Olá amigos! Estou começando (o que me deixa bastante surpreso) o meu primeiro cultivo! Acho muito legal ver as minhas pesquisas e estudos começarem a se materializar... Cultivar cogumelos mágicos realmente não era algo que estava nos meus planos há um mês atrás! Antes de continuar com o resto do texto eu gostaria de dizer que me sinto agradecido por poder ter contato aqui no fórum com outras pessoas interessadas e experientes neste tema dos enteógenos... A internet é simplesmente demais! Dito isso, vamos ao que interessa.
Como este é meu primeiro cultivo, não estou economizando em descrever detalhes sobre como foi o processo e os erros e dificuldades que precisei enfrentar. Acho que na hora da verdade saber que o êmbolo da seringa é muito sensível ou que pode formar uma bolha de ar dentro seringa quando você está sugando a água com esporos são informações que teriam me ajudado bastante, mas que normalmente não são descritas por aí. Considero isto como um diferencial neste diário.
15/07/2015 - PRIMEIROS PASSOS: Minha intenção inicial era comprar uma seringa de esporos e usar o forno como bancada de trabalho, mas lendo relatos aqui no fórum de que as seringas compradas na internet não são muito confiáveis ( tanto pelo risco de virem contaminadas ou de sequer funcionar/não aparecer micélio nos copos), acabei precisando mudar de ideia e decidi comprar carimbos.
Precisei então pesquisar mais sobre confecção de seringas de esporos e sobre a confiabilidade do método do forno. Lendo sobre o método do forno (“Oven tek”) no site Shroomer, descobri que o método não estava nem um pouco bem conceituado e precisei desistir desta ideia também, então surgiu a necessidade de construir uma glovebox de uma vez.
GLOVEBOX: Saí pelo bairro na caça de uma caixa de papelão grande e encontrei esta que está nas fotos. No dia anterior havia chovido, a caixa ainda estava meio úmida, um pouco contorcida e suja. Escolhi ela mesmo assim. Cortei fora a tampa, tirei a fita adesiva suja que estava na caixa, passei fita adesiva em todos os lados da caixa, por dentro, por fora e nas bordas onde estava a tampa. Antes de colocar a fita nova eu higienizei a caixa com bastante spra de água sanitária e esperei secar. Depois forrei com papel alumínio, abri dois buracos para as mãos, passei alumínio no buraco para as mãos e fiz a tampa da caixa e os protetores da entrada das mãos com um plástico de embalagem de salgadinhos que vem com várias unidades. :!: O único erro com a minha glovebox foi o tamanho da caixa, ela é enorme e tomou muito espaço para guardá-la no armário. Só tive noção do tamanho dela quando tentei colocá-la no armário.
INCUBADORA: Como a temperatura anda variando bastante por aqui, quando eu estava nos primeiros passos das preparações a temperatura ambiente estava entre 18°/19,5°, então precisei bolar algum sistema de aquecimento para a incubação. Para usar um aquecedor de aquário eu iria precisar de uma caixa mais alta, por isso preferi fazer um aquecedor seco usando uma lâmpada incandescente pequena de 15 w. Enrolei a lâmpada em papel alumínio pra não passar luz, testei no escuro pra ter certeza que não passava luz mesmo e coloquei-a na caixa escolhida para incubação com um termômetro. A lâmpada acabou sendo colocada dentro de um copo por receio de incendiar a caixa. Precisei cobrir a caixa com uma toalha pequena para vedar a tampa pois o ar quente vazava e não esquentava direito o interior da caixa. Neste setup a temperatura dentro da caixa passava dos 30° fácil, chegando a uns 33°, muito além do necessário. Achei que a ideia do aquecedor seco não ia dar certo já que acredito que não se acha lâmpadas menos potentes para comprar, mas então acabei lembrando que eu tinha um dimmer (controlador de intensidade) no armário e instalei-o na tomada, controlando desse jeito a potência da lâmpada. Com um medidor de consumo elétrico Kill-a-Watt regulei o dimmer para 7,5 w (o kill-a-watt não é necessário, mas estou citando ele já que é por causa dele que eu sei que o dimmer estava regulado em 7,5 w). Com temperatura externa de 19°+-, a temperatura interna da incubadora ficou em 27,3°+-, ficando razoavelmente constante em alguns dias e variando entre 25°-29° em outros. No entanto, como a temperatura ambiente atualmente está em 24°+- , se continuar assim quando eu finalmente tiver os copos inoculados eu colocarei a incubadora no armário em cima da geladeira (onde por aqui sempre fica 3° acima da temperatura ambiente), ou deixarei em um armário com temperatura ambiente mesmo, já que há dados de que a temperatura ideal fica entre 23°-27° (TEMPERATURA IDEAL – MITOS, https://teonanacatl.org/threads/reiniciando-o-início.4869/)
Outras coisas dignas de nota...
