"Psiconautas" dizem: cogumelos ajudam a transcender o espírito.
Céticos dizem: isso é bobagem. Nada além do homem deve ocupar a cabeça do próprio homem - saudável.
Eu digo: e se ambos estiverem certos?
Eu acredito que a psique humana seja TÃO devastadoramente complexa quanto qualquer questão espiritual, metafísica ou religiosa. Por psique, eu me refiro a todo aquele aparelho complexo de consciente vs. inconsciente, ainda tão estudado pelas ciências ditas sociais e biológicas... Vejam bem: se eu digo que o aparelho psíquico pode ser tão profundamente complexo quanto a questão da espiritualidade, por exemplo, isso implica dizer que há, DE FATO, um universo particular em todos nós.
O cogumelo ou qualquer EXPANSOR DA CONSCIÊNCIA não é chamado assim por acaso: ele, de fato, altera os sentidos, o que significa que altera a
FORMA DE PERCEPÇÃO DO MUNDO. E o que isso quer dizer? Bom, no mínimo, isso quer dizer que ele dá à consciência de quem o utiliza NOVAS POSSIBILIDADES de referencial... Ora, se TUDO é referencial (seja um simples ponto de vista, seja uma sensação individual), a consequência direta e lógica dessa mudança de perspectiva é a de que o usuário passe a expandir a sua consciência, ou seja, a sua maneira de observar o objeto - ou, para ser mais profunda, a sua maneira de
INTERAGIR com o objeto.
Mas... que objeto? A realidade.
Isso significaria dizer que, portanto, substâncias alteradoras da mente têm a capacidade de extrair do inconsciente sentimentos, comportamentos e pensamentos ocultos (e, para quem não é da área ou não se interessa por ela, devo acrescentar que os pesquisadores e estudiosos da mente humana garantem que o inconsciente armazena uma infinidade de informações; a maioria sequer captada anteriormente pelo consciente, aliás, e muitas delas são traduzidas em forma de SINTOMAS, isto é, em características - físicas ou psicológicas - que beneficiam ou que prejudicam o convívio em sociedade. Basicamente, você é o resultado do armazenamento do seu inconsciente... mas esse assunto rende livros, rs. Foco! Hahahaha), isto é, sequer IMAGINADOS pela nossa consciência.
Mas o que eu quero dizer com isso? Que os cogumelos não têm propriedades divinas e transcendentais? Não, porque eu só poderia responder isso a mim mesma - e a mais ninguém -, afinal, eu só conheço a
MINHA realidade. O que eu quero dizer é que substâncias psicodélicas MUITO PROVAVELMENTE agem para dentro, não para fora, ou seja, que a realidade que conhecemos é tão-somente aquela que melhor conforta a nossa psique, INDEPENDENTEMENTE DA SUA VERACIDADE, isto é, independentemente de ser ela a verdade ou não. Por isso, dizer que alguém não experimentou viagens espirituais só porque o cogumelo ainda não o "autorizou" ou dizer que o cogumelo é a causa da cegueira religiosa são, a MEU ver, argumentos APARENTEMENTE contrários que convergem para o mesmo ponto:
a sua viagem não é e jamais será igual à de nenhum outro ser humano, simplesmente porque o seu aparelho psíquico é único e diferente de todos os outros. Portanto, os meios para se chegar a isso são igualmente diversos, únicos e diferentes para cada pessoa.
Expandir a consciência não é ver fantasmas, ter respostas para perguntas complexas, sentir amor pela natureza ou compreender que todos somos um. Essas coisas são
CONSEQUÊNCIAS POSSÍVEIS (e não obrigatórias) da expansão; o que determinará para qual lado irá os seus aprendizados serão tudo o que você apreendeu da vida até então (vale lembrar que a maior parte do que somos vem de um lugar cujo conteúdo é, em estado de "sobriedade", completamente desconhecido para nós) e, PRINCIPALMENTE, os seus anseios, as
SUAS perguntas.
Eu não tenho dúvidas de que todos buscamos respostas para as mesmas questões (em linguagens e palavras diferentes). Desde que as encontremos e, daí, EVOLUAMOS, CRESÇAMOS e EXPANDAMOS nossas consciências, os caminhos são o que menos importa: se é o cogumelo que é mágico, se há algo além ou se tudo não passa de interpretação da mente; desde que indiquem o mesmo objetivo (o da auto-reflexão), cada um que trilhe pelo percurso que lhe for mais conveniente. Respeitando a individualidade de todos e a natureza, eu acredito que cada um pode trilhar o melhor caminho em direção à luz: seja ela chamada de Deus, seja ela chamada de conhecimento.
Dizem que há mais coisas entre o céu e a terra do que possa supor a nossa vã filosofia... Eu digo que há mais coisas entre o consciente e o inconsciente do que possa supor a nossa limitada, traiçoeira, arrogante e megalomaníaca racionalidade... Mas, apesar dos pesares, ela nos é preciosa. O equilíbrio está no meio.
VIVAMOS AS NOSSAS PARTICULARIDADES! Debatamos, falemos e, principalmente, ouçamos o que o outro tem a dizer, afinal, somos universos autônomos e singulares, então temos MUITO a aprender com as experiências alheias, independentemente de classe, de "nível" de conhecimento (blergh!

), de idade ou de quaisquer outros fatores segregadores... Eu sei que os pontos de interseção são maravilhosos, mas por que não começamos a buscar nossas ligações com o outro nos pontos divergentes? ISSO é que é somar!
P.S.: essa é a minha opinião, claro. Eu sei (e espero, mesmo) que há quem discorde dela, coisa que me deixa feliz, afinal, uma ideia sem críticas torna-se inútil.
(Este é um dos meus posts preferidos de todos os que li até agora. Primeiro, porque eu sou uma defensora fervorosa do debate de ideias; depois, porque aqui encontrei opiniões e argumentos muito bons, muito fortes e, ainda bem!, muito controversos... Mudar de ideia é uma prerrogativa lógica de quem pensa, portanto, ideias boas são ideias PASSÍVEIS de refutação, mas não necessariamente JÁ refutadas.

Essa é a premissa de qualquer área da ciência.)