Teonanacatl.org

Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

Cadastre-se para virar um membro da comunidade! Após seu cadastro, você poderá participar deste site adicionando seus próprios tópicos e postagens.

  • Por favor, leia com atenção as Regras e o Termo de Responsabilidade do Fórum. Ambos lhe ajudarão a entender o que esperamos em termos de conduta no Fórum e também o posicionamento legal do mesmo.

Budismo

Quando a prática real começa
Charlotte Joko Beck (EUA, 1917 ~ 2011):

[...] Os primeiros anos são mais difíceis que os posteriores. O mais difícil é o primeiro sesshin [retiro], os meses mais difíceis para sentar estão no primeiro ano, o segundo é mais fácil, e assim vai.

Mais tarde, pode surgir outra crise, talvez após cinco ou dez anos sentando [meditação], quando começamos a entender que não vamos obter nada com isso — absolutamente nada. O sonho acabou — o sonho da glória pessoal que achamos que iremos obter com a prática. O ego está se apagando; este pode ser um período duro e difícil.

Ao ensinar, vejo as agendas pessoais das pessoas se quebrando. Isso acontece na primeira parte da jornada. É realmente maravilhoso, embora seja a parte difícil. A prática se torna não-romântica: não soa como aquilo que lemos nos livros.

Então a prática real começa: momento a momento, apenas encarando o momento. Nossas mentes não mais ficam esperneando tanto; ela não nos domina mais. Começa a renúncia genuína de nossas agendas pessoais, embora mesmo assim possa ser interrompida por todo tipo de episódios difíceis. O caminho nunca é direto e suave. Na verdade, quanto mais pedras, melhor. O ego precisa de pedras para desafiá-lo.

“Nothing Special”, loc. 1363
SEGD_walking-670x300-85x85.jpg
 
Reconhecer o potencial inerente da mente




15 de setembro de 2013

Mingyur Rinpoche

Yongey Mingyur Rinpoche (Nepal, 1975 ~ ):

[...] A essência da prática budista não é tanto um esforço para mudar seus pensamentos ou comportamento para que possa se tornar uma pessoa melhor, mas sim em realizar que não importa o que você pense sobre as circunstâncias que definem sua vida, você já está bem, inteiro e completo.

Trata-se de reconhecer o potencial inerente de sua mente. Em outras palavras, o budismo não se preocupa muito com sentir-se bem, mas em reconhecer que você é — bem aqui e agora — tão completo, tão bom, que está tão essencialmente bem quanto jamais poderia ter a esperança de estar.

Você não acredita nisso, não?

É, por muito tempo, eu também não.

[...]

“Joy of Living”, loc. 222
mingyur-rinpoche-3-e1353339581586.jpeg
 
Consciente do sofrimento causado pela exploração, pela injustiça social, pelo roubo e pela opressão, eu me comprometo a cultivar a gentileza amorosa e a aprender maneiras de trabalhar pelo bem-estar das pessoas, animais, plantas e minerais. Ainda que tenhamos a maitri* como fonte de energia dentro de nós, precisamos aprender a olhar mais profundamente para encontrar formas de expressá-la. Fazemos isto enquanto indivíduos e aprendemos as formas de fazê-lo enquanto nação. Para promover o bem-estar das pessoas, animais, plantas e minerais, temos de nos unir em comunidade e examinar nossa situação, exercitando nossa inteligência e nossa capacidade de olhar profundamente, para poder descobrir formas apropriadas de expressar nossa maitri em meio a problemas reais.

* Gentileza amorosa, maitri em sânscrito, metta em páli, é a intenção e a capacidade de trazer alegria e felicidade a outra pessoa ou ser vivo.

- Thich Nhât Hanh - em 'Os Cinco Treinamentos Para A Mente Alerta' -
 
O trecho abaixo faz parte do artigo “Uma Visão Budista do Livre Arbítrio: Além do Determinismo e do Indeterminismo” (“A Buddhist View of Free Will: Beyond Determinism and Indeterminism.”, Journal of Consciousness Studies, 2011)

...

Tomando as palavras do Buda como parâmetro principal para interpretar a questão do livro arbítrio, Alan Wallace reúne algumas visões de psicólogos como William James e de cientistas como Stephen Hawking para comparar as abordagens, inclusive com algumas das mais contemporâneas conclusões sobre o tema, e, seguindo o venerado “caminho do meio“, equilibra a visão budista entre o determinismo das limitações humanas ordinárias e o estado para além das limitações, que faz parte da natureza humana mas permanece obscurecida — momentaneamente. Estando “além do intelecto e da lógica“, não pode, por sua vez, ser descrito por completo em um artigo (mas pode ser explicado até seu limite).