A água destilada não foi nada fácil de achar pra comprar! Passei em quatro farmácias e nenhuma delas tinha pra vender. Nos supermercados também não. Comecei a ligar em auto mecânicas e só lá pela nona ligação eu achei uma loja que vendia, sob o nome “Água desmineralizada para baterias”. Custou R$4 um litro. Fica a indicação para quem está em Campinas, a loja chama Mercado Auto Peças, na Av. Amoreiras, vizinha do supermercado Paulistão e da Hpar. Tel: 3227-1072
A vermiculita também foi outra incógnita. Assim que você começa a procurar por vermiculita na internet descobre que existe a vermiculita expandida e fica na dúvida de qual é a certa pra comprar. Fui até a loja indicada (Irmãos Meirelles) no tópico “onde comprar vermiculita”. Chegando lá a caixa do produto dizia apenas “vermiculita” e não “vermiculita expandida”, e no canto da caixa estava escrito que era de “natureza física: farelado”. Pensei, “bom, espero que seja esta, se não for eu mesmo expando no forno” (como alguém postou no fórum). A marca é Dim, 250g, o que se traduz em 2 litros – o que é outra coisa que eu não sabia, pois achei que 250g devia ser só um punhadinho que ia dar para um copo só. Custou R$6,30 a caixa com dois litros. Eu sugeriria para algum moderador atualizar estas informações lá no tópico “Onde compro vermiculita”.
O arroz integral foi outro ponto de atenção, li num relato aqui no fórum que alguém havia notado grande diferença na quantidade de frutos nos bolos em que usou arroz integral orgânico, então resolvi investir um pouco a mais e comprar o orgânico. Achei para comprar na loja Amarílis produtos naturais, fica bem próxima ao Instituto Cultural Nipo Brasileiro de Campinas, por R$8,90. Endereço da loja: Rua camargo paz, 65 - Tel 19 3243-5982
Uma dica interessante é que na Igreja Messiânica (que também fica ali perto no caso da unidade de Campinas) em dia de culto mensal (1x por mês) também tem uma feira de produtos orgânicos, e lá 1 Kg de arroz integral orgânico teria custado R$5. Acho que é uma boa diferença.
De volta para a parte prática, para preparar a seringa vou utilizar a técnica do RogerRabbit mostrada no DVD “Let’s grow mushrooms”. Cobri a seringa, um copo com água destilada e um copo vazio com papel alumínio e eles irão pra panela de pressão por meia hora. Esfriarão e serão colocados na glovebox, onde despejarei entre 1/6 e ¼ do carimbo no copo utilizando um loop de inoculação improvisado (um extrator de espinhas esterilizado). O copo com água eu marquei com um pedaço de fita isolante porque não pretendo tirar o papel alumínio na hora de retirar a água com a seringa.
Por enquanto é só, não preparei as seringas ainda porque vou preferir estar sozinho para realizar os procedimentos, moro com a minha mãe e por mais que não haja segredo com a minha família sobre as minhas pesquisas sobre enteógenos (compartilhei inúmeras pesquisas cientificas positivas com minha família e alguns amigos e já fui na UDV algumas vezes), não vou dar muitas chances para o azar, antes dela ter oportunidade de encher meu saco eu já vou estar com os bolos colonizados hehe. Os terrários serão de garrafa PET.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
17/07/2015 - FAZENDO SERINGAS: Hoje fiquei sozinho em casa e logo comecei a correria... Não sabia quanto tempo teria e comecei a preparar a panela de pressão para esterilizar a seringa e os copos. Coloquei uma toalha na panela, água, os copos e a seringa. Em pouco tempo a panela já estava apitando. Eu não sabia quanta água eu devia ter posto, coloquei um canecão cheio e pensei que a água estava no nível da toalha, mas acho que não estava. Deixei a panela apitando por mais de 30 minutos, e quando abri a panela posteriormente o interior dela só estava úmido, sem água sobrando (até porque a toalha puxou muita água).
Comecei a arrumar meu quarto, iria operar a glovebox dentro de um armário vazio. Separei as luvas, touca e máscara cirúrgica, álcool, isqueiro, etc. Levei a panela pro quarto e passei spra de água sanitária dentro da glovebox e spra de álcool (Lsol de pobre) no ar, na panela, etc. Esperei cinco minutos fora do quarto pra assentar um pouco o ar. Voltei pro quarto e daí pra frente tudo começou a ficar complicado.
