- 26/02/2009
- 1,145
- 72
- 37
"Wishful Thinking", esta expressão anglo-saxónica significa "tomar seus desejos pel realidade". Seja qual for o assunto, da autenticidade ou não do Sudário de Turim aos atentados do 11 de Setembro de 2001, como se aproximar da verdade sem tomar os desejos pela realidade?
No Ocidente, nos países ditos desenvolvidos, e em oposição os países do Terceiro Mundo, é uma convicção indiscutível a impossibilidade de que um dos nossos governos, ou uma das nossas instituições oficiais sejam criminosos ou possam encobrir actividades criminosas. Isso pode acontecer na República Democrática do Congo, no Irão, no Afeganistão, mas não na nossa casa, no Ocidente. Pode haver uma maçã podre , ou algumas, mas isso jamais se refere a todo o sistema e de qualquer forma estas maçãs podres acabam por ser eliminadas. "Nós temos um sistema de controle e de correcção digno de fé". É um credo profundamente embutido no nosso inconsciente que, contudo, nenhuma investigação honesta (leituras, análises, reflexões) irá confirmar. Muito pelo contrário, infelizmente. Esta convicção de que o nosso sistema, fora excepções, é fundamentalmente são não é construída sobre nenhuma confirmação objectiva, mas sim sobre uma crença que nos afasta irremediavelmente da verdade.
A eleição em 2008 de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos é um exemplo perfeito de "wishful thinking". Sem nada saber do seu passado, das suas frequentações, dos seus financiadores, para todas estas milhões de pessoas, o primeiro presidente negro deste país não podia ser, forçosamente, senão alguém de bem (a good guy) que se esforçaria obrigatoriamente por reparar as malfeitorias da administração anterior. Isto era possível, efectivamente, e esperá-lo era uma coisa. Mas em que era isto evidente? Por que ele é negro e sorridente? Persuasivo e louvado por toda a imprensa? Democrata e com a boca cheia de promessas correspondendo exactamente ao que todo o mundo queria ouvir?
As experiências químicas (gás mostarda e gás irritante) conduzidas pelo Pentágono em 60 mil militares estado-unidenses nos anos 40 não são uma lenda urbana. A fonte desta informação não vem de um sítio Internet anti-nova ordem mundial, mas do próprio Congresso dos Estados Unidos num relatório de 1994. Este relatório informa que a maior parte das cobaias não foram informadas da natureza da experiência e, entre aqueles que dela souberam, alguns foram ameaçados de prisão se falassem com alguém, inclusive suas esposas, seus parentes ou seus médicos de família. O Pentágono e os responsáveis desta experiência negaram ter ordenado estas investigações durante dezenas de anos.
Isso não constitui uma prova irrefutável de que todos os governos nos mentem todo o tempo, ou que se o Pentágono já foi criminoso é porque ele está forçosamente por trás dos atentados do 11 de Setembro de 2001, mas isso prova que estas instituições oficiais podem ser criminosas, podem mentir sobre assuntos graves e durante muito longo tempo.
A jornalista April Oliver, cuja integridade profissional lhe custou seu posto na CNN, relatou os pormenores da operação Tailwind, durante da guerra do Vietname, em que o exército dos EUA utilizou gases enervantes para eliminar os seus soldados que haviam fugido no Laos.
Isto não prova que o governo ou que instituições oficiais de um país como os Estados Unidos tenham necessariamente desempenhado um jogo duplo no 11 de Setembro de 2001, atacando a sua própria população, mas mostra que elas podem ter a vontade de fazê-lo e que têm a capacidade para isso.
A experiência de Tuskegge efectuada de 1932 a 1972 sobre a sífilis afectando negros no Alabama, a operação Northwoods em 1962 somente desclassificada em Abril de 2001, a mentira da administração Johnson sobre o incidente fabricado do Golfo de Tonquim, uma mentira que implicou os Estados Unidos numa "operação policial" desastrosa que iria durar 10 anos e custar a vida a mais de dois milhões de pessoas, não são ainda e mais uma vez provas formais de uma implicação dos responsáveis estado-unidenses nos atentados de 2001, mas provam que aquilo não tem nada de impossível e que não há nada de ultrajante, de delirante nem de estúpido nesta hipótese.
