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Tempo muito Louco

  • Criador do tópico Mauricio
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Mauricio

Visitante
Tempo muito louco

A algum tempo fiz minha primeira viagem de mochila pelo Brasil.
Tranquei o curso e com Cr$500,00, peguei um ônibus da Itapemirim para Salvador.
Queria sair logo do Rio de Janeiro e sentir que estava solto no mundo.
Antes de embargar comprei 500 gramas de queijo prato, maças e pão integral.

As horas dentro do ônibus foram de muita alegria e apreensão, o dinheiro que sobrou era pouco e algo eu teria que fazer ao chegar a Salvador para poder comer.
Graças a Deus o ônibus chegou de dia, pude descer na rodoviária, pegar um ônibus urbano e ir ao centro de Salvador.

Era minha primeira vez em Salvador, minha primeira vez fora do Rio, a primeira vez que podia contar comigo apenas.
Eu tinha parentes na cidade, mas logo soube que não encontraria, pois o endereço era antigo e sai do Rio sem saber muitas referencias.

Estava no centro histórico de Salvador, cidade baixa, em frente ao mercado Modelo.
Tinha uns trocados no bolso, mas encantei-me com o acarejé e comi tanto quantos pude. Sabia que era minha última refeição.

Então, estomago cheio, fiquei sentado no meio fio observando a movimentação das pessoas a aparência do local e pensando ao mesmo tempo o que iria fazer.
Não podia voltar para o Rio, não tinha dinheiro algum. Tinha meu passaporte, minha carteira de estudante uma mochila com blocos de desenho, lápis de cera e só.

Então o 1º milagre aconteceu: Vi um vendedor de picolé e perguntei a ele onde comprava o picolé. Fui ao local indicado, ali perto, e conversei com o proprietário.
O cara era gente fina. Disse a ele que era estudante e mostrei minha carteira e passaporte. Disse que estava com o intuito de ir para Portugal, estudar em Coimbra.

Não era mentira, eu tinha esse plano a muito tempo e vim pensando durante a viagem a Salvador que eu poderia chegar em Portugal.

O dono da sorveteria propôs ajudar-me e cedeu uma caixa de isopor com 100 picolés. Deixei a carteira e passaporte como garantia.

Conheci Salvador como não poderia imaginar que conheceria, andei por muitos bairros, ruas, vendendo sorvete. Consegui dinheiro para comer, beber e meu anjo da guarda deixou que eu dormisse na sorveteria.
Fiquei muitos dias na cidade, conheci muita gente.

Estava juntando dinheiro para ir até Manaus, quando o Hollyday on Ice, um espetáculo sobre o gelo chegou à cidade. Com duas caixas de sorvete entrei no local e vendi tudo em poucos minutos, mais 3 dias de venda e tinha dinheiro para ir de ônibus até o Recife.

Meu último dia em Salvador foi uma despedida da cidade com a caixa de sorvete no ombro, andando por todos os cantos, para por a cidade na memória. Então entrei num local onde havia caminhões para vender uns sorvetes e consegui uma carona até Belém.
Juntei tudo, despedi-me do amigo sorveteiro, ele deu-me o endereço do parente que também tinha uma sorveteria em Belém.

A viagem até Belém foi longa, durou 7 dias, fiquei 7 dias na carona do caminhão, viagem em que pensei em tudo desde que sai do Rio e o que viria adiante.

Continua
 
Quero ver o fim da história..
Parabens pela coragem, isso é só para os raros !
 
a primeira vez que podia contar comigo apenas.
Poder vem com responsabilidade, e nós humanos só aprendemos metendo a cara mesmo!
Mauricio o fim eu já sei.
Mas como a historia te levou até ele isso me atiça a curiosidade.
to a fim de "meter a cara " também, só nao sou maxo o suficiente.
sempre digo ano que vem eu vou...
e o tempo vai passando.
Nem preciso falar o tanto que te admiro grande.
 
A última grande aventura, foi a pouco tempo, uns 7 anos atrás.
Vivia em Manaus há 3 anos e morava num quarto alugado no Hotel Doral.

Desde 1997, quando cheguei para ver o boi em Parintins, trampava nas praças vendendo mágica.
Era uma banquinha, onde eu arrumava todos os truques e apresentava.
Cartas, lenços, canetas, caixas, eu fabricava tudo durante a noite e vendia de dia na praça.

Minha partner, era minha atual esposa, ela que ensinava a magica para quem queria comprar.
O negócio era simples, eu demonstrava e ela ensinava no “escritório”, atrás de uma árvore.

