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Budismo

Ecuador

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22/12/2007
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Na minha opinião muitas tradições religiosas têm elementos de contato com os estados alterados de consciência e a psicodelia, embora frequentemente rejeitem o uso de substâncias alteradoras da consciência.
Uma delas é o Budismo, sobre o qual leio de vez em quando, e algumas passagens me parecem poderosos insights sobre os estados alterados de consciência.

Eu realmente não entendo muito do que leio, de nenhuma das escolas budistas. As mais orientais então, a Chan chinesa e o Zen japonês (que provavelmente fundiram elementos taoístas), são meio indecifráveis ;)

Entretanto a beleza de alguns trechos e os insights me atraem. Há tempos quero postar algo sobre o assunto, e vou começar com o texto abaixo, um post do Blog Samsara, que já foi citado aqui no CM, e que discute a relação do Budismo e DMT:



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http://s4ms4r4.blogspot.com/2006/07/budismo-e-dmt.html

Sábado, 29 de Julho de 2006

Budismo e DMT

O artigo traduzido a seguir trata de experiências com DMT, que costuma ser apontada como a substância alucinógena mais poderosa que existe. Também aborda a relação de seus efeitos com o budismo.

Foi publicado originalmente na edição nº 6 de 1996 (págs. 81 a 88) da revista americana Tricycle (http://www.tricycle.com/), que trata exclusivamente de budismo. O original pode ser lido neste link - http://members.tripod.com/~parvati/strassman.html.

O autor é Rick Strassman (imagem) (http://www.rickstrassman.com/), psiquiatra famoso pelo livro DMT: The Spirit Molecule (imagem) (http://www.amazon.com/gp/product/0892819278/002-2061065-5235257?v=glance&n=283155), obra fascinante, cujos comentários vou reservar para outro texto (Nota - há também um documentário, feito a partir da obra de Strassmann, com o o mesmo título, com uma versão legendada disponível - Ecuador).

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DMT é uma molécula relativamente comum no cérebro e no corpo humano (além de diversos animais e plantas). Seu efeito é ativado somente em circunstâncias especiais. Não há efeito porque algumas enzimas quebram a molécula antes de ela interagir com o cérebro. O DMT é parte fundamental da ayahuasca (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ayahuasca), bebida sacramental de efeito enteógeno (http://pt.wikipedia.org/wiki/Enteógeno). Além disso, há no chá componentes inibidores da enzima que anula o DMT. Assim, eles "ativam" e prolongam o efeito do DMT, além de conterem seus próprios efeitos.

O artigo a seguir foi um dos estopins para irritar a comunidade budista que Strassman pertencia já há décadas. Essa comunidade chegou a ordenar que o pesquisador interrompesse seu trabalho e que membros não freqüentassem sua casa. Somado a outros fatores, a pesquisa acabou mesmo suspensa.

O médico defende um troca aberta entre as comunidades budista e "psicodélica". Pessoalmente, acho impossível e inviável que qualquer comunidade budista "oficial" integre componentes químicos psicodélicos em suas práticas. Já o contrário (budismo beneficiando grupos que usam enteógenos) é tão possível que já acontece há um certo tempo no Brasil (principalmente, entre grupos huasqueiros independentes). Nos EUA, isso vem desde a era hippie (vide A Experiência Psicodélica - http://s4ms4r4.blogspot.com/2006/01/traduo-experincia-psicodlica.html).

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Acompanhamento para sessões: Dharma & Pesquisa sobre DMT

Rick J. Strassman, M.D .

Rick Strassman, M.D,. é professor associado clínico de psiquiatria da universidade de British Columbia. Ele está trabalhando em um livro (DMT, The Spirit Molecule) descrevendo sua pesquisa sobre uma droga psicodélica.

Janeiro de 1991, 23 minutos após eu injetar uma dose elevada de DMT (N,N-dimetiltriptamina) na veia do braço de Elena. Elena é uma psicoterapeuta de 42 anos, com experiência pessoal extensiva com drogas psicodélicas. O DMT é um psicodélico poderoso, de curta duração, que existe naturalmente nos fluídos do corpo humano. Também é encontrado em muitas plantas. Ela já leu textos budistas, mas pratica meditação taoísta.

Ela repousa em uma cama no quinto andar do Centro de Pesquisa Clínica do hospital da Universidade do Novo México. O tubo de plástico claro que dá acesso a sua veia está pendurado na cama. O prendedor de um aparelho de medir pressão está preso com alguma folga em seu braço. Os tubos estão ligados a traseira de um monitor que pisca.

30 segundos após a injeção, ela perde consciência da sala onde estamos. Além de mim, o marido de Elena, que acabou de passar por uma sessão parecida, e nossa enfermeira de pesquisa estão sentados quietos ao seu lado. Conheço por relatos de voluntários anteriores que os efeitos de pico de DMT intravenal ocorrem entre dois e três minutos após a injeção e que ela não conseguirá se comunicar por pelo menos 15 minutos, quando a maioria dos efeitos terão se dissolvido. Com os olhos fechados, ela começa a soltar gargalhadas, às vezes de maneira gritante, e seu rosto fica vermelho. "Bem, encontrei um buda vivo! Oh, Deus! Estou permanecendo aqui. Não quero perder isso. Quero manter meus olhos fechados para que isso se imprima [na minha mente]. Apenas porque é possível!"