"Temos uma tendência natural para investigar as opiniões e os factos que confirmam nossas próprias opiniões e hipóteses e ignorar aqueles que os infirmam. Retemos os elementos que nos confortam na nossa visão ou opção, os exemplos que nos dão jeito em relação aos contra-exemplos que nos desgostam. Tem-se mais confiança na meteorologia quando ela anuncia bom tempo. Os jornais financeiros vendem-se melhor quando a Bolsa sobe. [...] Este efeito é ainda mais ampliado quando temos interesse em acreditar no que acreditamos".
Quanto aos atentados do 11 de Setembro, para alguns (vamos chamá-los "os crentes"), aceitar sem pestanejar a versão oficial do governo não era suficiente. Era preciso igualmente desencorajar, violentamente se necessário, toda contestação desta versão. A má fé, a selecção dos dados, o sarcasmo, a utilização de qualificativos redutores e desprezíveis, o encarniçamento sobre os pontos fracos das teses contestatárias, tudo foi utilizado.
Apesar de, tendo acesso a todas as peças e podendo interrogar todos os protagonistas, as próprias instituições oficiais (Comissão nacional, NIST, FEMA, Pentágono) terem fracassado em provar tudo o que afirmavam, foi reprovado aos cidadãos contestatários provar hipóteses de que não tinham nenhuma prova!
Um dos argumentos empunhados pelos "crentes" é a convicção fundamental de que um governo ocidental como o dos Estados, mesmo tão imperfeito e brutal quanto a administração Bush-Cheney, não poderia atacar a sua própria população. Da mesma forma seria também de todo impensável que não importa qual estrutura, nos nossos países civilizados, e inclusive o impiedoso complexo militar-industrial, possa atacar civis, inocentes, compatriotas. Isso seria evidente quando se tratasse de muçulmanos explodindo um autocarro apinhado com os seus congéneres, mas irrealista quando falamos do Ocidente.
Thierry Meyssan, jornalista e analista político francês, publicou em 2002 o primeiro estudo contraditório e estruturado do atentado contra o Pentágono, criticando com o apoio de documentos as explicações lucunares da administração Bush. Este primeiro estudo talvez não fosse perfeito nem isento de fraquezas, mas teve o mérito de fazer voar em estilhaços a inviolabilidade indiscutível da versão oficial do governo dos Estados Unidos, defendida com unhas e dentes por certos detractores histéricos de Thierry Meyssan. Outros autores sérios como Nafeez Mosaddeq Ahmed, universitário à testa do Institute for Policy Research & Development de Brighton, no seu livro "La Guerre contre la liberté" publicado seis meses após os atentados, sustentaram e completaram os trabalhos de Meyssan.
Estas publicações e estas primeiras investigações, discutindo tanto o problema na sua actualidade como no seu contexto geral, com dezenas de páginas de referências, abalando nossas crenças pré-fabricadas, foram o ponto de partida para o Movimento pela verdade sobre o 11 de Setembro de 2001 (9/11 Truth Movement), contando a seguir com defensores como o professor emérito de filosofia das religiões e de teologia da Universidade de Claremont, de reputação internacional, David Ray Griffin, o professor de economia da Universidade de Ottawa Michel Chossudovsky, assim como engenheiros, arquitectos, um professor de física da Universidade Brigham Young, pilotos de carreira, químicos, agentes da administração e de órgãos militares dos EUA.
O nascimento do 9/11 Truth Movemente, seu desenvolvimento progressivo, com ligações a nascerem em todos os países, em França com o sítio ReOpen 911, na Itália com o filme Zero de Franco Fracassi, foi uma reacção às próprias lacunas, incoerências, mentiras da versão oficial dos Estados Unidos, das suas comissões e institutos (NIST, FEMA) e em nenhum destes casos um delírio espontâneo e sem objecto que teria brotado em Setembro de 2001. O 9/11 Truth Movement não é um grupo antigovernamental por natureza, por desporto ou por hobby, uma associação de paranóicos incuráveis que teriam encontrado na ideia de complot governamental um conforto (sic) psicológico e um meio de se tornar interessante.
A este respeito, o depoimento de David Ray Griffin na introdução de um dos seus livros é um vexame para todas estas pessoas da revista Popular Mechanics (9/11: Debunking the Myths, 2005), da revue Skeptic (Estados Unidos, Vol.12, Numéro 4, 2006) ou para Alexander Cockburn (traduzido em Le Monde diplomatique, Dezembro de 2006), depoimento que estes últimos evitam citar quando constroem sua teoria segundo a qual todos os membros do 9/11 Truth Movement seriam paranóicos que desconfiavam instintivamente e sem razões do Estado, preferindo viver no fantasma reconfortante de um complot governamental (sic) do que naquele de um complot conduzido por Ben Laden.
