talvez a ponte com o mundo exterior esteja cada vez menor.


13/05/2006
E se eu lhe perguntasse
O que é realmente importante para tua vida?
Será que você agiria diferente?
De tantas formas tentamos ocupar o tempo
Utilizar nossas habilidades
E aprender algo útil

Tantas pessoas passam a vida
A juntar títulos, posses e dinheiro
A buscar conforto e reconhecimento
Caçar troféus, realizar proezas
Conquistar a admiração
A segurança e a paz
Mas e se eu lhe perguntasse
Quem você realmente ama?
Será que estas coisas todas ainda seriam tão importantes?

Sinto grande dificuldade ao enfrentar as situações do mundo
Mas principalmente quando escapam ao meu poder de ação
E são tantas...

E tantas vezes não sei que fazer

Não seriam estes, elementos marcantes na vida moderna?


20/06/2006
Num mergulho entre uma e outra molécula de ar
Deslizando, esqueço o tempo
E faço uma trama com imagens esparsas

O beijo da semente na terra espalhando-se em raiz
O ar que entra em meus pulmões
E pelas veias espalha oxigênio
Se me perco nesse constante jogo
De viver e fazer viver
O beijo da morte é que encontro
E me torno semente na terra

Por instantes estive cego
Sentindo o mundo com a pele e ouvidos
Vi cores que não faziam parte do mundo exterior
E quando cheguei à brisa fria um grande olho apareceu
E lentamente meus olhos voltaram a captar o lado de fora
Com as cores habituais

Percebendo pequenas coisas
É possível o deslumbramento
Como a vibração da voz
A textura da pele
Os veios da madeira
A constituição das pedras
A sombra e a luz

Tantas vezes passamos pela vida
Sem muito perceber
Cumprindo os papéis esperados
Criando realidades artificiais
Se é possível conhecer a verdade
Isso é algo que não sei
Mas neste corpo que minha mente ocupa
Há um universo do qual faço parte
E não posso me considerar proprietário
Nem mesmo responsável
A mente costuma pensar que é ela quem domina
Que é minha identidade
Mas voltada sobre si mesma e sobre sua linguagem
Ela não consegue entender o que está além
E permanece o mistério


Escuridão

Posso acreditar no que vejo
Quando estou imerso na escuridão?
Posso guiar meus atos por um desejo
Que encontro em mim
Nos momentos entre o sonho e o despertar
Ou antes de adormecer?
Na luz do dia vejo as coisas que a luz me mostra
Me perco entre as formas e cores
E sinto as vibrações do som
São elas que me levam ao templo
Onde venero a imagem
Que a escuridão torna visível
Claras são as imagens
Compostas de sonhos voláteis
São teus olhos e teu sorriso
Sob luz amarela
De instantes congelados no tempo
Contemplação de um presente
Que não passou
Impresso na escuridão
De meus olhos fechados
Flores estrelares
Fogueiras planetárias
Lágrimas que acompanham
A viagem de volta

Com as mãos te toquei
Mas você não estava ali
Não me serve tua ausência
Nem uma realidade vazia
Assim fico dividido
Entre a luz e a escuridão
Na luz não te encontro
E teu olhar não me vê
No escuro encontro
A imagem que tenho de você
Inspirada na tua presença real
Pela qual tenho admiração e carinho
E compartilho meus desejos
Mas no mundo da luz
Chamado de realidade
Estamos distantes e separados
Não apenas por quilômetros
Mas pelo desconhecimento
Ainda falta nos conhecermos de verdade
Para saber o que é possível
Até lá apenas resta
A vida nesta caverna
Escura e fria solidão


18/09/2006
Tenho algumas peças que fiz
Com restos que encontrei
Desenhando flores com carvão

Paredes sujas e ruas desertas
Ouvem os ecos de meus passos
Rabiscos em papéis rasgados
Contam sobre o que passou

Como posso lhe dar um presente
Se carrego comigo o passado?
Então talvez possamos fazer uma troca
Se te der um pouquinho desse passado
Dessa arte feita dos restos
Será que você poderia me dar um pouquinho de futuro?