É um tema delicado e que toca em pontos profundos das crenças das pessoas e das abordagens das correntes filosóficas e científicas humanas, portanto, se beber não dirija. Talvez eu possa começar levantando algumas hipóteses para tentar “acender mais regiões” de nossos cérebros, como, por exemplo, e de que teríamos muito mais limitações e precondicionamentos que estamos dispostos a ver e aceitar (e que em uma dimensão continuarão sempre existindo, inevitavalmente), e simultaneamente também teríamos muito mais espaço para a liberdade e libertação do que sequer imaginamos que existe. Em qual nível da realidade manifestada essas duas dimensões convivem há um mistério. E/ou talvez seja um túnel de conhecimento onde só caiba um de cada vez (nós mesmos). De qualquer maneira, a própria criação do conceito de livre-arbítro pressupõe a existência de uma não-liberdade, em algum lugar, em alguma dimensão.

O artigo completo tem 15 páginas e a tradução abaixo dá conta de apenas uma, do subtítulo “O Ideal Budista de Liberdade” (The Buddhist Ideal of Freedom). A compreensão do contexto completo da argumentação de Alan Wallace é importante, mas o trecho selecionado abaixo é também compreensível sozinho. Se houver dúvida, então, é recomendável a leitura do artigo completo (em inglês). Se houver interesse, é possível traduzir mais trechos (neste caso, seria interessante saber por qual assunto teríamos mais necessidade de saber).

“À luz de uma definição moderna de liberdade como a capacidade de alcançar o que é de valor em uma gama de circunstâncias (Maxwell, 1984), a tradição budista claramente enfatiza que os seres sencientes ordinários não são inteiramente livres, porque estamos limitados por aflições mentais tais como o desejo, a hostilidade e a ilusão, que por sua vez nascem da nossa ignorância da verdadeira natureza da realidade; e, enquanto vivemos nossas vidas sobre o domínio dessas aflições, nos mantemos na prisão de seus resultantes sofrimentos. Mas o Buda trouxe uma hipótese verdadeiramente surpreendente, que o sofrimento e suas causas internas não são intrínsecas às mentes dos seres sencientes, pois em cada ser existe uma dimensão da consciência “brilhantemente luminosa” que, embora velada por contaminações passageiras, é em si mesma livre da ignorância e das aflições mentais, e que pode ser revelada pela prática espiritual.



Comentários do Budismo Theravada identificam essa mente radiante como a naturalmente pura “base do ser” (bhavanga), o estado relaxado da mente que não está incluído nos seis modos da consciência, que são os cinco sentidos físicos mais a consciência ordinária da mente. Esta dimensão da consciência se manifesta no estado de sono sem sonhos e na morte, e durante o estado de vigília a mente momentaneamente é revertida para ele entre períodos de engajamento com os objetos da cognição. Em circunsâncias normais, nós geralmente não temos reconhecimento claro desse estado básico relativo da consciência, mas pode ser vividamente experimentado com a conquista meditativa da atenção estável e altamente focada (samadhi), em que a atenção é retirada de todos os objetos, sensoriais e mentais. A base do “tornar-se” descrita no Budismo mais antigo tem uma semelhança forte com as descrições do substrato da consciência (alaya-vijñana) da tradição da Grande Perfeição do Budismo Tibetano.



Essa mente brilhantemente luminosa pode ser entendida alternativamente como o estado descondicionado da consciência que está presente depois que um arhat, aquele que atingiu o nirvana, morre, para nunca mais reencarnar. Tal consciência, que transcende os cinco agregados psicofísicos, é dita como sendo não-manifesta, eterna e não-condicionada. Como é não-nascida – nem criada por causas prévias – e não é a consciência de alguém ou de algo além do que ela mesma, deve estar presente em cada ser senciente antes da conquista do nirvana. Esta dimensão da consciência está além do alcance da mente conceitual, por isso sua possível influência nas mentes dos seres sencientes ordinários é inimaginável. Tal atenção primitiva e transcendente parece ser similar à natureza de Buda apresentada no Budismo Mahayana e à consciência primitiva (rg pa) ensinada na Grande Perfeição. Essa dimensão primordial da consciência é dita como sendo a fonte mais profunda de nossa busca por felicidade e libertação, eé conhecida como o último estágio da liberdade para todos os seres. Mas uma vez que sua natureza transcende o domínio da mente conceitual, da mente racional, não se sujeita à análise racional, e sua maneira de impactar a mente e o resto do mundo natural também está além da dimensão da filosofia. Pode ser conhecida diretamente através da atenção não-dual, mas não pode ser objeto do intelecto.