Acham, vocês também, como a revista Skeptic, que seria mais tranquilizante imaginar viver num país cujo governo poderia ser tão malfeitor, do que se deixarem embalar pela versão oficial que nos aponta o odioso muçulmano barbudo como culpado?
Neste depoimento, "Minha própria história", Griffin relata com humildade e honestidade as diferentes etapas da sua mudança de ponto de vista sobre os atentados. Ele começou, como todos os outros, por aceitar a tese oficial, sem experimentar a necessidade doentia (e tanto pior para Cockburn e Cia.) de procurar por si mesmo uma outra explicação.
Griffin havia admitido a interpretação segundo a qual os atentados eram o contra-golpe à política estrangeira dos Estados Unidos, em particular no mundo árabe e muçulmano. Os conhecimentos particulares de Griffin, nomeadamente sobre as guerras conduzidas pelo seu país contra o México, as Filipinas e o Vietname, haviam entretanto posto a pulga atrás da sua orelha sobre a capacidade para a mentira do seu governo. Como ele disse: "Mas o facto de estar consciente não me levou imediatamente a concluir que o 11 de Setembro havia sido orquestrado para servir de pretexto. Este pensamento já me havia atravessado o espírito, mas eu não o havia levado a sério". Quando um professor de um outro país confronta-o com esta eventualidade, em 2002, Griffin respondeu-lhe que não acreditava ser "a administração Bush – mesmo a administração Bush – capaz de um acto tão odioso". Griffin acabou por visitar alguns sítios da Internet indicados pelo seu amigo professor mas não os achou muito convincentes e retornou às suas certezas reconfortantes pois conformes às suas crenças de base, aquelas de um governo fundamentalmente bom, ainda que imperfeito. Não foi senão quando espicaçado pelo sítio de Paul Thomson, que retomou em pormenores a enorme cronologia de todos os acontecimentos do 11 de Setembro de 2001, que Griffin, tomado por dúvidas inconfortáveis, começou realmente a procurar por si mesmo, não um modo de confirmar, confortar a qualquer preço suas crenças básicas, mas para se aproximar da verdade, qualquer que ela fosse. Ele também se pôs a ler autores como Nafeez Mosaddeq Ahmed, assim como documentos oficiais do governo como o relatório da Comissão Kean-Hamilton. Vocês conhecem a sequência.
A evolução das crenças de David Ray Griffin em relação aos atentados de 2001 é a mesma da maior parte dos cidadãos que acabaram por rejeitar a versão oficial. Se se interessarem verdadeiramente e pessoalmente (aqueles que o fizeram compreenderão) pela versão oficial servida pelos Estados Unidos, em todos os seus aspectos, inevitavelmente evoluirão como David Ray Griffin.
Esta evolução não decorre de uma paranóia instintiva que levaria a encontrar nas teorias do complot à moda de Cockburn e Cia. um conforto psicológico, nem de um gosto doentio pelo "conspiracionismo", mas antes da tomada de consciência, quando se reflecte, pondo de lado os dogmas, os códigos e as crenças, sobre a impossibilidade da versão oficial, em qualquer caso do seu carácter incompleto, mentiroso e orientado em todos os seus aspectos principais. Como Griffin o diz honestamente, enquanto não tiver reflectido, realmente, o espírito aberto e lúcido contenta-se com as suas crenças de base, nomeadamente aquela de um governo ocidental normalmente incapaz de tais vilanias, evidência contudo infirmado pelos factos citados anteriormente e por toda a História.
A reacção das delegações estado-unidense e europeias à intervenção do presidente iraniano Ahmadinejad na tribuna da ONU , muito recentemente, mostra bem, nove anos após os atentados, quanto estas crenças limitantes de base ainda estão hoje em actuação. Alguns representantes ocidentais até justificaram a sua atitude pueril invocando o insulto feito às famílias das vítimas do 11 de Setembro pelo discurso pretensamente provocador de Ahmadinejad. Isto está em perfeita contradição com o facto de que são as próprias famílias de algumas vítimas do 11 de Setembro que mais têm criticado a versão oficial da administração estado-unidense, sublinhando todos os seus defeitos e contradições. É entre as famílias das vítimas do 11 de Setembro de 2001 que se encontram os testemunhos mais virulentos de todos contra o seu governo, a sua administração e o seu inquérito oficial a propósito dos atentados.
