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  • Criador do tópico Mauricio
  • Data de início
20/12/2012

Queremos todos secretamente que o mundo acabe?

A psicologia sugere que temos uma atração irresistível por distopias – e pela satisfação de uma profecia autorrealizável

Por Daisy Yuhas (este artigo apareceu originalmente na Scientific American)


Dia 21 de dezembro, de acordo com interpretações erradas e ultra sensacionalistas do calendário Maia, será o marco do fim do mundo. Não é a primeira declaração de que “o fim está próximo” e dificilmente será a última. Isto acontece porque, lá no fundo e por diversas razões, existe algo de atraente – pelo menos para alguns de nós – sobre o fim do mundo.

DESFRUTANDO A PROFECIA AUTORREALIZÁVEL

O neurocientista da Universidade de Minnesota Shmuel Lissek, que estuda o sistema do medo, acredita que em sua essência o conceito do apocalipse evoca uma propensão antiga e inata em muitos mamíferos. “A primiera resposta a qualquer sinal de alarme é o medo. Essa é a arquitetura com a qual fomos construídos”, diz Lissek. Através da história evolutiva, organismos com uma atitude de “é melhor se prevenir do que remediar” sobrevivem. Esse mecanismo teve consequências para o corpo e para o cérebro, em que a veloz amídala cerebelosa consegue ativar uma resposta de stress agudo de medo antes das as áreas “mais altas” do córtex terem uma chance de analisar a situação e responder mais racionalmente.

Mas por que alguém apreciaria despertar esse tipo de resposta de medo? Lissek suspeita que algumas pessoas crentes no apocalipse consideram a ideia de que o fim está próximo validadora desse medo. Indivíduos com um histórico de experiências traumáticas, por exemplo, podem ser fatalistas. Para essas pessoas, encontrar um grupo de fatalistas com as mesmas ideias é reconfortante. Também pode haver conforto em se atribuir a condenação a uma força cósmica maior – como uma profecia antiga Maia. Esse tipo de mitologia afasta qualquer senso de responsabilidade individual.

Há um fascínio ainda mais amplo em se saber a data precisa do fim. “Crenças apocalípticas tornam ameaças existenciais – o medo de nossa mortalidade – previsíveis”, diz Lissek. Lissek, em colaboração com o neurocientista do National Institute of Mental Health Christian Grillon e seus colegas, descobriu que quando uma experiência dolorosa ou desagradável, como um choque elétrico, é previsível, nós relaxamos. A ansiedade produzida pela incerteza desaparece. Saber quando o fim virá não atrai igualmente a todos, claro, mas para muitos de nós é paradoxalmente um motivo para parar de se preocupar.

Isto também significa que as pessoas conseguem se focar nas preparações. Lissek acredita que os que se preparam para o Dia do Juízo Final, que montam seus abrigos e seu estoque de comida enlatada, estão empenhados em comportamentos orientados por metas, que é um tipo de terapia comprovada para momentos de dificuldade.

O PODER DO CONHECIMENTO

Além dos aspectos universais do medo e nossa resposta de sobrevivência a ele, alguns traços de personalidade podem tornar indivíduos mais suscetíveis a acreditarem que é o fim do mundo. A psicóloga social Karen Douglas da Universidade de Kent estuda teóricos da conspiração e suspeita que seus objetos de estudo, em alguns casos, compartilham características com aqueles que acreditam em um apocalipse iminente. Ela destaca que, apesar de serem dois fenômenos diferentes, algumas crenças no apocalipse também estão no cerne das teorias da conspiração – por exemplo, a crença de que agências do governo sabem de um desastre prestes a acontecer, mas estão escondendo o fato intecionalmente para que a sociedade não entre em pânico.

“Um aspecto que eu percebo ligando as duas mentalidades é a sensação de impotência, frentemente conectada à desconfiança por autoriadades”, diz Douglas. Entre teóricos da conspiração, essas convicções de desconfiança e impotência tornam suas conspirações mais valiosas – e reais. “Essas pessoas sentem como se tivessem um conhecimento que as outras não têm”.

Existem relativamente poucos estudos sobre indivíduos que criam e propagam essas teorias. Douglas aponta que pesquisas sobre a psicologia da persuasão descobriram que aqueles que acreditam mais são também os mais motivados a propagar suas crenças. Na era da Internet, espalhá-las está mais fácil do que nunca.

LIÇÕES DA DISTOPIA

Steven Schlozman, buscando em ambas suas experiências de psiquiatra infantil da Harvard Medical School e de novelista (seu primeiro livro relata um apocalipse zumbi), acredita que é o cenário pós-apocalíptico o que mais fascinas as pessoas.

“Eu falo com as crianças em minha prática e elas vêem isso como uma coisa boa. Elas dizem, “a vida seria tão simples – eu atiraria em zumbis e não teria que ir à escola”, diz Schlozman. Tanto na literatura quanto na conversa com pacientes, Schlozman observou que as pessoas frequentemente romantizam o fim dos tempos. Elas se imaginam sobrevivendo, prosperando e voltando à natureza.

Schlozman recentemente teve uma experiência que assustadoramente ecoou a transmissão de 1938 de “Guerra dos Mundos” por Orson Welles. Ele estava discutindo sobre seu livro em um programa de rádio e tiveram que cortar o show, porque alguns ouvintes estavam entendendo sua ficção como fato. Ele acredita que a propensão ao pânico não foi constante na história e é na verdade reflexo dos nossos tempos. No mundo complicado de hoje, com terrorismo, guerras, abismos fiscais e mudanças climáticas, as pessoas estão predispostas ao pânico.

“Toda essa incerteza e todo esse medo se juntam e as pessoas começam a pensar que a vida seria melhor” depois de um desastre, Schlozman diz. É claro que, na verdade, a maioria de seus sonhos apocalípticos são só fantasias, que ignoram as dificuldades reais da vida pioneira sem nenhuma infra-estrutura. Ele destaca que, se há alguma coisa que histórias de apocalipse, particularmente envolvendo zumbis, deveriam idealmente ensinar a nós, seria algo sobre o mundo que deveríamos evitar – e como fazer mudanças necessárias agora mesmo para isso.
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Fonte: Salon
Autoria: Daisy Yhuas
Tradução: Guilherme Balan

http://www.bulevoador.com.br/2012/12/queremos-todos-secretamente-que-o-mundo-acabe/
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