Uma compreensão Budista moderna do “livre arbítrio” não foca na questão se a vontade é condicionada por causas e condições prévias, mas na extensão em que nós temos liberdade para tomar decisões que são condutivas à nossa própria felicidade e à felicidade genuína dos outros. Tais escolhas são condicionadas, com certeza, somente por sabedoria e compaixão, ao invés de desejo, hostilidade e ilusão. Meditações praticadas com a mente ordinária são conduzidas para dentro do campo de interações causais, levando à liberdade cada vez maior para fazer escolhas sábias. Quando alguém se liberta da consciência ordinária em direção à atenção primordial, transcende a dimensão do intelecto e da causalidade, e é aqui que a liberdade verdadeira e primordial é descoberta. Isso não é algo que possa ser provado com a lógica, mas pode ser percebido através da experiência direta que nasce de uma prática de meditação rigorosa e regular. A tradição Budista concordaria com (William) James quando ele diz, “O pensamento lida somente com as superfícies. Pode nomear a grossura da realidade, mas não pode penetrá-la, e sua insuficiência aqui é essencial e permanente, não temporária”. (…)

~ Alan Wallace, ”Uma Visão Budista do Livre Arbítrio: Além do Determinismo e do Indeterminismo”

http://dharmalog.com/2013/09/11/vis...lem-determinismo-indeterminismo-alan-wallace/
 
Meditacão, coragem verdadeira e coração aberto: Lições do caminho do guerreiro de Chögyam Trungpa



“Quando acordamos nosso coração dessa maneira, para nossa surpresa, descobrimos que ele está vazio. Temos a impressão de estar olhando para o espaço sideral. O que somos nós? Quem somos nós? Onde está nosso coração? Se olharmos com atenção, nada veremos de tangível ou sólido. Claro, é possível encontrar algo muito sólido se tivermos rancor contra alguém ou se estivermos possessivamente apaixonados. Mas esse não é um coração desperto. Se procurarmos o coração desperto, se colocamos a mão no peito para senti-lo, nada encontramos – a não ser ternura. Sentimo-nos doloridos e ternos, e se abrirmos os olhos para o resto do mundo, reconheceremos em nós uma profunda tristeza. Esse tipo de tristeza não vem de termos sido maltratados. Não estamos tristes porque nos insultaram ou porque nos consideramos pobres. Essa experiência de tristeza é incondicionada. Ela se manifesta porque nosso coração está absolutamente exposto. Nenhuma pele ou tecido o recobre – é pura carne viva. Mesmo se um pequeno mosquito pousasse nele, nós nos sentiríamos profundamente tocados. Nossa experiência é crua, terna e absolutamente pessoal.

O autêntico coração da tristeza provém da sensação de que o nosso inexistente coração está cheio. Derramaríamos o sangue do nosso coração, daríamos nosso coração aos outros. Para o guerreiro, é a experiência do coração triste e terno que dá origem ao destemor. Convencionalmente “ser destemido” significa não ter medo ou, se alguém lhe der um soco, você revidar. Entretanto, não estamos falando do destemor desse nível das brigas de rua. O verdadeiro destemor é produto da ternura. Surge ao deixar o mundo tocar nosso coração, nosso belo e despido coração. Ao nos dispormos a nos abrir, sem resistência ou timidez, e a encarar o mundo. A nos dispor a compartilhar nosso coração com todos.”
~ Chögyam Trungpa Rinpoche, em “A Trilha Sagrada do Guerreiro” (Shambala)

Uma ilusão comum no caminho “espiritual” é achar que quanto mais evoluímos ou chegamos perto da verdade e da liberdade, mais estaríamos protegidos da tristeza, da violência ou das experiências negativas (por assim dizer). Mas o mestre budista Chögyam Trungpa Rinpoche (1939-1987), venerável destruidor de ilusões, conecta a conhecida virtude da coragem não à capacidade de revidar ou a qualquer outro sentido de “brigas de rua”, mas à capacidade de se abrir, de abrir o coração e viver com ele aberto, em “pura carne viva”. De certa maneira, seja como processo ou como resultado, muitas das meditações, terapias e educações profundas caminham na direção da aceitação da inevitável vulnerabilidade humana, e, também de uma maneira relativamente evidente, muitos de nossos problemas vem da evitação e do medo dessa abertura e do viver com o coração despido. O trecho acima é a tradução livre de um trecho do belo livro “A Trilha Sagrada do Guerreiro” (The Sacred Path of Warrior, 1984) , pág 32, capítulo 3, intitulado “O Genuíno Coração da Tristeza” (The Genuine Heart of Sadness).

A expressão “dessa maneira” contida na primeira frase do trecho se refere à prática da meditação, ao acordar do coração e à nudez dele quando se pratica a meditação. No coração desperto, segundo Chögyam, está a “bondade básica” do ser humano. Através da meditação, se desperta o coração.

