Vou postar um manual de cultivo de cogumelos mágicos em português que encontrei numa das minhas buscas na net. É um manual que segue as diretrizes básicas do PF Tek, mas tem a particularidade de se destinar àqueles que não têm acesso a vermiculite, sendo esta substituída por areia para formar uma barreira/escudo contra as bactérias.

Cultivo de Cogumelos Mágicos
Um dos guias mais famosos para o cultivo dos Cogumelos Mágicos é o The Magic Mushrooms Growers Guide ou MMGG, que não passa de uma adaptação do trabalho desenvolvido por um grupo americano chamado Psylocibe Fanaticus. Este guia pode ser encontrado com facilidade na net (ver links) e é bastante completo e fácil de seguir.​
Contudo, alguns de vocês podem achar chato ler aquela lengalenga toda, pois são mais de 80 páginas e alguns itens referidos, como a vermiculite (mineral semelhante a pequenas pedras porosas), são difíceis de obter. Para contornar estas dificuldades, fui desenvolvendo o meu próprio método, que é baseado no MMGG mas só utiliza materiais à venda em qualquer supermercado.​
A taxa de sucesso pode ser muito alta, mas depende do cuidado tido na preparação dos frascos. De qualquer modo, aconselho a leitura do MMGG.​

?1. Material

Esporos de cogumelos
- não estão à venda nos supermercados… vê nos links.

Arroz integral - de preferência de cultura biológica como o que se vende em lojas de produtos naturais ou nas respectivas secções de hipermercados.

Água destilada - pode usar-se água da torneira fervida, mas atrasa o crescimento do fungo.

Frascos de vidro com tampa de metal - como não é fácil encontrá-los novos, utilizo frascos de compota, maionese, salsichas ou outros. Os meus preferidos são os de compota de tampa larga da marca branca do Jumbo, porque a boca do frasco é a parte mais larga e dá para tirar o “bolo” inteiro sem partir o frasco. Mas como não gosto muito de compota, utilizo o que tiver à mão.

Panela grande - de preferência de pressão, mas pode ser normal desde que tenha tampa.

Recipiente para preparar a “massa” - deve ser de pirex para ser esterilizado no forno antes da preparação.

Álcool etílico - usar com abundância enquanto se preparam os frascos; convém ir esfregando as mãos e os acessórios que se utilizarem.

Seringa - uma de 10 c.c. é suficiente. Se não for possível utilizar uma nova, lava-a bem com água quente e detergente e enche-a com álcool, depois esvazia-a e deixa secar.

Agulha - deve ter cerca de 3/4 do tamanho do frasco maior. Se não for nova, lava-a por fora com álcool e coloca-a na seringa antes de esvaziares o álcool.

Areia - eu utilizo areia do rio crivada, de grão médio (2 a 4 mm) e irregular, lavada num coador de cozinha, mas já tive bons resultados com areia vulcânica para Bonsai que comprei no Aki, só deixei de a usar porque é bastante cara.

Papel de alumínio - para fazer chapéus para os frascos e para colocar a areia no forno.

Moinho de café - se não tiveres um moinho de café é melhor comprares a farinha de arroz já moída, mas podes tentar com uma daquelas maquinetas de fazer a papa dos bebés.

Martelo e prego pequeno - para furar as tampas dos frascos.

Canivete ou faca pequena - para raspar a impressão de esporos.

?2. Preparação

As quantidades dependem do número de frascos que vais preparar. Eu geralmente faço entre 4 a 6 frascos médios e para isso utilizo:
  • 1/2 impressão de esporos
  • 1 pacote de arroz integral
  • 1 garrafa de água destilada
  • 1 frasco de areia crivada e lavada
Coloca no forno o recipiente que vais usar na preparação da “massa” e liga-o a 200 °C durante 10 ou 15 minutos.

Ferve a água destilada durante o tempo em que o recipiente está no forno. Enche a seringa com 1 cc por frasco mais um ou dois para deitar fora.

Limpa o interior do moinho de café com álcool e tritura o arroz até ficar em farinha fina.

