- 23/01/2005
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Tudo parte do princípio que ela foi desenvolvida em cima de várias falácias, que presumem que o aquecimento global é de origem antropogênica (Falso), que a água está acabando (WTF?), que gastamos energia demais e nossa única fonte de energia polui (Falso) e por fim que a sociedade é assim porque todos a veem assim e se portam de maneira tal que esta é a única sociedade possível de existir.
Ando de carro e fico preso em engarrafamentos também, mas fui eu que planejei a cidade? Fui que escolhi que os únicos métodos viáveis de transporte geralmente emitem milhares de metros cúbicos de gases nocivos a saúde? Fui eu que defini que trabalhadores tem que trabalhar em bairros super distantes dos seus, gerando assim excesso de veículos e consumo de recursos desnecessários ao não aprovar nenhuma medida de apoio ao emprego próximo do lar? Fui eu ou qualquer um dos que estão na rua submetidos a serviços públicos precários, transporte precário, planejamento urbano precário, cultura popular precária, segurança precária e qualidade de vida precário que cunhou esta situação?
A quem serve toda essa hipocrisia de suposta contracultura se não ao próprio sistema? A sociedade já está tão solidificada em seus manuais que o que sobra de real e livre é muito pouco. Ser revolucionário, ecológico, vegetariano, dentre outras opções da nova onda social, são atitudes de fato de longo prazo? Apesar de eu acreditar nas boas intenções desses atos, ao mesmo tempo vejo certa cegueira do real problema. Lutamos e defendemos nossas causas sociais, mas elas só sustentam a sociedade. Por exemplo: adotar o discurso ambientalista agora pode retardar a escassez de recursos, mas aí é que tá, retarda, mas resolver jamais. Se protocolos ambientais fossem criados e cumpridos o planeta poderia ganhar mais alguns anos de recursos, mas eles vão acabar, seja daqui a 50 ou 500 anos. Há pontos de não-retorno, a sociedade não vai deixar de andar de carro ou abolir a indústria. As mudanças que virão por aí serão paliativas a curto e a longo prazo. Isso sem contar que o discurso atual dos governos e as recentes reuniões em Cancún para discutir o meio ambiente são observadas com olho gordo pelas novas empresas ecológicas que estarão espalhadas em breve por aí cobrando seus ecosserviços e mantendo o capitalismo vivo como sempre, afinal de tempos em tempos é preciso remodelar o sistema. A última crise econômica acabou de passar e o ambientalismo é a vanguarda da nova era do capital.
A pergunta mais sincera para nós seres humanos, nascidos neste tempo, vivendo sob essas condições de caminhada para extinção não é o que nós devemos fazer pelo planeta ou pela sociedade, mas o que devemos fazer por nós mesmos.
A ideia ou o desejo de muitos de que o mundo caminhe pra uma evolução homogenea, coletiva, global e altruísta é ilusória, quando o que acontece é o inverso: a cada dia que passa novas formas de "ismos" pipocam e a sociedade vive inteiramente mergulhada neles. Os ismos são os verdadeiros manuais, versões sociais do nosso DNA. Hoje nossa relação com o planeta e seus recursos naturais e as próprias relações interpessoais são regidas pelo capitalismo. Daí para nos ajudar a perceber e entender a grandiosidade disso tudo existir recorremos aos ismos religiosos. Budismo, judaísmo, hinduísmo, confucionismo, tem pra todos os gostos. E então partimos para os mais variados ismos específicos. Do sexismo surge o feminismo, que se junta com o movimento de resistência negra e cria o movimento feminista de mulheres negras e por aí vai. A sociedade está cada vez mais partida, mais dividida em seus próprios e infinitos interesses. Globalização de ideais? Não aposto nem um centavo. Não nesse modelo de sociedade milenar. Mais que modificar o que está posto é recriar o que está posto. Mais que enfatizar a sociedade é enfatizar o indivíduo como ser. Mais que agir socialmente é agir filosoficamente. Agir, não pensar. Aí eu apostaria minha vida.
Há muita ideia vagando nesse mundo regido por idealismo e o que aparentemente surge de novo é novo uma ova! Todas as tentativas de contracultura e revolução eram na verdade um reordenamento do jogo de interesses. O que vai nascer dessa árvore com raíz podre serão sempre frutos podres. O mundo está lotado de engodo, de ideias que sustentam o vazio, o vazio que somos nós, patéticos em dar vida ao nada, que dedicamos nosso pouco tempo investindo em perder tempo. Que se dane esse vazio, há horizontes muito mais reais, níveis de percepção mais completos, interações naturais reveladoras e conhecimento direto transbordando pelo ar louco para entrar em nossos cérebros e nos fazer entendidos de nossa humanidade.
Muito pretensioso romper com milênios de atividade sócio-cultural que em NADA serviram para explicar o sentido da vida, do ser humano e que nos mantêm horizontais, presos em nós mesmos?
Se eu fosse o cara da corda eu a cortaria, mas pro lado de cá não traria ninguém.