Eu ainda estava desgrudado de tudo e todos, tanto que coloquei um anúncio no jornal.
Procurava uma garota que quisesse viajar pelo Brasil, comigo claro, trampando com mágica.
Não convidei minha esposa, porque sua mãe não deixaria eu tinha certeza.
Afinal eu não queria comprometer ninguém.
Ela descobriu o anuncio e decidiu ir comigo.

Saímos de Manaus em navio da Enasa até Belém, são 7 dias descendo o Rio Amazonas.
Quando chegamos em Belém, ativei o plano de sobrevivência.
Vendíamos magica durante o dia e descansávmos à noite em hotel, baratinho.
Tirávamos sempre dias de folga para andar à toa e fabricar as mágicas.

Conseguimos chegar até o Rio de Janeiro, foi longo o tempo de estrada e muitos ônibus, hotéis, caronas e gente que conhecíamos, alguns até agregaram-se a nós em trechos da viagem.
Continua
 
A tarde eu sentava na varanda em frente a sorveteria e pastelava o visual a minha frente, por isso trouxe tantas folhas e lápis de cera.

Eu tinha uma visão estupenda da baia, a descida pela rampa, o elevador Lacerda, o Mercado Modelo.
O sol mergulhando rumo à baia, permitia que eu usasse todas as cores dos lápis, e criasse outras, tamanha a quantidade de luz. Era verão em Salvador.

Ainda procurava parentes pelos endereços que trouxe anotados em papéis.
Cheguei num bairro e a garotada jogava capoeira na rua de barro.
Eu estava na roda de pessoas que observava a demonstração. Fiquei ali parado e os pés dos capoeiras passavam rente ao meu rosto, rápido, tão perto que sentia a terra soltar dos pés e roçar meu rosto. Não sentia perigo estava estasiado.

Quando acabou um cara veio conversar comigo e me ofereceu ruana. Fui com ele e comprei uma boa quantidade que dividi com meu camarada.

Em dia de folga eu simplesmente andava e procurava qualquer coisa só pra conhecer.
Fumava, desenhava e pastelava.

Os dias já eram muitos e no Rio as aulas já haviam começado.
As vezes à noite eu sentava na varanda da sorveteria fumava um e pensava nos amigos do alojamento, no campus e chorava.
Havia um grande receio: Será que eu estava fazendo a coisa certa.

O tempo passava, os caras que entraram comigo estavam começando mais um semestre, eu ficava para trás.
As vezes eu pensava em voltar correndo para pegar o semestre ainda a tempo.
Ainda bem que não voltei e fui para Belém.
Continua
 
Quando comecei o curso, achei que em 5 anos estaria formado, ganhando muito dinheiro e seguindo tranqüilo a vida como todos normalmente fazem.

Eu tinha 17 anos fiz vestibular pro Fundão e também era época de servir a pátria.

Fui fazer os testes e exames num quartel em São Cristóvão.
Exame físico era uma barbada, eu sonhava em ser maratonista ou velocista na próxima olimpíada, então estava sobrando.

Após todos os testes o oficial veio me perguntar se eu queria servir ou ir para reserva.
Optei pela reserva para poder cursar no fundão.

O dia em que fui fazer a inscrição foi uma piada, confundi o campus e fui parar na UFRRJ, foi quando conheci Seropédica e os cogumelos.
Voltei a tempo de fazer as matriculas nas cadeiras do semestre.

O 1º semestre foi barbada, o segundo tomei pau em cálculo II, então tranquei e decidi conhecer o Brasil.
Peguei um ônibus e fui para Salvador.
 
Quando chegamos no Rio de Janeiro, eu estava em casa, fui mostrar Copacabana para ela e encontramos um amigo meu de fundão, ficamos uns 15 dias no Rio, abastecemos o estoque de mágicas.

Comprei algumas fantásticas na Rua Buenos Aires, uma casa que vendia mágicas para profissionais.
Então pensamos, agora vamos melhorar também a demonstração, para isso adquirimos uma caixa de som, microfone e 50 metros de cabo.
Compramos um carrinho para mala para puxar a caixa.

Saímos do Rio e chegamos a Manaus sem nunca termos usado a caixa de som.
A gente ria muito e gozava um a cara do outro por estar arrastando aquele peso por todo o Brasil.

As vezes a gente pensava em enviar a caixa para Manaus pelo correio, mas trouxemos arrastando até o destino final.