O quarto com a janela fechada ficou quente e abafado bem rápido, a posição pra mexer na glovebox era ruim para as costas... Coloquei as luvas e as higienizei com álcool, elas ficaram muito molhadas e eu tinha esquecido de pegar o papel pra enxugar...
Tirei os copos da panela e os coloquei dentro da glovebox, flambei o loop e a seringa e coloquei-os pra dentro também. Os copos ainda estavam quentes (eu não podia ficar esperando muito tempo!!!), a água destilada estava com uns 40º... Acabei precisando tirar o papel alumínio do copo e aguardar um pouco, o que já detonou com o protocolo desejado de higiene. Na verdade dali em diante eu já sabia que nada ia correr perfeitamente como num vídeo tutorial e que eu teria que contar alguma sorte para as coisas darem certo.
Abri a embalagem em que estava o carimbo de esporos, enchi a seringa com água, coloquei um pouco de água no copo vazio e antes de eu mirar direito onde eu ia jogar um pouco de água no carimbo a seringa escolheu sozinha e espirrou num canto. Mexi com o loop e joguei os esporos no copinho, jogando água no papel alumínio pra retirar os esporos do caminho que eles fizeram até a borda do papel alumínio – já que não tive conhecimento de dobrar o papel melhor antes de começar.
Misturei os esporos no copinho (só chacoalhar o copo pareceu o suficiente), suguei com a seringa e pra minha surpresa a seringa ficou cheia mas ainda havia um monte de água no copo. Eu movimentava a seringa e ela ejaculava água pelas paredes da glovebox sem querer, perdi bastante água assim.
Ah sim, isso porque com os copos mornos a tampa da glovebox embaçou e ficou difícil de enxergar direito o que estava acontecendo...
Finalmente descobri que havia uma bolha de ar na seringa, tirei a bolha e enchi a seringa com a água de esporos, e a seringa ficou cheia só pela metade... Deduzi que o resto da água com esporos foi inoculado nas paredes da glovebox
Encerrei os procedimentos, flambei novamente a ponta da seringa e a tampei. Olhei pra seringa e... cadê os esporos????? A seringa estava super transparente, nenhum sinal de esporos. Fiquei na dúvida se aquela seringa iria servir ou não e procurei na internet e postei aqui no fórum, mas não obtive resposta rápida... Resolvi ir até a farmácia rapidamente e comprar mais uma seringa! Comprei a seringa e me toquei que ela não estava esterilizada! Bom, eu teria que utilizar outras duas técnicas então, a técnica “Seringas extremamentes simples” e a “Sorte”.
(Seringa sem esporos visíveis)
Cheguei em casa e coloquei um pouco de água destilada pra ferver (como se uma fervida rápida fosse esterilizar alguma coisa!), puxei pra seringa, flambei a ponta e tampei. Coloquei a seringa num copo com água gelada e meu celular tocou. Era minha mãe avisando que estava chegando e que eu me arrumasse pra ajudar a carregar as compras.
Dei uma geral na casa pra ver se não havia deixado pistas por aí, levei o copo com a seringa pro quarto, dei uma maquiada no quarto, abri as janelas pra sair o cheiro de água sanitária, fechei o armário () e a paisagem parecia tão marota como sempre foi.
Com a minha mãe em casa, voltei pro quarto, fechei a janela, tirei a camiseta, passei spra de álcool em mim, no ar, no lado de fora da glovebox, calcei as luvas, touca e mascara e voltei ao trabalho com a porta do quarto fechada, porém não trancada. Difícil imaginar condições de trabalho menos ideais!! Hahahaha.
Higienizei as luvas, flambei a seringa e o loop e fiz os procedimentos novamente. Desta vez eu já era o mestre da seringa, dobrei o alumínio do carimbo, tudo correu muito melhor. O resultado foi uma seringa onde se via claramente os esporos... Flambei a ponta da seringa (fora da glovebox!) e a tampei.
As condições estéreis da segunda seringa obviamente foram mais precárias que a da primeira, mas não me pareceram assim tão nefastas. Tudo foi feito dentro de uma glovebox, que estava dentro de um armário, que estava dentro de um quarto pequeno de janela fechada e sem ventos.
Pretendo preparar seis copos de substrato, vou usar as duas seringas e descobrir se a seringa transparente tem alguma mágica dentro dela, e a se a seringa da correria não tem contaminantes. Não deu pra calcular muito bem na hora o quanto de esporos eu queria pegar do carimbo por causa dos acidentes que aconteceram, terminei usando 2/3 do carimbo.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
20/07/2015 - PREPARANDO OS COPOS: A primeira coisa que notei – muito tardiamente - foi que os copos que eu comprei tinham um pequeno afunilamento na parte de cima, o que provavelmente vai acabar prejudicando na hora de retirar os bolos quando chegar a hora de aniversariar eles . Fazer o que, usei esses copos mesmo.
