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Completo Sobras da Geladeira

Nesse diário vou relatar minhas presentes experiências com 4 espécies. A inoculação foi feita a partir de algumas culturas esquecidas na geladeira. A proposta do cultivo é verificar as semelhanças (e diferenças) no cultivo de cada espécie.
Diário de cultivo completo.

Informação geral

Raça(s)
Psilocybe Cubensis (Golden Teacher), Panellus Stipticus, Pleorotus Ostreatus, Hericium erinaceus.
Inoculação
02/05/2024
Inoculação via
Cultura Líquida
Assepsia (Inoculação)
Cabine de fluxo laminar.
Terrário
Spawnbag.
Técnica(s)
Esterilização de grão;
Inoculação de potes de grão a partir de cultura líquida;
Inoculação em bags de substrato esterilizado a partir de grão colonizado.
Substratos
Painço;
Fibra de coco;
Pellets de serragem.
A pedido de alguns amigos do fórum (@BlackCat @GlubGlub) resolvi abrir um diário que vai expor como eu estou fazendo para cultivar fungos em casa.

Quero primeiro deixar claro que meu método não é o "jeito certo", existem várias formas possíveis de se fazer dar certo. O que eu faço atualmente é resultado de várias leituras em fóruns internacionais de micologia amadora, leitura de livros sobre fungos, assistir vídeos sobre micologia caseira e vários experimentos (entre falhas e sucessos). Sinta-se livre para apontar meus erros ou compartilhar o que você faz diferente!

O primeiro passo que eu tomo ao cultivar fungos é preparar o grão que será usado como spawn.

Eu gosto de usar o painço por vários motivos: é um grão pequeno que faz melhor uso do espaço dentro de um pote, é mais fácil de esterilizar, há mais pontos de inoculação quando quebrado.

Para preparar o painço é necessário hidratá-lo. Para isso eu cozinho o painço em fogo baixo por 45 minutos ou até que eu veja grãos "explodindo". Depois disso é necessário deixar o grão secar por fora. Eu gosto de usar uma peneira de gesso (tem a malha bem fina). Quando está seco eu misturo um pouco de pó de gesso.


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Depois disso eu passo os grãos para potes de vidro com uma tampa de plástico modificada. Na tampa tem um filtro de nylon 0.2 micron e uma SHIP (self-healing-injection-port), as duas peças são coladas com um silicone resistente à altas temperaturas.
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Por muito tempo eu fiz potes de vidro cobertos com papel alumínio e preso com fita isolante, injetava a cultura liquida e cobria com fita microporosa. Essa abordagem tem o problema de que a fita microporosa não é estéril, acaba sendo um possível vetor de contaminação. Mesmo assim funciona (as vezes não).

As tampas modificadas permitem uma versatilidade maior no trabalho e uma confiabilidade maior. Uma SHIP garante mais confiabilidade mesmo trabalhando numa caixa de ar parado (SAB).

Ainda preciso melhorar minha forma de fabricar minhas tampas, o silicone não adere tão bem a superficies lisas, é melhor lixar ao redor dos furos nas tampas antes de colocar o silicone para vedar. Mas isso fica pras versões 2.0.

Por fim levamos os potes à panela de pressão. Eu coloco alguns potinhos de vidro para elevar o nivel da minha grelha e adiciono água até abaixo do nível da grelha.

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Depois disso fecho a panela deixando o pino levantado, acendo o fogo alto. Vamos ventilar a panela. Esperamos até que ela comece a soltar vapor pelo pino de maneira constante e contamos pelo menos 10 minutos. Isso faz com que não haja bolsões de ar dentro da panela (o que pode prejudicar a qualidade da esterilização). Depois disso abaixamos o pino e deixamos pegar pressão.

O tempo de esterilização para potes desse tamanho é 60 minutos em 15PSI. No entanto, minha panela só chega a 80kpa de pressão (cerca de 11,6PSI). Eu costumo esterilizar por 2h30min, pode ser overkill, mas eu prefiro assim.

Depois de esterilizado eu costumo deixar a panela de pressão esfriando durante a noite, inoculo os potes de manhã bem cedo.

Vamos acompanhar 5 potes inoculados com Golden Teacher (GT), 4 inoculados com panellus stipticus (PS), 4 inoculados com juba de leão (JdL) e 4 inoculados com shimeji branco (PO).
As inoculações do GT (4ml) e do PS (2.5ml) foram feitas dia 02/05/24. As inoculações do JdL (2.5ml) e PO (2.5ml) foram feitas dia 08/05/24.

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Eu não uso incubadoras (nem acho elas úteis pra mim). Deixo os potes em temperatura ambiente em uma estante. O próximo passo agora é exercitar nossos músculos da paciência, analisar a qualidade do micélio (procurar contaminações) ,fazer um break and shake quando já tiver colonizado pelo menos 30% e spawnar em bags de substrato esterilizado quando estiver 100% colonizado.

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Obrigado por ter lido até aqui, até a próxima atualização :)

Atualizações recente

Saudações novamente, comunidade do teo.

