Só pra constar também. Não sei se alguém é familiarizado com esse tema.
A crise do pico petrolífero e o futuro dos governos
por
Tom Whipple
Caso não tenha prestado atenção, um par de semanas atrás a Agência Internacional de Energia , com sede em Paris, revelou finalmente que o pico histórico da produção de petróleo convencional ocorreu em 2006. Apesar de esta declaração equivaler ao anúncio do fim dos 250 anos de era industrial, poucos nos media de referência notaram o acontecimento e ele foi relegado aos cantos obscuros do ciber espaço.
Também vale a pena notar que o petróleo está de volta à vizinhança dos US$90 por barril e mesmo economistas da Wall Street, que são pagos para serem eternamente optimistas, agora começam a falar acerca de o petróleo ir para os US$110-120/barril no próximo ano ou pouco mais.
Nesse meio tempo, os palradores, sabichões e mesmo repórteres teimosos tagarelam acerca da lenta mas persistente recuperação económica que supostamente estaria a verificar-se. Como os efeitos do estímulo do ano passado de quase um milhão de milhões (trillion) de dólares começam a ser sentidos, todo espasmo estatístico ascendente é louvado como prova de que a normalidade retornará em breve. Os realistas, contudo, chamam a estes espasmos "ricochetes da base" e estão convencidos de que o pior está para vir.
Como sabemos todos nesta altura, um novo grupo aterrou em Washington prometendo fazer tudo correctamente outra vez através do corte de impostos, reduzindo a dimensão e o papel de algumas partes do governo. Acima de tudo os sujeitos estão comprometidos em conseguir eliminar a regulamentação do governo de modo a que a livre empresa, o espírito empresarial, o capitalismo mercantil ou o que houver possa florescer como no passado.
O que toda esta gente que apela à redução do governo não entende, contudo, é que 200 anos de energia abundante e barata de combustíveis fósseis transformaram este país em algo completamente diferente. Tomemos a alimentação como exemplo. Duzentos anos atrás, uns 90 ou mais por cento estavam envolvidos na produção ou obtenção de alimentos – ou nós simplesmente não comeríamos. Agora, graças a combustíveis fósseis baratos, menos de 3 por cento de nós estão dedicados ao trabalho agrícola e suspeito que apenas uma fracção dos nossos "agricultores" ainda têm todas as qualificações necessárias para alimentarem-se a si próprios e às suas famílias no estilo a que se acostumaram. Retire o gasóleo para os tractores e a agricultura tornar-se-á muitíssimo diferente. Será que alguém atrelou um boi recentemente?
Em suma, 200 anos de energia abundante permitiram-nos construir uma civilização extremamente complexa baseadas sobre dúzias de sistemas inter-relacionados sem os quais já não podemos viver – pelo menos no estilo a que nos acostumámos. Produção e distribuição alimentar, água, esgotos, remoção de resíduos sólidos, comunicações, cuidados de saúde, transportes, segurança pública, educação – a lista de sistemas vitais para a vida e o bem-estar geral continua.
Aqueles que acreditam que daqui a dez anos seremos capazes de nos entendermos com governo muito reduzido têm pouca compreensão de como funciona a civilização moderna ou de quão más as coisas vão ficar quando a energia dos combustíveis fósseis desvanecer-se das nossas vidas. É absurda a noção de que estamos em meio a uma baixa de rotina do ciclo económico, o qual poderia ser curado pelos estímulos keynesianos preferidos pelos democratas ou cortes fiscais preferidos pelos republicanos.
Apesar de ninguém poder prever o futuro em pormenor, de vez em quando abre-se uma janela que dá uma ideia geral de eventos quase a emergir. Exemplo: nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial não era preciso ser muito clarividentes para reconhecer que um grande desastre estava prestes a desencadear-se.
Embora poucos reconheçam quão precária é a situação, estamos armadilhados numa civilização muito complexa que está a perder rapidamente as suas fontes de energia e numerosas outras matérias-primas que a construíram e que a mantém. Na América de hoje temos milhões de desempregados e sub-empregados e que é certo cresceram para as dezenas de milhões antes de esta década ter acabado quando os nossos políticos negociam cortes de impostos para multimilionários em troca de prorrogações de benefícios para desempregados. A boa notícia é que esta fase da grande transição da era industrial para aquela que se seguirá não pode perdurar muito mais tempo pois os acontecimentos estão mover-se de modo demasiado rápido.
Quer se goste ou não, a dimensão e a complexidade da próxima transição será grande e sem precedentes e haverá tanta coisa em jogo que só governos terão a autoridade o poder para enfrentar a multidão de problemas que estão prestes a emergir. Ainda que isto seja heresia para alguns círculos até agora inconscientes, tudo isto vai exigir uma transferência maciça de recursos de mãos privadas para públicas. Considere-se algo tão simples como empregos. Se alguém pensa que a situação do emprego é difícil, aguarde uns poucos antes até que os combustíveis de motores com preço muito altos tornem incomportáveis viagens de carro despreocupadas. Milhões de milhões de empregos no retalho, viagens, hotelaria, recreação e dúzias de outras indústrias serão perdidos.
Os actuais esforços a vários níveis do governo para estimular a criação de emprego ou salvar pessoas de arrestos das casas demonstrar-se-ão ridiculamente inadequados. Um paradigma completamente novo do que fazer para sustentar a vida está em vias de ter de emergir ou as coisas tornar-se-ão muito piores do que a maior parte de nós alguma já conheceu. A civilização moderna simplesmente não pode suportar uma situação na qual uma parte substancial do seu povo é pobre. O potencial de desordem social é demasiado grande.
Se as actuais tendências continuarem, em algum momento nos próximos cinco anos uma massa crítica de nós perceberá que novos fundamentos para a civilização, e novos modos de vida, devem ser encontrados e implementados se quisermos sobreviver com um mínimo de conforto, além de estabilidade económica e política. Até que isso aconteça, haverá muitos falsos profetas a apelarem a um retorno a uma civilização que não é mais possível.
Fonte: resistir.info