Multipliquei por seis copos as proporções sugeridas para o substrato e comecei a fazer a mistura. Considerei um copo cheio como um copo com um espaço de um dedo sobrando (para adicionar a vermiculita). Coloquei a vermiculita numa bacia e misturei com água primeiro, como sugere o RogerRabbit. Mexi a mistura com a mão e senti falta de estar usando luvas – porque apesar de não ser um procedimento estéril, eu havia mexido com casca de árvore mofada pouco tempo antes e devia haver contaminantes em baixo das minhas unhas.
Enchi os copos deixando o espaço para a vermiculita extra e acabou faltando substrato para encher o ultimo copo. :!: Parece que fazer as medidas certas para a quantidade de copos que vai usar termina em falta de substrato, porque quando molhado o substrato fica menos volumoso.
Limpei as bordas dos copos com papel, preenchi o que sobrou de espaço com vermiculita e comecei a tampar os copos com papel alumínio, recortando-o cuidadosamente para que não atrapalhasse a visibilidade do substrato, e colei-o ao copo com fita adesiva transparente pelo mesmo motivo.
Para a ESTERELIZAÇÃO coloquei uma toalha de rosto dentro da panela de pressão, coloquei os copos e enchi de água até a altura da metade dos copos (o que coincidiu com a metade da panela). Deixei a panela apitando em fogo baixo por 90 minutos e esfriando por mais de 9 horas.
INOCULAÇÃO: Esperei minha mãe ir dormir, tomei banho e comecei os trabalhos arrumando o armário - ops, ordem incorreta de novo!! Mas infelizmente eu estava com tanto sono que sem o banho eu nem aguentaria ficar acordado. Falta espaço no quarto e a cama ficou atulhada com o conteúdo do armário, o que não é o ideal. Alias, as possíveis formas de terminar contaminando alguma coisa são tão variadas que realmente acho impossível identificar positivamente a causa de alguma contaminação, podemos observar alguns dos nossos erros só.
Arrumado o ambiente, passei spra de agua sanitária no armário e dentro da glovebox, spra de álcool no ar, saí do quarto por 5 minutos e voltei para o inferno. Quarto abafado, mascara cirúrgica na cara, touca e luvas. Só que desta vez eu também estava com a bronquite atacada, com dificuldade de respirar e tossindo, perfazendo o ambiente perfeito de trabalho. Obviamente não estava tossindo em cima da seringa ou coisa assim, mas isso não é o ideal mesmo usando mascara cirúrgica ( :!: “cirúrgica”, porque mascara de pó é outra coisa e não serve pra tampar a boca e nariz de jogar contaminantes no ar - esta é uma dica do RR).
Chacoalhei a seringa até soltar os esporos que estavam grudados na parede da seringa, flambei a ponta e inoculei o primeiro copo. :!: Tentei cortar um pedaço de fita crepe pra fechar os furos com a mão e a fita grudou na luva e não saiu mais. Depois a fita grudou na outra mão e acabei precisando tirar as luvas pra conseguir tirar as mãos de dentro da glovebox. Precisei descartar as luvas .
Saí do quarto, peguei um novo par de luvas (porque pra minha sorte tem uma caixa de luvas em casa), higienizei uma tesoura pequena e resolvi usar fita micropore já que ela não grudava tão forte na luva. Inoculei outros 3 copos assim e inoculei outros 2 com a seringa de esporos invisíveis (li no Shroomer que não haver esporos visíveis é normal). Com a seringa de esporos visíveis eu usei 1 ml por copo, com a seringa de esporos invisíveis usei 2 ml por copo. Fiz duas inoculações por copo. (Na foto, nota-se que a fita adesiva ficou meio estranha depois da esterilização)
Finalmente o trabalho terminou e comecei a arrumar a bagunça. A panela de pressão ficou bastante preta por dentro, deu um trabalhão pra limpar. Precisei usar limpador de alumínio para remover as manchas, porque palha de aço e sapólio em pó não deram conta. :!: Dica útil pra quem vai fazer as coisas na surdina, porque sem o limpador de alumínio eu teria deixado evidências. Já a água de dentro da panela ficou um pouco amarela e com cheiro doce sei lá por quê.