Elena se sentiu ótima na semana seguinte. "A vida está bem diferente. Um buda agora está sempre na esquina da minha consciência", diz Elena. "Tudo em que tenho trabalhado espiritualmente nos últimos anos virou uma certeza. Ganchos de esquerda do mundo cotidiano continuam a vir e me acertar. Mas a solidez da experiência me ancora, permite que eu lide com tudo isso. O tempo parou no pico da experiência; agora o tempo do dia-a-dia diminui a marcha. O terceiro estágio, aquele de voltar do pico foi o mais importante. Se tivesse aberto meus olhos muito cedo, não teria podido me integrar tanto à experiência".

Dois anos depois, ela raramente consome psicodélicos. Sua mais importante lembrança da sessão de DMT foi a "claridez e pureza desse remédio". A mais negativa: "A absoluta falta de caráter sagrado no contexto". Muitas das mudanças em sua vida, particularmente uma profunda mudança de "pensar" para "sentir", foi "apoiada" pela sessão de DMT. Mas já estava a caminho antes disso e continuou depois.

A experiência de Elena, repetida por 10% a 20% dos voluntários em nossos testes, representam os resultados mais gratificantes e intrigantes de nosso trabalho no Novo México. Meu próprio interesse no budismo e nos psicodélicos se encontraram da melhor maneira na "experiência de iluminação" induzida por DMT.

O nosso foi o primeiro projeto em 20 anos a obter financiamento do governo dos EUA para um estudo com drogas psicodélicas em humanos. Essa pesquisa científica foi o resultado de 18 anos de treinamento e experiência médica e psiquiátrica. Também tenho praticado o Zen budismo por mais de 20 anos. E foi na molécula de DMT que esses dois interesses finalmente se fundiram.

Há motivos importantes para se estudar drogas psicodélicas em humanos. O uso de LSD ("ácido") e "cogumelos mágicos" (que contém psilocibina) continuam a se elevar. Entender o que (e como) os psicodélicos fazem com as funções cerebrais vai ajudar a tratar reações negativas de curta ou longa duração. Devido ao fato que há alguma similaridade entre efeitos de drogas psicodélicas e a esquizofrenia, a pesquisa pode também podem jogar nova luz sobre essa devastadora doença mental.

Há outras razões para se estudar drogas psicodélicas. Embora menos "médicas", elas se relacionam com saúde e bem-estar. A principal entre elas é a semelhança entre estados psicodélicos e religiosos. Fiquei impressionado com as descrições "psicodélicas" de práticas de meditação intensiva em algumas tradições budistas. Devido ao fato que essas escrituras não mencionam drogas e que os estados parecem similares aos obtidos com uso de drogas psicodélicas, suspeitei que pode haver um molécula psicodélica natural no cérebro, ativada por meditação profunda.

Fui levado à glândula pineal como uma possível fonte de componentes psicodélicos produzidos sob certos estados mentais e físicos anormais. Essas condições incluiriam limiar da morte, nascimento, febre elevada, meditação prolongada, jejum e privação sensorial. Esse minúsculo órgão -- o "assento da alma" ou "terceiro olho" para os antigos -- deve produzir DMT ou substâncias similares com simples alterações químicas em um bem conhecido hormônio pineal, a melatonina, ou em um importante componente químico cerebral, a serotonina. Talvez seja o DMT, liberado pela pineal, que abre o olho da mente para realidades espirituais ou não-físicas.

A glândula pineal também exercia uma fascinação em mim porque ela se torna visível pela primeira vez no feto humano 49 dias depois da concepção [geração do embrião]. Essa também é a ocasião quando o sexo do feto se torna claramente distinguível. 49 dias, segundo diversos textos budistas, é quanto tempo leva para a força vital de alguém que morreu entrar na próxima encarnação. Talvez a força vital de um humano entre no feto após 49 dias através da pineal. E ela deve deixar o corpo, na morte, pela pineal. Essa ida e vinda deve ser acompanhada pela liberação de DMT pela pineal, mediando a consciência desses fenômenos incríveis.

Junto com o quebra-cabeça científico apresentado por essas similaridades entre estados místicos e psicodélicos, havia questões de cura que também me atraíram para ambos. O sentimento de que há "algo maior" que resulta de grandes episódios psicodélicos me levou a pensar que psicodélicos podem ajudar pessoas com problemas psicológicos, físicos e espirituais. Me pareceu crucial evitar a limitação que, com freqüência, estraga argumentos sobre a utilidade ou perigo das drogas, mantendo um ponto de vista mais amplo. Meu ponto de vista global que começou a emergir era como um tripé de pernas biológicas (cérebro), psicanalíticas (psicologia individual) e de religiosidade oriental (consciência e espiritualidade). As primeiras duas foram importantes em minha decisão de cursar medicina. A terceira me levou profundamente ao budismo.

