Apresentação

Os cogumelos eram usados no México, Guatemala e Amazonas em rituais religiosos e por curandeiros. Os Maias utilizavam um fungo ao qual chamavam, na língua nahuátl, teonanácatl (a "carne de deus") há já 3500 anos. No seu território foram encontradas figuras de pedra com representações de cogumelos datadas de 1000 a.C. e 500 d.C. As primeiras referências ao seu consumo foram encontradas em livros (1502), nos quais era mencionado o uso de cogumelos em rituais nas festas de coroação de Moctezuma, o último imperador Azteca.

A redescoberta do cogumelo sagrado dos Maias - e o acesso à sua consumação ritual - por R. Gordon Wasson e sua esposa, a partir de 1953, na Sierra Mazateca, depois a colheita sistemática, a cultura em laboratório e a análise detalhada das diferentes espécies de cogumelos lamelares do gênero Psilocybe, sob os auspícios do Prof: Roger Heim, do museu de História Natural de Paris, representam um acontecimento primordial para todas as pessoas interessadas numa abordagem ao domínio complexo das plantas adivinhatórias. Elas dão acesso às experiências iniciáticas que remontam a mais alta antiguidade e, sem dúvida, até mesmo à pré-história.

O químico suiço Albert Hofmann que descobriu o LSD, foi também o primeiro a extrair psilocibina e psilocina dos cogumelos entre 1957 e 1958. Nos anos 70, o LSD e a psilocibina, entre outros, foram fundamentais para a Contracultura e o movimento Hippie, visando a "libertação da mente", seguindo as idéias dos beats e de Timothy Leary, um psicólogo proponente dos benefícios terapêuticos e espirituais do LSD e da psilocibina.

Atualmente, estudos comprovam possibilidades terapêuticas da psilocibina. Em um deles, pessoas que receberam a psilocibina demonstraram uma personalidade mais “aberta” após a sua experiência, um efeito que persistiu por pelo menos 14 meses.

Timothy Leary e sua primeira experiência

"Durante as cinco horas seguintes, encontrei-me arrastado pelo desfrutar de uma experiência que poderia tentar descrever graças às numerosas e extravagantes metáforas, mas que foi, antes de tudo e sem dúvida alguma, a mais profunda experiência religiosa da minha vida (...) Descobrir que o cérebro humano possui uma infinidade de potencialidades e pode operar em dimensões de espaço-tempo inesperadas me transfigurou por completo; convenci-me, sem qualquer sombra de dúvida, que acabava de despertar de um longo sono ontológico."

Relato de Gordon Wasson

Gordon Wasson disse:
Está escuro. Todas as luzes foram apagadas. Brasas ardem nas pedras da lareira. Madeira de Copal

perfumada se consome num caco de cerâmica. Tudo está calmo. A cabana, a choça, fica afastada da aldeia. A voz de Maria Sabina pira na cabana(...) Tudo o que se vê naquela noite se banha na claridade da origem: a paisagem, as casas, os utensílios de uso diário, os animais, tudo é calmamente irradiado pela luz primordial; dir-se-ia que as coisas apenas acabam de serem produzidas pelo criador! Esta novidade total - dir-se-ia a aurora da criação - o submerge e o envolve, o dissolve na sua beleza inexplicável (...) Seu espírito está livre, você vive uma eternidade numa noite, vê o infinito no grão de areia. O que você vê e escuta grava-se na sua memória, é gravada ali para sempre. Enfim, você conhece o inefável, sabe que o é o êxtase! (...) Uma simples planta abre as portas, libera o inefável, traz o êxtase. Não é a primeira vez na história da humanidade que as formas mais humildes de vida dão a luz ao divino. Por mais desconcertante que seja, a maravilha que anuncia merece ser ouvida pelos homens.
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