- 22/12/2007
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Quero dizer que a natureza é um ser consciênte e dinâmico. Que toma medidas e decisões, e que parece ter um intuito que ainda não compreendemos direito.
A natureza certamente é dinâmica. E em vários sentidos, não somente nesse de vermos mudanças a toda hora. E eu já tive vislumbres, somente vislumbres, da natureza viva e pulsante, modelando a realidade que sentimos. Mas longe de mim querer me fazer de intérprete do que vislumbrei. Não cabe na minha mente, pelo menos.
E exatamente por não compreendermos direito é que é impossível levar a sério esse moralismo cármico que campeia por aí.
Nós nem sabemos no fundo se um acontecimento levará a algo que nos agrade ou não, isso sem falar em conceitos como bem ou mal.
Já ouviu aquela história do velho chinês que tinha um cavalo muito valioso?
Um nobre quis comprar o cavalo e ele recusou. Alguns dias depois o cavalo fugiu e os vizinhos disseram: que azar, você não vendeu e agora perdeu o cavalo. Ele respondeu: quem sabe?
Aí o cavalo voltou trazendo um bando de cavalos selvagens, e os vizinhos mudaram de idéia: que bom. Ele respondeu: quem sabe?
Então o filho dele tentou montar em um dos cavalos selvagens, caiu e ficou coxo. Novamente os vizinhos disseram: que azar. Ele respondeu: quem sabe?
Houve em seguida uma guerra e todos os rapazes da região foram alistados à força, exceto o filho coxo do velho. Os vizinhos se lamentaram: nossos filhos vão morrer na guerra e o seu está aqui para lhe ajudar. Mais uma vez o velho se recusou a interpretar os acontecimentos. Porquê?
Nós estamos na mesma posição. Só que interpretamos e tentamos correr atrás do que queremos, baseados nessas interpretações. E achamos isso bom e aquilo ruim. Seja um materialista que quer acumular dinheiro ou um buscador que quer acumular carma. Mas o futuro escorre das nossas mãos como o tempo. Será que o problema é o acumular?
E assim tentamos garantir um bom carma, como se pudéssemos discernir verdadeiramente se o que fazemos é ou não merecedor do carma que desejamos. No fundo deve ser. Só que quando finalmente encontramos ou conseguimos aquilo que tanto desejamos podemos descobrir que não é o que realmente buscamos.
E do mesmo modo que buscamos o nosso bom carma vivermos julgando os outros, se estão ou não se comportando direito e que carma vão acumular em troca. Esse é o moralismo cármico. Eu não me excluo desse comportamento. Frequentemente me enredo no mesmo.
Não aconselho ninguém a virar um transgressor das regras X ou Y baseado em uma visão dessas. Mas qualquer um pode se lembrar que essas regras podem ser nossas. Ninguém garante que elas são as regras pelas quais a natureza dispensa ou não carma de um modo ou de outro.
E sinto que a natureza tem bem mais mistérios do que podemos conceber. Nós pouco sabemos, mas tudo queremos explicar e prever.