INCUBAÇÃO: Agora é esperar e ver no que vai dar. Por enquanto desisti da ideia de deixar a incubadora no armário em cima da geladeira para tentar evitar flagrantes. A temperatura caiu justo hoje e está abaixo dos 23º. Coloquei meu aquecedor seco regulado em 2.5 w, o que parece ter elevado a temperatura para apenas 24º (à noite a temperatura na incubadora chegou a 25.6º, pra mim está ótimo).
Como este é meu primeiro cultivo, não estou economizando em descrever detalhes sobre como foi o processo e os erros e dificuldades que precisei enfrentar. Acho que na hora da verdade saber que o êmbolo da seringa é muito sensível ou que pode formar uma bolha de ar dentro seringa quando você está sugando a água com esporos são informações que teriam me ajudado bastante, mas que normalmente não são descritas por aí. Considero isto como um diferencial neste diário.
15/07/2015 - PRIMEIROS PASSOS: Minha intenção inicial era comprar uma seringa de esporos e usar o forno como bancada de trabalho, mas lendo relatos aqui no fórum de que as seringas compradas na internet não são muito confiáveis ( tanto pelo risco de virem contaminadas ou de sequer funcionar/não aparecer micélio nos copos), acabei precisando mudar de ideia e decidi comprar carimbos.
Precisei então pesquisar mais sobre confecção de seringas de esporos e sobre a confiabilidade do método do forno. Lendo sobre o método do forno (“Oven tek”) no site Shroomer, descobri que o método não estava nem um pouco bem conceituado e precisei desistir desta ideia também, então surgiu a necessidade de construir uma glovebox de uma vez.
GLOVEBOX: Saí pelo bairro na caça de uma caixa de papelão grande e encontrei esta que está nas fotos. No dia anterior havia chovido, a caixa ainda estava meio úmida, um pouco contorcida e suja. Escolhi ela mesmo assim. Cortei fora a tampa, tirei a fita adesiva suja que estava na caixa, passei fita adesiva em todos os lados da caixa, por dentro, por fora e nas bordas onde estava a tampa. Antes de colocar a fita nova eu higienizei a caixa com bastante spra de água sanitária e esperei secar. Depois forrei com papel alumínio, abri dois buracos para as mãos, passei alumínio no buraco para as mãos e fiz a tampa da caixa e os protetores da entrada das mãos com um plástico de embalagem de salgadinhos que vem com várias unidades. :!: O único erro com a minha glovebox foi o tamanho da caixa, ela é enorme e tomou muito espaço para guardá-la no armário. Só tive noção do tamanho dela quando tentei colocá-la no armário.
INCUBADORA: Como a temperatura anda variando bastante por aqui, quando eu estava nos primeiros passos das preparações a temperatura ambiente estava entre 18°/19,5°, então precisei bolar algum sistema de aquecimento para a incubação. Para usar um aquecedor de aquário eu iria precisar de uma caixa mais alta, por isso preferi fazer um aquecedor seco usando uma lâmpada incandescente pequena de 15 w. Enrolei a lâmpada em papel alumínio pra não passar luz, testei no escuro pra ter certeza que não passava luz mesmo e coloquei-a na caixa escolhida para incubação com um termômetro. A lâmpada acabou sendo colocada dentro de um copo por receio de incendiar a caixa. Precisei cobrir a caixa com uma toalha pequena para vedar a tampa pois o ar quente vazava e não esquentava direito o interior da caixa. Neste setup a temperatura dentro da caixa passava dos 30° fácil, chegando a uns 33°, muito além do necessário. Achei que a ideia do aquecedor seco não ia dar certo já que acredito que não se acha lâmpadas menos potentes para comprar, mas então acabei lembrando que eu tinha um dimmer (controlador de intensidade) no armário e instalei-o na tomada, controlando desse jeito a potência da lâmpada. Com um medidor de consumo elétrico Kill-a-Watt regulei o dimmer para 7,5 w (o kill-a-watt não é necessário, mas estou citando ele já que é por causa dele que eu sei que o dimmer estava regulado em 7,5 w). Com temperatura externa de 19°+-, a temperatura interna da incubadora ficou em 27,3°+-, ficando razoavelmente constante em alguns dias e variando entre 25°-29° em outros. No entanto, como a temperatura ambiente atualmente está em 24°+- , se continuar assim quando eu finalmente tiver os copos inoculados eu colocarei a incubadora no armário em cima da geladeira (onde por aqui sempre fica 3° acima da temperatura ambiente), ou deixarei em um armário com temperatura ambiente mesmo, já que há dados de que a temperatura ideal fica entre 23°-27° (TEMPERATURA IDEAL – MITOS, https://teonanacatl.org/threads/reiniciando-o-início.4869/)
Outras coisas dignas de nota...
