Levei 10 anos para terminar um curso de cinco, levei uma noite para decidir que amava minha esposa, mas não era o tempo de ter filhos e lembrar estórias, era tempo de fazer, de desafios, de ver tudo para contar para os netos.
Tomei a decisão de ir só para o Rio, ver o que poderia rolar e disse que procuraria emprego, menti.
Sem dinheiro, fui para estrada e pedi carona, logo consegui uma boa companhia, uma menina potiguar, viajamos juntos de Natal ao Rio em 29 dias, caronas, caronas e caronas.
As estradas, nesses anos loucos, eram caminhos para qualquer um, não havia desconfiança de motorista e caronas, havia um clima pós Woodstok, paz e amor, algo que as pessoas curtiam e viviam vendo outros viajando e dando carona.
Era legal chegar numa cidade com uma mochila e todos olharem para você e ver em você um sonho deles, uma vontade de fazer aquilo. As pessoas dispunham-se a ajudar e ter um pouco da aventura, ouvir o sotaque de outro lugar, ver como eram os rostos das pessoas de outros lugares.
Nessa viagem ganhei, já na Bahia, um papagaio que levei até o Rio de Janeiro.
Chegamos no Rio no primeiro dia do festival. Fui ao alojamento, tomei banho, fui a uma loja de biquínis em Ipanema e vendi o papagaio para uma amiga. Comprei baguio.
E fui para o Rio Center ouvir Rock.
Não sei como certas coisas acontecem, mas sei que podem acontecer.
Entrei 3 dias, vi só as bandas que escolhi ver, noutros dias ficava fora curtindo o som e trampando.
Vendi muita bermuda que comprava na rua da Alfandega pros hermanos e outros da redondeza.
Nos 3 dias entrei sem pagar ingresso, cada dia uma trama diferente, mas o primeiro dia foi inusitado.
Estávamos sobre o muro, um muro apinhado de jovens eu era um entre tantos.
Os seguranças eram muitos, só esperando a hora que algum pulava e então guentava.
Bem, uma hora o bando todo pulou eu fiquei no muro e os seguranças atrás da galera, catando e reunindo para por pra fora, poucos, muitos poucos escapavam.
Eu fiquei no muro e pulei quando todos os seguranças partiram atrás dos camaradas.
No que pulei abaixei a calça, fiquei de cógoras e fingi está arreando um barro. Os caras voltaram segurando os camaradas pegos e me viram ali.
- Que tu tá fazendo aí o cara.
- To cagando, o banheiro tá uma merda só.
- Aqui não é lugar, cai fora, volta pra lá, vai cagar no banheiro.
- Desculpe, to indo.
Fui ver o show.
Continua.