20/09/2006
Caminho sobre raios de luz
Navego em gotas de água

A queda é racionalmente certa
Seja bom, seja ruim
Que ao menos seja poético


18/10/2006
Passar horas em silêncio
Em frente a uma folha em branco
Rabiscando-a desajeitadamente
Para enchê-la de significados
Nesses momentos a respiração se altera
E me isolo do mundo
Tentando transformar um papel
Em uma expressão das idéias e sentimentos

Debruçado sobre um instrumento
Tentando sentir a vibração de cada nota
Procurando os acordes mais adequados
Para contar uma história
Nada se faz que já não tenha sido feito
Mas mesmo assim, tento fazer
Da canção uma expressão de algo próprio
Uma pulsação interior
Utilizando uma linguagem para permitir entender

A matéria dessa arte
Vibração e sentido
Símbolos e sinais
Que fazem o ar vibrar
Para encontrar sentidos atentos
Despertar lembranças
Libertar sentimentos

Sei que não é possível reproduzir o que sinto
Assim entrego ao mundo uma arte que poderá ter tantas outras interpretações
E que pra mim, conta sobre minha própria vida
Me ajudando a saber quem sou
E quem eu gostaria de ser


29/10/2006
Apresento ao dia uma nova canção
Que canto e toco para as flores do jardim
Para as árvores e pássaros
Uma nova canção em parceria com a rua vazia
Utilizando linguagens que atravessaram o oceano
A história que carrego comigo
É uma história de séculos de sonhos e desejos
De amores perfeitos e ideais
Incorporei uma herança da humanidade
Compartilhada por poetas suicidas, músicos depressivos e pintores de cavernas
Uma arte feita de desejo e desespero
A vontade de ser feliz
A dificuldade em conseguir
E a intensidade em sentir cada momento
O dia continua brilhando
Não importa o que eu pense
E em meu corpo percorrem ondas elétricas
Frio, calor, arrepio
O ar se torna denso
Os lábios trêmulos
Os olhos úmidos
E a cabeça insuportavelmente pesada
O dia continua ensolarado e os pássaros cantando
Deito a cabeça sobre meu braço
Hoje é apenas mais um domingo
Mas em meu peito sinto como se faltasse uma parte de mim
Sensação que só pára quando meu peito está junto ao teu


06/02/2007
Um amor imenso
Se revela diante do abismo
Olhos se fecham lentamente
Numa inundação de tremor
Um sentimento sublime
Se cristaliza em segundos iluminados
Em leveza gloriosa
Enquanto o coração pulsa tão forte
Pequeno demais para abrigar tanta vontade
O chão desaparece
E entre as nuvens flutuam passados e futuros
Promessas já tão voláteis que não servem para segurar
Nada mais sustenta
Mas a queda é tão lenta que parece não ter fim
São os tempos que se entrelaçam
E percorrem todo o corpo
Para explodir em gritos silenciosos e lágrimas de amor intenso
Já não há mais ninguém
Não se é mais ninguém
Sem nome, sem forma
Apenas o som da pulsação,
Apenas braços e pernas que tremem
Mãos que se fragmentam em átomos dispersos
Nem medo, nem culpa,
Nem ódio, nem dúvida,
O silêncio de faz completo
E toda imagem se dissolve em plena luz