Ainda tenho o cabo, a caixa e o microfone até hoje como prova desse mais louco investimento que já fiz.
 
esse é viajante profissional....

entrei nessa sua viajem mauricio...mto boaa

kkkkkk
 
O caminhão parou no galpão na empresa em Belém e eu estava novamente sem teto.

Durante os 7 dias da viagem eu tinha onde dormir, comia nos pontos de parada, desenhava e pintava tudo que via.

No Piauí passamos por uma cidade que parecia desértica, o vento soprava bolas de mato seco pelas ruas, uma secura e poeira que lembrava filmes que via na Tv de faroeste americano.

No Maranhão o primeiro encontro com a Amazônia.
Pela beira da estrada os nativos caminhavam carregando madeira e mantimento tudo preso na costas. Uma carga tão grande que era um desafio que eu só vendo para acreditar.

Num ponto estreito com muita mata dos dois lados da estrada esbarramos com uma nuvem de borboletas, a vista parecia que sumiria derrepente e seríamos engolidos por elas.

O para brisa do caminhão ficou apinhado de tantas borboletas que se esborrachavam, o motorista acionou o limpador e a água para limpar e poder continuar dirigindo.

A floresta parecia não ter fim e eu não conseguia entender como conseguiram construir uma estrada ali.
Muita chuva, muitos rios, pontes de madeira, como era possível ao escurecer alguém ficar vivo.

Eu só conhecia a cidade, sabia viver na cidade e ali eu estava totalmente nas mãos de Deus.

Em Belém procurei o parente do meu anjo de Salvador. Tive uma recepção como se fosse da família, ela sabia que eu estava a caminho, foi avisado pelo parente de Salvador.

Fiquei em Belém como em Salvador, dormia na sorveteria e vendia sorvete de dia.

Conheci as frutas mais gostosas, e digo com absoluta certeza, as frutas fizeram eu me apaixonar pela Amazônia e querer voltar outras vezes.

Cupuaçu, Bacuri, Açaí, Tapereba, Graviola, nunca havia provado esses sabores e fiquei louco.

O mestre sorveteiro ao termino do preparo dos sorvetes me dava o balde que batia o sorvete para limpar, eu comia todo sorvete que ficava grudado, diversas vezes ao dia, das diversas batidas.

Tive um ataque de verminose tamanha quantidade de açúcar que ingeria por dia.
Consegui me tratar, mas continuei com o sorvete.

Depois de uns dias fui morar na casa do mestre sorveteiro. Fiquei com ele até ir embora de Belém.

Ele era membro de uma igreja presbiteriana. Eu dormia no salão da igreja e fiquei amigo de todos no bairro.

Durante um evento da igreja eu fiz camisetas tingidas para prenda das barracas.

Não demorou muito e o Hollyday on Ice chegou na cidade. Eu já sabia o que fazer e com a experiência de Salvador vendi muitos picolés.

Conheci Belém tal qual conheci Salvador, andando por todos os cantos, eu saia de manhã com a caixa cheia de sorvete, escolhia uma direção e ia caminhando.
Quando o sorvete terminava eu voltava e encerrava o dia.

O dia que me despedi de Belém, fui vender picolé e parei numa escola, desci a caixa do ombro e fiquei ali só esperando o tempo passar e algo acontecer.

Eu já tinha a certeza que sempre uma coisa vinha ao meu encontro quando eu precisava.

Então um cara veio e comprou um picolé, puxou papo comigo e perguntou o que eu fazia ali.

Eu disse que era estudante, mostrei a carteirinha e o passaporte, disse que estava indo para Portugal estudar em Coimbra.

Ele acabou o picolé e disse:
-Sou piloto, faço frete aéreo e vou hoje para Manaus, se você quiser pode vir comigo.
Arrumei tudo, me despedi e fui.

Chegamos em Manaus já a noite, o camarada disse que se eu quisesse conseguiria com um companheiro um vôo para a Guiana.
Eu agradeci e disse que ficaria uns dias em Manaus.

Continua
 
Tamanha coragem a sua Maurício.

Simplesmente perfeita até agora sua viagem... :pos:
 
Parabéns pela coragem!
Já faz dois anos que sai de casa, agora só preciso de coragem pra sair pelo nosso lindo Brasil... ah, sai de casa pra bahia...
 
kara vc eh meu heroi

meu sonhoe me formar no curso de hatha yoga e viajar por todo o mundo igual a vc,trampando no local com algo simples e viajando,eu acho isso fantastico,m elhor forma de aprendizado e de atingir o nivel que eu busco em minha vida!

vc eh uma inspiracao,nao deixei de escrever sua jornada!


obrigado!


namastê :pos::pos::pos::pos::pos::pos:
 
Manaus sempre foi meu porto de destino. Estive muitas vezes na cidade, sempre de um jeito diferente do outro.

