UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
RECURSOS NATURAIS (PLANTAS MEDICINAIS)
AYAHUASCA – O VEGETAL DA VIDA
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
RECURSOS NATURAIS (PLANTAS MEDICINAIS)
AYAHUASCA – O VEGETAL DA VIDA
RAFAELA SERAGUZA
VITOR ROBERTO GIMENEZ FILHO
VITOR ROBERTO GIMENEZ FILHO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Tecnólogo à Faculdade de Ciências e Tecnologia das Plantas Medicinais da Universidade Santa Cecília, sob orientação do Prof. Ms. Darrell Steven Champlin.
Santos/SP
Novembro/2008
Novembro/2008
RESUMO
Ayahuasca é uma bebida psicoativa milenar utilizada ritualisticamente por diversas culturas ao longo do tempo. Constitui-se em um líquido ocre-amargo preparado a partir da cocção de um cipó, de nome cientifico Banisteriopsis caapi, comumente conhecido como Mariri ou Jagube e das folhas de um arbusto cujo nome científico é Psychotria viridis e que é comumente conhecido como Chacrona ou Rainha; plantas estas naturais da Floresta Amazônica. Seu uso ritual remonta à pré-história e atualmente encontra-se difundido por diversas partes do Brasil e do Mundo.
O presente estudo visa analisar o fenômeno xamanístico histórico em torno do uso da bebida Ayahuasca em contexto ritualístico, enfatizando como e quando isto ocorre, e determinar ainda a área de abrangência atual. A partir dos estudos bibliográficos e empíricos foram identificadas as origens e os meios pelos quais esse fenômeno manteve-se ao longo do tempo, difundindo-se e transformando-se até a realidade atual.
PALAVRAS CHAVE: AYAHUASCA; RITUAL; XAMANISMO; RELIGIÃO; CULTURA
SUMÁRIO
Introdução............................................................................................. 3
Metodologia.......................................................................................... 3
1. Xamanismo e Religião Comum............................................................ 5
2. Ayahuasca............................................................................................. 6
3. Histórico da Legalização....................................................................... 9
4. As técnicas do Êxtase............................................................................10
5. Um Mundo Feito de Linguagem...........................................................11
6. Uma Realidade Dimensional Mais Elevada......................................... 12
7. Um Memento Xamânico...................................................................... 13
8. O Xamanismo e o Mundo Arcaico Perdido..........................................13
9. Os Alucinógenos do Novo Mundo...................................................... .14
10. Ayahuasca e Auto-Conhecimento.........................................................16
11. Ayahuasca e Estado Ampliado de Consciência.....................................17
12. Ayahuasca e Percepção......................................................................... 19
13. Ayahausca e Religião............................................................................ 20
14. Contexto de Uso.................................................................................... 23
15. Ayahuasca e Saúde................................................................................ 25
16. Dúvidas Freqüentes............................................................................... 31
17. Toxicidade e Perigos.......................................................................... .. 40
18. Um Novo Manifesto.............................................................................. 42
19. A Herança Dominadora......................................................................... 44
20. O Surgimento das Religiões Ayahuasqueiras....................................... 44
21. Santo Daime e o Princípio.................................................................... 45
22. União Do Vegetal – UDV..................................................................... 50
23. Barquinha.............................................................................................. 53
24. Conclusão.............................................................................................. 55
25. Referências Bibliográficas................................................................. ...56
INTRODUÇÃO
Ayahuasca é uma palavra de origem quíchua, língua falada pelos povos andinos, cujo significado, dentre outros possíveis, é “liana dos espíritos” ou “cipó das almas”. É o termo mais comumente utilizado entre estas populações para designar essa bebida psicoativa preparada a partir de duas plantas da Amazônia: um cipó, e as folhas de um arbusto. Existem algumas variações das plantas utilizadas, no entanto, são todas farmacologicamente similares.
As duas espécies vegetais que basicamente compõem o sacramento Ayahuasca possuem várias designações, conforme o contexto cultural ou linha espiritual em que estejam inseridos os usuários. O cipó foi cientificamente definido como Banisteriopsis caapi, sendo popularmente designado, entre outros nomes, como Mariri, Jabube ou Caapi. O arbusto de onde provêm as folhas que integram o preparo da ayahuasca é cientificamente conhecido por Psychotria viridis, e popularmente conhecido por Chacrona ou Rainha.
Ayahuasca é uma bebida de uso milenar, utilizada como um instrumento sagrado por diversas civilizações desde tempos pré-colombianos, como, por exemplo, a civilização inca e anteriores, o que desfaz o equívoco de que o conhecimento se encontra somente nos moldes da civilização ocidental, industrializada e informatizada, mas que na verdade está muito além, presente também na simplicidade dos povos da floresta, que aprenderam, intuitivamente a reconhecer e selecionar as plantas certas, preparando e fazendo as combinações necessárias.
Segundo LIMA e NAVES (1998), o consumo da Ayahuasca após a era pré-colombiana teria se difundido entre várias tribos indígenas, das quais se tem razoável conhecimento antropológico.
Ainda hoje, várias tribos praticam rituais com o uso da Ayahuasca, como as dos Kampas e dos Kaxinawás, localizadas perto da fronteira do Brasil com o Peru. Além do uso indígena outra modalidade conhecida de consumo desta bebida é a do vegetalismo, uma forma de medicina popular à base de plantas medicinais, cânticos e dietas, praticada principalmente nas áreas rurais do Peru e Colômbia.
Embora em vários países da América do Sul haja uma tradição de consumo da Ayahuasca, curiosamente somente no Brasil se desenvolveram religiões de populações não-indígenas, que fazem uso dessa bebida. E a partir dessas religiões brasileiras, o uso ritual da bebida vem entrando em contato com novas culturas e adquirindo cada vez mais espaço no cenário brasileiro e mundial, encontrando se sua presença em praticamente todos os estados brasileiros e em diversos países do mundo (in LIMA, 2004).
O presente estudo busca estudar o xamanismo histórico sendo que seu objeto empírico é a análise e estudo do uso ritual da Ayahuasca através do espaço e do tempo, analisando como esse elemento cultural essencialmente amazônico veio romper as fronteiras da floresta e atingir os centros urbanos brasileiros e mundiais. Visa ainda especificar a atual área de abrangência do fenômeno do uso ritualístico da Ayahuasca, apresentando quais são as formas de uso do ritual atualmente praticadas.
METODOLOGIA
Foi realizada a caracterização e contextualização da Ayahuasca, a fim de melhor compreendermos o que é esta bebida na qual está sendo apresentada a nós como algo sagrado, está presente nos grupos que a utilizam ritualisticamente e compõem o eixo central e motivador da manutenção destes grupos/religiões.
Para a realização foram efetivados estudos bibliográficos de artigos e livros relacionados.
1.Xamanismo e Religião Comum
Xamanismo é a prática da tradição que remonta ao paleolítico superior, de cura, adivinhação e desempenho teatral baseados na magia natural desenvolvida entre dez e quinze mil anos atrás (MCKENNA, 1995a). É o uso de técnicas arcaicas de êxtase que foram desenvolvidas independentemente de qualquer filosofia religiosa – técnicas empiricamente comprovadas e experimentalmente operacionais, que produzem o êxtase. O êxtase é a comtemplação do Todo. Por isso quem experimenta o êxtase – quem contempla o Todo - volta refeito política e socialmente, porque teve uma visão mais ampla (MCKENNA, 1995b).
Mircea Eliade, autor de Shamanism: Archaic Techniques of Ecstasy e principal autoridade em xamanismo no contexto de religião comparativa mostraram que em todos os tempos e lugares o xamanismo mantém uma surpreendente coerência interna de práticas e crenças. Independente de o xamã ser um inuíte do Ártico ou um witoto do alto Amazonas, certas técnicas e expectativas permanecem as mesmas. A mais importante dessas invariáveis é o êxtaseEliade mostrou que, ainda que os temas particulares possam variar entre culturas e até mesmo entre indivíduos, a estrutura geral do xamanismo é clara: o xamã neófito passa por uma morte e uma ressurreição simbólicas, o que é entendido como uma transformação radical em uma condição sobre-humana. Assim o xamã tem acesso ao plano sobre-humano, é um senhor do êxtase, pode viajar à vontade no reino do espírito e, mais importante, pode curar e adivinhar (ELIADE in MCKENNA, 1995a).
Terence e Dennis McKenna autores de The Invisible Landscape levantam um ponto em relação ao xamã:
A parte extática da iniciação do xamã é mais difícil de se analisar, já que depende de certa receptividade a estados de transe e êxtase por parte do noviço; ele pode ficar melancólico, um tanto frágil e doentio, predisposto à solidão, e talvez possa ter crises de epilepsia ou catatonia, ou alguma outra aberração psicológica (ainda que nem sempre, como afirmaram algumas pessoas que escreveram sobre o tema). De qualquer modo, a predisposição psicológica ao êxtase determina somente o ponto de partida de sua iniciação: depois de uma história de doença psicossomática ou aberração psicológica que pode ser mais ou menos intensa, o noviço finalmente começará a passar por enjôos e transes iniciatórios; ficará como morto ou em transe profundo durante dias e dias.
Durante esse tempo, ele é procurado em sonhos pelos espíritos que o auxiliam, e pode receber instruções deles. Invariavelmente, durante esse transe prolongado, o noviço passará por um episódio de morte e ressurreição místicas; pode se ver reduzido a um esqueleto e em seguida vestido com carne nova; ou pode se ver fervido num caldeirão, devorado pelos espíritos e em seguida recuperando sua inteireza; ou pode imaginar-se sendo operado pelos espíritos, tendo seus órgãos removidos e substituídos por "pedras mágicas" e em seguida sendo costurado de novo.
Resumindo, o xamã é transformado de um estado profano em um estado sagrado. Ele não somente efetuou sua cura pessoal através dessa transmutação mística; agora ele está investido com o poder do sagrado e, portanto pode curar também os outros. É importantíssimo lembrar que o xamã é mais do que simplesmente um homem doente ou um louco; ele é um doente que se curou, que está curado, e que deve atuar como xamã para permanecer curado (MCKENNA, in MCKENNA, 1995a).
Deve-se observar que Eliade usou a palavra "profano" com o objetivo deliberado de criar um corte nítido entre a noção do mundo profano da experiência comum e o mundo sagrado que é "Totalmente Outro" (ELIADE in MCKENNA, 1995a).
2.Ayahuasca
Ayahuasca é uma palavra de origem quíchua. De acordo com LUNA (1986), Aya quer dizer pessoa morta, alma, espírito e, huasca significa corda, liana, cipó. Assim poder-se-ia traduzir Ayahuasca em português como corda (liana, cipó) dos espíritos (da alma, dos mortos). Existem ainda outras traduções para o termo como: vinho da alma; o termo é um dos mais utilizados para designar esta bebida psicoativa. Existem, porém, dentro dos diversos contextos culturais, outras nomenclaturas para esta bebida, como por exemplo: Caapi, Yagé, Kamarampi, Honixua, Natema, Hoasca, Vegetal, Daime, dentre outros (in LIMA, 2004).
A Ayahuasca constitui-se em um líquido ocre-amargo preparado a partir da cocção de um cipó, de nome cientifico Banisteriopsis caapi e das folhas de um arbusto cujo nome científico é: Psychotria viridis plantas estas que existem naturalmente na Floresta Amazônica.
Segundo MCKENNA e GROB (1993), o estudo científico da Ayahuasca começou com o renomado botânico inglês Richard Spruce que, de 1849 a 1864, viajou intensamente através da Amazônia brasileira, venezuelana e equatoriana, para montar um inventário da variedade de espécies de plantas lá encontradas. Nessa pesquisa, Spruce fez um grande número de descobertas valiosas, como a Hevea Brasiliensis, identificou também que uma das fontes primárias de uma bebida usada por índios em seus rituais, chamada Ayahuasca, era um comprido cipó ao qual deu o nome de Banisteria caapi (in LIMA, 2004).
Segundo COUTO (1989), em relação ao descobrimento desta espécie vegetal Spruce afirmou: “Havia quase uma dezena de plantas adultas de caapi, trepando pelas árvores ao longo da roça (parcela cultivada) e várias outras menores. Afortunadamente, estavam florescendo e tinham frutos jovens. Com surpresa, vi que pertenciam à ordem malpigiácea e ao gênero banisteria, pelo que deduzi que se tratava de uma espécie não descrita, portanto, chamei-a de Banisteria caapi”.
Segundo FERNANDES (1986), a Banisteria caapi de Spruce, foi re-classificada como Banisteriopsis caapi pelo taxonomista Morton em 1931. A área de distribuição do Banisteriopsis caapi tem limites definidos, sendo a floresta amazônica o centro de dispersão dessa espécie vegetal. Encontram-se outras espécies no México, sul dos Estados Unidos, norte da Argentina, sul do Chile, na Ásia e na África (800 espécies, sendo 400 encontradas no Brasil.
Segundo os historiadores LABATE e ARAUJO (2002), existem outros nomes, não científicos (Mariri, Jagube, Marechal, dentre outros), pelos quais o Banisteriopsis caapi é chamado, todos inseridos em contextos culturais específicos. Conforme dito anteriormente além do cipó, a Ayahuasca também tem como ingrediente as folhas de uma planta arbustiva a Psychotria viridis. Simson’s, em 1886 foi quem primeiro observou a mistura das plantas na confecção da Ayahuasca.
Segundo METZNER (2002), no meio científico, o começo do século vinte foi marcado por mais confusão do que esclarecimentos acerca da Ayahuasca. Muitos estudiosos identificaram-na, equivocadamente, do ponto de vista da botânica, eles acreditavam que existiam três diferentes bebidas psicoativas que compunham os rituais indígenas na Amazônia, sendo elas a Caapi, a Yagé e a Ayahuasca, até que em 1939, Chen & Chen, descobriu que se tratavam da mesma bebida (in LIMA, 2004).
Segundo LABIGALINI (1998), em relação à Ayahuasca, o trabalho científico mais importante que procurou estudar sua psicofarmacologia foi o trabalho organizado por CHARLES GROB (1996), com duração de dez anos e titulado de “Projeto Hoasca”, onde participaram 20 pesquisadores de diferentes áreas (psiquiatria, psicologia, química, botânica, medicina e outras) pertencentes a doze centros de pesquisa. Neste estudo foram avaliados quinze homens que freqüentavam o núcleo da União Do Vegetal (UDV) de Manaus-AM e que ingeriam regularmente a Ayahuasca há mais de cinco anos e quinze indivíduos que nunca haviam ingerido Ayahuasca, também do sexo masculino formando assim um grupo-controle. Estes indivíduos receberam uma avaliação psiquiátrica, uma avaliação de personalidade, uma avaliação da intensidade da experiência psicoativa e testes neuro-psicológicos. Estudou-se também a Ayahuasca, seus componentes bioquímicos, assim como as plantas ingredientes dessa bebida. Dentre outros resultados significativos, a pesquisa indicou que a Ayahuasca não causa dependência química/psicológica em seus usuários e que sua toxidade para o organismo humano é comparável com a do suco de maracujá, ou seja, o resultado da pesquisa indicou a inocuidade, a inofensividade dessa bebida (in LIMA, 2004).
Do ponto de vista farmacológico os constituintes químicos das duas plantas que formam a Ayahuasca parecem estar bem delimitados. A Banisteriopsis caapi contém derivados beta-carbolínicos da harmina, tetra-hidroharmina e harmalina como principais alcalóides. A outra planta presente na mistura, a Psychotria viridis, contém um alcalóide principal, a N-N-dimetiltriptamina (DMT). O efeito psicoativo produzido pela Ayahuasca em seus usuários está relacionado com a DMT, substância de estrutura molecular semelhante à da Serotonina, presente na Psychotria viridis e que se for administrada isoladamente por via oral é inativada pelas enzimas monoaminoxidases (MAO) existentes no corpo humano. A Ayahuasca, sendo assim, só é ativa por ser uma mistura das duas plantas, na qual os componentes beta-carbolínicos do Banisteriopsis caapi possuem um forte efeito inibidor das MAO, permitindo que a DMT permaneça ativa no organismo hum ano. Ou seja, um chá preparado somente do cipó ou das folhas separadamente, não teria efeitos psicoativo no organismo humano, somente as duas plantas juntas geram esse efeito (in LIMA, 2004).
Um fato interessante segundo LABATE e ARAUJO (2002), é que as duas plantas ingredientes da Ayahuasca não são encontradas em mesmas regiões da floresta amazônica, podendo ser separadas por quilômetros de mata espessa. Isto leva-nos a indagar como sem conhecimentos farmacológicos, as populações pré-colombianas e indígenas realizaram esta combinação das duas plantas, entre um universo de milhares de espécies vegetais. O universo místico que envolve o uso destas plantas é de difícil análise empírica, uma vez que envolve aspectos subjetivos e não cartesianos.
Para o antropólogo Edward Macrae (2002), as plantas, que compõe a Ayahuasca, são tidas como sagradas e estão colocadas a serviço da comunidade que a usa, não possuem um caráter anti-social e representam um elo entre o universo profano e o sagrado. É uma das formas nas quais os homens penetram no mundo dos espíritos, no conhecimento esotérico.
Se por um lado a ciências naturais explicam os efeitos da ação farmacológica, e os efeitos fisiológicos que a Ayahuasca produz nos seres humanos, as ciências sociais / humanas, buscam compreender esse fenômeno na perspectiva da cultura em que ela se insere e analisar a manifestação do sagrado, no ato de beber ritualisticamente a Ayahuasca. Para a maioria das pessoas, alheias a estas culturas, é difícil compreender como se dá esse processo. Como uma bebida, um chá pode ser considerado sagrado e vir a ser o objeto central de uma religião. (in LIMA, 2004).
Segundo ELIADE (1992), “O homem ocidental moderno experimenta um certo mal-estar diante de inúmeras formas de manifestações do sagrado: é difícil para ele aceitar que, para certos seres hum anos, o sagrado possa manifestar-se em pedras ou árvores, por exemplo. Mas, não tardaremos a ver, que não se trata de uma veneração da pedra como pedra, de um culto da árvore como árvore. A pedra sagrada, a árvore sagrada, não são adoradas como pedra ou como árvore, mas justam ente porque são hierofanias, porque revelam algo que não é pedra, nem árvore, mas o sagrado, o ganz andere ” (in LIMA, 2004).
Nesse ponto começamos a observar que as propriedades da Ayahuasca transcendem as características bioquímicas para simbolicamente engrenar toda uma rede de significados, de acordo com a tradição cultural onde ela estiver sendo ingerida (in LIMA, 2004). Para CEMIN (2004: 03):
“A Ayahuasca é um meio de expansão da consciência, sendo que o estado de transe e êxtase é parte da prática religiosa de milhões de pessoas. Para o espiritismo o transe é condição necessária para possibilitar a comunicação com os espíritos dos mortos; o médium, em transe, emprestaria seu corpo para que um espírito o usasse como veículo de sua manifestaçã”..
“A Ayahuasca joga rapidamente as ondas cerebrais de ALFA par a TETA, levando para uma zona da memória onde toda a vivencia irá se desenvolver, buscando e rememorando a vida interior do corpo (genética e hereditária) e a vida exterior ou social da pessoa, no presente, passado e futuro, e abrindo para a paranormalidade” (in LIMA, 2004).
Peter Furst, um conhecido antropólogo da Universidade do México, em seu trabalho titulado, Los alucinogenos y las culturas, observa:
“Muito à parte dos seus meros efeitos bioquímicos, como certos trabalhadores de campo têm advertido, a disposição da mente e a cultura do usuário e de seu grupo social, determinam em primeira instância a natureza e a intensidade da experiência extática, assim como a maneira que essa experiência se interpreta e se assimila”.
“O resultado geral do uso da Ayahuasca pode ser descrito como a pacificação gradual da personalidade, diminuindo a ansiedade, eliminando o mau humor e equilibrando o sistema nervoso – a razão e a emoção” (FURST IN COUTO, 1989).
Entre as diversas tribos da bacia Amazônica, a Ayahuasca é percebida como uma poção mágica inebriante, de origem divina, que facilita o desprendimento da alma de seu confinamento corpóreo, voltando ao mesmo conforme a vontade e carregada de conhecimentos sagrados. Entre os nativos é usada para propósitos de cura, religião e para fornecer visões que são importantes no planejamento de caçadas, prevenção contra espíritos malévolos, bem como contra ataques de feras da floresta (in LIMA, 2004).
LUNA (1986), se refere a estas plantas como Plant Teachers, realçando o caráter de um ser espiritual capaz de estabelecer um diálogo com o homem. Segundo DERIX, 2002: 1):
“O impacto afetivo e espiritual da Ayahuasca pode ser muito profundo. Freqüentemente as pessoas que a experimentaram relatam a experiência como uma mudança radical de suas vidas, reconhecendo que após essa experiência não são mais a mesma pessoa. Mas, mesmo quando o impacto do efeito não foi tão radical, ficou uma experiência maravilhosa para aqueles que a tomaram e a descreveram como algo nunca antes vivido” (in LIMA, 2004).