20/02/2007
Passagem

Se os dias passam pesados
E lhe imprimem na pele histórias guiadas por sonhos
Que não previam as pedras nem a dor
Os dias mais felizes já passaram
E lhe tingiram a memória com cores iluminadas
Os dias árduos que estão por vir
Também podem passar bem mais rápido do que parece
Quando as coisas permanecem como sempre foram
Pode parecer ruim porque os desejos não se realizaram
Mas se continua a ser como é
Guardando ainda a capacidade de querer o melhor
Uma felicidade sincera
E a sensibilidade diante de cada instante da vida
Talvez exista um depois
Mas que talvez tenha que ser desconhecido
Ou então não prestaríamos atenção ao presente
E talvez exista apenas um presente
Que só conseguimos suportar
Cultivando um sonho para o futuro
Talvez seja este sonho que nos une
Ao redor de simples distrações
E conversas sem fim
Se for possível atravessar os desafios
Que seja com ternura
Se não for possível
Que se escreva poesia sobre pedras
Que se cante sobre morte
Que se mantenha os sentidos
Para sentir a vida que passa por nós


26/04/2007
Outra noite na caverna

Enrolado em peles
Perto do fogo
As chamas aquecem
E também distraem
Até o sono chegar
Faíscas se desprendem
Chamas dançam
Hipnotizando o olhar
Levando a mente para mundos distantes
E os sons da noite formam uma música estranha
Noite fria de outono
Caverna solitária
Lembranças dispersas

Apenas mais uma
Entre tantas noites
 
Tempo (Pink Floyd)

As horas passam marcando os momentos
Que se vão, que formam um dia monótono
Você desperdiça e perde as horas
De uma maneira descontrolada
Perambulando num pedaço de terra
Na sua cidade natal
Esperando alguém ou algo
Que venha mostrar-lhe o caminho

Cansado de deitar-se na luz do sol
De ficar em casa observando a chuva
Você é jovem e a vida é longa
Há tempo de viver o hoje
E depois, um dia você descobrirá
Que dez anos ficaram para trás
Ninguém te disse quando correr
Você perdeu o tiro de partida

E você corre e corre para alcançar o sol
Mas ele está indo embora no horizonte
E girando ao redor da Terra para se levantar
Atrás de você outra vez
O sol permanece, relativamente, o mesmo
Mas você está mais velho
Com o fôlego mais curto
E a cada dia mais próximo da morte

Cada ano está ficando mais curto
Nunca você parece ter tempo.
Planos que tampouco deram em nada
Ou em meia página de linhas rabiscadas
Insistindo num desespero quieto
É a maneira inglesa
O tempo se foi, a canção terminou
Pensei que tivesse algo mais a dizer
 
Time, sem dúvidas, é uma das melhores músicas do Pink Floyd!

Me arrepio todo no trecho:
Tired of lying in the sunshine
Staying home to watch the rain
You are young and life is long and
There is time to kill today
And then one day you find
ten years have got behind you
No one told you when to run,
you missed the starting gun
Tradução:
Cansado de deitar-se sob o sol
De ficar em casa observando a chuva
Você é jovem e a vida é longa
E hoje há tempo para matar
E então um dia você descobre
Que dez anos ficaram para trás
Ninguém te disse quando correr
Você perdeu o tiro de partida

Parece que toda a música se dobra nesse trecho...

A letra original de Time em inglês e uma tradução alternativa abaixo.. Boa postagem, Nômade!

Ticking away the moments
that make up a dull day
You fritter and waste the hours
in an off hand way
Kicking around on a piece of ground
in your home town
Waiting for someone
or something to show you the way

Tired of lying in the sunshine
Staying home to watch the rain
You are young and life is long and
There is time to kill today
And then one day you find
ten years have got behind you
No one told you when to run,
you missed the starting gun

And you run and you run
to catch up with the sun,
But it's sinking
And racing around to come up
behind you again
The sun is the same in the relative way,
but you're older
And shorter of breath and
one day closer to death

Every year is getting shorter,
never seem to find the time
Plans that either come to naught
Or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desperation
is the English way
The time is gone the song is over,
Thought I'd something more to say

Tempo

Como tique-taques, os momentos que
formam um dia monótono se vão
Você desperdiça e perde as horas
De uma maneira descontrolada