Desapontado pela falta de espiritualidade do treinamento médico, me ausentei por anos da faculdade e explorei o Zen em uma série de retiros. A ênfase do Zen na experiência direta, seu método equilibrado para lidar com todos os fenômenos que surgem na meditação, e a importância da iluminação, todos combinavam comigo e com meu ideal de tradição religiosa.

Durante os quatro anos de minha especialização psiquiátrica, ajudei a fundar e manter um grupo de meditação afiliado com minha duradoura comunidade Zen. Fui ordenado budista leigo no meio dos anos 80. Foi no mesmo ano que recebi treinamento em psicofarmacologia clínica, aprendendo a ministrar drogas psicoativas em voluntários humanos em estudos científicos controlados.

A forma de nossa pesquisa no Novo México foi a biomédica tradicional, monitorando efeitos de diversas doses de DMT na pressão sanguínea, temperatura, tamanho da pupila e níveis no sangue de diversos componentes químicos que indicam atividade cerebral. Recrutamos usuários experientes com alucinógenos que eram adequados médica e psicologicamente. Isso porque eles poderiam reportar melhor sobre suas experiências e teriam menos probabilidade de entrar em pânico ou sofrer efeitos colaterais duradouros, em relação a usuários inexperientes. Os voluntários acreditavam na habilidade de psicodélicos ajudarem no "trabalho interior" e se ofereceram, pelo menos em parte, para usar o DMT em seu crescimento pessoal.

Havia um aspecto espiritual na experiência com DMT? E, se sim, isso seria útil por ele mesmo? Essa era uma das minhas razões principais para nosso programa de pesquisa com DMT.

A supervisão de sessões é chamada de "sitting". Acredita-se que o termo vem da necessidade de uma "baby-sitter" para pessoas em estados, por vezes, altamente dependentes e vulneráveis. Mas, em nossas mentes, a prática budista foi uma fonte tão relevante quanto, para o termo. Nossa enfermeira e eu fizemos o máximo para praticar meditação na companhia dos voluntários: conscientes da respiração, em estado alerta, olhos abertos, prontos para agir, mantendo uma atitude "brilhante" e saindo do caminho das experiências dos voluntários.

Esse método é muito similar ao que Freud chamou de "atenção suspensa uniforme", executada por um psicanalista treinado que fornece suporte através de uma postura, na maior parte, silenciosa mas presente. Experimentei esse tipo de "escuta" e contemplação como algo similar à meditação Zen.

Outro exemplo de como os psicodélicos e a meditação budista convergem foi o desenvolvimento de um novo questionário para medir estados de consciência. Os questionários anteriores para medir efeitos psicodélicos não eram ideais por muitos motivos. Alguns assumiam que psicodélicos causam nada mais que psicose, enfatizando experiências desagradáveis. Outras escalas foram desenvolvidas para voluntários que não sabiam quais drogas estavam consumindo ou quais efeitos surgiriam.

Sempre apreciei a visão budista de dividir a mente em cinco skandas (pilhas ou agregados) que, no todo, dão a impressão de um ego pessoal que experimenta. Esses são os familiares conceitos de "forma", "sentimento", "percepção", "consciência" e "volição". Pesquisei em diversos guias para a literatura do Abhidharma, o "cânone psicológico" budista, com mais de mil anos de uso no monitoramento do progresso da meditação. Pareceu que uma escala de avaliação baseada nos skandas poderia dar uma base excelente para uma descrição neutra e compreensiva de estados psicodélicos.

Divulguei que estava interessado em falar com pessoas que já experimentaram DMT. Logo, o telefone estava tocando com pessoas querendo descrever suas experiências. A maioria das 19 pessoas eram do Novo México e da Costa Leste, e quase todos estavam envolvidos em alguma disciplina terapêutica ou religiosa. Todos tinham boa educação, articulação e estavam impressionados com a habilidade do DMT de abrir a porta para estados altamente incomuns e não-materiais, maior do que psicodélicos de longa duração como psilocibina ou LSD.

Após completar essas entrevistas, decidi adicionar um sexto skanda ao questionário, chamado "intensidade", que ajudou a quantificar a natureza da experiência.

Demos e analisamos esse novo questionário, chamado de Escala de Avaliação Alucinógena (Hallucinogenic Rating Scale - HRS), quase 400 vezes para mais de 50 pessoas em quatro anos. É interessante notar que o grupo de questões do método skanda trouxeram resultados mais sensíveis no trabalho com DMT do que um grande número de dados biológicos, como pressão sanguínea, temperatura e níveis químicos no sangue.

Além de determinar esse estilo de "acompanhamento" (sitting) e de medir reações, o budismo ajudou a tirar sentido das experiências que as pessoas tiveram em nosso ambiente relativamente esparso mas pronto para qualquer coisa que pudesse acontecer. Para muitos voluntários, mesmo aqueles com uso anterior de DMT, a primeira dose elevada de DMT intravenal foi como uma experiência de quase morte, que costuma ser fortemente relacionada com experiências místicas benéficas. Muitos se convenceram que estavam mortos ou morrendo. Muitos tiveram encontros com deidades, espíritos, anjos, criaturas inimagináveis e a fonte de toda a existência. Praticamente todos perderam contato com seus corpos em algum ponto. O caso de Elena é um bom exemplo de uma experiência de iluminação -- soando idêntico aos relatos da tradição de meditação budista -- proporcionada por uma dose alta de DMT.