3.Histórico da Legalização
Apesar do uso da Ayahuasca no Brasil remontar a 1930, somente nos anos oitenta a Ayahuasca começou a ser oficialmente citada junto à legislação brasileira. Paralelamente ao crescimento dos grupos e à expansão do uso religioso e terapêutico da Ayahuasca, uma forte resistência dos setores conservadores da sociedade brasileira se formou, pressionando o Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN) para embargar o funcionamento das instituições ayahuasqueiras nos grandes centros metropolitanos. Em 1985, o governo brasileiro acrescentou a Ayahuasca à sua lista de substâncias controladas (lista da DIMED – Divisão Nacional de Vigilância Sanitária de Medicamentos). Com o resposta a União do Vegetal junto a outros grupos, solicitou a revisão deste parecer ao CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes do Ministério da Justiça).
Em 1986, o CONFEN organizou uma comissão interdisciplinar de pesquisa composto por juristas, psiquiatras, psicólogos, sociólogos e antropólogos, que visitaram algumas igrejas usuárias do chá Ayahuasca, e analisaram o contexto ritualístico de seu uso. Tal comissão não encontrou evidências de problemas sociais relativos ao uso da Ayahuasca em contextos religiosos. Observe-se que esse parecer sedimentou-se basicamente em observação empírica da população que usava a Ayahuasca.
O parecer do Grupo de trabalho, submetido à plenária em 31 de janeiro de 1986 foi aprovado por unanimidade e confirmava a autorização para o uso religioso da Ayahuasca. Tal aprovação resultou na Resolução Número 6, de 04 de Fevereiro de 1986, publicada no Diário Oficial da União, de 05 do mesmo mês. Novos problemas surgiram quando denúncias anônimas sugeriram que tais rituais estavam infestados de ex-guerrilheiros, usuários de Cannabis sativa, mesmo durante os rituais.
Em abril de 1989 a União do Vegetal sugeriu à Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, a instalação de um novo grupo de estudos. Uma nova equipe de pesquisas é formada por representantes do governo, membros do DEMEC (Departamento médico e científico da UDV) e de outras instituições (Projeto Hoasca22). Baseando-se no resultado desses estudos, que apontaram a inocuidade do uso da ayahuasca em contexto religioso, no dia dois de junho de 1992 o CONFEN decidiu liberar definitivamente a utilização do chá para fins religiosos em todo o território nacional, através de umparecer resultante da 5ª REUNIÃO ORDINÁRIA (Realizada em 2 de Junho de 1992 e publicada no Diário Oficial, Seção 1, N.º: 11467, em 24 de AGO 1992) que determina:
“... a Ayahuasca, cujos principais nomes brasileiros são Santo Daime e Vegetal, e as espécies vegetais que a integram o Banisteriopsis Caapi, vulgarmente chamado de cipó , jagube ou mariri e a Psychotria Viridis, conhecida como folha, rainha ou chacrona, devem permanecer excluídos das listas da DIMED ou do órgão que tenha responsabilidade de cumprir o que determina o art.36 da Lei n.º 6.368, de 21.10.1976, atendida, assim, a análise multidisciplinar constante do Relatório Final, de setembro de 1987 e do presente parecer; b – poderá ser objeto de reexame o uso legitimo da Ayahuasca, aqui reconhecido, bem como aliás de qualquer outra substância com atuação no Sistema Nervoso Central, desde que com base em fatos novos, cujos aspectos substantivos ou essenciais não tenham sido, ainda, apreciados pelo CONFEN”.
Segundo o então presidente do CONFEN, Sr. Ester Kosovsky, "a investigação desenvolvida desde 1985, baseou-se num a abordagem interdisciplinar, levando em conta os lados antropológicos, sociológicos, culturais e psicológicos, além de análises fitoquímicas". O relator do processo de investigação, Sr. Domingos Carneiro de Sá, explicou que o fato fundamental para a liberação da bebida foi o comportamento dos ayahuasqueiros23 e a seriedade dos centros que utilizam o chá em seus rituais: "Não foram observadas atitudes anti-sociais dos participantes dos cultos, ao contrário, podemos constatar os efeitos integrados e reestruturantes do Daime (Ayahuasca) com indivíduos que antes de participarem dos rituais apresentavam desajustes sociais ou psicológicos".
Essas duas deliberações do CONFEN (resolução N.º 06 – 04/02/1986; e parecer 5º Reunião Ordinária – 02/07/1992) são hoje a base legal para a utilização ritualística da Ayahuasca no Brasil. As entidades religiosas que utilizam a bebida, sem prejuízo de suas identidades e convicções, comprometeram-se a adotar procedimentos éticos comuns em torno do uso do chá, firmando uma carta de princípios para o uso da Ayahuasca, que veio a coroar o processo de legalização da Ayahuasca no Brasil.
A carta de princípios para uso da Ayahuasca foi elaborada durante o I Congresso Internacional da Ayahuasca, ocorrido em novembro de 1992 em Rio Branco-AC, dentre outros pontos, decidiu-se: vetar a comercialização da bebida (que não era praticada pelos centros); sua mistura com outras substâncias; estabeleceram-se regras para a divulgação da Ayahuasca; ficou definido que a participação de menores de idade nos rituais só seria possível mediante a autorização dos pais e responsáveis; e que, sob nenhuma condição, seriam admitidos nos rituais, deficientes mentais, pessoas sob o efeito de álcool ou de outras substâncias psicotrópicas. A decisão legal, de liberação do uso religioso da Ayahuasca no Brasil, abriu as portas para discussões mais amplas e permitiu a expansão das religiões tanto no Brasil como em outras regiões do mundo.
Atualmente a Ayahuasca tem seu uso ritualístico legalizado no Brasil, e em alguns países como Espanha, Holanda e no estado do Novo México-EUA (in LIMA, 2004).
4. As Técnicas do Êxtase
Nem todos os xamãs usam a intoxicação com plantas para obter o êxtase, mas todas as práticas xamânicas buscam provocar o êxtase. Sons de tambores, manipulação da respiração, provações, jejum, ilusões teatrais, abstinência sexual - todos esses são métodos reconhecidos há muito tempo para entrar no transe necessário ao trabalho xamânico. Mas nenhum desses métodos é tão eficaz, tão antigo e tão avassalador quanto o uso das plantas que contêm componentes químicos provocadores de visões.
O costume de usar plantas intoxicantes pode parecer estranho ou surpreendente para alguns ocidentais. Nossa sociedade vê as drogas psicoativas como coisas frívolas ou perigosas, na melhor das hipóteses reservadas ao tratamento dos doentes mentais sérios quando não há nenhum outro método eficaz. Guardamos a noção do curador na figura do profissional médico que, através da posse de conhecimentos especiais, pode curar. Mas o conhecimento especializado do médico moderno é conhecimento clinico, afastado do drama de cada pessoa única e particular.
O xamanismo é diferente. Se são usadas drogas, em geral é o xamã, e não o paciente, quem a tomará. A motivação também é completamente diversa. As plantas usadas pelo xamã não se destinam a estimular o sistema imunológico ou as outras defesas naturais do corpo contra a doença. As plantas xamânicas permitem que o curandeiro viaje a um reino invisível onde a causalidade do mundo comum é substituída pelo raciocínio da magia natural. Nesse reino a linguagem, as idéias e o significado têm mais poder do que a causa e o efeito. As simpatias, as ressonâncias, as intenções e a vontade pessoal são ampliadas lingüisticamente através da retórica poética.
A imaginação é invocada e algumas vezes suas formas tomam-se visíveis. Dentro da estrutura mental do xamã as conexões comuns do mundo e daquilo a que chamamos leis naturais são desenfatizadas ou ignoradas (MCKENNA, 1995a).
Através da capacidade de curar, o xamã pode conferir integridade psicológica a quem lhe traz os seus problemas. Atua como um exemplo. É como se fosse sobre-humano, pela simples razão de estar intato, de não estar confuso. Sabe quando se apegar as coisas e quando deixa-las passar. O que destrói a esperança é a inércia e o impulso da atividade psicológica negativa. O que o xamã percebe é que o impulso da atividade psicológica negativa é, na verdade, uma ilusão. E pelo mero fato e mudar de pensar, a pessoa se afasta e o impulso passa por ela, que então se transforma. Trata-se, portanto, da forma de pensamento com que o xamã trabalha: a visão que ele tem é mais ampla poque ele não pertence realmente á cultura em que vive.
“Verifiquei isso muitas e muitas vezes. Cada cultura tem suas peculiaridades, suas fobias, seus equívocos próprios. O xamã pode parecer membro da cultra em que vive, mas é mais amplo, mais profundo, mais alto e mais largo do que a cultura que o criou”.
“Em meu modo de ver, um grande psicoterapeuta pode ser um grande xamã – e existem psicoterapeutas muito competentes. Não citarei nomes porque não quero magoar ninguém. Admiro os psicoterapeutas transpessoais. Acho que eles estão tentando restaurar a instituição do xamanismo sob uma forma moderna. O que precisam compreender é que estão perdendo tempo, a não ser que usem os instrumentos xamanísticos. E o principal instrumento dos xamãs é a técnica do êxtase, quer dizer, as plantas alucinógenas. Seria absurdo dizer a um xamã da América do Sul que ele pode trabalhar sem as plantas. Seria como sugerir a um piloto de acrobacias que ele pode trabalhar sem um avião. E hoje estamos próximos da catástrofe global sem ter usado os instrumentos que temos á mão e que poderiam nos salvar. Isso é estupidez. Estupidez pura e simples” (MCKENNA, 1995b).
5.Um Mundo Feito de Linguagem
As evidências reunidas em milênios de experiência xamânica dizem que, de certo modo, o mundo é na verdade feito de linguagem. Ainda que contrariando as expectativas da ciência moderna, essa proposição radical concorda com boa parte do atual pensamento lingüístico (MCKENNA, 1995a).
“A revolução lingüística do século XX”, segundo a antropóloga Misia Landau, da Boston University, “é o reconhecimento de que a linguagem não é apenas um instrumento para a comunicação de idéias sobre o mundo, mas, em primeiro lugar, uma ferramenta para dar vida ao mundo. A realidade não é simplesmente ‘experimentada’ ou ‘refletida’ na linguagem; em vez disso é, de fato, produzida pela linguagem.” (LEWIN in MCKENNA, 1995a).
Segundo o ponto de vista do xamã psicodélico, o mundo parece existir mais na natureza de uma expressão vocal ou de uma narrativa do que relacionado de qualquer modo aos léptons e bárions ou carga e spin dos quais falam nossos sumos sacerdotes, os físicos. Para o Xamã, o cosmo é uma narrativa que se torna real enquanto é contada e enquanto conta a conta a si própria. Essa perspectiva implica que a imaginação humana pode controlar o leme de estar no mundo. A liberdade, a responsabilidade pessoal e uma consciência humilde do verdadeiro tamanho e da inteligência do mundo combinam-se neste ponto de vista para torná-lo uma base adequada a uma verdadeira vida neo-arcaica. Uma reverência pelos poderes da linguagem e da comunicação e uma imersão neles são as bases do caminho xamânico.
É por isso que o xamã é o ancestral remoto do poeta e do artista. Nossa necessidade de fazer parte do mundo parece exigir que nos expressemos através da atividade criativa. As fontes definitivas dessa criatividade estão ocultas no mistério da linguagem. O êxtase xamânico é um ato de rendição que autentica o Eu individual e aquilo a que ele se rende, o mistério de ser. Como nossos mapas da realidade são determinados pelas circunstâncias atuais, tendemos a perder a consciência dos padrões mais amplos de tempo e espaço.
Somente através do acesso ao Outro Transcendente podem ser vislumbrados esses padrões de tempo e espaço e nosso papel dentro deles. O xamanismo procura esse ponto de vista mais alto, que é alcançado através de um feito de perícia lingüística. Um xamã é alguém que conseguiu uma visão dos princípios e dos fins de todas as coisas, e que consegue comunicar essa visão. Para o pensador racional isso é inconcebível, mas as técnicas do xamanismo são dirigidas para esse objetivo, e essa é a fonte de seu poder. Dentre as técnicas do xamã, a mais importante é o uso de alucinógenos vegetais, repositórios da gnose vegetal viva que se encontra agora praticamente esquecida - em nosso passado (MCKENNA, 1995a).
6.Uma Realidade Dimensional Mais Elevada
Ao entrar no domínio da inteligência vegetal o xamã ganha, de certo modo, acesso privilegiado a uma perspectiva dimensional mais elevada sobre a experiência. O bom senso presume que, apesar da linguagem estar sempre evoluindo, a matéria-prima daquilo que a linguagem expressa é relativamente constante e comum a todos os seres humanos. Além disso, também sabemos que a língua hopi não tem tempos ou conceitos de passado ou futuro. Como, então, o mundo hopi pode ser igual ao nosso? E os inuítes não têm o pronome pessoal da primeira pessoa. Como, então, o mundo deles pode ser igual ao nosso?
As gramáticas das línguas - suas regras internas - têm sido cuidadosamente estudadas. Ainda assim, muito pouca atenção foi dedicada a examinar o modo como a linguagem cria e define os limites da realidade. Talvez a linguagem seja mais adequadamente compreendida quando pensada em termos de magia, já que a postura básica da magia é a de que o mundo é feito de linguagem
Se a linguagem é aceita como o primeiro elemento do conhecimento, então nós, do ocidente, fomos tristemente enganados. Somente as abordagens xamânicas poderão nos dar respostas às questões que achamos mais interessantes: quem somos, de onde viemos e para que destino nos dirigimos? Essas perguntas nunca foram mais importantes do que hoje em dia, quando as evidências do fracasso da ciência em nutrir a alma da humanidade estão ao nosso redor. O nosso tédio não é somente um tédio temporal do espírito; se não tivermos cuidado, nossa condição será uma condição temporal do corpo e do espírito coletivos.
O preconceito racional, mecanicista e antiespiritual de nossa cultura tomaram impossível apreciarmos a estrutura mental do xamã. Somos cultural e linguisticamente cegos ao mundo das forças e interconexões que permanecem claramente visíveis aos que mantiveram o relacionamento arcaico com a natureza (MCKENNA, 1995a).
7.Um Memento Xamãnico
Milhares de pessoas, de um modo ou de outro, concluíram que as plantas psicodélicas e as instituições xamânicas implicadas por seu uso são instrumentos profundos para a exploração das profundezas internas da psique humana. Agora os xamãs psicodélicos constituem uma subcultura mundial e crescente de exploradores hiperdimensionais, muitos dos quais são cientificamente sofisticados. Uma paisagem começa a entrar em foco, uma região ainda pouco vislumbrada, mas que vem surgindo, chamando a atenção do discurso racional - e possivelmente ameaçando confundi-lo. Ainda podemos nos lembrar de como devemos nos comportar, de como assumir o lugar correto no padrão de conexão, na teia contínua de todas as coisas.
A compreensão de como alcançar esse equilíbrio depende das culturas esquecidas e maltratadas que sobrevivem nas florestas úmidas e nos desertos do Terceiro Mundo e nas reservas para onde as culturas dominadoras forçam os povos aborígines. A gnose xamânica pode estar morrendo; certamente está mudando. Mas os alucinógenos vegetais que são sua origem, origem da mais antiga religião humana, continuam como uma fonte que jorra, refrescante como sempre. O xamanismo é vital e real devido ao encontro do indivíduo com o desafio e o espanto, o êxtase e a exaltação induzidos pelas plantas alucinógenas (MCKENNA, 1995a).
8.O Xamanismo e o Mundo Arcaico Perdido
O xamanismo foi maravilhosamente definido por Mircea Eliade como "as técnicas arcaicas do êxtase" (ELIADE in MCKENNA, 1995a). O uso que Eliade faz do termo “arcaico" é importante aqui porque nos alerta para o papel que o xamanismo deve representar em qualquer renascimento autêntico das formas arcaicas vitais de ser, viver e compreender. O xamã consegue entrar num mundo que está oculto para quem vive na realidade comum. Nesta outra dimensão se escondem tantos poderes úteis quanto malévolos. Suas regras não são regras de nosso mundo; parecem mais as regras que atuam nos mitos e nos sonhos.
Os curandeiros xamânicos insistem na existência de um Outro inteligente em alguma dimensão próxima. A existência de uma ecologia de almas ou uma inteligência não encarnada não é uma coisa com a qual a ciência possa se atracar e em seguida emergir com suas premissas intactas. Particularmente se esse Outro tem feito parte da cultura terrestre há muito tempo, presente porém invisível, compartilhando um segredo global.
Os textos de Carlos Castaneda e de seus imitadores resultaram numa coqueluche de "consciência xamânica" que, mesmo confusa, transformou o xamã, de uma figura periférica na literatura da antropologia cultural, no modelo colocado pela mídia para a entrada sociedade neo-arcaica. A despeito da atração que o xamanismo provoca sobre a imaginação popular, os fenômenos paranormais a sério pela ciência moderna, ainda que os cientistas, num caso raro de deferência, tenham chamado psicólogos e antropólogos para analisar o xamanismo. Essa cegueira em relação ao mundo paranormal criou um ponto cego intelectual em nossa visão normal de mundo. Somos completamente inconsciente do mundo mágico do xamã. Ele é simplesmente mais estranho do que podemos supor.
Considere um xamã que use plantas para conversar com um mundo invisível habitado por inteligências não-humanas. Pareceria perfeito para a manchete de um tablóide sensacionalista. Entretanto, os antropólogos registram essas coisas o tempo todo e ninguém ergue uma sobrancelha. Isso porque tendemos a presumir que o xamã interpreta sua experiência da intoxicação como comunicação com espíritos ou ancestrais.
Uma coisa profunda, inesperada, quase inimaginável nos espera se levarmos nossas atenções investigativas para o fenômeno dos alucinógenos vegetais xamânicos. Os povos que estão fora da história ocidental, que continuam na época de sonho da pré-escrita, mantiveram acesa a chama de um mistério tremendo. Seria humildade admitir isso e aprender com eles, mas tudo isso faz parte do renascimento arcaico.
Daí não se deve deduzir que devemos ficar de queixo caído diante das realizações dos "primitivos" numa outra versão da Dança do selvagem nobre. Todo mundo que já fez trabalho de campo sabe dos choques freqüentes entre nossas explicações sobre como "o verdadeiro povo das florestas úmidas" deve se comportar e as realidades da vida tribal cotidiana. Ninguém compreende ainda a misteriosa inteligência que há nas plantas ou implicações da idéia que a natureza se comunica numa linguagem química básica, inconsciente porem profunda. Ainda não compreendemos como os alucinógenos transformam a mensagem inconsciente em revelações contempladas pela mente consciente. Enquanto afiavam suas intuições e seus sentidos, usando as plantas que estivessem à mão para aumentar sua vantagem adaptativa, os povos arcaicos tinham pouco tempo para filosofia. Até hoje ainda não se manifestaram totalmente as implicações da existência dessa mente descoberta pelos povos xamânicos dentro da natureza.
Enquanto isso, silenciosamente e fora da historia, o xamanismo prosseguia seu dialogo com um mundo invisível. O legado do xamanismo pode atuar como uma força estabilizadora destinada a redirecionar nossa consciência para o destino coletivo da biosfera. A fé xamânica é de que a humanidade tem aliados. Existem forças favoráveis à nossa luta para nascermos como espécie inteligente. Mas são forças silenciosas e tímidas; devem ser procuradas não na chegada de frotas alienígenas no céu da terra, e sim aqui perto, na solidão dos locais ermos, junto às cachoeiras; e, sim, nas pastagens agora tão raras sob nossos pés (MCKENNA, 1995a).
9.Os Alucinógenos do Novo Mundo
Os vegetais alucinógenos contendo indóis e seus cultos se agrupam nos trópicos do Novo Mundo. As zonas tropicais e subtropicais do Novo Mundo são fenomenalmente ricas em plantas alucinógenas. Ecossistemas semelhantes nos trópicos do sudeste da Ásia e na Indonésia não se comparam em número de espécies endêmicas que contêm indóis psicoativos. Por que os trópicos do Velho Mundo, os trópicos da África e da Indonésia não são igualmente ricos em flora alucinógena? Ninguém conseguiu responder a essa pergunta. Mas em termos estatísticos o Novo Mundo parece ser o lar preferido das plantas psicoativas mais poderosas. A psilocibina, que agora sabemos existir em espécies européias de diminutos cogumelos do gênero Psilocybe, nunca foi demonstrada de modo convincente como fazendo parte do xamanismo ou da etnomedicina européia. Entretanto, seu uso xamânico em Oaxacan, no México, tem três mil anos de idade. De modo semelhante, o Novo Mundo tem os únicos cultos vivos baseados no uso de dimetiltriptamina (DMT), o grupo de betacarbolinas que incluem a harmina, e o complexo parecido com ergot nas ipoméias.
Uma conseqüência histórica desse agrupamento de alucinógenos no Novo Mundo foi que a ciência européia descobriu bastante tarde a sua existência. Isso pode explicar a ausência de insumos "psicodélicos" nas drogas ocidentais destinadas ao uso psiquiátrico. Enquanto isso, devido à influência do haxixe e do ópio na imaginação romântica, o devaneio do haxixe ou o sonho do ópio se tornaram paradigma da ação das novas "drogas mentais" que fascinaram os literatos boêmios a partir do final do século XVIII. De fato, em seus primeiros contatos com a psicoterapia ocidental os alucinógenos foram vistos como capazes de imitar as psicoses (MCKENNA, 1995a).