Lava bem os frascos e as tampas com água quente até não haver vestígios de sujidade ou cola dos rótulos. Faz quatro furos em cada tampa, a intervalos regulares e na periferia (como as 4 horas principais num relógio). Depois, passa os frascos por álcool e coloca-os no forno junto com a areia espalhada em papel de alumínio. Liga o forno a 150 °C durante 20 minutos.

Coloca a farinha no recipiente e deita-lhe toda a água que conseguir absorver, atenção que não pode haver água a mais. A mistura deve ficar grossa e pegajosa e não líquida como sopa.

Retira os frascos do forno e enche-os até um pouco mais de meio com a mistura. Lava bem o interior do frasco com um guardanapo umedecido em álcool para não deixar restos de farinha na parte de cima, isto é muito importante porque não pode ficar farinha acima da areia.

Deita em cada frasco uma camada de areia com 5 a 10 mm de espessura e fecha imediatamente a tampa.

Faz um chapéu em papel de alumínio para cada frasco de maneira a tapar os furos mas sem os selar. Com um alicate, segura os chapéus por cima de um bico do fogão até ficarem ao rubro e aplica-os nas tampas. Sem contar com a inoculação, estes chapéus já só vão ser retirados quando a colonização estiver completa, por isso devem estar firmes. Faz o mesmo a um pedaço maior de papel de alumínio para cobrir o canivete e a agulha enquanto não são utilizados.

Coloca novamente os frascos no forno (confirma que as tampas têm os furos!) durante 15 minutos a 100 °C.

Deita água da torneira na panela, de modo a que os frascos fiquem com água até metade da sua altura. Por causa disto a altura dos vários frascos não pode variar muito.

Tapa a panela e deixa ferver a água durante 10 minutos e depois coloca os frascos que retiraste do forno ainda quentes. Se a panela for de pressão, deixa ferver durante 50 minutos, se for normal, deixa ferver com tampa durante 1:20 h. Durante a fervura, confirma se a quantidade de água está correta, não convém que a água chegue aos chapéus, mas também não pode ficar abaixo de metade de nenhum frasco.

Quando acabar o tempo, desliga o fogão e deixa a panela arrefecer com a tampa até à temperatura ambiente, o que pode levar várias horas.

Enquanto esperas, prepara a seringa.

?3. Inoculação

Esteriliza o canivete no bico do fogão e embrulha-o no papel de alumínio para arrefecer. Se a agulha não for nova, coloca-a na seringa e aquece-a no fogão até ficar ao rubro, mas sem que aqueça demasiado tempo, pois pode derreter a base ou até o bico da seringa. Faz sair um pouco de água para a agulha arrefecer e embrulha-a no alumínio esterilizado.

Faz uma “cabana” em papel de alumínio tapada dos lados, por cima e atrás, de tamanho suficiente para preparares a seringa lá debaixo (15 x 20 x 15 cm deve ser suficiente) e aquece-a no fogão para esterilizar. A “cabana” deve aguentar-se em pé na mesa onde vais preparar a inoculação. Tapa a boca com um lenço de pano lavado, lava as mãos com sabão e álcool.

Lava bem uma colher de sobremesa e passa-a por álcool, deixa secar debaixo do alumínio e enche-a com água da seringa (à temperatura ambiente) e com o canivete raspa metade de uma impressão de esporos para a colher. Com a agulha da seringa, mexe bem para diluir os esporos e aspira-os novamente para a seringa.

Quando os frascos estiverem à temperatura ambiente, podes inoculá-los. Basta 1 c.c. por frasco, repartido pelos quatro furos e injetado a meio da mistura junto à parede do frasco. Antes de fazer isto não te esqueças de colocar os chapéus numa superfície limpa e virados para baixo e coloca-os nos frascos assim que acabes.

?4. Manuseamento dos frascos

Guarda-os num sítio seco e sem correntes de ar. Eu utilizo uma caixa de cartão com a tampa entreaberta porque evita as correntes de ar e permite ver os frascos sem ter que lhes tocar, o que se deve evitar.
Depois de uma ou duas semanas já deves ver o fungo branco a colonizar o frasco, este tempo depende de muitos factores, mas se utilizaste arroz com fungicida ou água com muito cloro, a espera pode ser longa.