A água destilada não foi nada fácil de achar pra comprar! Passei em quatro farmácias e nenhuma delas tinha pra vender. Nos supermercados também não. Comecei a ligar em auto mecânicas e só lá pela nona ligação eu achei uma loja que vendia, sob o nome “Água desmineralizada para baterias”. Custou R$4 um litro. Fica a indicação para quem está em Campinas, a loja chama Mercado Auto Peças, na Av. Amoreiras, vizinha do supermercado Paulistão e da Hpar. Tel: 3227-1072
A vermiculita também foi outra incógnita. Assim que você começa a procurar por vermiculita na internet descobre que existe a vermiculita expandida e fica na dúvida de qual é a certa pra comprar. Fui até a loja indicada (Irmãos Meirelles) no tópico “onde comprar vermiculita”. Chegando lá a caixa do produto dizia apenas “vermiculita” e não “vermiculita expandida”, e no canto da caixa estava escrito que era de “natureza física: farelado”. Pensei, “bom, espero que seja esta, se não for eu mesmo expando no forno” (como alguém postou no fórum). A marca é Dim, 250g, o que se traduz em 2 litros – o que é outra coisa que eu não sabia, pois achei que 250g devia ser só um punhadinho que ia dar para um copo só. Custou R$6,30 a caixa com dois litros. Eu sugeriria para algum moderador atualizar estas informações lá no tópico “Onde compro vermiculita”.
O arroz integral foi outro ponto de atenção, li num relato aqui no fórum que alguém havia notado grande diferença na quantidade de frutos nos bolos em que usou arroz integral orgânico, então resolvi investir um pouco a mais e comprar o orgânico. Achei para comprar na loja Amarílis produtos naturais, fica bem próxima ao Instituto Cultural Nipo Brasileiro de Campinas, por R$8,90. Endereço da loja: Rua camargo paz, 65 - Tel 19 3243-5982
Uma dica interessante é que na Igreja Messiânica (que também fica ali perto no caso da unidade de Campinas) em dia de culto mensal (1x por mês) também tem uma feira de produtos orgânicos, e lá 1 Kg de arroz integral orgânico teria custado R$5. Acho que é uma boa diferença.
De volta para a parte prática, para preparar a seringa vou utilizar a técnica do RogerRabbit mostrada no DVD “Let’s grow mushrooms”. Cobri a seringa, um copo com água destilada e um copo vazio com papel alumínio e eles irão pra panela de pressão por meia hora. Esfriarão e serão colocados na glovebox, onde despejarei entre 1/6 e ¼ do carimbo no copo utilizando um loop de inoculação improvisado (um extrator de espinhas esterilizado). O copo com água eu marquei com um pedaço de fita isolante porque não pretendo tirar o papel alumínio na hora de retirar a água com a seringa.
Por enquanto é só, não preparei as seringas ainda porque vou preferir estar sozinho para realizar os procedimentos, moro com a minha mãe e por mais que não haja segredo com a minha família sobre as minhas pesquisas sobre enteógenos (compartilhei inúmeras pesquisas cientificas positivas com minha família e alguns amigos e já fui na UDV algumas vezes), não vou dar muitas chances para o azar, antes dela ter oportunidade de encher meu saco eu já vou estar com os bolos colonizados hehe. Os terrários serão de garrafa PET.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
17/07/2015 - FAZENDO SERINGAS: Hoje fiquei sozinho em casa e logo comecei a correria... Não sabia quanto tempo teria e comecei a preparar a panela de pressão para esterilizar a seringa e os copos. Coloquei uma toalha na panela, água, os copos e a seringa. Em pouco tempo a panela já estava apitando. Eu não sabia quanta água eu devia ter posto, coloquei um canecão cheio e pensei que a água estava no nível da toalha, mas acho que não estava. Deixei a panela apitando por mais de 30 minutos, e quando abri a panela posteriormente o interior dela só estava úmido, sem água sobrando (até porque a toalha puxou muita água).
Comecei a arrumar meu quarto, iria operar a glovebox dentro de um armário vazio. Separei as luvas, touca e máscara cirúrgica, álcool, isqueiro, etc. Levei a panela pro quarto e passei spra de água sanitária dentro da glovebox e spra de álcool (Lsol de pobre) no ar, na panela, etc. Esperei cinco minutos fora do quarto pra assentar um pouco o ar. Voltei pro quarto e daí pra frente tudo começou a ficar complicado.
O quarto com a janela fechada ficou quente e abafado bem rápido, a posição pra mexer na glovebox era ruim para as costas... Coloquei as luvas e as higienizei com álcool, elas ficaram muito molhadas e eu tinha esquecido de pegar o papel pra enxugar...