No século XIX exploradores-naturalistas começaram a voltar com relatos etnográficos mais ou menos precisos sobre as atividades dos povos aborígines. Os botânicos Richard Spruce e Alfred Russel Wallace viajaram pelos rios da Amazônia na década de 1850. No alto rio Negro, Spruce observou um grupo de índios preparar um alucinógeno estranho. Ele observou ainda que o ingrediente principal desse tóxico era uma liana, um cipó-trepadeira que ele chamou de Banisteria caapi. Vários anos mais tarde, enquanto viajava pelo oeste do Equador ele viu a mesma planta sendo usada para fazer um alucinógeno chamado Ayahuasca (SPRUCE in MCKENNA, 1995a).
Até hoje a ayahuasca continua a fazer parte da vida espiritual de muitas tribos das florestas úmidas da América do Sul. Imigrantes que foram para a bacia amazônica também aceitaram a ayahuasca e criaram seu próprio sistema etnobotânico, usando as visões psicodélicas que ela produz para realizar curas (MCKENNA, 1995b).
Terence McKenna em seu livro O retorno a Cultura Arcaica, diz que é possível que o complexo yagé/ayahuasca da América do Sul seja o maior culto psicodélico do mundo. Desde o Panamá até a Bolívia, desde a costa do Pacífico até o interior do Brasil, grande parte do povo procura ter estas visões, sendo que a reputação dos xamãs depende da qualidade de suas bebidas, canções e curas. Como todas as práticas Xamanistas, o culto da Ayahuasca é altamente individualizado. Por isso, a mera análise da droga em laboratório não destruirá a aura de verdadeiro mistério que existe em torno da Ayahuasca (MCKENNA, 1995b).
A experiência de ingerir ayahuasca - DMT orgânica tomada em combinação com a trepadeira Banisteriopsis - tem várias características que a afastam da experiência de fumar DMT. A ayahuasca é mais suave e dura muito mais. Seus temas e alucinações são orientados para o mundo orgânico e natural, em contraste nítido com os temas titânicos, alienígenas e desligados do planeta que caracterizam o clarão da DMT. O motivo de existirem diferenças tão grandes entre compostos que parecem estruturalmente tão semelhantes é um problema ainda não investigado. De fato, ainda não se compreende todo o relacionamento de tipos especiais de visão com os compostos que as produzem. Nas áreas nativas, a ayahuasca é vista como um elixir de cura geral, chamada de Ia purga. Sua eficácia em matar o organismo da malária está sendo investigada (MCKENNA, 1995a). E sua longa história de eficaz uso xamânico na psiquiatria popular foi documentado por Naranjo, Dobkin de Rios, Luna e outros (NARANJO; RIOS; LUNA in MCKENNA, 1995a).
10. Ayahuasca e Auto-Conhecimento
Os artigos á seguir - Estado Ampliado de Consciência; Ayahuasca e Religião; Contexto de Uso; Ayahuasca e Saúde; Dúvidas Freqüentes - foram obtidos a partir de esclarecimentos e orientações canalizadas – recebidas espiritualmente.
Ayahuasca é utilizada como um potente instrumento espiritual, de concentração mental e interiorização, levando seus usuários a atingir estados ampliados de consciência, estados onde a consciência e a percepção, seja a referente aos sentidos físicos comuns ou aos sentidos extrafísicos, encontram um maior poder para perceber, para enfocar e para examinar de uma forma mais ampla, tanto o objeto comum do plano físico, quanto aquilo que vai além das possibilidades de captação dos sentidos físicos comuns. Por estes e outros benefícios que nos traz, nunca é demais ressaltarmos a importância da preservação deste sagrado instrumento, a começar com o direcionamento de sua utilização sempre visando o fortalecimento do discernimento, da humildade e do desapego, sem perder de vista a gratidão à ayahuasca por nos servir como um precioso método auxiliar, um meio que nos auxilia a prosseguir rumo ao nosso crescimento espiritual, e nunca como um fim em si mesmo.
Neste sentido, cabe aqui ressaltar também a importância da utilização deste sacramento dentro de uma perspectiva de bom senso, conscientes de que a ayahuasca deve ser utilizada para a abertura mental, e nunca para reafirmar posições dogmáticas e qualquer tipo de cerceamento, e para tanto, servir como instrumento de livre estudo, a começar pelo estudo de nós mesmos, identificando, livres de apegos e vaidades, quem realmente somos, o que precisamos melhorar e o que trazemos de bom, servindo também ao estudo dos ensinamentos da linha espiritual com a qual tenhamos afinidade, e tanto por afinidades pré-existentes, quanto por vontade de expandir nossa própria compreensão, temos que reconhecer que outras linhas espirituais também podem ser foco dos estudos, aquelas que digam algo ao nosso coração, pois muitas encarnações já tivemos, e certamente já conhecemos e encontramos algum desenvolvimento pelo contato com o ensinamento de grandes mestres que passaram e continuam presentes auxiliando a humanidade.
É apenas uma questão de recordação daquilo que já vivenciamos. Significativa é a importância da Ciência nos tempos em que vivemos, significativa também é nossa gratidão pelo auxílio que vem nos prestando nos diversos campos materiais em que vem atuando, mas é importante também, salientarmos que visões materialistas desprovidas da perspectiva do conhecimento espiritual pouco ou nada podem acrescentar a este tema, não sendo válidas para explicar ou negar o valor da ayahuasca. Somente quem já tem experiência com a ayahuasca pode ter uma idéia do que se trata e dos benefícios que proporciona, sejam eles físicos, mentais ou espirituais.
Muitos são os caminhos, técnicas e práticas que vêm servindo à humanidade em sua caminhada em direção ao autoconhecimento, poucos, porém, conferem ao ser humano o poder de enxergar a si mesmo com tamanha amplitude, podendo examinar com maior clareza seus defeitos e reconhecer e despertar os potenciais que já traz gravados em espírito, tendo desta forma mais força e ânimo para concretizar sua reforma e harmonização interior, o que lhe permite, conseqüentemente, se harmonizar de uma forma mais simples e menos sofrida com seus semelhantes e com o ambiente e que se encontra inserido.
Por este motivo, podemos nos referir à ayahuasca como um dos melhores instrumentos auxiliares para o ser humano na senda do autoconhecimento (CANALIZAÇÃO ANÔNIMA, 2005).
11. Ayahuasca e Estado Ampliado de Consciência
A consciência vem sendo treinada a responder somente aos condicionamentos mentais a um nível profundo, de forma que na sociedade humana vemos o pensamento de que a consciência e a mente são uma única coisa.
O desconhecimento da consciência faz com que as pessoas transformem em doenças todos os eventos com os quais suas mentes não podem estabelecer conhecimento de causa, o padrão social de exercício mental é treinado desde a infância com resultados a serem observados no mundo. A consciência tem sido vista como parte do controle mental, quando na verdade é a única fonte de discernimento que o homem realmente possui, uma mente sem consciência não é mais do que um robô.
A afinidade da mente com a sociedade cria o evento do ego com finalidade de estabelecer a presença de uma consciência naquele ser que consente, mas, na realidade, o ego é apenas o reconhecimento do evento da vida nos seres humanos inconscientes. A consciência humana aos poucos se liberta de uma prisão mental, porque não é possível conter a vida que é gerada pela consciência, a busca da felicidade não encontrará realização em um lugar físico, mesmo onde só exista bem estar, a felicidade é a consciência desperta em acordo com a lei de evolução e de amor, é a consciência o tesouro a se buscar com o mapa do discernimento, onde discernir é estar livre de condicionamentos. Ampliar a consciência é ir além dos condicionamentos mentais e das manipulações do ego, é transformar energia em conhecimento e agregar o conhecimento à estrutura energética da consciência, para ampliar tal estrutura é preciso observar a estrutura que já existe, a consciência já está, ela lhe oferece a vida de que você se torna ciente pela sua presença, ampliar é olhar através dela, e ver o cosmo. Quando ingerido, o chá ayahuasca induz a estados ampliados de consciência devido à possibilidade oferecida pela estrutura orgânica humana que contém inúmeras substâncias e capacidade para sintetizar muitas outras, mecanismos que podem ser acionados também pelo controle sistemático e disciplinado da respiração, sem a ingestão de nenhum componente.
É bem definido o fato de que o chá ayahuasca deve ser ingerido com a busca interior e o motivo para o resultado experimentado não pode ser atribuído apenas aos componentes farmacológicos do chá, pois a integração humana às leis cósmicas produz e induz a uma percepção alterada em maior escala que os componentesfarmacológicos.
O uso ritualístico do sacramento lhe confere o potencial transcendental e não os componentes farmacológicos; que se entenda aqui ritual como cerimônia de busca interior ou de autoconhecimento, existe um equívoco bastante comum de que a experiência transcendental é proporcionada pela ingestão de um componente químico capaz de transformar a percepção, na realidade a prática de técnicas respiratórias é capaz de proporcionar alterações de natureza química semelhantes.
O sacramento pode proporcionar estados alterados de consciência, sobretudo quando na presença da busca humana do conhecimento e das razões universais quando a busca estiver bem definida e for de interesse maior para o indivíduo. Além destas possibilidades, também a energia que envolve o indivíduo se transforma, indicando abertura de consciência, o que significa que o indivíduo está buscando conhecimento, para tal, basta o evento da intenção consciente, que é um movimento energético no ciclo energético do ser humano, isto produz uma modificação na forma estrutural do ser humano, que atua como chamado para a transformação.
Então, se o intento é tão importante, alguns podem perguntar: porque utilizar um chá? Para a utilização do chá é fundamental, primeiramente, a existência de um contexto ritualístico bem direcionado no sentido da busca do crescimento interior e coletivo, a existência deste está relacionada ao intento verdadeiro de seus participantes. É, portanto, o intento verdadeiro dos participantes que faz com que o chá se torne um potente instrumento espiritual que promova com facilidade a modificação estrutural energética dos indivíduos, a diferença está na liberação da mente dos condicionamentos sociais temporariamente, para que o ser humano consiga se posicionar de maneira diferente.
O contexto ritualístico bem direcionado integra a chamada ou o intento de aprendizado em níveis diversos e com potencial variado para a capacidade do grupo de entendimento daquilo que é a experiência transcendental. Podemos afirmar que a experiência mal conduzida ou sem finalidade de ascensão leva à exaltação do ego e não produz conhecimento, o resultado é uma modificação mínima no padrão de ação do ser, ou ainda, uma continuidade ampliada do comportamento egocêntrico, com variáveis pequenas em relação aos anteriores à experiência, e isto ocorre devido ao fato de que houve um deslocamento temporário do ser humano dos seus antigos condicionamentos sociais.
O benefício de uma experiência transcendental com a utilização de um sacramento é a capacidade de liberação dos condicionamentos sociais que muitas vezes prejudicam o desenvolvimento humano por conterem conceitos falsos da realidade, que mobilizam toda a energia do ser humano por ele envolvidos.Com o direcionamento apropriado, o ser humano pode transcender o seu condicionamento, mesmo quando a percepção de sua consciência não seja tão clara, é como acontece na meditação, com diferença apenas de quantidade de energia envolvida no processo que pode ser assumida por um ser humano comum. Embora este evento não seja uma regra, de início o ser comum não tem controle de seus impulsos e de sua mente, porque não foi condicionado a desenvolver tal controle, assim, uma meditação pode levar anos de prática constante para proporcionar os resultados de liberação da consciência em relação aos condicionamentos adquiridos.
Os valores sociais atualmente vigentes não incluem controle porque não favorecem o discernimento, ao contrário, na sociedade humana é incentivado o descontrole da consciência em anos de treinamento desde a infância. Com a utilização do sacramento obtemos a quantidade de energia com a qual toda consciência sabe que não pode se deter na posição mental, e desta forma a transcende. O conhecimento é universal. O segredo para fazer um ser humano continuar condicionado à ação mental é fazê-lo gastar toda energia que ele adquire com futilidades e impedi-lo de descobrir como adquirir mais, devido à atribuição de importância a essas mesmas futilidades.
A utilização de um sacramento como a ayahuasca produz no ser humano o deslocamento de sua atenção, de forma que este é capaz de captar uma quantidade de energia maior, que, em alguns casos, o desvincula dos condicionamentos. A razão para o evento é que a mente não pode suportar energia além de sua capacidade, então é transcendida. É claro que este resultado não é imediato nem mesmo com a utilização de um sacramento, porém a constância da prática faz com que os condicionamentos sejam transpostos e a consciência adquira conhecimento sobre os eventos cósmicos e sua harmonia para, então, transformar o ser em um ser mais prósperos e capaz de interagir com a energia universal de maneira construtiva (CANALIZAÇÃO ANÔNIMA, 2005).
12. Ayahuasca e Percepção
Estamos todos integrados ao Todo que é consciente da integração, ser consciente de algo implica em capacidade de manter ciclos energéticos mais constantes em níveis de energia mais altos, quanto mais alto o nível energético, maior a possibilidade. Para utilizar a energia para perceber basta direcionar a energia para os pontos de percepção, para tornar-se consciente da integração é necessário mais energia e equilíbrio entre os pontos de energia. A maioria dos seres humanos tem um bom nível de energia nos pontos de percepção sensorial, a prova disto é a criação da linguagem e o entendimento do outro, mesmo quando a linguagem é diferente, a grande dificuldade está na utilização inadequada da atenção, nas justificativas dos erros e falta de propostas de ação ética na prática humana.
A percepção dos seres está condicionada por padrões de ação que, embora tenham como determinantes a ignorância, fazem parte daquilo que se acredita como útil, ou seja, o ser humano escolhe suas ações de acordo com necessidades fúteis diante daquilo que ele acredita gostar de fazer, e assim, a percepção muitas vezes desafia os hábitos, o que faz com que os seres humanos prefiram esquecê-la ao invés de desenvolvê-la.
No trabalho com a ayahuasca não é muito diferente, a menos que o ser desperte a necessidade de perceber-se durante a reunião, ele percebe algumas dessas ações e logo em seguida as esquece como ação ou se justifica em uma ação não coerente com sua percepção. Mas é possível, através da grande quantidade de energia, perceber com mais intensidade a integração cósmica de tudo que existe. A facilitação da ayahuasca dependerá do direcionamento do trabalho ou do ser humano que utiliza o sacramento, o sacramento apenas fornece a quantidade de energia adequada a aprendizados mais amplos e, conseqüentemente, facilita o entendimento da ação, mas não garante que o ser perceba muito além de sua disposição. A percepção extra-sensorial, ou além dos sentidos físicos, também é possível através do realinhamento energético, que pode produzir um deslocamento consciente da atenção para campos extrafísicos, que embora sejam absorvidos, não são percebidos. Todo ser humano é relativamente sensível à energia, porém a percepção dos eventos energéticos requer uma estruturação energética com vibração levemente mais rápida, o que indica que os hábitos de um ser humano o torna capaz ou o desqualifica para a percepção extrafísica.
A ayahuasca possibilita a capacitação energética e deve produzir um aumento vibracional devido ao fluxo energético que proporciona, naturalmente a elevação do nível energético gera um fluxo mais rápido e um deslocamento temporário da atenção dos cinco sentidos físicos, proporcionando uma abertura temporal para a percepção extra-sensorial (CANALIZAÇÃO ANÔNIMA, 2005).
13. Ayahuasca e Religião
A Ayahuasca é um preparado vegetal que facilita a indução aos estados alterados de consciência, o que significa que a percepção é deslocada do ponto de vista habitual, tornando o entendimento mais rápido e claro, porém minimizando a resistência que o indivíduo possui a novas teorias e práticas, o que pode ser utilizado como facilitador de assimilação e indução do pensamento. Este é um fator que demanda sempre um cuidado especial, já que os valores éticos nem sempre são exercitados na religião e na vida.
A indução do pensamento é feita de diversas maneiras, estando, inclusive, sutilmente implícita nas campanhas de marketing; o ser humano está submetido a muitas explorações de seu pensamento através de diversos contatos no dia-a-dia.
A ayahuasca deve ser utilizada para fortalecer a capacidade dos seres a melhorar os recursos de seu discernimento, oferecendo substrato para o reconhecimento das induções de pensamento e melhorando sua qualidade de vida, e não como mais um recurso para fixar idéias sem a análise pessoal. Desta forma, o uso da ayahuasca em contexto religioso deve estar submetido a alguns critérios importantes, que evidenciem valores éticos, tornando o ser humano mais capaz e verdadeiro para com sua ação, desenvolvendo a simplicidade na sua desenvoltura e desapego a conceitos que propiciem a interação social, independente de termos inerentes a essa ou àquela religião. A religião não é o único indicativo de busca espiritual, na realidade a vida é espiritual tanto quanto na Terra é material, então, a busca do conhecimento espiritual é a busca do conhecimento, não estando, portanto, necessariamente associada à religião.
A espiritualidade é algo inerente ao ser humano pela sua formação desde os princípios, portanto, para qualquer prática que envolva o autoconhecimento, a espiritualidade será percebida como integrada ao contexto da existência. Esta regra é útil para os trabalhos realizados com a Ayahuasca, mesmo aqueles em que o contexto religioso não está aplicado, pelo simples fato de que o espírito existe muito antes da possibilidade de se estruturar a religião.
A utilização da Ayahuasca pode melhorar a percepção dos seres, e através disto, melhorar a percepção daquilo que é existente, assim como o é a espiritualidade, além de que, a reunião de seres em busca do autoconhecimento regularmente, faz com que o plano espiritual sempre esteja atento para enviar auxílio ao desenvolvimento destes seres. Devemos considerar o fato de que estamos todos integrados, estando conscientes ou não desta realidade. O fato de existirem corpos não muda muito a interação entre os seres, mas como a ayahuasca melhora a percepção é possível uma interação mais consciente.
O uso da ayahuasca deve estar direcionado para o aprendizado, a presença de seres mais evoluídos para auxílio do trabalho não é feita pelo contexto religioso, mas pela intenção ou objetivo do grupo, assim como na vida a vibração é que atrai a presença dos seres. É perfeitamente possível em reuniões para estudo pedir a presença de seres que possam auxiliar, aliás, muitas vezes não é preciso pedir, pois o estabelecimento da maneira de utilização do sacramento pelo grupo já o faz, e isto depende dos objetivos e da observação do trabalho a serem desenvolvidos dentro das necessidades do grupo.
O uso de um sacramento como a ayahuasca deve estar submetido a princípios ou valores éticos, o que deve ser feito em qualquer contexto de busca de conhecimento. Assim, o direcionamento, embora esteja condicionado ao conhecimento dos dirigentes, pode ser transcendido pelo apoio energético que certamente se faz presente nas reuniões onde existe sinceridade de busca pelos participantes (CANALIZAÇÃO ANÔNIMA, 2005).
13.1 Ayahuasca Pode Ser Uma Religião?
É importante esclarecer que ayahuasca não é religião, é sacramento, ou seja, é um componente da natureza capaz de auxiliar o desenvolvimento do ser humano em suas potencialidades e, para tanto, deve ser utilizado com ética.
A formação de uma religião está estruturada a partir de conceitos, tais conceitos não devem segregar sob nenhuma possibilidade os seres humanos, para tal, a filosofia universalista é a única capaz de dissolver as barreiras formadas por conceitos entre as religiões e os seres humanos. É necessário lembrar que a intenção humana é que segrega, devido à falta de instrução no importante contexto da humildade, igualdade e fraternidade.
Portanto, as religiões são apenas reflexos das compreensões humanas, as quais nem sempre correspondem à verdade. A Ayahuasca não pode servir a essas finalidades.
13.2 A Utilização da Ayahuasca Precisa Estar Ligada a Uma Doutrina Específica ou Somente a Uma Doutrina?
Não, a doutrina não define a busca, embora possa direcioná-la. O ideal é que o ser humano aprenda a pensar por si próprio, reconhecendo o caminho a ser trilhado, toda doutrina pode ter marcas que estejam fundamentadas devido a necessidades particulares criadas para atender em um determinado tempo, quando a doutrina é real ou ainda é a expressão da verdade, ela permanece intacta sobre a vista do mais apurado discernimento.
Portanto, é sempre necessário a aplicação do discernimento sobre os elementos de qualquer doutrina, até porque o processo de entendimento de máximas verdadeiras promovem o entendimento e posterior compreensão para aproveitamento prático.
A ayahuasca é uma luz que revela o caminho para cada qual sem a necessidade de doutrinas, porém com a necessidade de busca, disciplina e envolvimento com o trabalho interior.
13.3 Como Agir Perante Dogmas e Limitações que Possam Existir nas Religiões que Utilizam a Ayahuasca e em Geral?
Existem doutrinas que não incentivam o uso do discernimento, mas tal fato se deve principalmente ao fato da maioria dos seres humanos preferirem não utilizar discernimento, e algumas doutrinas podem contribuir para o crescimento do indivíduo, como é o caso da doutrina deixada por Jesus, mesmo que não se identifique os porquês de amar uns aos outros, pois quando se consegue praticar, boas são as chances de entender a máxima. Assim, o seguidor é favorecido, mesmo que não tenha avaliado sob o aspecto do discernimento. O prejuízo pode ocorrer quando a doutrina é carregada de preconceitos e nada detém o indivíduo de a seguir, além do fato da falta de discernimento gerar um segmento mais arriscado sujeito a erro e acerto para aprendizado, e ainda, como as doutrinas estão sendo apresentadas em grupos, existe um fato que é a contaminação ou uma cobrança de ações idênticas no grupo, o que torna o ser humano pouco mais que uma marionete na mão dos coordenadores da doutrina. O esperado é que estes coordenadores tenham ética, mas é no mínimo imprudente deixar a cabo de outrem as nossas decisões, uma vez que desenvolver o discernimento é parte irrefutável do aprendizado para tornar-se sábio. Que as doutrinas podem ajudar a desenvolver o discernimento não nos resta dúvidas, mas os dogmas são impecílios ao discernimento, atrasando o caminho daquele que insiste em deixar para outrem as decisões que deve tomar. Contudo, é possível exercitar o discernimento mesmo diante dos dogmas, e ainda, exercitar a paz, conhecendo e sutilmente avaliando os dogmas para não se deter por eles e extirpá-los no momento certo, por razões evidentemente éticas em prol de verdadeiros benefícios.