Se vires que um frasco está contaminado, deita-o imediatamente para o lixo. A contaminação pode ser por bolor na forma de machas ou pintas de cores variadas, geralmente cinzentas, pretas ou verdes, ou por bactérias que aparecem em aglomerados esbranquiçados e que por vezes dão à mistura o aspecto do queijo derretido e um cheiro desagradável. Tudo o que não estava lá antes e que não se pareça com algodão em rama é contaminação.

Quando o bolo tiver sido completamente colonizado ou quando vires que estão a surgir os primeiros cogumelos, está na altura de tirar a tampa (não o faças se vires que ainda há zonas por colonizar, por mais pequenas que sejam). Podes sacudir a areia com cuidado, mas não é preciso retirá-la toda porque os cogumelos conseguem furar essa camada.

Se o frasco tiver a boca mais larga que o resto, podes retirar o bolo com uma pancada, se não, podes partir o frasco ou então deixa tudo como está. O próximo passo é a colocação do bolo num recipiente para criar umidade próxima de 100%, necessária para o crescimento dos cogumelos.

Se optares por tirar o bolo do frasco, coloca-o numa garrafa de 1,5 l de água cortada ao meio, põe alguma água no fundo e um pedaço de plástico ou um copo de vidro invertido de maneira a que o bolo fique bem assente e não toque na água. Depois fecha bem o corte da garrafa com fita-cola e põe-lhe uma tampa tipo “sport” aberta na posição de beber. A ideia é criar umidade sem selar completamente a garrafa o que exigiria a abertura diária para a troca de gases.

No caso de não tirares o bolo do frasco, faz a mesma coisa, mas coloca o frasco diretamente no fundo da garrafa. Como o fundo das garrafas de água não é liso, pode dar jeito utilizar papel de cozinha embebido em água de maneira a segurar o frasco.

Ao fim de algum tempo a água começa a cheirar mal e convém trocá-la, além de que é preciso recolher os cogumelos maduros, por isso é melhor deixar as coisas de maneira que abertura da garrafa não seja difícil. Eu utilizo uma única tira de fita-cola larga tipo tela, que é fácil de tirar e pode reutilizar-se.

Não te esqueças que os cogumelos não precisam de luz solar direta, mas sem luminosidade não se desenvolvem corretamente.

?5. Recolha dos esporos

Para recolher os esporos é preciso cortar a cabeça de um cogumelo médio, antes de ele largar o anel de esporos. Isto deve ser feito com uma lâmina afiada e previamente esterilizada; um x-acto é o ideal. Depois coloca-se a cabeça virada para cima em metade de um pedaço de papel de alumínio esterilizado e tapa-se com a outra metade. Por fim, põe-se um saco de plástico com um peso ligeiro e plano em cima (pode ser uma chávena de café). Ao fim de um dia retira-se o peso, o plástico e a cabeça do cogumelo com uma lâmina ou uma agulha, de maneira a não tocar nos esporos. Mesmo nesta fase é importante ter cuidado com a contaminação porque não serve de nada ter muito cuidado na preparação dos frascos se depois utilizarmos esporos contaminados.

Por último, fecha bem o quadrado de papel de alumínio e guarda-o num sítio seco e fresco, se possível com um sachê de sílica gel como as que vêm com as roupas.

?6. Secagem dos cogumelos

Os cogumelos podem ser ingeridos frescos ou secos. Frescos sabem melhor, mas por vezes é preciso secá-los porque se estragam depressa. Para a secagem é preciso um tupperware grande que vede bem e um saco de carbonato de cálcio como o das recargas das caixinhas desumidificadoras que se vendem nas drogarias e nos hipermercados. Coloca-se o saco de desumidificador de um lado do tupperware e do outro, os cogumelos enrolados em papel higiênico de maneira a que não se toquem. Depois de 2 ou 3 dias estão secos como um palito.

Atenção: não se pode usar calor na secagem dos cogumelos porque perdem o efeito.

?7. Consumo dos cogumelos

Eu não recomendo a ingestão de cogumelos considerados “não comestíveis”, mas cada um é livre de fazer o que entender. No caso de pretenderes consumi-los, experimenta primeiro com um pequeno e com o estômago vazio.

Há inúmeros sites na net onde podes encontrar relatos de experiências com cogumelos de todos os tipos e sugestões para a sua utilização.

?8. Links