A pergunta é: o que te dá tanta certeza disso? Eu não quero te provar (isso é impossível para mim) nem te convencer de que o mundo não é real, eu só quero que você perceba que é impossível ter certeza de que o mundo é real. Se você for analisar friamente, você vai perceber que não existe uma única evidência que prove que o mundo é real.
Ou você por acaso tem uma prova irrefutável que prove a realidade do mundo? Só o que você tem são suas percepções e sensações, mas isso prova que de fato existe um objeto do lado de fora que já estava ali antes de ser percebido e vai continuar ali quando mais ninguém o estiver percebendo?
Quando você vê um objeto, o que te dá tanta certeza de que realmente esse objeto existe objetivamente? Como você sabe que não é uma
alucinação? Você pode argumentar dizendo que outras pessoas veem o mesmo que você, como quando, por exemplo, vocês concordam com o fato de que um tomate é vermelho. Mas como você pode saber que a outra pessoa está vendo exatamente a mesma coisa que você? Ela pode estar vendo outro objeto que ela também chama de tomate e outra cor que ela também chama de vermelho.
Você já teve acesso à subjetividade de outra pessoa pra ver se ela realmente está vendo a mesma coisa que você ou sequer pra saber se ela de fato possui uma consciência e não é só mais uma ilusão? E mesmo que você pudesse acessar a consciência de outra pessoa e de fato ver que o que ela chama de tomate é a mesma coisa que você chama de tomate e que a cor que ela chama de vermelho é a mesma cor que você chama de vermelho, isso provaria que de fato existe um tomate que é vermelho?
Como você saberia que ela também não está alucinando? Não poderiam duas ou mais pessoas estarem tendo a mesma alucinação?
Afinal de contas, o mundo é uma alucinação coletiva. Como tá todo mundo tendo a mesma alucinação (se é que tá todo mundo tendo a mesma alucinação), a gente acha que isso é saudável e normal, mas o fato é que somos todos esquizofrênicos.
Mas perceba que nada disso do que eu falei prova que o mundo não é real, apenas expõe a impossibilidade de se encontrar uma evidência irrefutável da realidade das coisas. A ausência de evidências de algo não prova o seu contrário. Assim sendo, o certo seria o mais completo ceticismo: admitir para si mesmo que é impossível provar a realidade do mundo, mas nem só por isso crer que o mundo é uma ilusão, já que isso seria apenas mais uma crença infundada (a menos, é claro, que você tivesse uma evidência irrefutável da irrealidade do mundo, mas daí isso não seria uma crença, mas sim um saber).
Então, como você pode ver, não existe nenhuma prova da objetividade do mundo e, portanto, afirmar com tanta convicção como você está afirmando que o mundo é real não é muito diferente do que um evangélico fanático faz ao afirmar que Deus e o Diabo existem. Talvez não seja exatamente a mesma coisa porque acreditar na realidade das coisas é uma crença instintiva nossa, mas no fim das contas é apenas uma crença que não pode ser provada.
O movimento é uma ilusão sim, porque esse espaço tridimensional é uma ilusão. Você deve conhecer o paradoxo de Zenão. Falando de forma bem resumida, esse paradoxo mostra que eu nunca consigo chegar a lugar algum por um motivo muito simples: para chegar a qualquer lugar eu preciso percorrer uma distância infinita, mesmo para minha palma da mão bater na outra ela precisa percorrer uma distância infinita. Agora eu pergunto: pode alguém percorrer uma distância infinita? Se um dia você decide percorrer uma distância infinita, quando você acabaria de percorrê-la? Nunca, certo?
Agora perceba que, para qualquer lugar para o qual você se desloque, há uma distância infinita entre esse lugar e seu ponto de partida. Para chegar a seu destino, primeiro você tem que percorrer metade do trajeto até ele. Você nunca chegará lá sem antes percorrer a metade do trajeto. Mas para chegar à metade do trajeto, primeiro você tem que percorrer a metade dele, ou seja, a metade da metade do seu trajeto total, e para isso você tem que primeiro percorrer a metade da metade da metade, e para isso a metade da metade da metade da metade e assim regressivamente ao infinito.
Falando de outro modo, quantos números racionais existem entre 1 e 2? Uma quantidade infinita, certo? Suponhamos que você decide se deslocar um centímetro, você só vai conseguir isso se você percorrer as infinitas medidas que existem dentro de um centímetro. Quando você vai dar conta de percorrer as infinitas medidas que existem em um centímetro? Nunca, certo?
É preciso que haja um "teletransporte" para que você se mova. O movimento na verdade é apenas uma ilusão gerada pela sucessão de imagens criadas pelo pensamento. Essas imagens são tudo o que a gente percebe. Cada pensamento cria uma imagem, em uma imagem criada você está no ponto X, na próxima imagem você está no ponto Y, mas isso não quer dizer que você percorreu a distância entre um ponto e outro. É que nem num filme: não existe movimento algum ali, apenas uma rápida sucessão de fotos (24 fotos por segundo, geralmente) que gera a impressão de que há movimento. As imagens criadas pelo pensamento são tão rápidas e nós estamos tão distraídos que a gente não percebe isso. A gente não vê o vazio que existe entre um frame e outro.
A propósito, por que você colocou esse "felizmente" aí? Você acha a existência dessas coisas algo bom? Se sim, por quê? Se não existissem você acharia ruim? Se sim, por quê?