Aqueles que tentam libertar-se das suas crenças infundadas, de não mais tomar seus desejos pela realidade e que abordam a versão oficial do 11 de Setembro de 2001 com um espírito crítico e não cheio de preconceitos, "lançando um novo olhar", como diz a edição de 11 de Setembro de 2009 da própria revista Time, aumentam as suas probabilidades de se aproximarem da verdade.
As nossas crenças, que não são provas, nem verdades, mas generalizações saídas dos nossos múltiplos condicionamentos, são os maiores obstáculos entre nós e a realidade.
Por que, após um bom arranque, o Movimento pela verdade sobre o 22 de Setembro estagna, nove anos depois, mesmo quando a dúvida difunde-se cada vez mais e novos movimentos nascem todos os anos (Scientists for 9/11 Truth, US Military Officers for 9/11 Truth, Actors & Artists for 9/11 Truth)? Instalou-se a rotina? Documentos são acrescentados, apelos publicados, manifestações e conferências pontuais programadas... Alguns dos membros do 9/11 Truth Movement acabam por utilizar as mesmas armas dos seus detractores: sarcasmos, insultos, apego excessivo às suas teorias do momento. Será devido à prometida infiltração destes movimentos seguida da sua neutralização por provocações e debates estéreis onde as ideias de cada um não são senão para anular as dos outros?
Numerosas ilusões continuam a cercar este drama, ilusões de que ainda se servem os líderes ocidentais para justificar a sua atitude e a sua covardia, como testemunha a fuga deles na ONU face às questões de Mahmoud Ahmadinejad, questões já colocadas pelas famílias de certas vítimas do 11 de Setembro às suas instituições e o seu governo, o cúmulo! Este último, escondido atrás de crenças que não são provas e preferindo a técnica do ultraje, nunca se dignou a responder, nem a um nem aos outros.
Os responsáveis, não do drama do 11 de Setembro, pois isso ainda permanece por provar, mas do inquérito sobre este drama, nunca vos responderam.
04/Outubro/2010
Fonte: http://resistir.info/11set/sacre_04out10.html
No Ocidente, nos países ditos desenvolvidos, e em oposição os países do Terceiro Mundo, é uma convicção indiscutível a impossibilidade de que um dos nossos governos, ou uma das nossas instituições oficiais sejam criminosos ou possam encobrir actividades criminosas. Isso pode acontecer na República Democrática do Congo, no Irão, no Afeganistão, mas não na nossa casa, no Ocidente. Pode haver uma maçã podre , ou algumas, mas isso jamais se refere a todo o sistema e de qualquer forma estas maçãs podres acabam por ser eliminadas. "Nós temos um sistema de controle e de correcção digno de fé". É um credo profundamente embutido no nosso inconsciente que, contudo, nenhuma investigação honesta (leituras, análises, reflexões) irá confirmar. Muito pelo contrário, infelizmente. Esta convicção de que o nosso sistema, fora excepções, é fundamentalmente são não é construída sobre nenhuma confirmação objectiva, mas sim sobre uma crença que nos afasta irremediavelmente da verdade.
A eleição em 2008 de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos é um exemplo perfeito de "wishful thinking". Sem nada saber do seu passado, das suas frequentações, dos seus financiadores, para todas estas milhões de pessoas, o primeiro presidente negro deste país não podia ser, forçosamente, senão alguém de bem (a good guy) que se esforçaria obrigatoriamente por reparar as malfeitorias da administração anterior. Isto era possível, efectivamente, e esperá-lo era uma coisa. Mas em que era isto evidente? Por que ele é negro e sorridente? Persuasivo e louvado por toda a imprensa? Democrata e com a boca cheia de promessas correspondendo exactamente ao que todo o mundo queria ouvir?
As experiências químicas (gás mostarda e gás irritante) conduzidas pelo Pentágono em 60 mil militares estado-unidenses nos anos 40 não são uma lenda urbana. A fonte desta informação não vem de um sítio Internet anti-nova ordem mundial, mas do próprio Congresso dos Estados Unidos num relatório de 1994. Este relatório informa que a maior parte das cobaias não foram informadas da natureza da experiência e, entre aqueles que dela souberam, alguns foram ameaçados de prisão se falassem com alguém, inclusive suas esposas, seus parentes ou seus médicos de família. O Pentágono e os responsáveis desta experiência negaram ter ordenado estas investigações durante dezenas de anos.