Tirei os copos da panela e os coloquei dentro da glovebox, flambei o loop e a seringa e coloquei-os pra dentro também. Os copos ainda estavam quentes (eu não podia ficar esperando muito tempo!!!), a água destilada estava com uns 40º... Acabei precisando tirar o papel alumínio do copo e aguardar um pouco, o que já detonou com o protocolo desejado de higiene. Na verdade dali em diante eu já sabia que nada ia correr perfeitamente como num vídeo tutorial e que eu teria que contar alguma sorte para as coisas darem certo.
Abri a embalagem em que estava o carimbo de esporos, enchi a seringa com água, coloquei um pouco de água no copo vazio e antes de eu mirar direito onde eu ia jogar um pouco de água no carimbo a seringa escolheu sozinha e espirrou num canto. Mexi com o loop e joguei os esporos no copinho, jogando água no papel alumínio pra retirar os esporos do caminho que eles fizeram até a borda do papel alumínio – já que não tive conhecimento de dobrar o papel melhor antes de começar.
Misturei os esporos no copinho (só chacoalhar o copo pareceu o suficiente), suguei com a seringa e pra minha surpresa a seringa ficou cheia mas ainda havia um monte de água no copo. Eu movimentava a seringa e ela ejaculava água pelas paredes da glovebox sem querer, perdi bastante água assim.
Ah sim, isso porque com os copos mornos a tampa da glovebox embaçou e ficou difícil de enxergar direito o que estava acontecendo...
Finalmente descobri que havia uma bolha de ar na seringa, tirei a bolha e enchi a seringa com a água de esporos, e a seringa ficou cheia só pela metade... Deduzi que o resto da água com esporos foi inoculado nas paredes da glovebox
Encerrei os procedimentos, flambei novamente a ponta da seringa e a tampei. Olhei pra seringa e... cadê os esporos????? A seringa estava super transparente, nenhum sinal de esporos. Fiquei na dúvida se aquela seringa iria servir ou não e procurei na internet e postei aqui no fórum, mas não obtive resposta rápida... Resolvi ir até a farmácia rapidamente e comprar mais uma seringa! Comprei a seringa e me toquei que ela não estava esterilizada! Bom, eu teria que utilizar outras duas técnicas então, a técnica “Seringas extremamentes simples” e a “Sorte”.
(Seringa sem esporos visíveis)
Cheguei em casa e coloquei um pouco de água destilada pra ferver (como se uma fervida rápida fosse esterilizar alguma coisa!), puxei pra seringa, flambei a ponta e tampei. Coloquei a seringa num copo com água gelada e meu celular tocou. Era minha mãe avisando que estava chegando e que eu me arrumasse pra ajudar a carregar as compras.
Dei uma geral na casa pra ver se não havia deixado pistas por aí, levei o copo com a seringa pro quarto, dei uma maquiada no quarto, abri as janelas pra sair o cheiro de água sanitária, fechei o armário () e a paisagem parecia tão marota como sempre foi.
Com a minha mãe em casa, voltei pro quarto, fechei a janela, tirei a camiseta, passei spra de álcool em mim, no ar, no lado de fora da glovebox, calcei as luvas, touca e mascara e voltei ao trabalho com a porta do quarto fechada, porém não trancada. Difícil imaginar condições de trabalho menos ideais!! Hahahaha.
Higienizei as luvas, flambei a seringa e o loop e fiz os procedimentos novamente. Desta vez eu já era o mestre da seringa, dobrei o alumínio do carimbo, tudo correu muito melhor. O resultado foi uma seringa onde se via claramente os esporos... Flambei a ponta da seringa (fora da glovebox!) e a tampei.
As condições estéreis da segunda seringa obviamente foram mais precárias que a da primeira, mas não me pareceram assim tão nefastas. Tudo foi feito dentro de uma glovebox, que estava dentro de um armário, que estava dentro de um quarto pequeno de janela fechada e sem ventos.
Pretendo preparar seis copos de substrato, vou usar as duas seringas e descobrir se a seringa transparente tem alguma mágica dentro dela, e a se a seringa da correria não tem contaminantes. Não deu pra calcular muito bem na hora o quanto de esporos eu queria pegar do carimbo por causa dos acidentes que aconteceram, terminei usando 2/3 do carimbo.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
20/07/2015 - PREPARANDO OS COPOS: A primeira coisa que notei – muito tardiamente - foi que os copos que eu comprei tinham um pequeno afunilamento na parte de cima, o que provavelmente vai acabar prejudicando na hora de retirar os bolos quando chegar a hora de aniversariar eles . Fazer o que, usei esses copos mesmo.