...

http://dharmalog.com/2013/10/08/destemor-abrir-coracao-licao-coragem-guerreiro-mestre-budista-chogyam-trungpa/?utm_source=Assinantes do Dharmalog&utm_campaign=d48d42924a-RSS_EMAIL_CAMPAIGN&utm_medium=email&utm_term=0_eb93933aad-d48d42924a-296237857
abluejayblog.files.wordpress.com_2012_02_aa_trungpaphoto.jpg
 
Preparar terreno

Charlotte Joko Beck (EUA, 1917 ~ 2011):

Lutar com a realidade de nossas vidas faz parte da infindável preparação do solo. Às vezes preparamos bem algum pequeno pedaço de terra. Podemos ter pequenos insights, momentos que florescem. No entanto, ainda há acres de terra não preparada — então, continuamos indo, abrindo cada vez mais nossa vida.

Isso é tudo que realmente importa. A existência humana deveria ser como um voto, dedicado a desvelar o significado da vida. O significado da vida na verdade não é complicado; mas ele está oculto de nós devido ao modo como encaramos nossas dificuldades. É necessária a prática mais paciente para começarmos a ver através delas, para descobrir que as pedras pontiagudas são verdadeiras jóias.

Nada disso tem nenhuma relação com julgamento, com ser pessoas “boas” ou “más”. Apenas fazemos o melhor que podemos a qualquer momento; o que não vemos, não vemos.

Esse é o ponto da prática: alargar aquele pequeno furo que se abre às vezes, pelo qual podemos ver, para que ele fique maior e maior. Ninguém o vê o tempo todo. Eu certamente não vejo. Então, continuamos perfurando.

De certo modo, a prática é diversão: olhar minha própria vida e ser honesta sobre ela é divertido. É difícil, humilhante e desencorajador; ainda assim, por outro lado, é diversão — porque está viva. Ver a mim mesma e minha vida como realmente somos é alegria.

Depois de toda luta, fuga, negação e caminhar no sentido oposto, é uma profunda satisfação, por um segundo, estar lá com a vida como ela é. A satisfação é o próprio núcleo de nós mesmos. Quem somos está além de palavras — apenas aquele poder aberto de vida, manifestando-se constantemente em todos os tipos de coisas interessantes, mesmo em nossas angústias e lutas.

A disputa é ao mesmo tempo horrenda e benéfica. É isso que significa preparar o solo. Não temos que nos preocupar com os pequenos momentos ou aberturas que pipocam. Se tivermos solo fértil e bem-preparado, podemos jogar qualquer coisa lá que vai crescer.

“Nothing Special”, loc. 1634

http://darma.info/trechos/2013/10/preparar-terreno/
 
afc01.deviantart.net_fs25_i_2008_103_e_e_melros_ally_by_mearone.jpg
 
Verdadeira segurança

Tenzin Palmo (Inglaterra, 1943 ~):

[...] A verdadeira segurança só chega a partir do conforto com a insegurança. Se estamos confortáveis com o fluxo das coisas, se estamos confortáveis estando inseguros, então essa é a maior segurança, porque nada pode derrubar nosso equilíbrio. Enquanto tentamos solidificar, interromper o fluxo da água, criar uma barragem, manter as coisas do jeito que elas estão apenas porque isso nos faz sentir seguros e protegidos, então estamos em apuros. Essa atitude vai exatamente contra todo o fluxo da vida.

“Into the Heart of Life”, loc. 168

http://darma.info/trechos/2013/11/verdadeira-seguranca/
 
"Procurar por si mesmo, buscar pelo seu ser é estúpido. É uma doença e praticamente incurável.

Mas se por acaso você encontrar consigo e tornar-se 'iluminado', você pulou de uma doença para outra.

Sua 'iluminação' não é uma cura. Sua 'iluminação' agora é outra posse.

Agora você vai estar falando sobre isso. E isso não vai dar a você liberdade, mas novos grilhões - apenas mais brilhantes, mais bonitos, mais atualizados.

Uma pessoa 'iluminada' tem uma pequena chama. Mas se essa pequena chama a faz se sentir especial, maior e melhor do que outros, já se tornou um grilhão. Esta não é a grande e verdadeira iluminação. Esta é simplesmente mudar correntes de cor escura por correntes de cor clara . A grande iluminação é não ter quaisquer correntes, nenhum grilhão.

Então, finalmente, o iluminado, o desperto, o Buda, abandona sua budância, seu estado búdico também. Ele se torna absolutamente comum, cotidiano, um tipo simples. Em sua simplicidade ele irradia todo o cosmos. Em seu silêncio está contido todas as músicas, todos os arco-íris e todas as flores possíveis . Ele é o próprio universo, não há mais divisão.