Isso não constitui uma prova irrefutável de que todos os governos nos mentem todo o tempo, ou que se o Pentágono já foi criminoso é porque ele está forçosamente por trás dos atentados do 11 de Setembro de 2001, mas isso prova que estas instituições oficiais podem ser criminosas, podem mentir sobre assuntos graves e durante muito longo tempo.
A jornalista April Oliver, cuja integridade profissional lhe custou seu posto na CNN, relatou os pormenores da operação Tailwind, durante da guerra do Vietname, em que o exército dos EUA utilizou gases enervantes para eliminar os seus soldados que haviam fugido no Laos.
Isto não prova que o governo ou que instituições oficiais de um país como os Estados Unidos tenham necessariamente desempenhado um jogo duplo no 11 de Setembro de 2001, atacando a sua própria população, mas mostra que elas podem ter a vontade de fazê-lo e que têm a capacidade para isso.
A experiência de Tuskegge efectuada de 1932 a 1972 sobre a sífilis afectando negros no Alabama, a operação Northwoods em 1962 somente desclassificada em Abril de 2001, a mentira da administração Johnson sobre o incidente fabricado do Golfo de Tonquim, uma mentira que implicou os Estados Unidos numa "operação policial" desastrosa que iria durar 10 anos e custar a vida a mais de dois milhões de pessoas, não são ainda e mais uma vez provas formais de uma implicação dos responsáveis estado-unidenses nos atentados de 2001, mas provam que aquilo não tem nada de impossível e que não há nada de ultrajante, de delirante nem de estúpido nesta hipótese.
"Temos uma tendência natural para investigar as opiniões e os factos que confirmam nossas próprias opiniões e hipóteses e ignorar aqueles que os infirmam. Retemos os elementos que nos confortam na nossa visão ou opção, os exemplos que nos dão jeito em relação aos contra-exemplos que nos desgostam. Tem-se mais confiança na meteorologia quando ela anuncia bom tempo. Os jornais financeiros vendem-se melhor quando a Bolsa sobe. [...] Este efeito é ainda mais ampliado quando temos interesse em acreditar no que acreditamos".
Quanto aos atentados do 11 de Setembro, para alguns (vamos chamá-los "os crentes"), aceitar sem pestanejar a versão oficial do governo não era suficiente. Era preciso igualmente desencorajar, violentamente se necessário, toda contestação desta versão. A má fé, a selecção dos dados, o sarcasmo, a utilização de qualificativos redutores e desprezíveis, o encarniçamento sobre os pontos fracos das teses contestatárias, tudo foi utilizado.
Apesar de, tendo acesso a todas as peças e podendo interrogar todos os protagonistas, as próprias instituições oficiais (Comissão nacional, NIST, FEMA, Pentágono) terem fracassado em provar tudo o que afirmavam, foi reprovado aos cidadãos contestatários provar hipóteses de que não tinham nenhuma prova!
Um dos argumentos empunhados pelos "crentes" é a convicção fundamental de que um governo ocidental como o dos Estados, mesmo tão imperfeito e brutal quanto a administração Bush-Cheney, não poderia atacar a sua própria população. Da mesma forma seria também de todo impensável que não importa qual estrutura, nos nossos países civilizados, e inclusive o impiedoso complexo militar-industrial, possa atacar civis, inocentes, compatriotas. Isso seria evidente quando se tratasse de muçulmanos explodindo um autocarro apinhado com os seus congéneres, mas irrealista quando falamos do Ocidente.
Thierry Meyssan, jornalista e analista político francês, publicou em 2002 o primeiro estudo contraditório e estruturado do atentado contra o Pentágono, criticando com o apoio de documentos as explicações lucunares da administração Bush. Este primeiro estudo talvez não fosse perfeito nem isento de fraquezas, mas teve o mérito de fazer voar em estilhaços a inviolabilidade indiscutível da versão oficial do governo dos Estados Unidos, defendida com unhas e dentes por certos detractores histéricos de Thierry Meyssan. Outros autores sérios como Nafeez Mosaddeq Ahmed, universitário à testa do Institute for Policy Research & Development de Brighton, no seu livro "La Guerre contre la liberté" publicado seis meses após os atentados, sustentaram e completaram os trabalhos de Meyssan.