13.4 Utilização do Sacramento Ayahuasca Além das Barreiras Ideológicas e Dogmáticas
Os dogmas podem ser necessários aos seres humanos em determinados níveis de entendimento, no entanto, para que estes obtenham algum benefício a partir da utilização dos dogmas é necessário que tenham uma base adequada às leis regentes, de outra forma, nenhum conhecimento poderão elucidar através deles. O mais adequado, porém, é perceber que os valores oferecidos possam ser examinados diante do discernimento.
As barreiras ideológicas, por sua vez, representam uma grande ilusão separatista que não produz conhecimento e segrega a favor da ilusão. O sacramento ayahuasca deve ser utilizado para transcender as barreiras ideológicas, incentivando a busca do discernimento como base para o aprendizado através da verificação dos eventos em movimentos de ações práticas vividas, e ainda, deve ser utilizado como meio para transcender os estados dogmáticos produzidos por conceitos desenvolvidos intelectualmente para diminuir a importância da experiência transcendental.
Para estes fatos é clara a importância da experiência de autoconhecimento para a evolução e adequação à missão particular de cada indivíduo, neste caso, os valores devem ser avaliados sob o ponto de vista supraconsciente sem intervenções do ego e seus personagens fundamentos em ideologias e dogmas daquilo que é certo ou errado. A verdade sempre foi independente e sempre esteve presente, muito antes do ser humano conseguir atribuir sentido às palavras e com elas montar conceitos.
Um bom trabalho com a utilização do sacramento ayahuasca deve conter elementos éticos de libertação, que estão fundamentos na utilização do discernimento em todas as circunstâncias, do envolvimento ético do ser humano com o meio e consigo, de sinceridade e respeito à busca particular, e ainda, com disciplina para tornar real o conhecimento adquirido através da prática. Enfim, o essencial para um bom desenvolvimento em um trabalho é a capacidade de encontrar e reconhecer o real dentro dos participante e do meio onde se vive (CANALIZAÇÃO ANÔNIMA, 2005).
14. Contexto de Uso
A ayahuasca deve ser utilizada única e exclusivamente para identificação da presença irrefutável da vida sob qualquer evento e manifestação, ou seja, para a busca pessoal para as razões da existência. O contexto deve ser o de aprender sobre valores reais que produzam seres humanos éticos e responsáveis por suas ações em níveis de compreensão alinhados com as leis que regem todo o universo e preservam a vida. Não existe sentido para a utilização de um sacramento a não ser o contexto de aprendizado em como ser mais real e estar mais próximo do entendimento da manifestação divina no universo.
Assim, é aconselhável observar claramente a natureza dos trabalhos praticados e, sobretudo, a verificação do desenvolvimento interior de valores reais nos participantes, bem como a característica da busca em desenvolver mais habilidades de interação que geram harmoniosamente compreensão e entendimento e o confronto do evento do ego e suas particularidades.
Também deve ser fator norteante da escolha do contexto em que participar da experiência com a ayahuasca a observação do pensamento livre de doutrinas, mas como objeto de estudos do grupo, não devem sê-lo sem o respectivo entendimento prático das mesmas. Valores como respeito, integridade e humildade devem assumir lugar privilegiado na busca de um grupo que utilize o sacramento, o melhor fator de observação é o da busca pessoal que deve estar cada vez mais alinhada às leis regentes, determinando a melhora nas atitudes do ser humano, evidenciando-se à medida do desenvolvimento de mais paciência com os fatores vivenciados, maior compreensão e simplicidade nas resoluções sem noções segregacionistas, porém com grande capacidade de observação e preservação de vibração superior. Tais fatores não podem ser fingidos, tornam-se evidentes na conduta de um indivíduo, grupo e contexto, sendo idealmente transferidos para a vida ao longo do trabalho.
É importante citar que o nível ético de um grupo deve estar em constante desenvolvimento para se adequar a uma realidade cada vez mais próxima do real. Portanto, contexto onde existem “donos da verdade” e autoritarismo devem ser observados com cuidado.
O contexto deve ser claramente evidenciado em combater o ego e suas manipulações, modificar os valores se não alinhados às leis regentes universais, buscar o autoconhecimento, e o auto-melhoramento, assumir responsabilidades, melhorar a percepção das interações com o meio e suas conseqüências em todas as dimensões alcançadas.
Outro fator importante para a formação de um contexto de uso benéfico é a constância, tanto para conhecimento a respeito dos benefícios como para o desenvolvimento do trabalho, a disciplina na busca de qualquer segmento espiritual requer um mínimo de envolvimento e respeito à linha que se segue, o primordial é reconhecer se este caminho traz benefícios.
É preciso considerar os fatos decorrentes da utilização da ayahuasca, e para obter mais entendimento sobre a utilização de um sacramento em contexto de busca de aprendizado é preciso estar atento e em auto-avaliação contínua da resposta obtida internamente, ou seja, sempre questionando interiormente: Quais as mudanças para melhor ayahuasca fez em minha vida? Quantos vícios eu venci? Quantas indicações de posturas éticas eu venho recebendo? Devem ser considerados os fatores que auxiliam na busca por ética e aprendizado, tais fatores somente podem ser avaliados após algum tempo de prática constante.
O mesmo critério é utilizado para qualquer prática, após alguns meses de prática é que se pode avaliar, por exemplo, o feito da prática de meditação, ioga ou mesmo de uma prática física como a natação, pois os resultados das ações geralmente estão vinculados à disciplina e ao tempo dedicados a elas, e exceto em casos raros, o ser humano necessita do trabalho para entender o que pode ser proporcionado por ele.Podemos dizer, portanto, que um trabalho com a ayahuasca é bem orientado quando neste trabalho existem fatores como o comprometimento com a verdade, a utilização adequada da ayahuasca e quando o resultado do trabalho é o comprometimento com a busca interior de autoconhecimento e com o crescimento dos integrantes do grupo como um todo.
Estes fatores não podem ser medidos em um único contato, o ideal é que as pessoas que se envolvem nestes trabalhos tenham uma conduta de vida adequada que vise a melhoria interior. Neste caso, a avaliação pode ser observada a partir da conduta dos participantes do grupo, tal observação deve ser feita apenas no sentido de averiguar se as máximas adquiridas são empregadas, ou seja, se as palavras e as ações estão baseadas naquilo que se acredita ser o melhor.
14.1 O Melhor Contexto de Uso Para a Ayahuasca é a Ética
É uma grande dificuldade para os seres humanos estar integrado à ética. A ação ética é aquela desprovida de interesses particulares, e que vise a expansão do bem na vida de todos, é um direcionamento da ação com base na interação entre todos os seres. Em amplitude, ética é a expressão das leis regentes na conduta do ser humano. A ação ética é capaz de prever as conseqüências das ações com base na capacidade humana de sentir a dor e a alegria do outro em sobreposição dos instintos. Para realizar a ação ética, os instintos devem ocupar lugar de pouca expressão, ou mesmo nenhum lugar, quando os instintos forem substituídos pela intuição e o ser humano observar como real a união das manifestações,a ética se fará presente em sua ação.
Não podemos dizer que a ayahuasca desperte por si só esta necessidade humana, mas a proximidade da alma e da percepção que ela causa, podem, se levadas a sério, contribuir muito para o desenvolvimento de ações éticas. E assim deve ser, pois a manipulação dos sentimentos no estado ampliado de consciência pode ser executada desde que o discernimento não seja bem estabelecido, e tal atitude denigre o trabalho sério com a ayahuasca, gerando preconceito contra o sacramento e sua utilização.
Sem ética o trabalho com a ayahuasca, assim como qualquer outro tipo de trabalho, não tem bons resultados na vida, há de se favorecer o trabalho interior com princípios éticos, e a verificação da aplicação destes depende da modificação no comportamento anterior com sensível melhora para o ser.
A imparcialidade nas atitudes, entendimento e a percepção são a chave para ações mais frutíferas em qualquer setor, no trabalho espiritual elas se somam à retidão e à humildade para uma atuação digna. Para que se possam colher os resultados de um bom trabalho espiritual, devem ser observados princípios éticos como, por exemplo, não utilizar a sensibilização para tratar de vaidades; evitar favorecer a expressão de sensualidade; orientar as atitudes na vida e a reflexão com base nos ensinamentos sobre as leis cósmicas; orientar atitudes responsáveis diante da ação; evitar divagações da mente durante os trabalhos; orientar os trabalhos de forma a conduzir para uma finalidade de encontro com o trabalho interior – é muito importante o reconhecimento do trabalho interior em substituição ao êxtase sem benefício no trabalho –, pois a conscientização precisa de direcionamento, sem o direcionamento fica comprometida a conscientização. Por fim, deve-se avaliar os pontos vistos e orientados e observá-los na prática diária, estabelecendo uma atitude única e mantendo coesão com os princípios estabelecidos, redirecionando toda a energia para a busca de conhecimento através de constante e eterno aprendizado.
Tal avaliação deve ser feita internamente, em momento algum podemos acreditar que podemos julgar os outros por suas atitudes, mas podemos discernir em suas atitudes sem acusações, selecionando a companhia daqueles com quem nossa vibração esteja afim. Geralmente isto ocorre naturalmente, portanto, observando nossa vibração estaremos observando boa parte da vibração que nos rodeia (CANALIZAÇÃO ANÔNIMA, 2005).
15. Ayahuasca e Saúde
15.1 Inter-Relação com o Meio e Equilíbrio.
Para podermos relacionar algum evento com saúde é preciso compreender aspectos sobre o equilíbrio humano. A dinâmica humana obedece a respostas energéticas em diversos planos, respondendo às ações e reações que desencadeia no ambiente, é preciso, para compreender um estado de saúde, observar uma unidade entre o ser humano e o meio.
O meio e a interação com o ser humano formam uma unidade, desta unidade se formam todas as manifestações, incluindo-se aqui a manifestação da saúde ou da doença. A engrenagem ser humano-ambiente determina a manifestação dos resultados desta interação em saúde ou doença, não é simplesmente um resultado de simbiose, mas um complexo que interage de forma profunda, a ponto de ser possível observar uma unidade complementar em todos os aspectos, gerando reações em cadeia no organismo vivo que se manifesta, a Terra, onde os seres humanos se manifestam.
Na relação simbiótica um parece auxiliar na existência do outro, na manifestação da unidade, um não existe sem o outro, o ser humano atua em seu meio produzindo muitas manifestações, físicas, emocionais, energéticas, e como ser criador, detém parte da energia da terra, manifestando nela seu poder e sua criação, que responde às leis regentes que permitem a eterna existência da vida reagem, como o são, dotadas de consciência.
Toda vida tem em si o poder de estar consciente, a consciência é a principal característica da vida, seu teor é determinado pela vibração e pela quantidade de conhecimento que produz, estando dinamicamente caracterizada pela memória, dela flui a capacidade de interação com o meio. Os resultados desta interação determinam saúde ou doença de acordo com o conhecimento.
A doença do mundo é a ignorância da forma energética produzida pelo ser e da incapacidade de interação com o meio dentro de princípios cósmicos de harmonia, a vibração emanada pelo ser é seu cartão de visita e estabelece o que este pode oferecer, como o conhecimento produz freqüências muito altas de energia, é possível dizer que a vibração mais rápida caracteriza o conhecimento, de forma que a vibração de um ser determina o quanto ele realmente sabe a respeito das leis regentes e sua capacidade de atuação diante do meio. O ser que possui vibração mais lenta pode demorar a perceber os eventos, esta é a principal razão para a existência da ilusão.
A ilusão, por sua vez, pode motivar a ação e esta ação motivada por algo que não existe pode produzir a agressão. A ilusão pode ser conceituada em milhares de manifestações passageiras, e está atrelada à ignorância da verdade, como, por exemplo, o evento do ego e suas populares companhias. A agressão gera a doença, toda forma de agressão, seja ela física ou psíquica em si ou em outro, gera reflexo na unidade, mesmo que não possamos perceber a unidade refletindo em cadeia.
Em um ponto de observação mais próximo ao real, podemos dizer que os desastres ocorridos em nosso equilíbrio físico correspondem aos desastres ocorridos na Terra, assim, o conceito de saúde aqui proposto é um conceito de unidade, inter-relação com o meio e equilíbrio entre estes fatores, não sendo possível determinar como saúde ou doença nenhum evento que interfira sobretudo nas condições de vida do indivíduo sob um ponto de vista espiritual, ou seja, os eventos devem ser vistos sob um prisma de unidade e ainda considerando a eternidade do ser humano para classificar algum evento como salutar ou doentio.
O equilíbrio entre os sistemas que compõe o ser humano, incluindo-se aqui a sua relação com o meio, é que determina o estado salutar, onde algumas doenças físicas podem inclusive ser associadas. À medida que corrigem a postura diante deste tênue equilíbrio, a doença em si não é o vilão da história, mas sim um evento decorrente da ignorância das leis que regem a vida, assim, são utilizadas para aprendizado, considerando-se que nem sempre é possível vencer os estados doentios sem aprender.
Temos ainda de lembrar que o estado de doença é um evento pessoal, existem pessoas com perfeita saúde física que investem toda esta saúde em atividades com finalidade de manterem seus egos, e embora não saibam encontram-se mais doentes do que aqueles que a doença curvou diante da lei, existem doentes do corpo mais saudáveis que alguns saudáveis do físico. A própria dependência social e a busca pelo poder são doenças aceitas socialmente como salutares. É preciso reconsiderar não somente aquilo que o indivíduo acredita, mas principalmente, a compreensão por ele apresentada de sua situação no mundo, este movimento da atenção faz a real diferença entre estar doente e ser doente.
A ayahuasca trabalha no âmago da compreensão humana, submetendo a consciência ao exame mais profundo de sua alma, porém este estágio é alcançado apenas após a compreensão, não sendo possível determinar quanto tempo, mesmo com auxílio da ayahuasca e de outros instrumentos como a meditação, por exemplo, o indivíduo ainda deve experimentar para conhecer. A compreensão do meio, da existência de um equilíbrio interior, traz a melhora dos eventos doentios do físico, porém é justamente as obsessões do ego que são capazes de adoecer o espírito, deixando-o por longos períodos sob o véu da ignorância.
É preciso olhar mais especificamente para o corpo físico e compreender que aquilo que é finito não pode ser o foco de nossa atenção, neste ínterim, devemos perguntar se a velhice e a própria morte não são de fato uma doença, para compreender ainda que a saúde está além de nossos limitados esforços em manter um corpo saudável. É claro que o aprendizado pode vir quando este corpo é jovem e saudável e assim se mantenha através de um aprendizado independente dos estados que incomodam, como a doença, mas tal fato é raro entre os humanos.
O trabalho com a ayahuasca é de conscientização de que a ilusão existe dentro dos seres, o corpo físico é somente um reflexo de uma desarmonia da unidade, a doença ganha nesta observação um papel novo ao quais alguns seres devem ser totalmente gratos, quantos não alcançaram sua alma somente na presença da doença, e quantos saudáveis fisicamente estão distantes da realidade; a capacidade de intervenção nos processos de aprendizado que podem ser proporcionados por trabalhos bem direcionados com a ayahuasca está na exposição que estes trabalhos proporcionam aos olhos dos indivíduos de uma nova realidade, para que tenham o poder de promover a cura de suas ações e assim, possam se manter saudáveis.
Contudo, não podemos afirmar que o conceito de saúde e doença hoje vigentes observem de fato e em tempo real, a presença de doença ou saúde, embora haja um esforço em observar que a dinâmica da doença atinge o ser humano em diversos graus, em contexto biosociopsíquico, o fato é que devemos nos perguntar quantos destes graus são conhecidos de maneira superficial por seus estudiosos e quantos outros, como o domínio energético, ainda são relegados ao campo do misticismo, embora todas as provas de que necessitam para serem comprovadas estarem à disposição, nem sempre os caminhos por onde os pesquisadores insistem em trilhar pode dar-lhes a confirmação de que necessitam para admitir aquilo que é. O fato é que o parâmetro saúde e doença ainda é equivocado neste mundo, e admitir novos padrões custa um esforço social de transformação que sustenta até os dias de hoje uma grande resistência devido à presença nesta sociedade da exaltação do ego.
15.2 Benefícios da Utilização da Ayahuasca para a Saúde
Conforme já mencionado, a origem ou causa de qualquer evento não saudável está diretamente ligado ao espírito, é nele e em suas emanações energéticas que nascem quaisquer tipos de transtornos, os transtornos precisam ser tratados em sua origem para restabelecer a saúde.
A ayahuasca trabalha os aspectos energéticos, seguindo uma orientação interior, conforme o ser humano consiga identificar as suas necessidades. Neste sentido, observamos que o direcionamento do trabalho é grande aliado, pois é o elemento conscientizador para alguns seres das suas necessidades internas. Com base no reconhecimento das necessidades interiores, a interação em campo físico, mental e emocional vão sendo levados à auto-avaliação e entendimento. Podemos então observar que o trabalho com a ayahuasca é um trabalho onde o caminho é realizado quando os passos são dados, a busca pela cura é propiciada diante da reflexão sobre algum evento e avaliação da intenção e vontade durante as ações.
Neste contexto, se encaixam perfeitamente as recordações de eventos que geram reações orgânicas após reações psíquicas que são desencadeadas durante toda a vida sem a consciência ou controle deste processo. A ayahuasca auxilia na identificação das causas e no entendimento dos processos, proporcionando de maneira didática a percepção do autoconhecimento, o que oferece uma repercussão em todos os aspectos da vida do ser humano, a partir do entendimento das causas e o que elas desencadeiam no organismo humano, a identificação dos eventos criadores de sofrimento são observados sob um ponto de vista sincero, obtido a partir da capacidade de interiorização pessoal, ou seja, do contato com a consciência.
Assim, com base nos movimentos que desencadeiam as reações que causam sofrimentos e ou transtornos e a ainda, com a observação de um padrão mais real que os conceitos, o ser humano tende a entender e estabilizar seus processos, e os ganhos para a saúde mental, emocional e física estão dispostos na referência de que um sofrimento causa transtornos de ordem emocional, mental e física, o que parece estar bem fundamentado a partir de conceitos comuns com que a psicossomática vem avaliando e observando eventos físicos mensuráveis a partir de situações por onde os indivíduos passaram. Nossa explicação para tais eventos é um tanto quanto energética, a interpretação energética e também a assimilação energética são os fatores condicionantes de doenças e bem como do alívio psíquico, ou seja, o ser humano estabelece uma doença na busca por fator equilibrante, geralmente ligado totalmente à sua disposição e prática e sua adequação à sua missão de vida.
A identificação destas causas podem ser buscadas com a utilização da ayahuasca, mas o fator determinante do êxito no alcance da cura está condicionado ao exercício do sofrimento, quanto tempo e quais seus fatores desencadeantes. É preciso que o ser humano alcance pelo aprendizado o necessário conhecimento para aprender a lidar de forma diferente com a causa do sofrimento e, desta forma, modifique a reposta ao evento, recriando as energias de uma maneira mais oportuna e saudável.
É necessário se organizar nos processo de desenvolvimento humano, e esta capacidade significa conhecer as causas de nossos sofrimentos e as leis regentes que nos ensinam que qualquer variável não pode gerar prisão sob nenhum contexto, libertando nossa maneira de entendimento dos eventos para um princípio mais eterno, mais próximo ao real.
15.3 Aspecto Físico dos Benefícios da Utilização da Ayahuasca
No aspecto físico, a saúde é beneficiada pela presença da ayahuasca, um ganho de memória e vitalidade é alcançado com o uso contínuo, devido ao fato da facilitação de eliminação de toxinas produzidas de acordo com o modo de vida do indivíduo, no entanto, os determinantes do alcance destes benefícios estão condicionados ao merecimento e à disposição do ser humano.
O mecanismo facilitador da eliminação de toxinas do organismo acontece devido à influência energética que inibe as substâncias que funcionam como âncoras para as toxinas. Por exemplo, a nicotina que se liga a receptores musculares é eliminada devido à descarga elétrica celular que ocorre durante a experiência com a ayahuasca, que inibe parcialmente a ligação da nicotina aos receptores específicos. Ao desativar o mecanismo, a nicotina é decomposta, sendo claro, contudo, que o processo é individual e parcial, conforme as atitudes do ser.
Ayahuasca é inofensiva à saúde, pois todas as decorrências da utilização da ayahuasca não oferecem risco ou danos a curto e a longo prazo. O sacramento não estabelece dependência, sua ação farmacodinâmica está atrelada à produção de substâncias endógenas, que são substâncias produzidas pelo organismo, e tal produção, nos níveis alcançados com a utilização da ayahuasca, não interfere nem desencadeia qualquer desequilíbrio, sendo também observada com a prática de exercícios respiratórios. Além disto, a resolução de aspectos psicossomáticos em trabalhos com a ayahuasca favorece o fortalecimento de reações orgânicas que impedem a instauração da doença, agindo como agente de prevenção em muitos casos.
15.4 Aspecto Mental dos Benefícios da Utilização da Ayahuasca
Possuir saúde mental é ter controle sobre a mente, de tal forma que esta obedeça fielmente aos princípios estabelecidos por nossa consciência, ou seja, a mente precisa estar sobre controle para não produzir fantasias e jogos que enalteçam o ego. A saúde mental não está, de forma alguma, desligada do espírito, do corpo ou das emoções e sentimentos e ainda, da energia e faixa vibratória da alma, assim, podemos dizer que a manifestação de uma doença mental é apenas um indicativo de reação de um padrão de condicionamento da atenção para princípios mentais, com ênfase no fato de que os indivíduos que assim procedem acreditam que a mente é seu governante, além do fato de que a percepção do indivíduo se encontra em nível vibracional correspondente a esta percepção.
Nestes casos, o reposicionamento energético e gradativo alcance de vibração mais elevada capaz de transcender a atual percepção mental, mostrando uma realidade além destas compreensões de teor mental, costuma auxiliar e até conquistar, através do esforço pessoal, a cura. A ayahuasca atua neste sentido, melhorando o padrão vibracional e intervindo na postura mental, mas tal fato está diretamente atrelado à condução do trabalho, e muitas precauções precisam ser tomadas para que a energia produzida na experiência não reforce os padrões mentais e agrave o caso.
Onde a doença não existe, o controle mental se torna muito mais fácil e assim, as chances de tornar a mente obediente são promissoras, embora estejam ligadas ao interesse e compreensão pessoal.
15.5 Aspecto Emocional dos Benefícios da Utilização da Ayahuasca
O fluxo de emoções nos seres humanos é fruto da primeira avaliação de que os seres são capazes da energia que entra, circula em si e no ambiente em que se encontram. Esta avaliação é feita com base nos recursos por eles apresentados desde a ancestralidade humana; assim, podemos nos referir a vários benefícios que a ayahuasca pode proporcionar, mas antes temos que salientar que o ambiente e o bom direcionamento de um trabalho faz toda a diferença quanto aos benefícios recebidos, além do fato de que o merecimento conquistado pela alma do indivíduo é visivelmente o fator preponderante sobre os benefícios merecidos durante a experiência.
Queremos com este comentário salientar que a Ayahuasca por si só não é totalmente responsável pelos eventos emocionais nos seres humanos, além do fato de que as influências do plano astral sobre o trabalho energético de ayahuasca é específico de acordo com o merecimento espiritual de cada um.
A ayahuasca é um poderoso instrumento de reorganização energética, e embora sua atuação seja temporária, as modificações estruturais geram capacidades que modificam um ser humano para a vida toda, sendo claro, porém, que a continuidade do trabalho é que traz benefícios duradouros e ainda auxilia no encontro pessoal da alma.
Neste contexto de reorganização estrutural energética, a postura vibracional do ser se modifica, permitindo a ele acesso a lugares diferentes dos habituais através de um ganho de percepção mais aguçado. No início, este ganho pode estar submetido aos seis sentidos – incluem-se aqui os padrões mentais de percepção –, porém, com o passar do tempo, ele é conseguido através de uma percepção extrafísica,
Esta capacidade faz com que o ser humano consiga um acesso aos planos da existência humana e, desta forma, observe com mais clareza, gradativamente conforme o seu merecimento, fatos de essencial importância, como a percepção de leis regentes, do amor cósmico, e seu próprio entrosamento nos eventos cósmicos e assim sucessivamente. Tal percepção é que descondiciona as emoções sentidas dos vínculos antes estabelecidos, libertando o ser, tanto de padrões vibratórios baixos, como também de emoções escravizantes geradas por conceituação mental.
Como visto, o benefício que a ayahuasca pode proporcionar é o de libertação, mas é importante saber que tais eventos estão condicionados a fatores individuais e gradativos. A dedicação é fator importante com a ayahuasca ou qualquer outra prática espiritual. É preciso ter constância para se alcançar a libertação.
Mais propriamente dizendo, o emocional tem origem na alma, desta forma, a atuação da ayahuasca é bastante efetiva, partindo do princípio simples de que um relaxamento induz o ser humano à interiorização e provoca uma mudança no fluxo energético através da capacitação energética e do movimento gerado por mudanças em vários graus para diferentes seres humanos da convencional postura energética, alterando a vibração. Fica claro que este acontecimento está condicionado ao direcionamento pré-estabelecido da atenção e da energia.
O direcionamento do trabalho deve acrescentar alguns mecanismos de reflexão(11) que permitam aos mais apegados a estruturas mentais desenvolver o desejo de impulsionar a própria vibração para graus de entendimento mais claros, tais movimentos são capazes de desbloquear e reestruturar o fluxo energético, produzindo um encontro com as emoções experimentadas, o que proporciona uma possibilidade de auto-ajuste, ou auto-análise de diversos dos sentimentos. Assim, a possibilidade de melhora emocional é considerável e em algum nível é possível estabelecer um novo fluxo energético, que perdurará enquanto a vibração for mantida.
15.6 Aspecto Espiritual dos Benefícios da Utilização da Ayahuasca
Como dito anteriormente, sobretudo no campo espiritual, a capacidade inata de reconhecimento e busca interior também chamada merecimento é o fator de maior relevância, no entanto, podemos apontar vários benefícios proporcionados pela ayahuasca devido ao fato de que o merecimento está diretamente ligado à percepção das ações e de como estas se entrosam com as leis regentes.
Como a ayahuasca proporciona uma capacidade de autoconhecimento, ou seja, uma melhora na capacidade energética que por sua vez gera uma percepção mais dilatada a respeito das ações praticadas, ao menos temporariamente, podemos concluir que dentro da experiência em trabalho bem direcionado é possível que o ser humano examine as ações e seus reflexos em sua vida, entendendo-se como o motivador delas e, desta forma, consiga alterar sua maneira de proceder. É claro que tal acontecimento está atrelado à confiança que o ser humano é capaz de depositar na percepção adquirida momentaneamente, muitos casos existem em que os seres humanos duvidam das percepções obtidas durante a experiência.
Mas podemos citar um benefício que não está inteiramente à mercê da vontade humana, este benefício é o deslocamento parcial da atenção para níveis mais elevados que permitem um contato semelhante ao da projeção, proporcionado entre as encarnações com o plano astral e espiritual. Os registros destas experiências sempre produzem alterações significativas no modo de agir, e mesmo que posteriormente a banalização da experiência venha a vencer no domínio mental do ser humano, internamente ele conhece o fato de que as razões universais estão diante dele, mesmo que ele não possa percebê-las, sabe que existem.
Com o tempo, através de experiências de introspecção profunda, os conceitos entre certo e errado parecem se dissolver por razões mais verdadeiras que não precisam de defesa em nenhum aspecto. É claro que os benefícios são mais facilmente alcançados com a disciplina e a constância, além de ser extremamente pessoal os benefícios alcançados.
Existem relatos entre os ayahuasqueiros de uma transformação no direcionamento da vida muito relevante, com melhoria em diversos graus na atuação destes seres para consigo e seus semelhantes, o que podemos perceber é que, destes grupos, boa parcela obtém mais tranqüilidade e capacidade de mudança pacífica. A longo prazo, é visível que o espírito destes indivíduos se beneficiam devido à mudança comportamental que adquiriram como fruto da utilização da ayahuasca em trabalho bem direcionado (CANALIZAÇÃO ANÔNIMA, 2005).
16. Dúvidas Freqüentes
Aqui são apresentadas, em forma de perguntas e respostas, algumas das dúvidas observadas com maior freqüência referentes ao contexto no qual se insere a utilização da ayahuasca. Também são apresentados alguns dos equívocos mais comumente verificados com relação a este tema seguidos dos esclarecimentos pertinentes.
16.1 Ayahuasca é droga? Qual a diferença entre ayahuasca e droga?
A ayahuasca já foi submetida à minuciosa pesquisa científica para classificação e esclarecimento desta dúvida, ela tem em seu favor duas importantes diferenças apresentadas em seus usuários: primeiro a inexistência de qualquer tipo de dependência que possa ter sido gerada pela utilização da ayahuasca, não existem casos onde as pessoas apresentam qualquer ansiedade patológica no sentido de buscar a próxima experiência compulsivamente, não existe abstinência em pessoas que utilizam a ayahuasca durante anos consecutivos quando submetidas a longos períodos sem a utilização do sacramento, não existe relato de perda do aprendizado adquirido durante os trabalhos após anos de uso devido à falta de trabalhos; segundo, não se evidencia nenhum fator sociopatológico no comportamento de pessoas que utilizam a ayahuasca por motivo de conseguir a ayahuasca para a finalidade de fuga da percepção do mundo, ao contrário, pessoas com estes intentos rejeitam a ayahuasca veementemente, porque a experiência confronta este intento.
Outro ponto importante é o que diz respeito à quantidade de DMT presente na bebida, o qual já foi constatado pelas pesquisas científicas, as quais comprovam que a quantidade de DMT encontrada na ayahuasca não produz efeitos nocivos, pois na realidade é muito baixa para sua ativação oral.
As drogas geram dependências físicas e psíquicas, tornando o comportamento sociopatológico quando há abstinência, os sintomas de abstinência são claros e evidentes, pois a memória, conscientização e a interação social são comprometidas, a capacidade de auto-cuidado é anulada com o uso constante, a percepção da unidade desaparece a ponto de provocar reações violentas contra o meio e os seres humanos ao redor.
Desta forma, fica fácil observar que os dependentes químicos e os ayahuasqueiros têm diferenças muito claras para serem ambos considerados de forma semelhante como simples usuários de drogas.
Em observação dos grupos e pessoas que utilizam ayahuasca por mais de cinco anos é comum o relato de reforma íntima, cura de alcoolismo e abandono de drogas se estas eram consumidas anteriormente, tal regeneração é comumente associada à utilização da ayahuasca em uso ritualístico.
Portanto, não só não tem a mesma atuação de droga como também facilita a cura de dependências anteriores, além de produzir, em efeitos para aqueles que dão continuidade ao trabalho de busca interior com a utilização do sacramento, a capacidade de melhora considerável da percepção e do auto-cuidado, liberando inclusive de dependências psicológicas.
16.2 Qual a diferença entre a ayahuasca e sintetizados químicos como o LSD, a Mescalina e outros?
Os sintetizados químicos são pobres em relação aos sacramentos que atuam em diversos níveis da existência, os quais são repletos de substâncias naturais, pois provém apenas de processos naturais. O isolamento das substâncias exige intervenções que alteram o processo orgânico natural, além da compensação orgânica, substâncias como a ayahuasca são facilmente eliminadas do organismo e têm alta seletividade, o que indica que produz efeitos mais complexos, atuando primeiramente em parceria com o organismo, e não sob controle ou aniquilamento de algum mecanismo para provocar sensações.
16.3 O que é alta seletividade?
Substâncias de alta seletividade são aquelas que poupam a maioria das enzimas, fazendo ligações reversíveis, ou seja, que permitam à molécula ter retorno ao seu estado anterior para ser novamente utilizada pelo organismo, além de estabelecer ligações com enzimas variáveis para promover uma mesma ação.
16.4 A ayahuasca pode incentivar a utilização de drogas?
A ampliação de consciência em contexto de autoconhecimento combate a utilização de drogas, é um agente que produz a amplitude da visão e do senso de responsabilidade para consigo e com o meio. Portanto, tal informação é incompatível com o trabalho de resgate de auto-estima e preservação que a ayahuasca proporciona. Além disto, a ayahuasca produz um efeito purificador até mesmo nas intoxicações produzidas pela má alimentação, cigarros e álcool, possibilitando uma desintoxicação. Ocorre da mesma forma com as intoxicações provenientes do uso de drogas químicas.
16.5 A ayahuasca pode ser utilizada como fuga da realidade?
A maior fuga da realidade para o ser humano é a existência de um sistema social com ênfase no ego e em jogos manipuladores com base em dualismo e, principalmente, em sentimentos de inferioridade e superioridade. Existe um outro tipo de fuga que é justamente a falta de vontade de se admitir, ao menos parcialmente, dentro deste jogo, falta esta que leva à busca da perda da consciência destes eventos.
O trabalho com ayahuasca salienta a existência de liberdade para com o sistema social, gerando uma capacidade de reconhecimento de seus mecanismos e a opção de transformá-lo, torná-lo mais próximo do real, restabelecendo valores que impeçam a manipulação de sua opinião, gerando maior controle sobre os eventos da vida e, desta maneira, possibilitando a conduta ética.
O confronto, neste caso, não é social, é interno, onde os valores sociais são submetidos ao exame particular e a conduta é alterada sem revoluções violentas. Ao contrário da fuga, tem-se a conscientização e o direito de escolha através da verificação constante de valores reais.
16.6 Ayahuasca causa dependência?
Como dito anteriormente, não, e tal afirmação tem confirmação científica com base na observação de grupos de usuários com mais de dez anos de uso contínuo.
16.7 Ayahuasca traz algum tipo de malefício orgânico? Alguma das substâncias encontradas na ayahuasca pode trazer mal à saúde?
É comprovadamente sabido que não, todo o processo de ampliação da consciência proporcionado com a utilização da ayahuasca é seguro sob o ponto de vista orgânico, e associado ao uso no contexto de auto-conhecimento e busca do sagrado torna-se seguro também para a psique. Por serem substâncias produzidas endogenamente, o que quer dizer que são produzidas pelo organismo humano, e também pela dosagem insignificante em que se apresentam, não existem substâncias na ayahuasca que comprometam a saúde, na realidade, podemos inclusive caracterizá-la como depurativo, o que indica ser um remédio para muitos males da humanidade, incluindo-se aqui a falta de busca interior e a dificuldade de percepção do divino que o ser humano comum apresenta cronicamente como meio de vida.
16.8 A ayahuasca pode trazer algum malefício neurológico ou psicológico?
Na realidade ayahuasca traz benefícios neurológicos devido à facilitação da sinapse e constante acesso às memórias. No quesito psicológico, os benefícios também são evidentes através da resolução de questões internas e da administração da condição de ser humano, que é a busca de equilíbrio entre corpo físico, mente e alma.
16.9 A utilização da ayahuasca causa um aumento dos níveis de neurotransmissores como a serotonina no organismo humano? Se sim, este aumento pode causar colapso (malefício)? Pode causar alucinações?
Apenas se o estado alfa é alcançado o nível de serotonina sobe, porém o mesmo ocorre durante o sono profundo. A serotonina não causa colapso neurológico, pois é degradada facilmente quando em excesso, portanto, não causa malefício nem alucinações. A associação com os sonhos é devido ao fato da produção de serotonina ocorrer durante o sono, porém, além dela, muitos eventos de ordem química e mais importante, eventos de ordem psíquica determinam a presença de sonhos, a serotonina é produzida em maior escala em estado de sono profundo onde não há sonhos.
16.10Qual é a diferença entre ampliação de consciência e alucinação?
A ampliação da consciência é conceituada por ser uma experiência onde ocorre o deslocamento da percepção, pois a percepção ordinária dos seis sentidos é transcendida, gerando uma capacidade de perceber além destes com um grande nível de clareza e compreensão dos eventos vividos, é a aproximação do real, ou da causa que gera a manifestação.
A alucinação é a projeção na tela mental de algo que pode ser reproduzido através de memórias de imagens fixadas na mente ou mesmo da criação de imagens mentais de maneira aleatória e sem participação da consciência, sem conhecimento ou propriedade para aprendizado; em outras palavras, é o mesmo que assistir um filme sem contudo conseguir prestar atenção no enredo. A alucinação não é produzida pela consciência, mas pela mente através de memórias ordinárias e não tem serventia para o aprendizado ou busca interior.
16.11O uso da ayahuasca pode produzir alucinações?
A mente produz alucinações, a ampliação da consciência é conseguida justamente quando existe uma desativação dos seis sentidos, portanto, é incomum alucinações quando da utilização da ayahuasca, somente em casos onde a ayahuasca é ingerida sem nenhuma orientação e utilizada com outras substâncias.
É possível que um trabalho mal orientado crie algumas visões irreais, mas tal fato não ocorre quando o trabalho é bem orientado e não existe utilização de outras substâncias. A ayahuasca deve ser utilizada com responsabilidade por quem conhece, respeito e preparo adequado, além de acompanhamento por aqueles que desejam conhecer um bom caminho para aprendizado.
16.12Existe uma preparação para a experiência com a ayahuasca?
Sim, uma preparação para a utilização da ayahuasca deve ser feita, da mesma forma que também deve ser feita para qualquer trabalho transcendental, apesar de muitos se esquecerem disto. Assim, algumas atitudes são favorecidas, pois não interferem na experiência, enquanto outras devem ser evitadas, a fim de trazer maior equilíbrio para o indivíduo. O destaque vai, sobretudo, para o cuidado com os pensamentos, com os locais freqüentados, evitando-se lugares turbulentos e de baixa vibração, com a ingestão alimentar, que deve ser leve, preferencialmente composta por frutas, e de substâncias nocivas à saúde como as drogas, que devem ser evitadas.
16.13Diz-se, equivocadamente, que a ayahuasca acelera o acesso ao inconsciente? Esta afirmação é verdadeira?
O inconsciente é o lugar desconhecido dentro de nós, neste sentido, podemos dizer que a ayahuasca trabalha para o autoconhecimento, produzindo consciência de aspectos antes desconhecidos, no entanto, não podemos afirmar que após o contato com o desconhecido de forma desperta é possível continuar inconsciente. Podemos observar que ayahuasca torna consciente estados que antes não se conhecia, ou passavam desapercebidos a respeito de si próprio, tornando maior a capacidade de conhecimento. Em momento algum podemos afirmar que o trabalho com o sacramento permanece inconsciente, pois sua atuação é o contrário disto. Em algumas experiências, devido a um baixo nível energético em que o ser se encontrava, pode ocorrer o esquecimento de algumas partes da experiência após a experiência, no entanto, este evento não é tido como inconsciente porque durante a experiência o ser humano se mantém em estado desperto, alerta.
16.14A experiência de contato espiritual com a ayahuasca pode tornar as experiências posteriores mais fúteis? A vida cotidiana após a experiência passa a ser menos valorizada?
A experiência com o sacramento ayahuasca torna o contato espiritual sagrado, fortalecendo o discernimento para reconhecê-lo em quaisquer circunstâncias e locais, proporcionando a capacidade de contato espiritual no dia-a-dia, melhorando a confiança e fortalecendo através da experiência a identificação do divino em todos os aspectos da vida. O processo é justamente o contrário, a valorização de aspectos reais em todos os níveis de existência faz com que o indivíduo se torne mais ético, admirando os eventos naturais como eventos divinos, porém os torna seletivos em relação às informações recebidas, uma vez que desenvolvem o discernimento e se tornam conscientes do direito de escolha.
16.15Existem, porém, alguns grupos onde observamos algumas práticas destoantes? O que dizer a respeito?
Dissemos anteriormente que o uso da ayahuasca fortalece, melhora a percepção e o discernimento, portanto, com o passar do tempo, o indivíduo é capaz de avaliar a situação do grupo e as informações recebidas e avaliar se está de acordo com sua busca. Grupos que se utilizam das pessoas para fins menos coerentes com aqueles propostos pela egrégora que envolve o trabalho espiritual com ayahuasca tendem a serem freqüentados somente por indivíduos afins com busca de valores falhos, geralmente são grupos que não trabalham de maneira ética, mas é à busca pessoal regida pela interiorização que compete definir até que ponto se pode sacrificar a busca pessoal em nome de algum grupo. Os grupos que trabalham com a ayahuasca não são perfeitos, porém devem estar buscando os ideais éticos para crescimento interior, caso contrário, com o tempo a ineficiência do trabalho para o crescimento interior tende a transformá-los ou extingui-los. Assim, podemos acreditar que os trabalhos que continuam provavelmente passam por constantes mudanças e procuram o crescimento. Existem exemplos destes fatos conhecidos por vocês.
16.16Existe a necessidade do uso de outras plantas antes ou concomitantemente ao uso da ayahuasca?
Ayahuasca é a união de duas plantas de poder que se completam, não sendo necessário a utilização de outras plantas para a experiência transcendental. É mais desejável que o indivíduo se prepare para a experiência do que faça uso de outras plantas concomitantemente.
16.17Quem já bebeu uma única vez pode dizer que conhece a ayahuasca e seus benefícios? Qual a diferença entre as pessoas que dão continuidade ao trabalho com a ayahuasca e as que têm poucas experiências ou experiências esporádicas?
O trabalho com a ayahuasca é um trabalho de reorganização energética e as possibilidades para cada um dependem do nível de adequação à sua missão auto-estabelecida anteriormente. Também o aprendizado proposto por qualquer trabalho sério de busca com base no autoconhecimento é um aprendizado que só se atinge com disciplina e constância.
No trabalho com a ayahuasca não é diferente, ter conhecimento a respeito da atuação da ayahuasca em único trabalho é muita pretensão, claro que o conhecimento a respeito de um determinado assunto demanda tempo, disciplina e constante observação de seus efeitos e manifestações, ainda mais é exigido quando se refere a um sacramento utilizado para o desenvolvimento pessoal e compreensão da manifestação da força divina.
