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Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

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Vários tópicos de poesia e comentários reunidos

Os cascalhos nos pés do viajante gargalhavam sob passos incertos e cambaleantes.

As suas pegadas eram apagadas pelo vento. Vento que era morno, vento que queria contar uma história mas como de passagem, não tinha tempo para tal.

A cor sépia da estrada traduzia visualmente o que o viajante sentia. Seu passado o prendia, seu futuro fazia caretas assustadoras, fazendo com que ele pensasse duas vezes antes de dar outro passo.

A vida não passava de um intervalo.

Um intervalo de tempo que se moldava a cada novo passo. A cada novo pensamento. A cada memória esmaecida.

by Rain
 
Obrigado

Aos que me dão lugar no bonde
e que conheço não sei de onde,
aos que me dizem terno adeus
sem que lhes saiba os nomes seus,
aos que me chamam de deputado
quando nem mesmo sou jurado,
aos que, de bons, se babam: mestre!
inda se escrevo o que não preste,
aos que me julgam primo-irmão
do rei da fava ou do Hindustão,
aos que me pensam milionário
se pego aumento de salário
- e aos que me negam cumprimento
sem o mais mínimo argumento,
aos que não sabem que eu existo,
até mesmo quando os assisto.
aos que me trancam sua cara
de carinho alérgica e avara,
aos que me tacham de ultrabeócia
a pretensão de vir da Escócia,
aos que vomitam (sic) meus poemas
nos mais simples vendo problemas,
aos que, sabendo-me mais pobre,
me negariam pano ou cobre

- eu agradeço humildemente
gesto assim vário e divergente,
graças ao qual, em dois minutos,
tal como o fumo dos charutos,
já subo aos céus, já volvo ao chão,
pois tudo e nada nada são.

Carlos Drummond de Andrade
 
A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

Manoel de Barros
 
saudades tua
há quanto tempo eu não te vejo
saudades do seu chapéu
seu gosto de infinito
seu azul que pinta o céu
eu quero que caia chuva
caia chuva sem para
criatura tão perfeita
sinto muito mais que prazer
em só te observar
há quanto tempo eu não te vejo
saudades do seu chapéu
seu gosto de infinito
seu cheiro de pão de mel


hehe ,é uma musica que fiz ,em rítimo de forro xD
 
Estar consciente do jogo cósmico é viver no mundo.
Mas não pertencer a ele. É ser simultaneamente nossa
pluridimensionalidade. É, lembrando Tagore, como o
ato de caminhar, onde o apego reside no contato do pé
quando toca a terra e o desapego no movimento do outro
pé quando se levanta.”
Gitanjali Dhingra de Guevara, Juego Cósmico
 
Somos animais enjaulados
esperando a próxima refeição
Alimento é apenas nutrição
que minh'alma rejeita
Pois tudo e' vivo
seja sangue ou seiva.
 
Forma e Sem Forma

Isso que vês, não é.
E, para o que é, não tenho palavras.
Até que o vejas, de que vale falar
O erudito derrama-se em falação,
E o ignorante cala-se pasmo.

Alguns visualizam a forma.
Outros meditam no sem-forma.
Mas o sábio o contempla além de ambos.
Sua beleza não se entrega aos olhos.
Sua harmonia não se dá aos ouvidos.
Kabir diz: Funde aspiração e desapego,

E não descerás outra vez ao país dos mortos

Fonte: Poema 49 - obra: Kabir, cem poemas, attar editorial
 
Jalaluddin Rumi - O despertar do verme


É assim que um ser humano pode mudar:

Há um verme viciado em comer folhas de uva.

De repente, ele acorda.
Chame isso de graça, o que quer que seja, algo o desperta e ele já não é mais um verme.

Ele é a vinha inteira e o pomar também, o fruto, os troncos, uma sabedoria e felicidade crescentes que não precisa mais
devorar.
 
[Entre o sono e o sonho]

Entre o sono e o sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho,
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.