Por um lado, a perspectiva budista pode tratar todas essas experiências com equanimidade. O fato de que, no budismo, se experimenta mesmo reinos não-materiais fornece uma base firme para aceitar e trabalhar com essas experiências. Ele também elimina o julgamento de que reinos não materiais são melhores (ou piores) que os materiais -- uma tendência de algumas religiões New Age. A experiência de ver e falar com criaturas do tipo deva no transe de DMT é apenas isso: ver e falar com outros seres. Nem melhor, nem pior e nem mais ou menos confiável, do que qualquer um ou qualquer outra coisa.

Por outro lado, como tratar o voluntário que teve uma iluminação induzida por drogas? Certificá-lo(a) como iluminado? Explicar através da farmacologia o impacto meteórico da experiência?

Foi confuso. Primeiro, pareceu que uma dose alta de DMT era, de fato, transformadora. Com o passar do tempo, contudo, checando nossos voluntários por meses e anos, minha perspectiva de fato mudou. Enquanto alguns, como Elena, tiveram benefícios profundos de sua participação, um pequeno número de voluntários tiveram reações negativas e assustadoras, que exigiram algum cuidado depois.

Em outros, efeitos adversos mais sutis também se revelaram (como pode acontecer na prática budista) na forma de orgulho elevado -- ou seja, uma divisão do mundo entre os que tem e os que não tem "entendimento". Além disso, a "resolução" de problemas durante o estado alterado -- particularmente comum com uma dose psicodélica alta -- cuja solução não era colocada em prática, me pareceu pior do que nem tentar trabalhar determinada questão.

Conclui que não há nada inerente em psicodélicos que possua um efeito benéfico. Também não são farmacologicamente perigosos por eles mesmos. A natureza e os resultados da experiência são determinados por uma complexa combinação da farmacologia da droga, o estado do voluntário no momento do consumo e a relação entre o indivíduo e o ambiente físico e psicológico: droga, condição e ambiente.

Os voluntários que se beneficiaram mais das sessões de DMT foram os que provavelmente se beneficiariam mais de qualquer "viagem" -- com ou sem drogas. Os que se beneficiaram menos foram aqueles que mais se sentiam invadidos pelo desconhecido, pelo unusual. As sessões mais difíceis aconteceram pela combinação de dois fatores. O primeiro foi a indisposição do voluntário para desistir do diálogo interno e consciência do corpo. A segunda, a incerteza ou relações confusas entre os voluntários e as pessoas presentes na sala. Assim, os efeitos "religiosos", "adversos" ou "banais" dependeram mais da pessoa ou do que ela ou aqueles na sala trouxeram para a sessão, do que qualquer característica inerente da droga.

Assim, o problema de depender de uma ou diversas experiências psicodélicas transformadoras como prática é que não há uma estrutura que lide adequadamente com a vida cotidiana no intervalo entre as sessões. A introdução no ocidente de igrejas baseadas em plantas alucinógenas amazônicas, com seu conjunto de códigos morais e rituais, podem fornecer um novo modelo combinando práticas religiosas e psicodélicas.

No último ano de meu trabalho, um novo componente comum pessoal entre budismo e psicodélicos apareceu. Isso envolveu o que pode ser descrito como uma briga entre minha comunidade Zen e eu. Por anos, recebi apoio -- pelo menos, implícito -- de diversos membros da comunidade Zen para seguir com minha pesquisas. Estes eram praticantes antigos com suas próprias experiências psicodélicas anteriores. No ano passado, descrevi meu trabalho para membros da comunidade, ingênuos em relação a psicodélicos, que o condenaram fortemente. Praticantes antes a favor pareceram estar sendo pressionados para retirar qualquer apoio.

Essa preocupação estava especificamente direcionada a dois aspectos de nossa pesquisa. Um deles era uma futura psicoterapia com psicodélicos para doentes terminais, pesquisa que demonstrou potencial impressionante nos anos 60. Ou seja, em pacientes com dificuldades no processo de morte, uma sessão com uma alta dose psicodélica poderia atenuar o sofrimento e desespero associado com sua doença terminal.

A outra área de preocupação era o potencial para efeitos adversos, tanto os óbvios quanto os mais sutis, já previamente descritos.

Foram dados argumentos empíricos e com base nas escrituras para essa reprovação, além das experiências dos próprios membros da comunidade. Contudo, me pareceu que a principal preocupação era que seria muito desfavorável para eles, como uma comunidade budista, ter associado de alguma maneira o budismo com o uso de drogas. Pareceu que os praticantes que tiveram experiências psicodélicas (e descobriram que elas estimularam seu interesse pela vida meditativa) tiveram que dar o aval àqueles que nunca tiveram.

O que experimentei como um atrito entre disciplinas não é incomum no mundo e, talvez, na comunidade budista em particular. A questão se resume a: é considerado "budista" dar, consumir ou se ocupar com psicodélicos como ferramentas espirituais?