Agora, ele não pode distinguir entre o ignorante e o iluminado. Para ele, agora, o universo inteiro nada mais é que uma imensa iluminação em que tudo se afogou. Maior dança não é possível."

Osho - O Milagre Capítulo 6 - As Gaiolas de Ouro
 

Anexos

  • universo_sintonia.jpg
    universo_sintonia.jpg
    44.6 KB · Visualizações: 7
5095497712_1f10215946_o.jpg
Templo Mahabodhi, Bodh Gaya, Índia

Hoje é o dia, no calendário gregoriano, que a iluminação do Buda é comemorado (Bodhi Day).

"Quando a minha mente dessa forma concentrada, purificada, luminosa, pura, imaculada, livre de defeitos, flexível, maleável, estável e atingindo a imperturbabilidade, eu a dirigi para o conhecimento do fim das impurezas mentais. Eu compreendi, como na verdade é que: ‘Isto é sofrimento … Esta é a origem do sofrimento … Esta é a cessação do sofrimento … Este é o caminho que conduz à cessação do sofrimento ... Estas são as impurezas ... Esta é a origem das impurezas .... Esta é a cessação das impurezas ... Este é o caminho que conduz à cessação das impurezas.’ Quando eu assim soube e vi, minha mente estava livre da impureza do desejo sensual, da impureza de ser/existir, da impureza da ignorância. Quando ela se libertou, surgiu o conhecimento, ‘Libertada.’ Eu compreendi que ‘O nascimento foi destruído, a vida santa foi vivida, o que devia ser feito foi feito, não há mais vir a ser a nenhum estado.’"

De Mahasaccaka Sutta: O Grande Discurso para Saccaka (MN 36)

785248825_3PrpR-M-1.jpg Bodh-Gaya-42-M.jpg Bodh Gaya (305)-M.jpg Bodh Gaya (357)-M.jpg
 
eu sei eu sei
mas todo mundo tem dentro de si uma faculdade completa de intelectualidade tao grande que explica tudo sobre o que a gente quer saber,
o acesso ta ai, ultimamente parei de ler tudo que é escrito com palavras de conforto e de auto estima, acho que isso apodrece o ser
continua somente na oralidade, mas mesmo assim retendo o minino da porcentagem maxima do minimo... todo o conhecimento esta dentro de nos, precisa ir procurar fora nao, eu penso assim, ja tem aqueles q nao, entao respeito vc e vc me respeita, ou discorda sei la, vc pensa o q quer, mas so sei que eh besteira se entregar para o intelectual construido fora de si...ele ja ta dentro desde tudo, isso tudo q eu leio as vezes aqui eh a sindrome do bolso cheio, cheio de conhecimento que nao é aproveitado e sim enchido...mesma coisa, o computador cheio de milhoes de musicas, mas so usa algumas dezenas, mas o querer te ter eh maior entao precisa buscar na inteligencia dos outros, mesmo q a tenha
 
Consumo e cobiça

17º Karmapa (Tibete, 1985 ~ ):

[...] Às vezes, somos como crianças; quando se trata de lidar com nossas próprias necessidades, com frequência não mostramos nenhum sinal de maturidade. Basta pensar nisso: quando uma criança pequena chora, a maneira mais fácil de fazê-la parar é dar um brinquedo. Nós penduramos e balançamos a coisa na frente dela para chamar a atenção, até que ela vai lá e pega. Quando finalmente, damos o brinquedo, ela se aquieta. Nosso objetivo foi apenas parar o choro. Não tentamos lidar com as necessidades subjacentes da criança. Demos a ela alguma outra coisa para desejar e — com esse truque — ela, por enquanto, ficou quieta.

Como adultos, também usamos nossos eletrônicos e outros “brinquedos” de consumo de modo similar — para nos distrair de tudo que realmente esteja incomodando. Mas em nosso caso, dizemos que é só um pouco de diversão, um pouco de entretenimento. Nosso consumo com frequência se limita a tais objetivos de curto prazo, sem nenhuma preocupação com os hábitos a longo prazo que estamos criando, ou o impacto mais amplo de nossas ações. Raramente sequer nos perguntamos por que estamos insatisfeitos ou necessitados em primeiro lugar.

Precisamos compreender que há algo terrivelmente errado em permitir que nossos anseios e cobiça controlem nosso consumo dessa maneira. Ficamos cegos pela cobiça, e abrir os olhos é algo que depende de nós. Agir depende de nós. A cobiça em si não tem limites. É algo que nós mesmos devemos reconhecer, contra-atacar e ativamente limitar.

