A coisa é muito simples: se a trip te ajudou de alguma maneira a longo prazo entao nao foi bad, mesmo que seja desconfortavel deixa um sensacao/vitalidade verdadeira.
Pô, então a coisa não é tão simples assim...
Como você vai saber, na hora que a bad tá comendo forte, se no longo prazo ela vai te ajudar em algo ou não? Segundo sua própria definição de bad, é impossível discernir quando será oportuno tomar uma pílula mágica dessas.
Vou dar um exemplo de uma experiência pessoal e colocar minha opinião. Não para você especificamente .Gabiru, mas para o debate como um todo. (Vai ser uma digressão longa, me perdoem)
Há tempos atrás eu tive uma bad de LSD em casa que foi o seguinte: eu tava me cagando de medo de cometer SUICÍDIO a qualquer momento. Eu sentia que a minha racionalidade estava no fio da navalha e que se eu escorregasse por um instante sequer, já era, eu acabaria com a minha vida: ir na cozinha pegar uma faca e cortar meu pescoço, se jogar de uma ponte... tudo isso e mais um pouco passou pela minha cabeça como possibilidades reais que estavam na iminência de acontecer. Esses pensamentos vieram junto com uma aceleração absurda dos meus batimentos cardíacos, comecei a ficar ofegante, suar frio e entrei em pânico.
(Acho que poucos aqui vão discordar que se tratava de uma bad. Não era simplesmente constatar as contradições da vida moderna, a farsa que nós representamos na vida cotidiana, etc. Isso eu nem chamo de bad...)
O fato é que se eu tivesse um comprimido desses em mãos, eu não tenho dúvidas que eu droparia. Até porque pra mim, naquele instante, trataria-se de garantir minha integridade física. Mas como eu não tinha esse "salva-vidas", tive que me concentrar muito na respiração, racionalizar pra caralho o absurdo que era ter medo de eu mesmo estourar meus miolos... enfim, foi mais de uma hora de perrengue brabo para depois ficar "somente" me sentindo a merda do cavalo do bandido por algumas horas.
Depois disso fiquei com medo dos enteógenos em geral, e apesar de não ter parado de usá-los, passei a preparar muito criteriosamente set & setting e tal.
Mas em um belo dia, bem depois dessa bad, passei o dia em uma praia linda com os brothers, fumei ganja no pôr do sol e fui pegar um busão para uma viagem que duraria umas 6 horas. E advinha quem veio me fazer companhia? O pânico. Eu nunca tinha sentido aquilo antes em uma situação banal como aquela, mas comecei a surtar com a possibilidade de perder a racionalidade a qualquer instante em um busão que não poderia parar se eu quisesse tomar um ar etc. A sensação era da mesmíssima natureza que a bad de LSD, então comecei a respirar de modo a baixar minha frequência cardíaca, comecei a conversar com as pessoas do lado e aquele princípio de pânico sumiu. Eu diria que a experiência prévia da bad com LSD foi bem útil e me auxiliou a sair dessa rápido, sem dúvidas.
Depois de refletir muito sobre isso eu comecei a perceber que no meu cotidiano eu perco a minha racionalidade com uma frequência surpreendente, e que muitas e muitas vezes eu me deixo levar por atos compulsivos e vícios sucessivamente, de modo a escapar da realidade, fazendo coisas que eu não queria fazer, de maneira ininterrupta, saca? O meu livre arbítrio, no estado de consciência alerta, também não serve de muita coisa e poucas vezes ele prevalece.
Quando eu tive essa percepção, meu medo de perder a racionalidade se tornou risível, e isso foi muito construtivo para o meu cotidiano. No fim das contas, a bad me colocou cara a cara com a questão da minha racionalidade e tudo isso foi bem interessante.
Digressão feita, volto ao tema do tópico para concluir.
Supondo que eu tivesse comprado uma caixa de Rivotril depois da bad que eu relatei, para entrar nas próximas trips mais sossegado, eu imagino duas consequências bem plausíveis. 1) Eu não teria o mesmo ímpeto para tentar desconstruir esse pânico que surgiu na minha mente, já que estaria resignado a apenas evitá-lo confortavelmente com uma pílula; 2) Iria ganhar um bela dependência psicológica dessa droga, porque alguém que não sabe contornar uma situação sem seu salva-vidas é uma pessoa com medo, muito medo, e vai evitar experiências psicodélicas fortes sem o comprimido.