Multipliquei por seis copos as proporções sugeridas para o substrato e comecei a fazer a mistura. Considerei um copo cheio como um copo com um espaço de um dedo sobrando (para adicionar a vermiculita). Coloquei a vermiculita numa bacia e misturei com água primeiro, como sugere o RogerRabbit. Mexi a mistura com a mão e senti falta de estar usando luvas – porque apesar de não ser um procedimento estéril, eu havia mexido com casca de árvore mofada pouco tempo antes e devia haver contaminantes em baixo das minhas unhas.
Enchi os copos deixando o espaço para a vermiculita extra e acabou faltando substrato para encher o ultimo copo. :!: Parece que fazer as medidas certas para a quantidade de copos que vai usar termina em falta de substrato, porque quando molhado o substrato fica menos volumoso.
Limpei as bordas dos copos com papel, preenchi o que sobrou de espaço com vermiculita e comecei a tampar os copos com papel alumínio, recortando-o cuidadosamente para que não atrapalhasse a visibilidade do substrato, e colei-o ao copo com fita adesiva transparente pelo mesmo motivo.
Para a ESTERELIZAÇÃO coloquei uma toalha de rosto dentro da panela de pressão, coloquei os copos e enchi de água até a altura da metade dos copos (o que coincidiu com a metade da panela). Deixei a panela apitando em fogo baixo por 90 minutos e esfriando por mais de 9 horas.
INOCULAÇÃO: Esperei minha mãe ir dormir, tomei banho e comecei os trabalhos arrumando o armário - ops, ordem incorreta de novo!! Mas infelizmente eu estava com tanto sono que sem o banho eu nem aguentaria ficar acordado. Falta espaço no quarto e a cama ficou atulhada com o conteúdo do armário, o que não é o ideal. Alias, as possíveis formas de terminar contaminando alguma coisa são tão variadas que realmente acho impossível identificar positivamente a causa de alguma contaminação, podemos observar alguns dos nossos erros só.
Arrumado o ambiente, passei spra de agua sanitária no armário e dentro da glovebox, spra de álcool no ar, saí do quarto por 5 minutos e voltei para o inferno. Quarto abafado, mascara cirúrgica na cara, touca e luvas. Só que desta vez eu também estava com a bronquite atacada, com dificuldade de respirar e tossindo, perfazendo o ambiente perfeito de trabalho. Obviamente não estava tossindo em cima da seringa ou coisa assim, mas isso não é o ideal mesmo usando mascara cirúrgica ( :!: “cirúrgica”, porque mascara de pó é outra coisa e não serve pra tampar a boca e nariz de jogar contaminantes no ar - esta é uma dica do RR).
Chacoalhei a seringa até soltar os esporos que estavam grudados na parede da seringa, flambei a ponta e inoculei o primeiro copo. :!: Tentei cortar um pedaço de fita crepe pra fechar os furos com a mão e a fita grudou na luva e não saiu mais. Depois a fita grudou na outra mão e acabei precisando tirar as luvas pra conseguir tirar as mãos de dentro da glovebox. Precisei descartar as luvas .
Saí do quarto, peguei um novo par de luvas (porque pra minha sorte tem uma caixa de luvas em casa), higienizei uma tesoura pequena e resolvi usar fita micropore já que ela não grudava tão forte na luva. Inoculei outros 3 copos assim e inoculei outros 2 com a seringa de esporos invisíveis (li no Shroomer que não haver esporos visíveis é normal). Com a seringa de esporos visíveis eu usei 1 ml por copo, com a seringa de esporos invisíveis usei 2 ml por copo. Fiz duas inoculações por copo. (Na foto, nota-se que a fita adesiva ficou meio estranha depois da esterilização)
Finalmente o trabalho terminou e comecei a arrumar a bagunça. A panela de pressão ficou bastante preta por dentro, deu um trabalhão pra limpar. Precisei usar limpador de alumínio para remover as manchas, porque palha de aço e sapólio em pó não deram conta. :!: Dica útil pra quem vai fazer as coisas na surdina, porque sem o limpador de alumínio eu teria deixado evidências. Já a água de dentro da panela ficou um pouco amarela e com cheiro doce sei lá por quê.
INCUBAÇÃO: Agora é esperar e ver no que vai dar. Por enquanto desisti da ideia de deixar a incubadora no armário em cima da geladeira para tentar evitar flagrantes. A temperatura caiu justo hoje e está abaixo dos 23º. Coloquei meu aquecedor seco regulado em 2.5 w, o que parece ter elevado a temperatura para apenas 24º (à noite a temperatura na incubadora chegou a 25.6º, pra mim está ótimo).
Última edição: