Introdução


Os cogumelos do gênero Psilocybe sp. são famosos por sua capacidade de alterar o estado de consciência humano, levando quem os ingere a um estado único de plenitude ou de sofrimento. Possui duas substâncias psicoativas psicodélicas, a psilocina e psilocibina, que provocam verdadeiros arrombamentos nas portas da percepção quando ingeridas corretamente.

O cultivo caseiro de psilocybes tem aumentado muito com a distancia cada vez maior do homem e do campo. Os adeptos de sua ingestão, ou mesmo os apenas curiosos, muitas vezes são impossibilitados de colher os cogumelos nos campos a fora – por infinitos motivos – e escolhem o cultivo caseiro como saída para essa impossibilidade.

Diversas técnicas prontas de cultivo circulam nas literaturas – tanto virtuais como materiais – e não é difícil para uma pessoa realmente interessada conseguir seus cogumelos sem ter que se locomover até o campo.

Porém o cultivador moderno, morador das loucas megalópoles do futuro, encontra dois grandes problemas em seu cotidiano: contaminações e falta de tempo. Conseguir uma maior assepsia e garantia de sucesso contra contaminações não é o mais difícil, mas sim conseguir conciliar o tempo disponível do cultivador com o tempo de crescimento e ciclo vital dos cogumelos. Muitas vezes o cultivador não consegue frutificar os bolos na hora certa, ou fica tanto tempo sem tempo para o cultivo que as culturas acabam morrendo vítimas de contaminações ou falta de nutrientes.

Este trabalho tem como objetivos fundamentais conseguir uma maior longevidade e uma maior proteção contra contaminações pelo tempo que for necessário ao cultivador.

Ação esperada do antibiótico: espera-se que a adição de um antibiótico na água de cultivo dos cogumelos iniba o crescimento de contaminações bacterianas que possam aparecer antes da maturação do micélio, quando o mesmo poderá defender-se sozinho.​
Ação esperada da dextrose: os fungos se alimentam basicamente de glicose. Adicionando uma reserva extra de alimento podemos manter a cultura viva e sadia por mais tempo.​

Materiais


Meio de cultura:

  • Milho de pipoca
  • Água
  • 50 mg de amoxicilina
  • Uma colher de chá de dextrose

Esterilização:

  • Panela de Pressão
  • Pano novo
  • Suporte para panelas
  • Água
  • Lysol spray
  • Desinfetante hospitalar
  • Lamparina
  • Álcool 99%
  • Fita adesiva para autoclave

  • Isopor
  • Aquecedor de aquário
  • Lâmpada fria
  • Plástico de PVC
  • Fita adesiva
  • Tesoura

Casing:

Secagem e Armazenamento:

  • Desumidificador para armários
  • Isopor
  • Sílica gel em sachê

Diversos:

  • Pinça
  • Bisturi
  • Luvas
  • Máscaras
  • Toucas

Procedimento


Preparo do meio de cultura. Primeiramente o milho utilizado na experiência foi hidratado por 24 horas. A melhor maneira de calcular a quantidade exata de milho a ser utilizada é ter como medida metade do volume do recipiente de milho desidratado, pois o mesmo irá dobrar de tamanho depois de sua hidratação. Após a hidratação o milho foi enxaguado algumas vezes e colocado no recipiente de cultura. Neste trabalho foram utilizados dois potes pequenos de vidro de Nescafé. O milho hidratado já possui muita água por si só mas para administrar tanto a dextrose como a amoxicilina devemos adicionar mais água ao meio de cultura, essa contendo os dois itens citados.

⚠ : A quantidade de água depende do tamanho da cultura, nunca deixe acumular água em demasia pois isso pode inibir o crescimento da colônia.​

Esterilização do meio. O meio de cultura foi esterilizado na panela de pressão, que é o instrumento caseiro que mais chega perto de uma autoclave. Um pano foi colocado no fundo da panela e logo em cima o suporte para dar mais segurança durante o “cozimento” dos bolos. O procedimento consiste em cozinhar os meios por uma hora a partir do momento de fervura. A temperatura e a pressão se encarregarão de matar os contaminantes que poderão estar na água ou no próprio milho. É importante que o interior dos frascos tenha contato com o vapor de dentro da panela. Para isso foram feitos furos nas tampas dos vidros – que também servirão como locais de inoculação.

⚠ Depois de esterilizado o meio deve ser sempre manipulado com luvas, touca e mascara, com muito Lysol no ar e perto de uma lamparina.​

Inoculação do meio. O meio de cultura foi inoculado com uma amostra de micélio vivo, descartando a necessidade de seringas, hidratação de esporos, etc. A inoculação consistiu em se abrir a tampa do tubo de ensaio onde se encontrava a cultura em agar, coletar uma pequena amostra com uma alça metálica e passar essa amostra no meio de cultura esterilizado.

A Colonização. Dentro de dois dias os primeiros sinais de desenvolvimento micelial devem aparecer. A raça utilizada (Golden Teacher) coloniza melhor em temperaturas entre 28 °C e 30 °C. Para tal foi montada uma incubadora que visava chegar perto das temperaturas necessárias.

Tempo de incubação. Como o objetivo desse experimento era determinar a longevidade dos bolos devido à presença de dextrose e amoxicilina os mesmos foram mantidos por mais 3 meses após os 100% de colonização, e não apresentaram morte do micélio ou qualquer tipo de contaminação.

O Casing


Esterilização dos materiais. As quentinhas devem ser esterilizadas no forno convencional. Por serem feitas de alumínio são o item que menos representa perigo se forem utilizadas logo após serem retiradas da embalagem. Foram cobertas com papel alumínio e levadas a aquecer em forno convencional na temperatura máxima por 30 minutos. O substrato para o casing foi esterilizado no microondas. Esta forma de esterilização ainda está em teste porém se mostrou muito eficaz na esterilização da vermiculita e fibra de coco. Não recomendo utilizar arroz no casing e nem utilizar essa forma de esterilização com arroz. A vermiculita que iria no fundo dos casings foi a primeira a ir para o microondas. Foi colocada dentro de um saco ziplock e levada ao microondas por cinco minutos, é muito importante que se deixe um buraco no fecho do ziplock para o escoamento de vapor de água, pois do contrário o saco irá explodir durante a esterilização.

Montagem. Foi colocada uma camada de 1 cm de vermiculita no fundo de cada uma das quentinhas. Esta camada ajuda o micélio a ter mais reserva de onde retirar água. Depois os bolos foram retirados dos recipientes de frutificação e despedaçados por cima desta primeira camada. Logo em cima dos bolos despedaçados foi colocado o substrato de frutificação do casing, com a fibra de coco.

Depois os casing foram submetidos a um choque térmico (Cold Shock) para estimular a frutificação.

O terrário. É feito um corte um buraco no centro da tampa do isopor e colocado plástico de PVC, como se fosse uma janela. O plástico é preso com a fita para autoclave. Um pequeno furo foi feito em uma das paredes laterais do isopor para possibilitar a passagem do fio do aquecedor de aquário, depois a parte inferior do isopor foi embalada com sacos de lixo negros. Tanto para evitar o vazamento da água do interior como para reduzir a luminosidade de dentro do terrário.

No fundo do terrário deve ser colocada argila expandida, água com um pouco de água sanitária (apenas algumas gotas) e um suporte de ferro para os casings.

Em cima dos suportes são colocados os casings.

Iluminação. O micélio de P. cubensis é fotossensível e uma iluminação correta ajuda no aparecimento de pins e direcionamento dos frutos. Coloca-se a luminária bem rente ao furo da tampa.

O foto-período deve ser de 12/12, ou seja 12 horas com luz e 12 sem luz. Um foto período de 24/24 mostrou induzir mais rapidamente ao aparecimento de pins porém também induz ao amadurecimento prematuro dos frutos fazendo com que abram os chapéis antes de ter um bom crescimento de corpo.

Frutificação. O aparecimento de pins leva de 3 dias a uma semana, e seu crescimento depois de aparecerem é muito rápido, atingindo a maturidade em 3 ou 4 dias.


Pós-frutificação


Secagem. Os cogumelos são colocados em cima do desumidificador e deixados dentro do isopor até ficarem crocantes. Levou 3 dias e não foi notada perda de potência fora do comum.

Armazenamento. Devem ser colocados dentro de um saco ziplock com o mínimo de ar possível e um sachê de sílica gel.

Obtenção de carimbos. Os chapeis são cortados na parte da junção do chapéu e do cabo, depois colocados em cima de um pedaço de papel alumínio e cobertos com um copo. Dentro de 24 horas os carimbos já estarão bem densos e escuros.