Fernando Pessoa
 
Sofreste em excesso
por tua ignorância,
carregaste teus trapos
para um lado e para outro,
agora fica aqui.

Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.


Rumi

http://www.sertaodoperi.com.br/poesiasufi/poesia/rumi_colet.htm
 
A Borboleta Negra

Convido os loucos em suas ilhas
os eruditos de porta de bar
os músicos bêbados andarilhos
os místicos que dormem ao luar

Convido os escritores de calçada
os malucos de estrada
poetas malditos & buscadores perdidos

Convido-os, ó Nobres!

Para na fogueira queimar

E que nossas cinzas sejam terra
E nossa fumaça
ar
 
Crepúsculo

As sombras macias voluptuosas narcóticas,
O sol acaba de ir-se, a luz ansiosa dispersada
eu também terei partido em breve, estarei disperso
Uma névoa - nirvana - descanso e noite - ouvido.

Walt Whitman - Folhas de Relva
 
[Morri como mineral]

Morri como mineral,
e tornei-me planta.
Morri como planta,
e surgi como animal.
Morri como animal,
e sou humano...

Por que ter medo?
O que perdi ao morrer?

Mas de novo vou morrer como humano,
para voar com os anjos, abençoado.

E mesmo como anjo, terei de morrer.
Todos perecem, menos Deus...

Quando eu tiver sacrificado
a minha alma de anjo,
me tornarei
o que a mente sequer concebe!

Ah! Que eu não exista!
Pois a não-existência proclama,
como um órgão,
que para Ele voltaremos.


Jalal ud-Din Rumi (tradução de Jorge Pontual)
 
Em memória aos... Mortos?

Árvore

Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de
sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul.
E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só serve pra poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara,
envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros
E tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos.
Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore
porque fez amizade com muitas borboletas.

Manoel de Barros
 
Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Produndissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Augusto dos Anjos
 
kakatsumori
soro soro nobore
fuji no yama
"Issa sama"

NJ (nota do Jaba)* Caramujo, suba sem pressa. O Monte Fuji.
 
Belo tópico.

P'ssoa (s), Baudelaire, Donne, Drummond, Haroldo de Campos e seu irmão...Waly Salomão! Tantos outros...Como melhoraram esse nosso mundinho besta.

vou improvisar um aqui pq no fundo - no fundo - nem fotógrafo, nem desenhista, nem filósofo, nem artista...Eu sou mesmo é um poeta frustrado!

Poeminha singelo

Ainda mais belo;
que o vil metal amarelo
que o lustre do castelo
que o finale de Otelo
que a foice e o martelo
que o sermão do Pd. Marcelo
que o crawl do César Cielo
que o rabo da Sheila Melo...
Vocês sabem bem o que é.
Né?


Jahba dzi Hutz

:roflmao:



 
Muito bom Jahba! :D

Via Láctea
(Olavo Bilac)

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
 
Relaxando abaixo da Montanha Fria
As surpresas são bem especiais
Pegando uma cesta para juntar plantas selvagens
Trazendo-a de volta cheia de frutas
Espalhando capim fresco para uma refeição simples
Mordendo cogumelos mágicos
Lavando minha colher e tigela numa piscina
Fazendo um cozido de sobras
Sentando no sol enrolado num manto
Lendo os poemas dos antigos

Han Shan
 
Uma poesia minha, escrita por uma personagem minha, Zarité :)

- Me faça sentir

Transborde, me faça sentir
Desconstrua o tempo
De ponta cabeça o sol não se põe
A vida é um sonho de olhos abertos,
se continua a dormir.
Desconfia do sonho e o mundo se parte;
Já pode sair, pela porta da frente
da caverna do homem, sem grade, sem chaves.
Luz, abre o olho que já é de manhã,
Contrai e expande sem sair do lugar
No fim, se dissolva e sinta essa dor.
Passe a existir.
Silêncio.
Ouça o sentir
Desperte
Desperte
Desperte, o seu lugar nunca foi aqui.
 
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