“The Heart is Noble”, cap. 5

http://darma.info/trechos/2013/12/consumo-e-cobica/
 
Visualização de si mesmo

Dzongsar Khyentse Rinpoche (Butão, 1961 ~):

Agora mesmo, já que que você não consegue evitar de ver o guru ou o Buda como uma entidade independente, separada de você, tente lembrar que o que você vê é exclusivo para você, e tudo que qualquer um de nós vê, ouve ou pensa é baseado em nossa própria interpretação pessoal.

Esse é o princípio que não apenas forma a base de toda teoria filosófica budista, mas também é o motivo pelo qual a prática de visualização funciona.

Louise pode pensar sobre si mesma como “Louise”, mas ela jamais descreveria a si mesma como uma “visualização de Louise”, embora isso seja exatamente o que ela é. Na verdade, cada um de nós é uma visualização de si mesmo.

“Not For Happiness”, loc. 815


http://darma.info/trechos/2014/01/visualizacao-de-si-mesmo/
 
Separação

Charlotte Joko Beck (EUA, 1917 ~ 2011):

Nosso problema básico como humanos é a relação sujeito-objeto. Quando ouvi pela primeira vez isso há muitos anos, parecia abstrato e irrelevante em minha vida. No entanto, toda nossa desarmonia e dificuldades vêm de não sabermos como lidar com a separação sujeito-objeto.

Em termos cotidianos, o mundo é dividido em sujeitos e objetos: eu vejo você, eu vou ao trabalho, eu sento na cadeira. Em cada um desses casos, considero a mim mesma como um sujeito se relacionando com um objeto: você, meu trabalho, a cadeira. Mas, intuitivamente, sabemos que não estamos separados do mundo e que a divisão sujeito-objeto é uma ilusão. Ganhar esse conhecimento intuitivo é o motivo de praticarmos.

Não entendendo a dualidade sujeito-objeto, vemos os objetos em nosso mundo como a fonte de nossos problemas: você é meu problema, meu trabalho é meu problema, minha cadeira é o problema (quando vejo a mim mesma como o problema, transformei-me eu mesma em um objeto).

Então nos afastamos dos objetos que percebemos como problemas e buscamos objetos que vemos como não-problemas. A partir desse ponto de vista, o mundo consiste em: eu e as coisas que me agradam ou desagradam.

Historicamente, a prática Zen e a maioria das outras disciplinas meditativas têm buscado resolver a dualidade sujeito-objeto esvaziando o objeto de todo conteúdo. Por exemplo, lidar com “Mu” ou os principais koans esvazia o objeto do condicionamento que anexamos a ele. Enquanto o objeto vai ficando cada vez mais transparente, somos um sujeito contemplando um objeto virtualmente vazio. Tal estado às vezes é chamado de samadhi. Envolve êxtase porque o objeto vazio não mais é um problema para nós. Quando chegamos a esse estado, a tendência é nos congratularmos com tal progresso realizado.

Mas esse estado de samadhi ainda é dualista. Quando chegamos aí, uma voz interior diz: “Deve ser isso!” ou “Agora realmente estou praticando bem!”. Um sujeito oculto permanece, observando um objeto virtualmente em branco, em algo que no final ainda é uma separação sujeito-objeto. Quando notamos essa separação, tentamos lidar com esse sujeito também, esvaziando seu conteúdo. Ao fazer isso, transformamos o sujeito em mais um objeto, com um sujeito agora mais sutil observando-o. Criamos um regressão infinita de sujeitos.

Tais estados de samadhi não são realmente precursores da iluminação, porque um sujeito sutilmente encoberto está separado do objeto virtualmente vazio. Quando voltamos para a vida cotidiana, o sentimento de êxtase dissipa e estamos de novo em um mundo de sujeitos e objetos. A prática e a vida não chegam juntas.

Uma prática mais clara não tenta se livrar do objeto, em vez disso, vê o objeto pelo que ele é. Vagarosamente aprendemos sobre ser ou vivenciar a ausência de qualquer sujeito ou objeto. Não eliminamos nada, mas sim unimos as coisas. Eu ainda existo, assim como você, mas quando sou apenas minha experiência de você, não me sinto separada de você. Sou una com você.

Esse tipo de prática é bem mais lenta, porque ao invés de concentrar em um objeto, trabalhamos com tudo em nossa vida. Tudo que perturba ou irrita (e, se formos honestos, isso inclui quase tudo) se torna material para prática. Trabalhar com tudo leva a uma prática que vive em cada segundo de nossa vida.

Quando a raiva surge, por exemplo, muita da tradicional prática Zen nos faria tentar apagar a raiva e concentrar em algo, como a respiração. Embora tenhamos colocado a raiva de lado, ela vai voltar sempre que formos criticados ou ameaçados de algum modo.