É provável que sob estes pontos de vista ninguém possua todas as referências necessárias para se dizer conhecedor de algo transcendental como o a ayahuasca utilizada para finalidade de conhecimento. As pessoas que não dão continuidade ao trabalho geralmente procuram adaptar a percepção de uma única ou poucas experiências com a ayahuasca a conceitos e referências particulares, o que gera, no mínimo, um equívoco a respeito do que é o sacramento e de sua serventia. Já as pessoas que observam grandes períodos de intervalo entre as experiências são aquelas que ou não identificam o valor da busca ou procuram readaptar-se aos conceitos tidos como corretos anteriormente. Assim, o benefício do sacramento que é a modificação dos valores pode ser comprometido, porém tal fato não é uma regra. Para conhecer o valor de um sacramento aplicado à busca pessoal de autoconhecimento é preciso experimentar em um nível profundo a modificação dos valores anteriores por valores reais, e ter aplicado ao menos alguns deles como modo de vida, ou seja, tornando prático o conhecimento proporcionado pela experiência, sem dúvida da atuação e necessidade imprescindível da ayahuasca para melhora da percepção que tornou possível o aprendizado. Para se dizer conhecedor é preciso conhecer, quem não praticou os conhecimentos adquiridos sob a luz da ayahuasca não pode dizer que conhece os efeitos de ayahuasca, uma vez que em sua vida nada se evidenciou no sentido de modificação de valores. Agora, se a ayahuasca em única experiência tornou possível a modificação de valores em benefício próprio e do meio, não existe um motivo para abandonar o caminho a não ser o medo da transformação dos valores já estabelecidos. A experiência de quem vem sendo disciplinado e corrigido através do sacramento deve sim ser um bom nivelador de conhecimento, e embora isto não seja regra, a observação deve ser feita através das atitudes que foram se modificando através da interação ayahuasca e ser humano.
16.18Muitas pessoas acham que a utilização da ayahuasca pode ser um subterfúgio ou uma muleta, não compreendendo os benefícios alcançados a partir da interação ayahuasca-ser humano. Pode falar a respeito do por que da utilização deste instrumento e da lógica de seu uso?
Para comparar algo a algo conhecido como uma muleta, por exemplo, é necessário saber qual é a função da muleta para ver se a ayahuasca pode substituí-la. Pessoas que não conhecem não tem referências mínimas para comparação, mesmo aquelas que experimentaram apenas algumas vezes devem observar com cuidado que mesmo uma muleta tem mais de uma aplicação. Assim, simplificar os efeitos da ayahuasca aos de uma simples muleta é no mínimo falta de entendimento e conhecimento a respeito de qualquer sacramento que tem de longe muitas utilidades na busca de conhecimento dos seres humanos.
O pensamento de que a ayahuasca pode ser um subterfúgio ou uma muleta vem do aspecto emocional de imaturidade de alguns seres humanos que consagram a ayahuasca sem nunca seguir as instruções de melhoramento interior. Conforme o ser humano for evidenciando seu crescimento através da prática de seus objetivos mais interiores, buscando adaptar-se às suas próprias visões daquilo que são os valores reais, sua transformação produz a capacidade de andar pelas próprias pernas para compreender a realidade da vida.
No entanto, boa parte das pessoas que consagram a ayahuasca, da mesma forma que em outros caminhos possíveis de serem trilhados, dependem e esbarram em sua dependência da existência de seu ego como identificação do eu real, assim, quando este personagem é contestado, alguns preferem parar a reforma interior e concluem que somente podem observar sobre estes aspectos reais em um estado ampliado de consciência, e que, portanto, estes não são aplicáveis à vida prática.
É um engano bastante comum, o benefício nestes casos está justamente em assumir a responsabilidade pelas ações e libertar as ações praticadas com base no evento do ego, e para isto, muitas mudanças de valores são exigidas e sob um grau de imaturidade o entendimento da atuação da ayahuasca em trabalho bem direcionado parece utópico, além do fato do ser humano estar ainda em processo de escravidão diante de seu ego.
A ayahuasca trabalha a interna ação no ser humano para que a ação seja externamente evidenciada com base em valores reais, o trabalho realizado para o autoconhecimento com a ayahuasca é bastante sério e responsável, pois trabalhando internamente os valores estabelecidos, as ações que decorrem desta compreensão se sustentam em bases reais, e assim, os sentimentos, os pensamentos, as ações devem se adequar a um nível de percepção e vibração superior, com base nas leis regentes, e na libertação da ilusão ou ego.
16.19Como explicar o fato de pessoas que não percebiam, ou pouco percebiam dos planos astrais (extrafísicos) ao beberem ayahuasca abrirem a percepção para estes planos?
Primeiramente é bom esclarecer que o objetivo principal da experiência com a ayahuasca não é simplesmente perceber os planos astrais, mas sim o autoconhecimento e a percepção de si mesmo de uma forma mais ampla, para que cada um tenha mais força para dar prosseguimento à reforma interior e possa encontrar realização interior do ser.
A falta de percepção está associada ao direcionamento da energia captada para utilização dos seis sentidos, geralmente a quantidade de energia captada não é suficiente para transcender esta percepção, e em muitos casos, mesmo que a captação energética seja maior, as possibilidades de atrativos para os seis sentidos está muito diversificada e a capacidade de atrair os seres humanos é alta, somente uma busca em outro direcionamento, ou a possibilidade de neutralização dos seis sentidos pode diminuir o poder de atração existente entre os seres humanos e as sensações promovidas pela utilização dos seis sentidos.
É claro que este modo de vida tem seu preço, e produz seres escravos de uma não realidade na medida em que os seis sentidos passam a ser o foco da atenção, quando os esforços são empregados todos na obtenção das sensações produzidas a partir destes sentidos. Desta forma, a energia direcionada somente para os aspectos físicos sob a exigência de se obter sensações e ainda incentivada e manipulada pela sociedade cria escravos que mantém energeticamente um sistema de vida com base nos seis sentidos.
A experiência com a ayahuasca produz, devido à queda de metabolismo, a interiorização, promovendo ainda a captação de energia em escala maior, gerando uma aceleração ordenada dos centros de força que, por sua vez, expande a aura e aumenta a potência do campo energético.
A atuação da ayahuasca no campo astral está diretamente ligada à ativação do corpo energético, e devido à maior concentração e capacidade de captação energética, aceleram a rotação dos centros de força, dinamizando a percepção do campo áurico em vários graus já na primeira experiência. Embora tal estágio possa ser alcançado de outras formas, espiritualmente a atuação é feita, estando, porém, condicionada também à capacidade de memória desenvolvida, pois é ela que possibilita o aprendizado.
Portanto, primeiro os seis sentidos estão utilizando menos energia, depois a capacitação energética do campo áurico faz com que a percepção se dilate, evidenciando a percepção além dos seis sentidos que existe nos planos astrais e até mesmo causais, mas a transcendência da manipulação da energia é temporária e requer uma continuidade de esforços para direcionamento da energia própria para se perpetuar uma percepção mais refinada.
Já foi comprovado pela ciência terrena que a matéria é energia condensada, para tal, a evidência de partículas de energia que, unidas, geram uma manifestação física, foi comprovada, a percepção da energia só é possível em níveis vibracionais altos, o que requer um hábito de economia de energia que a maioria dos indivíduos da Terra não está disposto a praticar. No entanto, com a utilização da Ayahuasca, apenas durante a experiência a captação energética torna possível a percepção mais refinada. Para a continuidade do evento, contudo, é necessário esforço pessoal.
16.20A utilização da ayahuasca harmoniza o ritmo dos chakras?
A ayahuasca acelera os centros de força, melhorando a sintonia entre os centros de força, uma vez que este processo quebra bloqueios energéticos que impedem o bom funcionamento. Entretanto, esta aceleração está ligada mais ao merecimento e direcionamento do que a fatores físicos.
A aceleração dos centros de força em meditações bem praticadas, por exemplo, também é comum, porque o objetivo destas práticas é melhorar a capacidade de aprendizado do ser humano e, para tal, o nível de energia pode subir. Com bloqueios e ou fluxos muito lentos a atenção fica retida nos seis sentidos, tornando imperceptível a existência de bloqueios.
A harmonização dos centros de força é uma realização posterior à aceleração dos centros de força e tem como objetivo favorecer o aprendizado.
16.21Como a ayahuasca circula no sistema energético humano?
O sistema energético compreende os corpos desde níveis mais sutis, e se manifesta no corpo, em pontos principais, os centros de força maiores e os menores e através da ligação entre eles que podem ser chamados de fios de condução energética. Os centros de força correspondem a órgãos vitais e processos vitais, enquanto os fios estão alinhados no sistema linfático. Os maiores centros de força correspondem em alinhamento às seguintes estruturas no sentido encéfalocaudal (cabeça–pés):
coronário => hipófise;
frontal => sistema límbico, nervo óptico e conduto auditivo;
laríngeo => tireóide e paratireóide;
cardíaco => timo;
plexo solar => fígado e baço;
Umbilical => pâncreas e rins;
Básico => gônadas.
Entre os centros de força maiores estão os centros de força menores, através do estímulo de um centro menor é possível reverter um quadro de doença nos centros maiores, os centros menores formam fisicamente pequenos nódulos (linfonodos), que estão por sua vez ligados através do sistema linfático.
A ayahuasca interage no campo energético capacitando os centros de força através da ativação ou aceleração de pontos específicos dentro dos centros de força maiores, estes pontos estão acessíveis em estados de supraconsciência e podem ser influenciados pelo desejo, pelo conhecimento, pela intenção fixa, ou ainda por outros seres que possuem conhecimento de como movimentá-los para o estado de supraconsciência.
Esta capacitação energética sempre é proporcionada pela atuação da ayahuasca, mas para que o trabalho possa atingir patamares superiores são necessários alguns pré-requisitos, um deles é capacidade de concentração, outro é a capacidade de intenção, e o nível que o trabalho com a ayahuasca pode atingir depende do nível de desenvolvimento em que se encontram estas capacidades no ser, exceção dos momentos em que o trabalho é conduzido por seres cujo desenvolvimento já lhes permite a condução. É importante observar que nenhum destes fatores pode ser obtido pelo processo de raciocínio.
16.22O que dizer para as pessoas que sentem algum desconforto nas primeiras experiências com ayahuasca?
Não existem regras ou definições a fornecer quando algum desconforto se apresenta nas primeiras experiências, o adequado é que se disponibilize conhecimentos, mesmo que conceituados para que a pessoa possa identificar o motivo das sensações de desconforto, ou ainda procurar auxiliá-la a identificar se ela assim o desejar. No entanto, é preciso se conhecer um pouco sobre movimentação energética para identificar o motivo do desconforto e assim, auxiliar com o entendimento do desconforto. O ideal, no entanto, é procurar entender o quanto esta resposta é realmente buscada, nem sempre existe um equilíbrio entre os conceitos dos seres humanos e a realidade. Assim, toda vez que a realidade for expressa claramente através de algum desconforto, pode existir um grande esforço no sentido de procurar dissipar apenas a sensação sem, contudo, procurar a razão. Este evento é bastante comum, sobretudo aos indivíduos que ainda não adquiriram confiança no sacramento (CANALIZAÇÃO ANÔNIMA, 2005).
17. Toxicidade e Perigos
Diversas pesquisas ao redor do mundo demonstraram a baixa toxicidade dos alucinógenos (STRASSMAN, 1984; NICHOLS, 2004; MCKENNA, 1998; GROB,1996; RIBA, 2003; VOLLENWEIDER et al, 2004). Uma das medidas importantes para determinar a segurança de uma substância é a LD-50, ou seja, quantidade necessária para uma substância matar 50% dos animais testados. Estes números são transpostos e recalculados para os humanos, e então correlacionados com a quantidade necessária para uma dose efetiva ou dose terapêutica, resultando no número do índice terapêutico (ou índice de segurança). Lembrando que quanto maior o número, mais segura uma substância é, de acordo com o Registro de Efeitos Tóxicos, o índice de segurança médio das triptaminas aqui discutidas é maior do que600, enquanto, para fins comparativos, da aspirina é 199, da fluoxetina (prozac®) é 100, da nicotina é de 21 e do álcool é 10 (FRECSKA e LUNA, 2006, p.191; GABLE,2004). Um índice de segurança de 600 significa que seria preciso ingerir 600 vezes a dose efetiva de uma só vez para se chegar aos efeitos tóxicos possivelmente letais (in SACRAMENTO, 2008).
Não existem casos confirmados de mortes diretas por uso de alucinógenos (LSD, DMT(ayahuasca), Psilocibina, mescalina), apesar das milhões de doses já ingeridas. Para fins de comparação, o álcool é responsável por 2,3 milhões de mortes todos os anos (ou uma morte a cada 15 segundos) segundo a OMS. Mesmo descartando as mortes indiretas para a comparação, ainda assim podemos dizer que os alucinógenos são relativamente seguros (in SACRAMENTO, 2008). Segundo NICHOLS (2004), a ausência de perigos físicos diretos na ingestão de psicodélicos está ligada à farmacologia peculiar. Como dito na primeira parte deste trabalho, estas substâncias agem especialmente no neuroreceptor 5-HT2a, que não é responsável por funções vegetativas vitais. Não causam alterações perigosas em funções cardiovasculares, renais ou hepáticas, tornando seus efeitos restritos ao Sistema Nervoso Central (SNC), em especial aspectos da consciência, não oferecendo risco de vida direto. Outra área que merece atenção é a de interações medicamentosas. Em especial no caso da ayahuasca, as ß-carbolinas, componentes ativos da bebida, são inibidores da MAO, enzima que, além de destruir o outro componente ativo DMT (e por isso a necessidade dos inibidores para o efeito da ayahuasca), também quebram metabolicamente o neurotransmissor serotonina. A temporária quantidade elevada de serotonina não é por si só um problema, mas caso a IMAO seja utilizada em conjunto com um anti-depressivo ISRS como a fluoxetina (Prozac®), pode ocorrer uma síndrome serotoninérgica. Esta síndrome é caracterizada por níveis excessivos de serotonina, causando náusea, tremores, vômito, convulsões e em casos mais extremos, perda de consciência, coma e até morte. É importantíssimo, portanto, que todos que forem utilizar a ayahuasca sejam informados e estejam absolutamente livres de ISRS ,por pelo menos duas semanas (in SACRAMENTO, 2008). Pesquisas também demonstraram não haver nenhum tipo de dano cerebral em geral, e nem déficit cognitivo e psicológico, mesmo para adolescentes e para usuários regulares, em um setting apropriado, como a pesquisa do psiquiatra John Halpern com membros da Igreja Nativa Norte Americana que haviam utilizado o peiote ao menos 100 vezes, ou as diferentes pesquisas com membros jovens e adultos que utilizam regularmente ayahuasca nas igrejas como o Santo Daime ou a UDV (HALPERN, 2005; DOERING-SILVEIRA, 2005; GROB, 1996) (in LIMA, 2004).
No Projeto Hoasca, investigação multidisciplinar com pesquisadores de diversos países cujos resultados serviram de embasamento científico para a liberação do uso ritual da ayahuasca no Brasil, os investigadores notaram também que os usuários regulares eram altamente funcionai sem termos sociais (GROB, 1996). Mesmo com estes resultados favoráveis, ainda assim novas pesquisas controladas nesta área são sempre bem-vindas, seja para confirmarmos os dados existentes ou para trazermos novas informações de possíveis problemas agora desconhecidos, e então descobrirmos como evitá-los.
Por último, é importante notar que, embora os alucinógenos não ofereçam riscos físicos diretos, podem ocorrer problemas indiretos relacionados ao efeito das substâncias. Devido às mudanças na consciência e percepção, existe a possibilidade de pessoas não conseguirem distinguir a melhor forma de agir na realidade consensual, podendo cair e se machucar, por exemplo, ou se cortar com objetos pontudos, ou se acidentarem se tentarem dirigir, ou outros problemas desta espécie. Isto reforça a idéia da necessidade de um ambiente propício (não estar perto de um precipício é um exemplo exagerado, mas ilustrativo de que tipo de local não é adequado) e de uma preparação prévia deste ambiente. Isto também mostra a necessidade da presença de um facilitador ou terapeuta experiente que possa lidar com as situações e impedir acidentes (in SACRAMENTO, 2008).
18. Um Novo Manifesto
A influência da dieta em induzir mutações nos primeiros humanos e o efeito de metabólitos exóticos na evolução de sua neuroquímica e sua cultura ainda é um território não estudado. A adoção de uma dieta onívora por parte dos primeiros hominídeos e a descoberta do poder de certas plantas foram fatores decisivos para afastá-los da corrente da evolução animal, levando-os para a maré acelerada da linguagem e da cultura. Nossos ancestrais remotos descobriram que certas plantas, quando auto-administradas, suprimem o apetite, diminuem a dor, proporcionam jorros de energia súbita, conferem imunidade contra patogêneses e sinergizam atividades cognitivas. Essas descobertas levaram-nos à longa jornada para a auto-reflexão. Assim que nos tomamos onívoros usuários de ferramentas, a própria evolução mudou de um processo de modificação vagarosa para uma rápida definição de formas culturais através da elaboração de rituais, linguagens, escrita, capacidades mnemônicas e tecnologia.
Essas mudanças imensas ocorreram em grande parte como resultado das sinergias entre os seres humanos e as várias plantas com as quais eles interagiram e co-evoluíram. Uma avaliação honesta do impacto das plantas sobre as bases das instituições humanas descobriria que elas são absolutamente fundamentais. No futuro, a aplicação de soluções estáveis botanicamente inspiradas, como o crescimento zero de população, a extração do hidrogênio da água do mar e os programas maciços de reciclagem podem ajudar a reorganizar nossas sociedades e nosso planeta em termos mais holísticos, conscientes do meio ambiente, neo-arcaicos.
A supressão do natural fascínio humano com relação aos estados alterados de consciência e a atual situação de perigo por que passa toda a vida na terra estão íntima e causalmente conectadas. Quando suprimimos o acesso ao êxtase xamânico represamos as águas refrescantes da emoção que flui de um relacionamento profundamente ligado, quase simbiótico, com a terra. Em conseqüência disso se desenvolvem e se mantêm os estilos sociais mal-adaptados que encorajam a superpopulação, o mau uso dos recursos e a intoxicação ambiental. Nenhuma cultura na terra é tão profundamente narcotizada, em termos de se acostumar às conseqüências do comportamento mal-adaptado, quanto o ocidente industrializado. Buscamos uma atitude tranqüila numa atmosfera surreal de crise cada vez maior e contradições irreconciliáveis.
Como espécie, precisamos reconhecer a profundidade de nosso dilema histórico.
Continuaremos a jogar com um baralho pela metade enquanto continuarmos a tolerar os cardeais do governo e da ciência que pretendem ditar onde a curiosidade humana pode se concentrar e onde não pode. Essas restrições à imaginação humana são aviltantes e absurdas. O governo não somente restringe a pesquisa sobre substâncias psicodélicas que poderiam talvez produzir valiosas idéias psicológicas e médicas; ele pretende impedir também seu uso religioso e espiritual. O uso religioso das plantas psicodélicas é uma questão de direitos civis; sua restrição é a repressão de uma legítima sensibilidade religiosa. De fato, não é uma sensibilidade religiosa que está sendo reprimida, mas a sensibilidade religiosa, uma experiência da religio baseada no relacionamento entre plantas e seres humanos que existe desde muito antes do advento da história.
Não mais podemos adiar uma reavaliação honesta dos verdadeiros custos e benefícios do uso habitual das plantas e das drogas versus os verdadeiros custos e benefícios da supressão de seu uso. Nossa cultura global corre o perigo de sucumbir a um esforço orwelliano de acabar com o problema através do terrorismo militar e policial contra os consumidores de drogas em nossa população e os produtores de drogas no Terceiro Mundo. Essa resposta repressiva é alimentada em grande parte por um medo não examinado que é produto de desinformação e ignorância histórica.
Preconceitos culturais profundamente arraigados explicam por que a mente ocidental toma-se subitamente ansiosa e repressiva com relação às drogas. As mudanças de consciência induzidas por substâncias revelam dramaticamente que nossa vida mental tem fundamentos físicos. Assim, as drogas psicoativas desafiam a suposição cristã da inviolabilidade e do status ontológico especial da alma. De modo semelhante, elas desafiam a idéia moderna do ego, de sua inviolabilidade e de suas estruturas de controle. Resumindo, os contatos com as plantas psicodélicas questionam toda a visão de mundo questionadora.
De fato, o terror que o ego sente ao contemplar a dissolução das fronteiras entre o Eu e o mundo não está somente por trás da supressão dos estados alterados da consciência, mas, de modo mais geral, explica a supressão do feminino, do estrangeiro e exótico e das experiências transcendentais. Nos tempos pré-históricos, porém pós-arcaicos, de cerca de 5000 a 3000 a.C., a supressão da sociedade igualitária pelos invasores patriarcais arrumaram o cenário para a supressão da investigação experimental e aberta da natureza, feita pelos xamãs. Em sociedades altamente organizadas essa tradição arcaica foi substituída Por uma tradição do dogma, da politicagem clerical, das guerras e, finalmente, dos valores “racionais e científicos” ou dominadores (MCKENNA, 1995a).