Venho aqui concluir este diário. Já estamos em pleno inverno. Acabei me atrasando e postergando a escrita dessa última atualização. Por um lado isso é bom porque juntei bastante material. Senta que lá vem história rs

Como disse anteriormente, eu decidi que queria expandir meu spawn através do G2G. Transferi meus potes de micélio de shimeji para bags. A taxa de sucesso dessa operação foi 100%. Não tive muito tempo para fazer o mesmo para os juba, acabei seguindo a partir dos potes de vidro nesse caso.

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A TEK que eu escolhi para prosseguir a partir daqui foi a "pasteurização" (entre aspas, porque não é uma pasteurização de fato) de pellets de serragem atóxica em bags. Essa TEK só funciona com os pellets, a forma de produção dos pellets faz com que eles sejam quase inertes.


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Essa TEK consiste em misturar uma quantidade fixa de pellets com uma quantidade fixa de água fervendo (próx de 100ºC) dentro de uma bag. Por isso não podemos chamar esse método de pasteurização, pois 1) a temperatura extrapola o espectro da pasteurização por um momento e 2) não há um controle rigoroso do tempo/temperatura. Em cada bag adiciona-se 1kg de pellets e 1L e 200ml de água fervente. É importante misturar bem para garantir que todos os pellets hidratem-se e tenham contato com as temperaturas elevadas. Então dobramos a bag e deixamos esfriar.

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É importante esperar até que as bags retornem à temperatura ambiente antes de prosseguir para a inoculação com o spawn. Temperaturas acima de 40 graus podem facilmente matar ou debilitar sua "semente". Foi misturado cerca de 400g (1 pote) de spawn feito com painço em cada bag de pellets hidratados (que pesava 2.2kg). O processo de inoculação das bags de pellets feitas dessa forma pode ser feita ao ar livre, sem luvas/máscara. Lógico que é sempre bom se atentar a práticas básicas de higiene. Por fim deve-se selar as bags e misturar bem o conteúdo, para haver vários pontos de inoculação.

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Depois disso é só deixar as bags em algum lugar sem luz solar direta e deixar o micélio se recuperar, portanto sem ficar mexendo nelas. Em poucos dias será possível verificar crescimento. Quando as bags estão 100% colonizadas eu corto um "X" em cada lado delas ou as abro. Geralmente demora umas 2 semanas para que eu prossiga para o estágio de frutificação e mais uns 3-5 dias para ver os cogumelos começando a crescer. Também borrifo água nos meus blocos, isso já é o suficiente pois vivo em uma região extremamente úmida.

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Por fim, deixo pra vocês fotos do que anda rolando por aqui...

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Obrigado a todos que acompanharam esse diário. Vou seguindo nessa busca pelos cogumelos. Sempre aprendendo.

Anexos

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Olá, comunidade do teo. Depois de quase um mês venho atualizar o que está acontecendo por aqui. Estive meio ocupado esses tempos, muita chuva, árvores caindo, telhado de casa caindo. A temperatura também despencou (durante a noite está fazendo uma média de 12ºC).

Os cultivos de Psilocybe Cubensis e Panellus Stipticus não deram certo. Todos os potes dessas variedades demonstraram contaminação por algum tipo de bactéria acho. Acho que o problema estava nas seringas, que eram de fato sobras da geladeira e estavam abandonadas. Decidi largar mão do cubs agora no inverno e estou focando nas variedades que deram certo, o shimeji e o juba.

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Mas antes de usar o micélio como ele já está. Decidi que queria tentar expandir ele um pouco mais. Hidratei e esterilizei mais grão, só que dessa vez eu usei bags ao invés de potes. Cada bag suporta mais ou menos 6-7 potes de grão. Para fazer elas, eu dobro no estilo "sanfona", "acordeão" (como nas fotos) e prendo com dois elásticos GROSSOS, que resistem o ciclo na panela de pressão. Esterilizo por 4h 30min (12@psi).

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Deixo elas esfriando durante a noite na panela de pressão. Durante a manhã seguinte inoculo cada bag com meio pote de grão colonizado na frente de um fluxo laminar, então selo com uma seladora manual a calor. Tenho feito spawn de cubensis (ou qualquer outro fungo) assim também. Não acho que é viável usar bags para fazer spawn se você não tem acesso a um fluxo laminar. Essa última semana fiz 6 bags de painço e inoculei com o shimeji.

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É isso, pessoal. Próxima vez vamos estar inoculando spawn no substrato final, que vão ser pellets "pasteurizados" numa bag com uma quantidade x de água fervendo, uma TEK que não requer fluxo laminar (nem SAB).

E sobre as culturas que não deram certo, é sobre isso né. A primavera logo vem aí trazendo condições melhores, agora eu decidi que é hora de focar em frutos de "frio". O shimeji branco frutifica mesmo a 10ºC, o juba também prefere temperaturas mais amenas.

Abraços do myco.

Informação do diário

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Raros e Exóticos
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