Estas publicações e estas primeiras investigações, discutindo tanto o problema na sua actualidade como no seu contexto geral, com dezenas de páginas de referências, abalando nossas crenças pré-fabricadas, foram o ponto de partida para o Movimento pela verdade sobre o 11 de Setembro de 2001 (9/11 Truth Movement), contando a seguir com defensores como o professor emérito de filosofia das religiões e de teologia da Universidade de Claremont, de reputação internacional, David Ray Griffin, o professor de economia da Universidade de Ottawa Michel Chossudovsky, assim como engenheiros, arquitectos, um professor de física da Universidade Brigham Young, pilotos de carreira, químicos, agentes da administração e de órgãos militares dos EUA.
O nascimento do 9/11 Truth Movemente, seu desenvolvimento progressivo, com ligações a nascerem em todos os países, em França com o sítio ReOpen 911, na Itália com o filme Zero de Franco Fracassi, foi uma reacção às próprias lacunas, incoerências, mentiras da versão oficial dos Estados Unidos, das suas comissões e institutos (NIST, FEMA) e em nenhum destes casos um delírio espontâneo e sem objecto que teria brotado em Setembro de 2001. O 9/11 Truth Movement não é um grupo antigovernamental por natureza, por desporto ou por hobby, uma associação de paranóicos incuráveis que teriam encontrado na ideia de complot governamental um conforto (sic) psicológico e um meio de se tornar interessante.
A este respeito, o depoimento de David Ray Griffin na introdução de um dos seus livros é um vexame para todas estas pessoas da revista Popular Mechanics (9/11: Debunking the Myths, 2005), da revue Skeptic (Estados Unidos, Vol.12, Numéro 4, 2006) ou para Alexander Cockburn (traduzido em Le Monde diplomatique, Dezembro de 2006), depoimento que estes últimos evitam citar quando constroem sua teoria segundo a qual todos os membros do 9/11 Truth Movement seriam paranóicos que desconfiavam instintivamente e sem razões do Estado, preferindo viver no fantasma reconfortante de um complot governamental (sic) do que naquele de um complot conduzido por Ben Laden.
Acham, vocês também, como a revista Skeptic, que seria mais tranquilizante imaginar viver num país cujo governo poderia ser tão malfeitor, do que se deixarem embalar pela versão oficial que nos aponta o odioso muçulmano barbudo como culpado?
Neste depoimento, "Minha própria história", Griffin relata com humildade e honestidade as diferentes etapas da sua mudança de ponto de vista sobre os atentados. Ele começou, como todos os outros, por aceitar a tese oficial, sem experimentar a necessidade doentia (e tanto pior para Cockburn e Cia.) de procurar por si mesmo uma outra explicação.
Griffin havia admitido a interpretação segundo a qual os atentados eram o contra-golpe à política estrangeira dos Estados Unidos, em particular no mundo árabe e muçulmano. Os conhecimentos particulares de Griffin, nomeadamente sobre as guerras conduzidas pelo seu país contra o México, as Filipinas e o Vietname, haviam entretanto posto a pulga atrás da sua orelha sobre a capacidade para a mentira do seu governo. Como ele disse: "Mas o facto de estar consciente não me levou imediatamente a concluir que o 11 de Setembro havia sido orquestrado para servir de pretexto. Este pensamento já me havia atravessado o espírito, mas eu não o havia levado a sério". Quando um professor de um outro país confronta-o com esta eventualidade, em 2002, Griffin respondeu-lhe que não acreditava ser "a administração Bush – mesmo a administração Bush – capaz de um acto tão odioso". Griffin acabou por visitar alguns sítios da Internet indicados pelo seu amigo professor mas não os achou muito convincentes e retornou às suas certezas reconfortantes pois conformes às suas crenças de base, aquelas de um governo fundamentalmente bom, ainda que imperfeito. Não foi senão quando espicaçado pelo sítio de Paul Thomson, que retomou em pormenores a enorme cronologia de todos os acontecimentos do 11 de Setembro de 2001, que Griffin, tomado por dúvidas inconfortáveis, começou realmente a procurar por si mesmo, não um modo de confirmar, confortar a qualquer preço suas crenças básicas, mas para se aproximar da verdade, qualquer que ela fosse. Ele também se pôs a ler autores como Nafeez Mosaddeq Ahmed, assim como documentos oficiais do governo como o relatório da Comissão Kean-Hamilton. Vocês conhecem a sequência.