Até aqui o autor usou sem explicação os termos "igualitários" e "dominadores" para falar de estilos de cultura. Ele deve essas expressões úteis a Riane Eisler e sua importante revisão da história no livro The Chalice and the Blade.
Eisler desenvolveu a noção de que os modelos de sociedade "igualitária" precederam e mais tarde competiram e foram oprimidos pelas formas de organização social "dominadora" (EISLER in MCKENNA, 1995a). As culturas dominadoras são hierárquicas, paternalistas, materialistas e de domínio masculino. Eisler acredita que a tensão entre as organizações Igualitárias e dominadoras e a superexpressão do modelo dominador são responsáveis por nosso afastamento da natureza, de nós mesmos e uns dos outros.
Eisler escreveu uma brilhante síntese do surgimento da cultura no antigo Oriente Próximo e do desdobramento do debate político relativo à feminização da cultura e à necessidade de superar padrões de domínio masculino para a criação de um futuro viável. Sua análise da política dos sexos eleva o nível do debate para além dos que saudaram estridentemente um ou outro "matriarcado" ou "patriarcado" antigo. The Chalice and the Blade introduz a noção de "sociedades igualitárias" e "sociedades dominadoras" e usa os registros arqueológicos para argumentar que, sobre vastas áreas e durante muitos séculos, as sociedades igualitárias do Oriente Médio antigo não tinham guerras nem levantes. A e o patriarcado chegaram com o aparecimento de valores dominadores (MCKENNA, 1995a).
19. A Herança Dominadora
Nossa cultura, auto-intoxicada pelos subprodutos venenosos da tecnologia e pela ideologia egocêntrica, é a infeliz herdeira da atitude dominadora que diz que a alteração da consciência através do uso de plantas ou substâncias é errada, onanística e perversamente anti-social. A supressão da gnose xamânica, com sua confiança e insistência na dissolução extática do ego, roubou-nos o significado da vida e tomou-nos inimigos do planeta, de nós mesmos e de nossos netos. Estamos matando o planeta, para manter intactas as suposições equivocadas do estilo cultural dominador do ego (MCKENNA, 1995a).
20. O Surgimento das Religiões Ayahuasqueiras – O Culto Urbano da Ayahuasca no Brasil.
Segundo FERNANDES (1986), os primeiros contatos do povo brasileiro com o uso da Ayahuasca aconteceram em meados de 1910, nas fronteiras do estado do Acre com a Bolívia e o Peru. Para compreender como esse processo aconteceu, faz-se necessário entender o contexto nacional e internacional no qual o Acre estava inserido, ligado à economia da borracha, ou seja, situar historicamente o período em que a cultura da Ayahuasca chegou ao Brasil e as primeiras religiões ayahuasqueiras surgiram.
No inicio do século XX o sistema capitalista é caracterizado pelo alto grau de monopólio, tanto na acumulação de capital como na produção, sendo também marcado pela presença da oligarquia financeira, além das associações capitalistas internacionais que dividiam o mundo entre si. Tudo isso acompanhado da revolução nos transportes e o desenvolvimento da siderurgia.
Com o avanço do sistema capitalista baseado no sistema de produção, observou-se um crescimento na demanda por matérias-primas que alimentassem o ciclo de produção. É nesse cenário que o estado do Acre desponta como um dos principais produtores de Látex do Brasil.
O interesse do grande capital internacional segundo, era controlar as fontes de matérias-primas, fundamental no futuro desenvolvimento da industria automobilística. Foi na Amazônia que uma destas fontes foi encontrada, a borracha; e o Acre apresentou-se como um dos principais produtores de Látex da região norte, lugar que ocupa até os dias de hoje.
Segundo FERNANDES (1986), nesse momento (inicio do séc. XX) o nordeste brasileiro vive uma crise por conta da seca, que desde 1877 assolava a região, o que contribuiu para um grande êxodo da população rural nordestina. Com o aumento da demanda por Látex e a ascensão de sua produção na Amazônia brasileira, um grande fluxo migratório nordestino se formou em direção à floresta em busca de oportunidades de trabalho.
Outros fatores merecem destaque para a questão do direcionamento da mão-de-obra nordestina para a Amazônia. Os trabalhadores nordestinos: tinham um grande preconceito em relação ao trabalho nos cafezais do sul do Brasil, também carente de mão-de-obra; na Amazônia não estariam sujeitos a um salário; foram induzidos pela lenda de um novo Eldorado e pelas facilidades e subsídios que os governos dos estados do norte concediam aos imigrantes.
Esses fatores associados à falta de condições dos senhores de terra nordestinos em manterem seus trabalhadores empregados, em virtude das secas que dizimavam a população nordestina, contribuíram para a emigração.Em 1912 a produção de borracha no Brasil atingiu seu auge, 43.370 toneladas, e a partir daí o seu declínio, devido à concorrência com a borracha produzida pelos ingleses na Ásia (Malásia e Singapura), através de métodos racionais, com um baixo custo e menores preços no mercado internacional do que a produzida no Brasil.
Foi nessa época que o fundador da primeira religião ayahuasqueira brasileira, senhor Raimundo Irineu Serra, chegou ao Acre, junto com os milhares de nordestinos recrutados pelos agenciadores de Belém e Manaus, para trabalharem nos seringais.
Segundo BENCHIMOL (1981), esse período ficou conhecido como o Ciclo da Borracha, a população da região amazônica passa de 330 mil pessoas em 1872 para 01 milhão e 400 mil em 1929 (SILVA in LIMA, 2004). Fruto dessa invasão das terras amazônicas deu-se o contato entre os seringueiros com culturas indígenas e caboclas da região. Entre essas culturas estava a do uso da Ayahuasca, os seringueiros incorporaram a tradição de uso da Ayahuasca de diversas formas diferentes.
Segundo BALZER (2002), o encontro dos rituais de Ayahuasca dos seringueiros com os dos mestiços (vegetalistas) e dos indígenas, realizados principalmente como rituais curativos, levou a diferentes formas de uso da Ayahuasca entre os migrantes brasileiros ( in LIMA, 2004).
Dentre as diferentes formas de uso da Ayahuasca desenvolvidas pelos seringueiros, observa-se o surgimento do uso recreativo nos seringais do Acre e de um uso mais espiritual e religioso que foi adotado e desenvolvido na área de fronteira entre Acre e Bolívia e posteriormente em Rio Branco. Com a queda do preço da borracha no mercado mundial, instalou-se a crise no extrativismo amazônico, fazendo com que centenas de seringueiros deixassem as florestas, para se dirigirem aos incipientes centros urbanos da região (CEMIN, 2002). Onde encontraram muitas dificuldades de adaptação a nova vida urbana. Nesses centros urbanos no estado do Acre originaram-se duas religiões em torno do uso da Ayahuasca, sendo elas: O Santo Daime e a Barquinha, uma terceira religião ayahuasqueira surgiu na década de 1960 também no estado do Acre: a União do Vegetal. Além dessas três religiões, observa-se em meados de 1990, no estado do Mato Grosso, o surgimento de uma quarta: o Centro de Cultura Cósmica. Essas religiões disseminaram-se por diversas partes do território Brasileiro e algumas delas por outras partes do mundo (in LIMA, 2004).
21. Santo Daime e o Princípio
A religião do Santo Daime é a mais antiga dentre as diversas religiões ayahuasqueiras brasileiras e de fato é a raiz de todas as outras. Foi fundada na década de 1930, em Rio Branco/AC, por Raimundo Irineu Serra. Segundo COUTO (1989), a doutrina do Santo Daime, podemos dizer, começa a dar os seus primeiros passos com a chegada do Sr. Raimundo Irineu Serra, na primeira década do século XX, à cidade de Rio Branco, localizada às margens do Rio Acre e capital do Estado do Acre, na parte ocidental da Amazônia brasileira”.
O surgimento dessa religião está intimamente ligado à exploração da borracha no estado do Acre e à migração nordestina para esta área. Raimundo rineu Serra, negro nascido em São Luís do Ferré no estado do Maranhão, chegou ao estado do Acre em 1912, integrando o movimento migratório de nordestinos para trabalhar na extração do látex. Trabalhou durante alguns anos como seringueiro e
em meados de 1920 na Comissão de Limites, órgão do governo federal encarregado da delimitação das fronteiras do Acre com a Bolívia e o Peru.
No exercício do oficio de seringueiro, o senhor Raimundo Irineu Serra ouviu falar de uma bebida mágica que era utilizada por índios e curandeiros nas matas do Peru, e se interessou em conhecer a Ayahuasca.
Os dados etnográficos acerca do surgimento do movimento religioso do Santo Daime dos primeiros contatos de seu fundador com a Ayahuasca estão diretamente relacionados à transmissão oral da cultura. Segundo depoimentos de contemporâneos de Raimundo Irineu Serra, a história do surgimento do Santo
Daime ocorre da seguinte forma:
"O Antonio Costa perguntou para ele se ele queria tomar Huasca (Ayahuasca) na quarta-feira e ele respondeu: Huasca, o que é Huasca? Huasca é um líquido que a gente toma e vê muita coisa boa, tudo o que a gente pede para ver ele mostra. Então ele foi e tomou o dele, sentiu que a coisa era boa e quis ver. Quis ver a terra dele lá no Maranhão, e prontamente apareceu o Maranhão. Quis ver Belém, e prontamente apareceu Belém. Nessa noite, todos os países que ele se lembrou, que ele pediu para ver, ele viu. Olha! ele dizendo com ele mesmo; se for uma coisa boa eu quero levar para o meu Brasil, mas se não for, eu não levo não".
"Da primeira vez, ele foi tom ar a bebida como qualquer pessoa, por curiosidade. A bebida ficava dentro de uma lata, e eles tomavam com uma cuia. Um amigo então disse para ele levar um pouco da bebida para uma pessoa que estava pedindo, atrás da fumaceira (casa de defumar borracha). Quando ele chegou lá, não tinha ninguém, era só espiritual. Aí foi que veio a revelação do Pizango para o Mestre Irineu. Crescêncio devia ser o nome dele mas a entidade era Don Pizango. Ele revelou-se para o Mestre assim: ele se socou dentro da lata que eles estavam tomando a bebida, e mandou todos olharem dentro da lata para ver se viam ele lá dentro. Ninguém viu nada, aí o Don Pizango falou para ele: Olha, só usted vai aprender o tanto que eu aprendi e mais alguma coisa, e ninguém mais. Essa foi a palavra de Don Pizango para ele; essa entidade que é um guardião responsável pelo uso da bebida" (COUTO, 1989).
Esses depoimentos relatam o que teria sido o primeiro contato do Sr. Raimundo Irineu com a Ayahuasca, porém o surgimento da religião do Santo Daime esta relacionada também a uma revelação divina que ele viria a receber. Raimundo Irineu Serra em uma sessão de Ayahuasca teve visões nas quais um personagem feminino de nome Clara, que ele associou como sendo Nossa Senhora da Conceição, lhe deu instruções sobre uma nova doutrina religiosa que ele deveria fundar.
O Mestre Irineu, como foi denominado por seus seguidores e clientes, chegou a ser famoso por seus poderes de cura e, depois de algum tempo sua popularidade começou a alastrar-se em Rio Branco e arredores. No início, seus seguidores foram basicamente ex-seringueiros, que com o declínio do ciclo da borracha amazônico, foram obrigados a migrar até as cidades da região onde padeceram sérias dificuldades para integrar-se à sociedade urbana, de qualquer forma sua fama espalhou-se rapidamente por toda a cidade e até mesmo políticos iam a ele em busca de cura e apoio eleitoral.
O senhor Raimundo Irineu Serra começou os seus trabalhos espirituais no ano de 1930, em um lugar denominado Vila Ivonete localizado na zona rural de Rio Branco, hoje um bairro urbano dessa cidade. Mais tarde, em 1945, mudou-se para a Colônia Custódio Freire, também localizada na zona rural de Rio Branco e que lhe
foi doada pelo então governador do Acre, Sr. Guiomar dos Santos.
Nesse local construiu uma igreja que veio a se chamar CICLU – Centro de Iluminação Cristã Luz Universal, e criou ainda uma comunidade agrícola com seus seguidores aos quais doou parcelas dessa terra, formando assim uma comunidade rural que chegou a abrigar m ais de quarenta famílias que cooperavam entre si através do sistema de mutirão, muito comum no Acre e que possibilitava o sustento de todos e que veio a ficar conhecida como Alto Santo. Estava assim consolidada a Religião do Santo Daime. A terminologia Santo Daime é utilizada no contexto religioso dessa doutrina, tanto como nome dado à religião em questão, quanto em referência a Ayahuasca e deriva do verbo dar mais a partícula me, como um rogativo: dai-me força, dai-me luz, pedidos estes feitos nos contextos rituais que envolvem o uso dessa bebida nessa religião, sendo considerados uma invocação ao espírito da bebida. Contudo, se o nome Santo Daime é apenas mais um termo para designar esta antiga bebida psicoativa, por outro lado, o culto daimista rompe com as antigas tradições de uso deste enteógeno, inaugurando uma nova forma de consumo da Ayahuasca, na sociedade do homem branco.
O ritual do Santo Daime, em sua origem, sincretiza elementos de algumas tradições culturais sendo elas: o xamanismo ou vegetalismo; o catolicismo tradicional; e ainda elementos do espiritismo Kardecista, reinterpretando-os e adaptando a um único contexto ritual. Alem dos elementos citados observam-se influências do Circulo Esotérico da Comunhão do Pensamento ao qual o senhor Raimundo Irineu Serra era filiado e de onde vieram fundamentos básicos da Doutrina do Santo Daime: Harmonia, Amor, Verdade e Justiça (lema do Círculo Esotérico). Assim como algumas orações como a Consagração do Aposento e a Chave de Harmonia.
Após a morte de seu fundador e líder em 1971, o movimento religioso do
Santo Daime sofreu várias modificações e dissidências, a direção dos trabalhos foi assumida pelo senhor Leôncio Gomes, tio materno da viúva do Mestre Irineu, que permaneceu neste cargo até sua morte em 1981.
Observa-se que com a ausência do líder carismático e autoridade dentro da religião, o Mestre Irineu, foi impossível manter a união entre os membros da mesma, o que gerou algumas cisões no tronco original da doutrina. Como a do Senhor Sebastião Mota de Melo, mais conhecido como Padrinho Sebastião, que em 1974
afirmou sua dissidência do CICLU levando com ele mais de cem membros e fundando uma nova instituição denominada Centro Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra - CEFLURIS. Além do CEFLURIS, observamos outro rompimento dentro da religião do Santo Daime realizada pelo Senhor Francisco Fernandes Filho (Tetéu), que em 1981 fundou uma nova Igreja a qual também denominou CICLU47 e que se situa do outro lado da via de acesso ao Alto Santo, distante menos de um
quilometro da sede original (COUTO, 1989).
Atualmente existem alémdo CICLU (primeiro), pelo menos sete organizações religiosas independentes que dizem ter origem nesse centro e que se autodenominam como igrejas do Santo Daime (MACRAE, 1992). A maioria delas são pequenas e estão localizadas no estado do Acre com um pouco mais de cem seguidores cada, à exceção do CEFLURIS – Centro Fluente Luz Universal
Raimundo Irineu Serra (MACRAE in COUTO, 1989).
“Assim como o Mestre Irineu está para a origem da doutrina do Santo Daime e a fundação do CICLU – Centro de Iluminação Cristão Luz Universal, conhecido como Alto Santo, o Sr. Sebastião Mota de Melo está para o surgimento da comunidade religiosa da colônia 5000 e a fundação do CEFLURIS – Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra, assim como pela difusão dessa doutrina, ocorrida na década de oitenta” (COUTO, 1989). Dentro do movimento religioso do Santo Daime um dos principais fatores responsáveis pela difusão dessa doutrina é justamente a fundação do CEFLURIS, pelo seringueiro Sebastião Mota de Melo, uma vez que é partindo deste grupo que a religião do Santo Daime se disseminou pelo Brasil e pelo mundo.
Segundo COUTO (1989), o Padrinho Sebastião, como é chamado por seus discípulos, nasceu na cidade de Eirunepé-AM, em 07 se outubro de 1920, no seringal Monte Lígia às margens do Rio Juruá e posteriormente se mudou para o seringal Adélia. Durante a vida nos seringais, o Sr. Sebastião trabalhou como seringueiro, agricultor e com construções de casas e canoas. Durante esse período Sebastião Mota foi iniciado na vida espiritual, desenvolvendo trabalhos na linha espírita Kardecista, atendendo desde esta época a doentes e realizando curas espirituais.
Em 1959, o senhor Sebastião Mota mudou-se para Rio Branco-AC indo fixar-se na Colônia 5.000, localizada no km 09 da estrada que liga Rio Branco à cidade de Porto Acre, e que tem este nome porque essas glebas de terra eram vendidas na época por 5.000 cruzeiros. Sebastião Mota veio a conhecer a Ayahuasca em 1965, com o Mestre Irineu no CICLU, buscando a cura para uma doença que o atormentava há algum tempo.
Nessa ocasião o Sr. Sebastião obteve sua cura livrando-se da doença que o assolava.
“Recebi a minha saúde pelo Santo Daime, fui pela vida e recebi a vida, diz Sebastião Mota. No Daime está a minha vida e a de todo aquele que busca. Buscando e sabendo o que está buscando, já achou a sua vida... Quem busca o Daime, busca a si mesmo, encontra-se com o seu Eu superior que é Deus e para ser Deus é preciso ter uma educação. Respeitar desde os pequenos até os mais velhos, se não usar isso não pode dizer Eu Sou, porque Eu Sou é Deus e Deus é Perfeito.”
A partir dessa experiência, Sebastião passou a freqüentar o Santo Daime tornando-se um discípulo de Raimundo Irineu Serra, que o autorizou a fazer Ayahuasca e dirigir cerimônias em sua residência na colônia 5.000, prestando assim atendimento a doentes que o procuravam. Ele mantinha um trato com o Mestre, ou seja, que cinqüenta por cento (50%) do Daime produzido por ele deveria ser entregue ao Alto Santo (COUTO, 1989).
Segundo FERNANDES (1986), após a morte do senhor Raimundo Irineu em 1971 e, quando o senhor Leôncio assumiu a direção do CICLU, ele continuou com o mesmo procedimento por algum tempo, até que em um determinado momento o senhor Leôncio quis romper com o acordo. Segundo relatos de ex-membros do CICLU, em certa ocasião o Padrinho Sebastião preparou o Daime ( Ayahuasca) e como era de costume ofereceu uma parte ao Centro, mas o senhor Leôncio não teria aceitado. Então Sebastião Mota afirmou que se não queriam o Daime dele, era porque não o queriam também, e por isso se retirou .
Acompanhado de sua família e de aproximadamente setenta por cento (70%) dos membros do CICLU, em 1974 o senhor Sebastião Mota efetiva sua dissidência para a colônia 5.000, fundando assim o CEFLURIS.
O novo Centro passou a ser freqüentado não somente pelos colonos da vizinhança e membros egressos do CICLU, como também por moradores de Rio
Branco, pertencentes à classe média urbana, como jornalistas, universitários e jovens vindos de diversas partes do país e do exterior, os chamados mochileiros. A doutrina do Santo Daime vive assim uma nova época de florescimento.
Em maio de 1980, sob indicação do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária - INCRA , inicia-se a transferência da comunidade da colônia 5.000 para uma nova área situada no km 53 da estrada que liga Boca do Acre à Rio Branco, área esta que permitiria a implantação de um seringal (Rio do Ouro) incrementando assim a fonte de sustento do grupo. No entanto algumas famílias permaneceram na Colônia 5.000 mantendo a igreja local em funcionamento. Em maio de 1982, o seringal Rio do Ouro já ocupava uma área aproximada de treze mil hectares. Nessa época é solicitada uma visita técnica do INCRA, para a liberação da documentação definitiva das terras do seringal. Constatou-se então que o seringal estava inserido em terras particulares. Diante desse fato, em janeiro de 1983 a comunidade daimista, mais uma vez, começa a viver a saga da colonização da hiléia amazônica, com sua transferência para uma nova área no município de Pauini-AM aonde veio a fundar o seringal Céu do Mapiá, local este onde se encontra até os dias atuais a sede do CEFLURIS.
Desde o inicio dos anos de 1980, o CEFLURIS começou a se espalhar por diversos centros urbanos no Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo. Esse movimento se deu graças aos novos adeptos provenientes de diversas partes do Brasil, esses adeptos após algum tempo de aprendizagem dentro da doutrina retornaram a suas cidades natal implementando aos poucos novos núcleos do Santo Daime.