Perambulando por um pedaço de terra
De sua cidade natal
Esperando alguém ou algo
Que venha mostrar-lhe o caminho


Cansado de deitar-se sob o sol
De ficar em casa observando a chuva
Você é jovem e a vida é longa
E hoje há tempo para matar

E então um dia você descobre
Que dez anos ficaram para trás
Ninguém te disse quando correr
Você perdeu o tiro de partida

E você corre e corre
para alcançar o sol
Mas ele está afundando
E correndo em voltas para se levantar
atrás de você outra vez

O sol é, relativamente, o mesmo
Mas você está mais velho
Com o fôlego mais curto
E um dia mais perto da morte

Cada ano está ficando mais curto
Nunca parece encontrar tempo.
planos que deram ou em nada
Ou em meia página de linhas rabiscadas

Permanecer em desespero quieto, é o 'modo inglês'
O tempo se foi, a canção terminou
Pensei que tivesse algo mais a dizer
 
A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


Carlos Drummond de Andrade
 
caramba
até chorei lendo isso

é brilhante

to arrepiado hiahoaha
 
O miscelio quando nasce
se esparrama pelo bolo
Cogumelo quando cresce
Cria amor no coração!!!!!!!!!!!!

Paz e luz!!!!!!!!!!
 
TABACARIA (15-1-1928 )
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres

Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,

E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,

E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo

À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,

Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.

Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!

E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento

Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,

Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.

Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...

Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -

Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,

Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.

Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.

Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;

Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;

Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.


(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!

Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,

Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro

A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.


(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,

Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,

Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.

Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.

Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,

Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,

E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.


Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,

Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário

Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça

Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada

E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.

Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,

E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,

E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los

E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,

E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações

E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.

Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira

Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.

0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.

(0 Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.


In Pessoa, F. (1981): Obra Poética, Rio de Janeiro: Ed. Aguilar.
 
Deus inventou Fernando Pessoa (se for esse o nome dele realmente) para dar um bom suporte aos meninos que querem conquistar as meninas com lindos poemas :D
 
Lindo poema cloro, é tão relaxante ler poesia no horario de serviço, pena que meu patrão não ache o mesmo....rs!!!!!!!!!
 
"Aqui – já era noite... eu reclinei-me
Nas moles formas do virgíneo seio:
Aqui – sobre ela eu meditei amores
Em doce devaneio.

Aqui – inda era noite... eu tive uns sonhos
De monstruosa, de infernal luxúria:
Aqui – prostrei-me a lhe beijar os rastros
Em amorosa fúria.

...

Aqui – era manhã... via-a sentada
Sobre o sofá – voluptuosa um pouco:
Aqui – prostrei-me a lhe beijar os rastros
Alucinado e louco.

...

Aqui – oh quantas vezes! ... eu a tive
Unida a mim – a derreter-se em ais:
Aqui – ela ensinou-me a ter mais vida,
Sentir melhor e mais.

Aqui – oh quantas vezes!... eu a tive
Em acessos de amor desfalecida!
Lasciva e nua – a me exigir mais gostos
Por sobre mim caída!"

Junqueira Freire
 
Na ponta dos pés na ponta do pico com os braços abertos...

sentindo o vento passar por entre os dedos e os olhos fechados...

um agora cristalizado que parou em momento eterno...

e sinto a magnitude da existência diante de mim...

a sutileza de um universo pulsante de energia...

o ápice do sublime contentamento...

nada mais é preciso...

só para poucos...

!!!!....

[quem já 'sentiu' entende o que falo]
 
nossa mae que lugar!
 
epifania. É sempre bom ver que as coisas podem ser diferentes, basta...

E que bela frase de assinatura também. É o que eu sempre lembro a cada trip.


Ás vezes dá uma saudade,
Uma vontade de voltar
Eu não quero fugir
Eu gosto daqui
Mas gosto mais de lá.
 
Última edição por um moderador:
Back
Top