Vários projetos de pesquisa estão sendo planejados nos EUA, usando psicodélicos para tratar o vício em drogas -- condição de alto índice de mortalidade, caso não seja tratada. Entendo os preceitos budistas que toleram o uso de "intoxicantes" por motivos médicos (por exemplo, cocaína para anestesia local, narcóticos para controle da dor). É importante notar se um budista sofre ou não tratamento igual por dar ou consumir um "intoxicante" psicodélico para o tratamento de uma condição médica. O complicador nesse caso é que efeitos psicológicos/espirituais de uma sessão adequadamente preparada e supervisionada podem revelar efeitos de cura.

Em uma área comum final, acredito que há modos em que o budismo e a comunidade psicodélica podem se beneficiar de uma aberta e franca troca de idéias, práticas e éticas. Para a comunidade psicodélica, a ética, o estruturamento disciplinado da vida, a experiência e as relações fornecidas por anos de comunhão budista têm muito a oferecer. Essa bem desenvolvida tradição poderia injetar significado e consistência em experiências psicodélicas isoladas, fragmentadas, pobremente integradas, sem o amor e compaixão necessários e praticados diariamente. Sem isso, essas experiências acabariam "fritas" num excesso de narcisismo e auto-indulgência.

Embora boas experiências sejam possíveis sem uma tradição de meditação budista, elas são menos prováveis sem a checagem e o balanceamento de uma comunidade dinâmica de praticantes.

Além disso, praticantes budistas dedicados com pouco sucesso em suas meditações, mas bem desenvolvidos em aspectos morais e intelectuais, poderiam se beneficiar de uma sessão psicodélica cuidadosamente agendada, preparada e supervisionada, para acelerar sua prática. Psicodélicos fornecem uma visão que -- para alguém inclinado -- pode inspirar o trabalho duro necessário para fazer dessa visão uma realidade viva.


Leia também no blog:

- Ayahuasca e budismo (http://s4ms4r4.blogspot.com/2006/05/ayahuasca-e-budismo.html).
aphotos1.blogger.com_blogger_5393_1331_200_rick_strassman.jpgaphotos1.blogger.com_blogger_5393_1331_320_DMT_Spirit_20Molecule.jpg
 
Acho que se deve tomar muito cuidado com o relacionamento entre alteradores de consciência e samadhi, mas, por acaso na mensagem de hoje do enteógenos.org:

http://feedproxy.google.com/~r/ente...amadhi?utm_source=feedburner&utm_medium=email

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A flor que gera samadhi

Posted: 18 Aug 2010 09:09 AM PDT

Para os que apreciam a conexão budismo/enteógenos, segue uma pérola do iogue indiano Padampa Sangye, que viveu e ensinou no Tibete no século XII. É uma resposta à pergunta de um discípulo.


O mestre tântrico Padampa Sangye (Índia/Tibete, séc. 12)"Dampa [Padampa] já esteve em todas as terras. Que grandes maravilhas você presenciou?"

Dampa respondeu: "Já vi coisas maravilhosas! Vi um iogue que praticou meditação dentro do corpo de um peixe. Vi um espetáculo observado à partir do fundo do oceano. Vi feriados aproveitados no pico de uma montanha. Vi um ser senciente com o corpo de um porco, a cabeça de um pássaro e o rabo de uma cobra, que botou seis ovos à partir do olho!

Vi uma folha de árvore que, se pegá-la na mão, você voa pelo céu. Vi uma flor que, se você comê-la, ela gera samadhi em sua mente. Vi água que, se você beber uma cuia dela, a duração de sua vida fica igual ao do sol e da lua. Vi carne que, se comer uma bocada, você obtém o siddhi.

Vi um iogue ensinando o Dharma para uma pessoa petrificada que escutava através dos ouvidos de uma tartaruga — quando esse dharma foi praticado pela rainha, a realização chegou a um iogue meditando em isolamento!"
(Lion of Siddhas - The Life and Teachings of Padampa Sangye)
 
Última edição:
Ola Ecuador! Valeu pelas indicações. Eu faço tanto o Samsara quanto o Enteógenos (onde saiu "A flor que gera samadhi"). Esse topico é algo antigo que voltou? É que esse endereço (s4ms4r4.blogspot.com) do post do Strassman saiu do ar há vários anos.

Ele tá aqui agora:
http://enteogenos.org/artigos/2006/07/budismo-e-dmt

A conexão com o budismo é algo que aprecio bastante também. Tem vários textos sobre isso aqui:
http://enteogenos.org/tag/budismo

abs!
 
Valeu a correção, emer.

"A flor que gera samadhi" é do enteógenos.org, e não do Samsara. Vou modificar minha mensagem de agora há pouco.


Esse tópico do Samsara referente ao Strassman eu tenho guardado no meu e-mail. Pode ser que tenha mesmo saído do ar.

Grato pelos links.
 
Blog Samsara - Natureza indestrutível

(http://samsara.blog.br/2010/04/natureza-indestrutivel/)

Posted: 21 Apr 2010 06:00 AM PDT

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"Emanate from Emptiness" - Tashi Mannox



Mantra do Sutra do Coração (Gate Gate...).