Quando estava no Rio lembrava dos sabores das frutas e sentia uma saudade, uma vontade de partir para cá.

Quando o aeroporto internacional do Rio foi inaugurado, eu e uns amigos de alojamento do Fundão, tínhamos planos de ir para a Europa, para Portugal ou Espanha.

Eu já tinha passaporte, eles tiraram os seus e fomos na sede do Loyd Brasileiro, na Praça XV, pedir carona num navio.


Considere rapaz a possibilidade de ir ao Japão.
Num cargueiro do Loyd lavando o porão.
Pela simples razão de saber onde o sol se esconde.



Essa música era nosso incentivo, queríamos viajar.
Esperamos pelo dia que o navio partiria com ansiedade, mas fomos comunicados que o nosso navio sairia com cadetes para treinamento e a viagem, para gente, foi cancelada.

Ficamos sem saber como ir para nosso objetivo. Então fumando um e ouvindo Echoes decidimos trabalhar.

Decidimos tirar a noite para trabalhar e conseguir algum dinheiro.
Decidimos que iríamos para Manaus e de lá para Guiana e então conseguir um navio para Europa.

Conseguimos um trabalho no Joquei Clube do Rio, confiríamos as apostas entre os páreos até o último páreo.

Começávamos à noite e saímos de madrugada.
Da Gávea íamos de ônibus até a Praça VX.
Ficávamos esperando o ônibus para a Ilha.
Essa era a hora que os barcos chegavam com pescado e eram descarregados.
Os peixes colocados em carretos aberto e os caras levavam para o frigorífico ao lado.

A gente viu, uma noite, um peixão cair do carreto e ficar no chão, corremos e pegamos.
Toda noite a gente sai do Jóquei ia pra Praça XV e cercava os carretos esperando o peixe.

Quando entravamos em nosso alojamento, preparávamos o peixe e fumávamos um ouvindo Pink e sonhando com a viagem.

Não agüentamos muito tempo no Joquei e o próximo trabalho foi o definitivo para sair e iniciar o caminho até Manaus.

O aeroporto estava pronto, faltavam detalhes, um deles era limpar as pistas e estacionamentos.
Varremos o Galeão até o último centímetro e pronto.

Continua
 
Ficamos sem saber como ir para nosso objetivo. Então fumando um e ouvindo Echoes decidimos trabalhar.


que lindo que lindo que lindo

im closen to heaven!


kara vc eh meu sonho do futuro
 
Quando estive em Seropedica, conheci rapidamente o campus da UFRRJ que fica logo depois.

Andei um tanto procurando o local da inscrição nas disciplinas e descobrir que estava no campus errado.

Vi um cogumelo grandão no meio do gramado próximo a um lago, aquele cogumelo ficou na minha memória durante muito tempo, até que eu entendi o que ele era.

Encontrei a foto dele num livro e li tudo dele e soube seu significado.
Mas a experiência viria um tempo depois.

Fabriquei pipa para vender durante um tempo para descolar uma grana.
Fui procurar bambu pros lados de Campo Grande e entrei pelas fazendas atrás de bambu, adequado.

Vi muitos cogumelos, colhi alguns e sequei ao sol. Dois ficaram com uma cor incrível. O maior eu chamava de sol e o menor de lua.

Da ilha do Fundão, nos fundos do alojamento, eu via as luzes da ilha do Governador.
Num semestre eu conheci todos os cantos do Fundão e as ilhas adjacentes.
Eu atravessava do Fundão para outra pequena ilha quando a maré estava baixa e voltava antes da maré alta.

Um dia quando cheguei na travessia vi a areia cheia de siri desovando. Colhi alguns e fiz uma caldeirada com os amigos.

Decidi que aquele paraíso não poderia acabar e patrulhava as areias sempre que podia, colhendo o lixo que o povo deixava.

Fiz um colar com conchinhas diminutas que encontrei, foi difícil furar, pois eram muito frágeis e quebravam.

Até hoje lembro do meu quarto 428 A.

A coisa por preservar ficou tão forte e grande que comecei a plantar sementes de arvores frutíferas em latinhas e guardar no meu quarto, tinha de tudo.

Então chegaram as samambaias e outras mais. Meu quarto parecia uma pequena mata.

Continua
 
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