Segundo BALZER (2002):
“Em cidades como São Paulo, e especialmente no Rio de Janeiro, pessoas da classe média em ascensão escolheram o movimento da cultura alternativa e da nova consciência religiosa entre eles atores, artistas e cientistas aderiram ao novo movimento religioso”. A adesão por parte de artistas como Maitê Proença e Lucélia Santos a essa religião, acabou por gerar publicidade para mesma,contribuindo também para sua divulgação e conseqüente expansão. Observa-se que com a chegada dos mochileiros e o constante intercambio dos novos adeptos, o paradigma do CEFLURIS foi se moldando e novos núcleos surgiram em diversas partes do Brasil. Foi inaugurada assim a quarta fase histórica do uso ritual da Ayahuasca: a de sua expansão para além das fronteiras da Floresta Amazônica, rumo aos centros urbanos do Brasil e do Mundo, onde mesmo recebendo uma profunda re-elaboração e identidade, manteve-se a tradição ininterrupta do uso sacramental deste enteógeno.Segundo LABATE (2002), no fim dos anos 80 e início dos 90, mochileiros e hippies começaram a ouvir histórias de um povo da Amazônia que tinha por hábito tomar uma bebida alucinógena. Em busca de mais um barato, encontraram uma religião”. Embora a partir desse momento as cerimônias do CEFLURIS também fossem realizadas em núcleos próximos de centros urbanos.
Segundo BALZER (2002), o Céu do Mapiá tornou-se um lugar de peregrinação para os adeptos esta religião. Muitos adeptos urbanos escolheram radicar-se na floresta amazônica mais ou menos permanentemente, enquanto outros realizavam peregrinações periódicas. Nesse ponto observamos a caracterização do Céu do Mapiá como o que ROSENDAHL (1995) denominou Centro de convergência e irradiação (in LIMA, 2004). Alguns dirigentes de núcleos de centros urbanos do CEFLURIS também viajaram ao exterior, organizando rituais do Santo Daime nos EUA, na Europa e posteriormente no Japão. Atualmente existem centros/igrejas conhecidos como Santo Daime em vários países europeus incluindo Holanda, Espanha, Itália Suíça e Alemanha e grupos de indivíduos que também organizam os rituais na França, Bélgica e Portugal. Esses grupos em grande par te funcionam clandestinamente não sendo sua existência oficialmente reconhecida pela direção do CEFLURIS, pois à exceção de Espanha e Holanda o uso da Ayahuasca é proibido nos demais paises europeus. Nos Estados Unidos recentemente o uso da Ayahuasca em contexto religioso foi liberado no Estado do Novo México, nessa localidade tem-se conhecimento da existência de pelo menos uma igreja do Santo Daime, porém à semelhança do que acontece na Europa estima-se que existam pelo menos mais dez grupos funcionando clandestinamente neste país.
Como visto a tradição religiosa do Santo Daime passa por duas fases distintas, a primeira com a fundação do CICLU pelo Sr. Raimundo Irineu Serra e a segunda após sua morte com a criação do CEFLURIS pelo Sr. Sebastião Mota, fato que acabou levando à expansão da doutrina do Santo Daime, configurando assim à realidade atual. Além desses dois grupos, atualmente existem novos grupos formados a partir de dissidências dos grupos originais e que também se denominam Santo Daime.
Os daimistas segundo PADILIA (2002), estão presentes em 21 países – Brasil, Itália, Espanha, Alemanha, França, Inglaterra, República Tcheca, Holanda, Suécia, Dinamarca, Irlanda, Portugal, Suíça, País de Gales, Bélgica, Estados Unidos, Japão, Chile, Argentina, Uruguai e Bolívia. E são, em sua maioria, jovens urbanos, bem-nascidos e com boa instrução. (in LIMA, 2004). Atualmente no Brasil existem além dos sete centros que se autodenominam com o sendo diretamente ligadas à origem CICLU, outras 42 igrejas associados ao CEFLURIS e pelo menos mais 10 grupos independentes. Além de cerca de 30 grupos no exterior sob a Bandeira do Santo Daime (in LIMA, 2004).
22. União Do Vegetal – UDV
A União do Vegetal é atualmente a maior (em número de adeptos) e mais organizada das instituições religiosas que utilizam a Ayahuasca. Foi fundada em 22 de julho de 1961 por José Gabriel da Costa. O extrativismo da borracha, depois de seu período de boom, entre 1890 e 1912, e de sua fase de declínio devido à concorrência no mercado internacional da borracha extraída na Ásia, vive um novo momento de ascensão no período de 1943 a 1947, devido à Segunda Guerra Mundial e a conseqüente demanda por matérias-primas que suprissem a produção bélica dos países aliados. Com a assinatura de acordos com os Estados Unidos, o governo brasileiro iniciou uma ampla campanha de recrutamento de trabalhadores, principalmente nordestinos, para a extração de látex no Norte. Nesse período a situação no Nordeste brasileiro mais uma vez era de precariedade em virtude da seca de 1942. Junto a outras medidas governamentais visando o atendimento dessa demanda de látex por parte dos países aliados, foi criado o Serviço Especial de
Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia - SEMTA, que somente no ano de 1943 encaminhou 13 mil pessoas ao norte do país, segundo dados oficiais53. Estima-se que cerca de 55 mil nordestinos pegaram um navio para o Norte e mudaram, de um dia para o outro, suas vidas. Um exército - número igual ao de americanos mortos no Vietnã, convocado às pressas pelo governo do Brasil para um esforço de guerra: a produção anual de cem mil toneladas de borracha.
Segundo BRISSAC (2002), no ano de 1943, José Gabriel da Costa, Baiano nascido em 1922 em Feira de Santana, integra essa massa de trabalhadores nordestinos que se lançam nos seringais amazônicos em busca de uma vida melhor, desembarcando aos 13 dias de setembro de 1943 em Rondônia de onde parte para os seringais da região em busca de trabalho (in LIMA, 2004).
Depois de trabalhar um tempo no seringal, José Gabriel muda-se para Porto Velho onde fica trabalhando como servidor público, enfermeiro no Hospital São José. Em Porto Velho-RO Seu Gabriel, com o era conhecido, atendia pessoas em sua casa onde jogava búzios. Mais tarde, se torna Ogã54 e Pai do Terreiro (Centro de Umbanda) de São Benedito-RO, de Mãe Chica Macaxeira55. Até 1950 José Gabriel morou com sua família em Porto Velho, onde além de trabalhar como enfermeiro,tinha também uma taberna de bebidas e gostava de política. Diante dos dois partidos que disputavam o governo do Território de Guaporé-RO, o de Rondon e o de Aluísio, José Gabriel era pró-Rondon. No entanto seu candidato perdeu, e ele foi perseguido em seu emprego público no hospital, sendo obrigado a se afastar de seu trabalho, nesse momento José Gabriel resolve voltar para o seringal, mudando-se para a região de Vila Plácido de Castro, próxima a Rio Branco no estado do Acre.
É nesse contexto que o senhor José Gabriel da Costa ouve falar de um chá misterioso que era consumido por curandeiros da região: “Mais tarde, quando já estão em outro seringal, Pequenina (sua esposa) fica sabendo de um chá: o pessoal vê isso,vê aquilo, o cara falou até com o filho depois de morto. Ela fala a José Gabriel e ele vai pedir o chá Ayahuasca a quem o distribuía no lugar. Mas o homem disse que não dava o Vegetal (Ayahuasca) praquele baiano que sabe aonde as andorinhas dormem”.
Tempos depois, no dia 1° de abril de 1959 no seringal Guarapari na região da fronteira boliviana com o Acre, José Gabriel bebe pela primeira vez a Ayahuasca através de um seringueiro chamado Chico Lourenço. Segundo BRISSAC ( 2002), Chico Lourenço representa uma tradição indígena-mestiça de uso xamânico da Ayahuasca que haveria se espalhado por uma ampla região da Amazônia ocidental, tal tradição é designada posteriormente pela União do Vegetal como a dos “Mestres da Curiosidade” (in LIMA, 2004). Acredita-se que este seringueiro de nome Chico Lourenço era discípulo do Sr. Raimundo Irineu Serra, seguindo portanto, a tradição religiosa do Santo Daime. Dessa forma a Ayahuasca que o Sr. José Gabriel da Costa bebeu no seringal havia sido preparada por Raimundo Irineu Serra.
Inicia- se uma nova etapa na trajetória de José Gabriel da Costa, BRISSAC (2002) ele teria bebido a Ayahuasca com Chico Lourenço apenas três vezes, logo depois viajou por um mês para levar um filho doente a Vila Plácido, no Acre, e quando retorna traz um balde com o cipó (Banisteriopsis caapi) e as folhas de chacrona (Psychotria viridis) que colheu no caminho e diz a mulher: “Sou Mestre Pequenina, e vou preparar o mariri”. Iniciando assim seu próprio trabalho com a Ayahuasca. “Nesse período o Mestre Gabriel não deixou a macumba não. Ele fazia uma Sessão de Vegetal e uma de Umbanda”.58 Somente em 1961 José Gabriel passa a desenvolverexclusivamente trabalhos espirituais utilizando a Ayahuasca, abandonando os ritos ligados a Umbanda(in LIMA, 2004).
Em seguida José Gabriel da Costa e sua família se mudam para o seringal Sunta, região próxima à fronteira entre o Acre e a Bolívia, onde em 22 de julho de 1961 fundou a União do Vegetal - UDV (GENTIL, 2002), passando a ser conhecido e chamado por seus discípulos de Mestre Gabriel (in LIMA, 2004). Segundo BRISSAC (2002), em 1965 José Gabriel da Costa se muda novamente para Porto Velho, para lá consolidar a nascente instituição (in LIMA, 2004). A UDV foi registrada em cartório inicialmente como Associação Beneficente União do Vegetal segundo GENTIL (2002). E posteriormente por conveniência jurídica, como Centro Espírita Beneficente União do Vegetal - CEBUDV, nome esse que permanece até os dias atuais. Apenas seis anos depois, se deu o falecimento de José Gabriel da Costa, no dia 24 de setembro de 1971 (in LIMA, 2004).
No âmbito dessa religião a denominação União do Vegetal, refere-se tanto à religião em si, quanto a união dos dois vegetais59 ingredientes da Ayahuasca, sendo essa bebida conhecida como Oasca (Hoasca), ou ainda Vegetal. Em semelhança ao que ocorreu na religião do Santo Daime, após o falecimento do líder e fundador da União do vegetal Sr. José Gabriel Costa, ocorreram cisões no tronco da religião, outros dois grupos surgiram se autodenominando como União do Vegetal, sendo eles: A União do Vegetal, que tem a frente o senhor. Augusto Queixada e cuja sede fica em Porto Velho-RO; e o Centro Espiritual Beneficente união do Vegetal, com sede em Campinas-SP tendo o Sr. Joaquim José de Andrade Neto como fundador e líder. O primeiro destes grupos mantém diversos núcleos fora do estado de Rondônia, seu fundador o senhor Augusto Queixada, fora discípulo do Mestre Gabriel e, após sua morte retirou-se fundando o primeiro grupo dissidente desse tronco. Passados alguns anos, no dia 22 de julho de 1981, o senhor Joaquim José de Andrade Neto, também em discordância com os mestres que estavam à frente do CEBUDV, fundou seu próprio grupo dissidente. Até 31 de outubro de 1982, segundo GENTIL (2002), a Sede Geral do CEBUDV era em Porto Velho sendo transferida para Brasília-DF pela Administração Geral dessa instituição, onde foram criados órgãos deliberativos e outras instâncias a fim de garantir uma expansão ordenada da Religião em conformidade com o fiel cumprimento das leis e da doutrina do Mestre fundador da União do Vegetal, José Gabriel da Costa, sendo eles: a Diretoria Geral; o Departamento de Memória e Documentação - (DMD), e o Departamento Médico-Científico (DEMEC) .O Departamento de Memória e Documentação é responsável pela memória institucional da UDV, coleta e registra o que diz respeito às suas origens a à história do Mestre Gabriel. O Departamento Médico-Científico dedica-se a assessorar a Administração Geral nos assuntos referentes à saúde dos associados em todos os seus aspectos e desenvolve pesquisas biopsicofarmacológicas em parceria com instituições científicas nacionais e internacionais (in LIMA, 2004).
Segundo ANDRADE (2002), trinta anos após sua fundação, a União do Vegetal está presente em mais de 40 cidades em todos os estados do país, com aproximadamente 08 mil filiados de diversos níveis sociais, representativos da sociedade brasileira, conta com aproximadamente 74 unidades administrativas entre núcleos, pré-núcleos e distribuições autorizadas (dado de junho de 1998) (in LIMA, 2004), conta ainda com pelo menos 01 grupo na Espanha e 03 nos Estados Unidos.
23. Barquinha
Dentre as demais religiões que utilizam a Ayahuasca como sacramento, a mais antiga é o Centro Espírita e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de Luz, comumente chamada de Barquinha pelos seus praticantes. Esse Centro foi criado no ano de 1945 por Daniel Pereira de Mattos na zona rural de Rio Branco-AC e hoje se situa no bairro de Vila Ivonete, nessa mesma cidade.
Segundo ARAUJO (2002), Daniel Pereira de Matos, mais conhecido por seus seguidores como Mestre Frei Daniel, nasceu em São Luis do Maranhão em 13 de julho de 1888. Sua trajetória de vida até a chegada no Acre ainda é bastante obscura, uma vez que não existem documentos nem relatos desse período (in LIMA, 2004). Segundo ARAUJO (2002), seu contato com a Ayahuasca se deu através do senhor Raimundo Irineu Serra, no Santo Daime. Daniel Pereira de Matos encontrava-se enfermo, com problemas de fígado ocasionados pelo consumo abusivo de bebidas alcoólicas, sabendo da gravidade da doença de seu conterrâneo, Raimundo Irineu Serra líder religioso do CICLU, convidou-o a fazer um tratamento espiritual através da Ayahuasca. O tratamento teve início em 1936, sendo interrompido por Daniel quando se encontrou melhor de saúde. Daniel Pereira voltou a beber e novamente doente, foi chamado por Raimundo Irineu Serra par a fazer um novo tratamento no CICLU onde obteve sua cura, ocasião onde teve a revelação da missão religiosa que por ele deveria ser efetuada: a fundação da Barquinha (in LIMA, 2004).
A atual área de abrangência dessa religião se resume basicamente ao estado do Acre. Existem porém outras dissidências do tronco original, que em semelhança ao Santo Daime e a UDV surgiram a partir do falecimento do fundador dessa linha religiosa, em 1958. Logo após a morte do fundador dessa religião, Mestre Frei Daniel, o senhor Antônio Geraldo da Silva assumiu, em 20 de janeiro de 1959, a liderança do grupo que já tinha muitos adeptos. Em 1979, Manuel Hipólito de Araújo passou a dirigir o Centro e Antônio Geraldo da Silva fundou uma outra Igreja, com o nome de Centro Espírita Daniel Pereira de Matos. Outra dissidência foi realizada por Francisca Campos do Nascimento, discípula de Frei Daniel que permaneceu na religião por 34 anos como adepta e, em 1991 fundou sua própria igreja com o nome: Centro Espírita de Caridade Príncipe Espadarte, grupo esse que possui um núcleo fora do estado do Acre, mais precisamente no estado do Rio de Janeiro. Através da pesquisa de Campo realizada em junho de 2003, pôde-se constatar que a primeira igreja da Barquinha e as outras duas dissidências anteriormente citadas encontram-se no mesmo bairro de Rio Branco-AC, a Vila Ivonete, e são separadas por uma distância não superior a 300 metros.
Além dos grupos descritos tem-se conhecimento de mais três grupos derivados diretamente da Barquinha de Daniel Pereira de Matos: Centro Espírita Fé, Luz, Amor e Caridade; Centro Espírita Santo Inácio de Loyola; e Centro Espírita Nossa Senhora Aparecida, todos situados no estado do Acre. Outro grupo religioso que segue as tradições do uso ritual da Ayahuasca é o Centro de Cultura Cósmica –Suprema Luz Paz e Amor (CCC), grupo este fundado em 20 de maio de 1990 em Cuiabá-MT, pelo senhor Francisco Souza de Almeida. Nascido aos 15 dias de abril de 1944, em Quixeramubim-CE, o senhor.
Francisco Souza de Almeida conheceu a Ayahuasca através do senhor Raimundo Irineu Serra em Rio Branco-AC, onde morou desde criança junto com seus pais. Seu pai mudou-se para o Acre acompanhando o mesmo fluxo migratório63 que levou José Gabriel da Costa e milhares de outros nordestinos ao norte do país: o segundo ciclo da borracha (1943-1947). Além de participar dos trabalhos com Raimundo Irineu (CICLU), Francisco Souza de Almeida conviveu também com Sebastião Mota (CEFLURIS) e posteriormente foi adepto na União do Vegetal, tendo ainda contato com outras ordens iniciáticas como a Maçonaria e a Rosa Cruz64. Em 20 de maio de 1990, Francisco Souza de Almeida fundou o Centro de Cultura Cósmica – Suprema Luz Paz e Amor, onde unificou as bases ritualísticas e doutrinárias do Santo Daime (CICLU) e da União do Vegetal, sincretizando ainda à sua doutrina ensinamentos de outras linhas religiosas e esotéricas (Barquinha, Rosa Cruz, Maçonaria, cultos Afro-Brasileiros, Meditação, etc.). Conhecido por seus discípulos como Mestre Francisco (Figura 14), desenvolveu uma nova forma de uso ritual da Ayahuasca, adaptando e reinterpretando os usos anteriormente praticados e unificando-os em um novo ritual.
Em 1996 a sede geral do Centro de Cultura Cósmica foi transferida de Cuiabá-MT para Brasília-DF, onde se localiza até os dias atuais, contando ainda com mais quatro núcleos oficiais, localizados no município de Planaltina-DF, Alto Paraíso-GO, Campo Grande-MS e Capixaba-AC.
Em semelhança ao observado, nas outras religiões ayahuasqueiras descritas anteriormente, após o falecimento do fundador e líder espiritual do Centro de Cultura Cósmica em 21 de dezembro de 1999, aconteceram algumas cisões no grupo original. Uma delas é a Fraternidade Rosa da Vida – Luz, Paz e Amor, grupo que inicialmente foi inaugurado como um núcleo do Centro de Cultura Cósmica e que posteriormente, no ano de 2002, veio a se tornar uma entidade independente. Sua sede encontra-se localizada nos arredores de Brasília-DF no Município de Santo Antonio do Descoberto-GO. Outra dissidência existente é o Centro de Harmonização Interior Essência Divina criada por um dos filhos do Mestre Francisco, também localizado em Brasília-DF.
Existem ainda outros grupos derivados diretamente do Centro de Cultura Cósmica, alguns deles constituídos por antigos núcleos que à semelhança da Fraternidade Rosa da Vida vieram a se tornar independentes e mantiveram o eixo ritualístico desenvolvido por Francisco Souza de Almeida, centros estes localizados em Cuiabá-MT, Palmas-To e outras localidades. Além dos grupos acima descritos, estima-se que existam ainda muitas outras religiões/grupos que utilizam a Ayahuasca como sacramento em seus ritos como exemplo podemos citar: a Sociedade Panteísta Ayahuasca fundada em 06 de janeiro de 2001 com sede no município de Paudalho-PE, que associa o uso ritual da Ayahuasca ao panteísmo66; o Grupo de Vivências Universo Místico com sede em Bauru-SP, que reúne em seus ritos de uso da Ayahuasca elementos do Xamanismo e da Gnose, dentre outros.
24. CONCLUSÃO
Este trabalho visou apresentar em termos de cultura milenar, religião, fator histórico, e impactante, fazendo um estudo a respeito da Ayahuasca de como ela é trabalhada por diversas civilizações, abordando ainda o fator do preconceito cultural em relação ao consumo de plantas psicoativas e fisioativas.
O uso ritual da Ayahuasca, em suas diversas perspectivas, configura-se em um fenômeno complexo e abrangente que possibilita um universo incalculável de abordagens e estudos estando associado a práticas religiosas utilizada por tribos indígenas da Amazônia há séculos. Dentro do fator histórico o uso da Ayahuasca foi iniciadas pelos Incas, as seitas religiosas e espiritualistas mais conhecidas no Brasil cujos rituais envolvem o consumo da Ayahuasca como foi apresentando durante o trabalho como a União do Vegetal, Santo Daime, A barquinha, além de núcleos e igrejas dissidentes e outros grupos independentes. Tendo cada vez mais adeptos á participação desses rituais, que também visam trabalhar a saúde espiritual, mental e física de cada individuo.
Possivelmente a Ayahuasca seja de interesse no campo de atuação da psicologia, pois pode trabalhar em diversos níveis, podendo demonstrar eficácia em áreas complexas da psicoterapia e no tratamento de patologias que muitas vezes não respondem bem a tratamentos convencionais.
Nesta monografia são analisadas e revisadas recentes publicações em periódicos científicos e matérias de livros conceituados, artigos de conhecimento empírico, assim como antigos estudos realizados antes das proibições estabelecidas nos anos 60 e 70.
Como visto, o Ayahuasca deve ser utilizada para fortalecer a capacidade dos seres a melhorar os recursos de seu discernimento, oferecendo substrato para o reconhecimento das induções de pensamento e melhorando sua qualidade de vida, e não como mais um recurso para fixar idéias sem a análise pessoal.
Foi apresentado neste estudo diferentes pontos de vista a respeito do “Vegetal Ayahuasca”, dando a critério do leitor, dentro do conteúdo apresentado, a liberdade de discernimento pessoal, sobre o presente trabalho.
REFERÊNCIAS
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Antropologia, Universidade de Brasília.
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Juramidam. Manaus: Suframa, 1986. 198p.
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LIMA, Emmanuel Gomes C. O uso ritual da ayahuasca – Da floresta Amazônica aos centros urbanos. Brasília, 2004. 104p. Monografia de Bacharelado-Licenciado em Geografia, Universidade de Brasília.
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