Todos os reinos de seres vivos
Estão no passado, presente ou futuro.
Os seres vivos do presente, passado e futuro
Todos permanecem nos cinco agregados.

Os cinco agregados são baseados em ações,
Ações são baseadas na mente.
Fenômenos mentais são como fantasmas,
E assim de fato é o mundo.

O mundo não cria a si mesmo,
Nem é criado por alguém;
Mas ainda assim ele tem sua formação
E também uma desintegração.

Embora o mundo tenha formação
E desintegração,
Alguém que o compreende
Não fala dessa maneira.

O que é o mundo?
O que não é o mundo?
Mundo e não mundo
São apenas distinções baseadas em nomes.

Os três tempos e os cinco agregados
São chamados de mundo,
Sua extinção é o “não mundo”;
Assim, eles são só nomes temporários.

Como os agregados são explicados?
Que natureza eles têm?
A natureza dos agregados é indestrutível,
Então é chamada de não-nascida.

Analisando esses agregados,
Sua natureza é fundamentalmente vacuidade.
Por ser vazia, não pode ser destruída:
Esse é o significado de não-nascido.

Já que os seres sencientes são assim,
Assim também são os Budas;
Budas e seus ensinamentos
Intrinsecamente não têm nenhuma existência.

Se alguém puder compreender essas coisas
Verdadeiramente, sem ilusão,
Aquele que sabe e vê tudo
Estará sempre na sua frente.

Sutra Guirlanda de Flores
(Avatamsaka Sutra, livro 20 – “Elegias no palácio do Paraíso Suyama”)
“Flower Ornament Scripture” (http://www.shambhala.com/html/catalog/items/isbn/978-0-87773-940-1.cfm)
Emanate-from-Emptiness-new-rendition-72.png
 
Valeu, Ecuador! Na minha opinião, o budismo é a linha espiritual que mais se alinha com enteógenos porque é uma doutrina que descreve minuciosamente o "estado livre do ego" e como chegar nisso. Esses ensinamentos acabam sendo muito úteis na hora da famosa "dissolução do ego" das experiências psicodélicas mais profundas, e depois também, para integrar a experiência ao cotidiano.

abs!
 
Acredito que todas as religiões tenham por base os enteógenos, vide a Inquisição Farmcrática, e por aí com certeza tem muito mais...
 
Interessante o link. Eu acredito que a experiência mística/religiosa, que dá origem às religiões, é um estado muito similar ao estado provocado por enteógenos, se não for absolutamente idêntico. Mas, como nem todos tem as qualidades dos profetas, santos ou iogues, não é todo mundo que sai criando uma nova religião depois de vivenciar isso.
 
Do livro "A Prática do Zen na Cura da Depressão" (The Zen Path Through Depression), no final do capítulo "Eu, não eu" - pág 117:


Sentado e atento à respiração, concentre-se em seus pensamentos. Eles permanecem constantes? Você os está "pensando"? Eles às vezes surgem por conta própria? As lembranças constituem boa parte de seus pensamentos? Ou o planejamento para o futuro? Passado e futuro dão continuidade ao surgimento e à desaparição dos pensamentos? Você encontra seu eu neles?

Observe suas sensações. Há nelas algo de constante? Seu eu pode ser encontrado nelas? No seu corpo? Ou, quando pensa no seu eu, pensa em algo mais que isso?

Observe os seus sentimentos. Enquanto vêm e vão, você é capaz de reconhecer padrões ou hábitos em suas reações? Seu eu se encontra em seus sentimentos ou nesses padrões? É isso que você é?

Veja quem observa esses pensamentos, sentimentos e sensações. É aí que está o seu eu? Para onde vai esse observador quando você não está prestando atenção?

Você percebe que todas essas coisas - pensamentos, sentimentos e sensações - estão mudando constantemente? Ora predominam os pensamentos, ora, os sentimentos, ora, as sensações. Esse processo é você?

Quando está sentado em silêncio, simplesmente observando sua respiração, percebe algum momento em que esse processo é silencioso e tranquilo? Há algum momento em que não há nenhum pensamento, nenhum sentimento, nenhuma sensação - só a inspiração e a expiração? Onde está você nessa hora?
 
Gosto de praticar a meditação zen, em que se busca permanecer impassível enquanto os pensamentos se formam e se desvanecem por si mesmos, como nuvens.

Essa parte: "As lembranças constituem boa parte de seus pensamentos? Ou o planejamento para o futuro?" já pude eu mesmo observar e proibi a mim mesmo de embarcar em devaneios sobre o passado e o futuro. Muitos dos pensamentos se formam sobre essa base (passado/futuro), quer meramente recordando ou planejando, quer tentando refazer o passado ou imaginar todas as possibilidades e cenas futuras. Vejo isso como pura perda de tempo e energia, além de nos desviar do único tempo real: o Presente. POr isso procuro estar atento e não deixar que meu pobre ego embarque nessas viagens. Auto-atenção = auto-controle.