Diferentemente, nossa prática é nos tornarmos a própria raiva, vivenciá-la integralmente, sem separação ou rejeição. Quando trabalhamos desse modo, nossas vidas assentam. Devagar, aprendemos a nos relacionar com objetos problemáticos de modo diferente.

Nossas reações emocionais gradualmente vão se desgastando e sumindo; por exemplo, objetos que temíamos gradualmente perdem seu poder sobre nós, e podemos abordá-los mais prontamente. É fascinante ver essa mudança acontecendo; vejo isso nos outros e em mim mesma também. O processo nunca termina: no entanto ficamos cada vez mais despertos e livres.

“Nothing Special”, loc. 1200


http://darma.info/trechos/2014/01/separacao/
 
Separação

Charlotte Joko Beck (EUA, 1917 ~ 2011):

Nosso problema básico como humanos é a relação sujeito-objeto. Quando ouvi pela primeira vez isso há muitos anos, parecia abstrato e irrelevante em minha vida. No entanto, toda nossa desarmonia e dificuldades vêm de não sabermos como lidar com a separação sujeito-objeto.

Em termos cotidianos, o mundo é dividido em sujeitos e objetos: eu vejo você, eu vou ao trabalho, eu sento na cadeira. Em cada um desses casos, considero a mim mesma como um sujeito se relacionando com um objeto: você, meu trabalho, a cadeira. Mas, intuitivamente, sabemos que não estamos separados do mundo e que a divisão sujeito-objeto é uma ilusão. Ganhar esse conhecimento intuitivo é o motivo de praticarmos.

Não entendendo a dualidade sujeito-objeto, vemos os objetos em nosso mundo como a fonte de nossos problemas: você é meu problema, meu trabalho é meu problema, minha cadeira é o problema (quando vejo a mim mesma como o problema, transformei-me eu mesma em um objeto).

Então nos afastamos dos objetos que percebemos como problemas e buscamos objetos que vemos como não-problemas. A partir desse ponto de vista, o mundo consiste em: eu e as coisas que me agradam ou desagradam.

Historicamente, a prática Zen e a maioria das outras disciplinas meditativas têm buscado resolver a dualidade sujeito-objeto esvaziando o objeto de todo conteúdo. Por exemplo, lidar com “Mu” ou os principais koans esvazia o objeto do condicionamento que anexamos a ele. Enquanto o objeto vai ficando cada vez mais transparente, somos um sujeito contemplando um objeto virtualmente vazio. Tal estado às vezes é chamado de samadhi. Envolve êxtase porque o objeto vazio não mais é um problema para nós. Quando chegamos a esse estado, a tendência é nos congratularmos com tal progresso realizado.

Mas esse estado de samadhi ainda é dualista. Quando chegamos aí, uma voz interior diz: “Deve ser isso!” ou “Agora realmente estou praticando bem!”. Um sujeito oculto permanece, observando um objeto virtualmente em branco, em algo que no final ainda é uma separação sujeito-objeto. Quando notamos essa separação, tentamos lidar com esse sujeito também, esvaziando seu conteúdo. Ao fazer isso, transformamos o sujeito em mais um objeto, com um sujeito agora mais sutil observando-o. Criamos um regressão infinita de sujeitos.

Tais estados de samadhi não são realmente precursores da iluminação, porque um sujeito sutilmente encoberto está separado do objeto virtualmente vazio. Quando voltamos para a vida cotidiana, o sentimento de êxtase dissipa e estamos de novo em um mundo de sujeitos e objetos. A prática e a vida não chegam juntas.

Uma prática mais clara não tenta se livrar do objeto, em vez disso, vê o objeto pelo que ele é. Vagarosamente aprendemos sobre ser ou vivenciar a ausência de qualquer sujeito ou objeto. Não eliminamos nada, mas sim unimos as coisas. Eu ainda existo, assim como você, mas quando sou apenas minha experiência de você, não me sinto separada de você. Sou una com você.

Esse tipo de prática é bem mais lenta, porque ao invés de concentrar em um objeto, trabalhamos com tudo em nossa vida. Tudo que perturba ou irrita (e, se formos honestos, isso inclui quase tudo) se torna material para prática. Trabalhar com tudo leva a uma prática que vive em cada segundo de nossa vida.

Quando a raiva surge, por exemplo, muita da tradicional prática Zen nos faria tentar apagar a raiva e concentrar em algo, como a respiração. Embora tenhamos colocado a raiva de lado, ela vai voltar sempre que formos criticados ou ameaçados de algum modo.