A evolução das crenças de David Ray Griffin em relação aos atentados de 2001 é a mesma da maior parte dos cidadãos que acabaram por rejeitar a versão oficial. Se se interessarem verdadeiramente e pessoalmente (aqueles que o fizeram compreenderão) pela versão oficial servida pelos Estados Unidos, em todos os seus aspectos, inevitavelmente evoluirão como David Ray Griffin.
Esta evolução não decorre de uma paranóia instintiva que levaria a encontrar nas teorias do complot à moda de Cockburn e Cia. um conforto psicológico, nem de um gosto doentio pelo "conspiracionismo", mas antes da tomada de consciência, quando se reflecte, pondo de lado os dogmas, os códigos e as crenças, sobre a impossibilidade da versão oficial, em qualquer caso do seu carácter incompleto, mentiroso e orientado em todos os seus aspectos principais. Como Griffin o diz honestamente, enquanto não tiver reflectido, realmente, o espírito aberto e lúcido contenta-se com as suas crenças de base, nomeadamente aquela de um governo ocidental normalmente incapaz de tais vilanias, evidência contudo infirmado pelos factos citados anteriormente e por toda a História.
A reacção das delegações estado-unidense e europeias à intervenção do presidente iraniano Ahmadinejad na tribuna da ONU , muito recentemente, mostra bem, nove anos após os atentados, quanto estas crenças limitantes de base ainda estão hoje em actuação. Alguns representantes ocidentais até justificaram a sua atitude pueril invocando o insulto feito às famílias das vítimas do 11 de Setembro pelo discurso pretensamente provocador de Ahmadinejad. Isto está em perfeita contradição com o facto de que são as próprias famílias de algumas vítimas do 11 de Setembro que mais têm criticado a versão oficial da administração estado-unidense, sublinhando todos os seus defeitos e contradições. É entre as famílias das vítimas do 11 de Setembro de 2001 que se encontram os testemunhos mais virulentos de todos contra o seu governo, a sua administração e o seu inquérito oficial a propósito dos atentados.
Aqueles que tentam libertar-se das suas crenças infundadas, de não mais tomar seus desejos pela realidade e que abordam a versão oficial do 11 de Setembro de 2001 com um espírito crítico e não cheio de preconceitos, "lançando um novo olhar", como diz a edição de 11 de Setembro de 2009 da própria revista Time, aumentam as suas probabilidades de se aproximarem da verdade.
As nossas crenças, que não são provas, nem verdades, mas generalizações saídas dos nossos múltiplos condicionamentos, são os maiores obstáculos entre nós e a realidade.
Por que, após um bom arranque, o Movimento pela verdade sobre o 22 de Setembro estagna, nove anos depois, mesmo quando a dúvida difunde-se cada vez mais e novos movimentos nascem todos os anos (Scientists for 9/11 Truth, US Military Officers for 9/11 Truth, Actors & Artists for 9/11 Truth)? Instalou-se a rotina? Documentos são acrescentados, apelos publicados, manifestações e conferências pontuais programadas... Alguns dos membros do 9/11 Truth Movement acabam por utilizar as mesmas armas dos seus detractores: sarcasmos, insultos, apego excessivo às suas teorias do momento. Será devido à prometida infiltração destes movimentos seguida da sua neutralização por provocações e debates estéreis onde as ideias de cada um não são senão para anular as dos outros?
Numerosas ilusões continuam a cercar este drama, ilusões de que ainda se servem os líderes ocidentais para justificar a sua atitude e a sua covardia, como testemunha a fuga deles na ONU face às questões de Mahmoud Ahmadinejad, questões já colocadas pelas famílias de certas vítimas do 11 de Setembro às suas instituições e o seu governo, o cúmulo! Este último, escondido atrás de crenças que não são provas e preferindo a técnica do ultraje, nunca se dignou a responder, nem a um nem aos outros.
Os responsáveis, não do drama do 11 de Setembro, pois isso ainda permanece por provar, mas do inquérito sobre este drama, nunca vos responderam.
04/Outubro/2010
Fonte: http://resistir.info/11set/sacre_04out10.html