E sim: essa ferramenta, esse modo de estar consciente (a meditação) me ajudou muito em momentos difíceis.
 
Você vive na ilusão e na aparência das coisas.
Há uma realidade, mas você não a conhece.
Quando compreendê-la, vai ver que você não é nada,
E, sendo nada, você é tudo.
Isso é tudo.



Kalu Rinpoche (Tibete, 1905 ~ Índia, 1989)
“The Dharma That Illuminates All Beings Impartially Like the Light of the Sun and Moon”
citado por Jack Kornfield, em “The Buddha is Still Teaching”

http://samsara.blog.br/2010/09/tudo-e-nada/ e http://darma.info/trechos/2010/09/tudo-e-nada/



[...] não existe nem mesmo uma partícula nascendo, nascida ou que irá nascer — não há nada que possa ser agarrado, nada a que possamos nos apegar. Todas as coisas são inerentemente assim, não têm natureza intrínseca própria, são intrinsecamente incompatíveis com qualquer caracterização: nem um nem dois, nem muitos nem infinito, nem pequeno nem grande, estreito ou largo, profundo ou raso, nem nulidade nem conceitos, nem assim nem não-assim, verdade ou mentira, substancial ou insubstancial, nem existente nem inexistente.

Bodisatvas então vêem as coisas como não-coisas, embora em termos de fala eles sigam as convenções ao definir o que são não-coisas como coisas; eles não interrompem o caminho da ação e não desistem das práticas para a iluminação; eles buscam onisciência sem jamais retroceder.

Eles sabem que todas as condições das ações são como sonhos, que sons e vozes são como ecos, que seres sencientes são como sombras, que todas as coisas são como fantasmas — ainda assim eles não negam o poder de ação das causas e condições. Eles sabem que o espectro das ações alcança muito longe; compreendem que todas as coisas não fazem nada e cruzam o caminho da não-ação sem jamais desistir.

Sutra Guirlanda de Flores
(Avatamsaka Sutra, livro 25 – “As Dez Dedicações”)
“Flower Ornament Scripture”

http://samsara.blog.br/2010/09/caminho-de-vacuidade/
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Última edição:
demorei pra ler, eu sabia que ia valer a pena, muito bom!
 
Significado do culto a Buda




Observadores superficiais tentam apontar o paradoxo de que o Buda, que quis libertar a humanidade da dependência de deuses e da crença em um Deus criador arbitrário, acabou ele mesmo endeusado nas formas posteriores de budismo.

Eles não compreendem que o Buda que é cultuado não é a personalidade histórica do homem Sidarta Gautama, mas a corporificação das qualidades divinas, que são latentes em todo ser humano e que se tornaram aparentes em Gautama e em inúmeros Budas antes dele.

Não vamos confundir o termo “divino” — mesmo o Buda dos textos Pāli não evitou classificar a prática das mais altas qualidades espirituais na meditação (como amor, compaixão, alegria empática e equanimidade) como “permanecer em Deus” (brahmavihāra) ou “estado divino”.

Então, não foi o homem Gautama que foi elevado ao status de um deus, mas sim o “divino” que foi reconhecido como uma possibilidade de realização humana. Assim, o divino não perdeu valor, mas ganhou; porque à partir de uma mera abstração, se tornou uma realidade viva; de algo que era apenas acreditado, passou a ser algo que podia ser vivenciado. Então não foi uma queda para um nível inferior, mas uma elevação, uma ascensão de um plano de realidade inferior para outro superior.

Assim, os Budas e Bodisatvas não são meramente personificações de princípios abstratos — como aqueles deuses que são forças da natureza personificadas ou qualidades psíquicas que o homem primitivo só podia entender através de formas semelhantes à humana —, são protótipos daqueles estados mais elevados de conhecimento, sabedoria e harmonia que foram atingidos pela humanidade e sempre serão realizados de novo e de novo.

Independente se esses Budas são concebidos como surgindo sucessivamente de tempos em tempos (como seres históricos, por exemplo, na tradição Pāli) ou como imagens além do tempo, arquétipos da mente humana (que são visualizados em meditação e, portanto, chamados de Dhyāni-Budas) eles não são alegorias de perfeições transcendentais ou de ideais inalcançáveis. São símbolos e experiências visíveis da realização espiritual em forma humana.

Porque para nós a sabedoria só pode se tornar uma realidade se ela for realizada em vida, se ela se tornar parte da existência humana.

Lama Anagarika Govinda (Alemanha, 1898 ~ EUA, 1985)
“Foundations of Tibetan Mysticism”, parte 3 | 1

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O problema não está na dualidade em si

[...] O problema não está na dualidade em si; está no fato de que experimentamos a dualidade de uma maneira parcial e incompleta — nos identificamos com um lado e rejeitamos ou nos agarramos ao outro.

“Mas se estivermos completamente em contato com esses sentimentos dualistas, a experiência absoluta de dualidade é ela própria a experiência da não-dualidade. Então não há problema algum, porque a dualidade é vista a partir de um ponto de vista perfeitamente claro e aberto no qual não existe conflito; existe uma visão tremendamente abrangente da unidade.”*

Ou como está dito em “Autoliberação através da visão nua”*:

Aparências não são enganosas, o erro vem através do apego.
Conhecendo o pensamento de apego como mente, ele é autoliberado.