Diferentemente, nossa prática é nos tornarmos a própria raiva, vivenciá-la integralmente, sem separação ou rejeição. Quando trabalhamos desse modo, nossas vidas assentam. Devagar, aprendemos a nos relacionar com objetos problemáticos de modo diferente.

Nossas reações emocionais gradualmente vão se desgastando e sumindo; por exemplo, objetos que temíamos gradualmente perdem seu poder sobre nós, e podemos abordá-los mais prontamente. É fascinante ver essa mudança acontecendo; vejo isso nos outros e em mim mesma também. O processo nunca termina: no entanto ficamos cada vez mais despertos e livres.

“Nothing Special”, loc. 1200


http://darma.info/trechos/2014/01/separacao/
achei interessante as colocações dela, mas ainda discordo da questão samadhi como tendo limitações de unidade entre sujeito-objeto.

De acordo aos estudos que faço existem 7 graus de êxtase, o primeiro Ananda é um estado contemplativo que podemos alcançar facilmente na vida diária, já os demais estados são gradativamente mais profundos. Quanto mais clãs mentais são silenciados e sintonizados com a vibração cósmica superior mais o instrumento consciência vai se afinando e recebendo as notas do Todo. Esses graus são essas cordas que uma a uma devem ser afinadas, se tratando assim de estados mais profundos de samadhi ou êxtase a experiência vai muito além de questões duais como ela citou, transcende qualquer dualismo, não existe você-sujeito e o pássaro-objeto, você é o pássaro, você é o ar e percebe todas as cosas sendo uma... claro que neste estágio você não é mais você, seu corpo está ali, você tem consciência da existência dele, mas se libertou por um breve período para desfrutar a criação de forma mais profunda e extasiante.

De qualquer forma as colocações deste artigo me fizeram ver coisas interessantes. A prática tenaz e diária para unir gradativamente esse dualismo em algo mais suave e fácil de lidar. Fico imaginando se um ser humano conseguisse viver assim, não teria distinção entre eu e você, jamais causaria dor a outro semelhante por que veria ele mesmo no outro e etc.

Muito bom! :)
 
Mestre no coração

Dzongsar Khyentse Rinpoche (Butão, 1961 ~):

Devoção é parte integral de um praticante Vajrayana. Querer estar livre da ilusão implica aceitar que estamos iludidos. Se nunca abandonarmos nossas percepções ordinárias impuras do mundo e dos seres, jamais iremos irromper de nossa ilusão. …

Geralmente, quando tomamos refúgio, há uma ideia de ser inferior ao objeto de refúgio. Você, um ser patético, precisa ser salvo, e toma refúgio nesse ser tão benéfico e onipotente. O refúgio pode parecer isso, mas se você compreender a grande vastidão, então saberá que não estamos de modo algum separados. Pense que seu guru é um reflexo de sua própria natureza buda. Isso de fato te familiariza com essa ideia de grande pureza e igualdade, que é todo o propósito. Isso é incrivelmente muito importante. …


Mais em:

http://darma.info/trechos/2014/01/mestre-no-coracao/
 
Testar a prática

17º Karmapa (Tibete, 1985 ~ ):

Não basta para nós cultivar uma mente de amor e compaixão e algum tipo de estado meditativo enquanto estamos seguros em nossas salas de meditação. Somente isso não vai remediar nossas aflições: precisamos continuamente cultivar uma mente imbuída de Darma.

Principalmente quando nossa mente é perturbada: o Darma precisa vir à cena, não importa onde estejamos — no trabalho, interagindo com a família e amigos etc. É nessas situações que o poder de nossa prática do Darma e de nossas aspirações deve se tornar evidente. Se isso não acontecer, ser capaz de recitar e meditar em nossas salas de meditação não é suficiente, porque esse tipo de prática do Darma não tem utilidade para ajudar os outros.

Nosso treinamento é similar ao dos guerreiros. Treinar um soldado é muito caro e envolve anos de aprendizado intenso, sendo que o propósito é derrotar o inimigo em uma batalha de verdade. Se os guerreiros são bem-sucedidos, então todo o treinamento e sacrifício valerão a pena; se não, foi tudo um desperdício.

Praticantes também estão se preparando para a batalha com seu inimigo, as aflições. Quando nos sentimos bem em circunstâncias ideais, nossa competência em lutar com as aflições não é realmente testada. Não podemos dizer se o Darma se tornou um medicamento ou não.

A coragem e o poder do Darma devem surgir em situações de crise e perturbação mental. Isso é crucial.

Trecho de ensinamento sobre os “Oito versos do treinamento da mente”, no Kagyu Mönlam de 2014.

http://darma.info/trechos/2014/01/testar-a-pratica/
 
Back
Top