Ao aprender a ver o mundo dessa maneira, podemos experimentar a dualidade como ela realmente é, plena e completamente, de tal forma que é transformada na totalidade toda abrangente do estado desperto. [...]

Francesca Fremantle
“Vazio Luminoso”, cap. 11

* trechos de textos do Bardo Thodol (ou “Livro Tibetano dos Mortos”, como é conhecido um capítulo desse ciclo)


http://samsara.blog.br/2010/10/o-problema-nao-esta-na-dualidade-em-si/
 
Sendo o Amor a lanterna dessa experiência absoluta, eu concordo.
Eu vejo a dualidade como uma maneira de separar-nos do mundo para que possamos no sentir mais independentes dentro da totalidade que parece ao Ego uma força esmagadora e implacável. No entanto é um paliativo que se desgasta e se distorce, junto com a consciência.
 
Pintura chinesa retratando a Terra Pura do Buda Amitabha

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Mundos criados pela mente


Assim como as artes do mágico
Podem fazer surgir diversas coisas,
Devido à força dos atos dos seres
O número de planos de existência é inconcebível.

Assim como pinturas
Desenhadas por um artista,
São todos os mundos
Criados pela mente pintora.

As diferenças nos corpos dos seres
Surgem das discriminações da mente;
Assim todas as terras variam
Conforme os atos.

Assim como o Guia é visto
Sob diferentes formas,
Os seres vêem as terras
De acordo com seus padrões mentais.

Sutra Guirlanda de Flores
(Avatamsaka Sutra, livro 5 – “O Reino Vale de Flores”)
“Flower Ornament Scripture”

5 de novembro de 2010

http://samsara.blog.br/2010/11/mundos-criados-pela-mente/ e http://darma.info/trechos/2010/11/mundos-criados-pela-mente/
 
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Impermanência Sutil

Todos têm um entendimento grosseiro sobre a impermanência; raramente ele chega a um nível sutil. Nós consideramos alguma coisa permanente até que ela seja destruída. Por exemplo, uma pessoa é permanente até que ela morre; um copo é permanente até cair e quebrar. Esse é um entendimento grosseiro da impermanência.

Ao entender a impermanência sutil, compreendemos que tudo muda de instante a instante, momento a momento. A cada micro-segundo uma pessoa está mudando.

Podemos dar ao envelhecimento um brilho confortável dizendo que uma criança está crescendo e ficando maior, mas, na verdade, a partir do momento que ela nasce, a criança envelhece todo dia e cresce em direção à morte. O mesmo vale para as estações e todas as outras coisas.

Dizemos: “agora é verão”, e temos a ideia de que, embora o verão seja impermanente, ele parece ininterrupto. O verão de repente acaba e chamamos isso de outono. Na realidade, as coisas mudam a todo instante; mesmo as partículas mais sutis de matéria mudam continuamente. Nada permanece estável de um momento para outro. Isso é a impermanência sutil.

A impermanência é um fato com que devemos nos acostumar e não esquecer. Façamos com que essa compreensão cresça em nossas mentes. Assim, teremos menos apego às coisas desta vida, e nossa habilidade de entender os ensinamentos, colocá-los em prática e repousar na equanimidade da meditação vai aumentar. Treinar a mente na compreensão da impermanência tornará mais fácil a prática da meditação.

Costuma ser dito: “se você se agarra a esta vida, não é um praticante”. Ao se apegar às coisas desta vida e sentir que o que temos não é suficiente, desperdiçamos nosso tempo e lentamente nossa vida se esvai.

Chokyi Nyima Rinpoche (Tibete, 1951~)
“Bardo Guidebook”

6 de dezembro de 2010

http://samsara.blog.br/2010/12/impermanencia-sutil/
 
Princípio do ser

É possível para nós alcançar o nirvana? O fato é que vocês são o nirvana. O nirvana está à disposição de vocês vinte e quatro horas por dia. É como a onda e a água. Vocês não precisam procurar o nirvana em outro lugar ou no futuro. Porque já são ele. O nirvana é o princípio do seu ser.

Uma das maneiras de alcançar o mundo do não-nascimento e da não-morte é alcançar o mundo do nascimento e da morte. Seus próprios corpos contém nirvana. Seus olhos, nariz, língua, corpo e espírito contém nirvana. Se se aprofundarem bastante nele, alcançarão o princípio dos seus seres.

Se pensam que só conseguirão alcançar Deus abandonando tudo no mundo, duvido que conseguirão alcançá-lo. Se estiverem buscando o nirvana rejeitando tudo que existe em vocês e à sua volta, ou seja, forma, sentimentos, percepção, concepções mentais e consciência, não conseguirão atingir o nirvana de maneira alguma. Se eliminarem todas as ondas, não haverá água para tocar.

Thich Nhat Hanh (Vietnã, 1926 ~)
“Jesus e Buda, irmãos”, cap. 1

15 de dezembro de 2010

http://samsara.blog.br/2010/12/principio-do-ser/
 
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