- 14/12/2006
- 113
- 73
- 40
Falando em ego e reencarnação, transcrevo um trecho de uma entrevista do Alejandro Jodorowsky, do livro Psicomagia. Achei bem interessante a parte sobre "eliminar o ego" e sobre acreditar ou não em reencarnação.
"O que seria o ego, então?
Fala-se muito sobre o ego sem compreender o que ele é. Na verdade, nós temos nosso ser essencial e uma outra parte adquirida que permite uma identificação, ou identidade. Esta última é o ego, uma identidade adquirida que está a serviço da essência. O ego pode degenerar e se transformar em personalidades desviadas, esquizofrênicas ou paranóicas, porque é no ego que acontecem os traumas e os golpes da vida.
Você admite que, anos atrás, seu ego era gigantesco. O que podemos fazer no mundo sem o ego?
O ego é surdo. Surdo e cego. o ego tem que ser domado. Este é o cerne da doutrina hindu. O ego tem que se render perante a essência. Os maiores egos se desenvolvem na interação social, como numa universidade, onde uma pessoa fala e fala até quando ninguém está prestando atenção, sem jamais ouvir. Com gente assim, não existe diálogo, somente um longo monólogo. Na vida, nós temos que entrar em diálogos e ouvir os outros. O ego é necessário enquanto casca de ovo que envolve a essência. Essa coisa de "matar o ego" é uma loucura de gurus que, certamente, são grandes ególatras. Eu agora estou pensando em Osho, que, apesar de ser uma pessoa inteligentíssima, fazia seus seguidores colocarem o rosto dele em suas camisetas. Havia sempre quinze ou vinte fotos suas em cada um dos seus livros. O ego pode se transformar em alguma coisa delirante. Este homem passou a vida lutando contra o ego e, no entanto, não fazia senão fortalecê-lo. Ele enfrentava o ego dos outros, mas jamais o seu. Para mim, os gurus são como palhaços. São necessários, mas também grandes fantoches.
Somos escravos dos nossos desejos?
Estamos todo o tempo desejando coisas: mais dinheiro, mais objetos. O mundo é puro desejo. Colocam na nossa cabeça que não temos que envelhecer, mil anúncios nos instigam a aumentar os lábios, erguer os seios, esticar a pele ou enrijecer nossos glúteos. Desejamos tudo o que vemos nos anúncios na rua. Cada vez que me conecto na internet, eu encontro sempre quatro proposições: aumentar o meu pênis, emagrecer, contratar prostitutas e ganhar uma fortuna sem esforço... ou então aparecem bancos imaginários que podem fazer você ganhar milhões. Este é o grande problema dessa sociedade: ela está cheia de desejos de consumo e de aparência.
Então, como você já disse tantas vezes, nós temos que aprender a vencer o desejo?
As escolas orientais transmitem uma sabedoria muito antiga que deveria ser vista. Os ensinamentos de Buda foram muito idealizados e é preciso ter cuidado com isso. A lenda de Buda, se olharmos bem, pode ser lamentável: um jovem rico que abandona a sua esposa e o seu filho para alcançar a serenidade, alguém que tem medo das coisas mais naturais do mundo, como a morte, a velhice, a doença e a pobreza... Então, é natural que a sua doutrina proponha a libertação do desejo como alternativa para a salvação, que consiste em não ter que nascer de novo, porque acredita na reencarnação ou na peregrinação da alma, o que é uma grande suposição, mas poderia não ser a correta.
Se eu não acredito na reencarnação, então Buda não serve para mim. Segundo ele, nós temos que escapar desta vida para não voltarmos a reencarnar, e isso é um equívoco. Nós não temos de escapar de nada. Nós temos que viver a vida. Eu não sei se existe a reencarnação, não temos como saber isso. Nós não podemos estabelecer doutrinas que comunicam coisas de crenças, assim como dizer que devemos deter toda a roda das reencarnações, o karma, etc. Essas crenças são suspeitas. Eu não as adoto, de maneira alguma. Se bem examinadas, elas são tão tóxicas quanto quaisquer outras."
"O que seria o ego, então?
Fala-se muito sobre o ego sem compreender o que ele é. Na verdade, nós temos nosso ser essencial e uma outra parte adquirida que permite uma identificação, ou identidade. Esta última é o ego, uma identidade adquirida que está a serviço da essência. O ego pode degenerar e se transformar em personalidades desviadas, esquizofrênicas ou paranóicas, porque é no ego que acontecem os traumas e os golpes da vida.
Você admite que, anos atrás, seu ego era gigantesco. O que podemos fazer no mundo sem o ego?
O ego é surdo. Surdo e cego. o ego tem que ser domado. Este é o cerne da doutrina hindu. O ego tem que se render perante a essência. Os maiores egos se desenvolvem na interação social, como numa universidade, onde uma pessoa fala e fala até quando ninguém está prestando atenção, sem jamais ouvir. Com gente assim, não existe diálogo, somente um longo monólogo. Na vida, nós temos que entrar em diálogos e ouvir os outros. O ego é necessário enquanto casca de ovo que envolve a essência. Essa coisa de "matar o ego" é uma loucura de gurus que, certamente, são grandes ególatras. Eu agora estou pensando em Osho, que, apesar de ser uma pessoa inteligentíssima, fazia seus seguidores colocarem o rosto dele em suas camisetas. Havia sempre quinze ou vinte fotos suas em cada um dos seus livros. O ego pode se transformar em alguma coisa delirante. Este homem passou a vida lutando contra o ego e, no entanto, não fazia senão fortalecê-lo. Ele enfrentava o ego dos outros, mas jamais o seu. Para mim, os gurus são como palhaços. São necessários, mas também grandes fantoches.
Somos escravos dos nossos desejos?
Estamos todo o tempo desejando coisas: mais dinheiro, mais objetos. O mundo é puro desejo. Colocam na nossa cabeça que não temos que envelhecer, mil anúncios nos instigam a aumentar os lábios, erguer os seios, esticar a pele ou enrijecer nossos glúteos. Desejamos tudo o que vemos nos anúncios na rua. Cada vez que me conecto na internet, eu encontro sempre quatro proposições: aumentar o meu pênis, emagrecer, contratar prostitutas e ganhar uma fortuna sem esforço... ou então aparecem bancos imaginários que podem fazer você ganhar milhões. Este é o grande problema dessa sociedade: ela está cheia de desejos de consumo e de aparência.
Então, como você já disse tantas vezes, nós temos que aprender a vencer o desejo?
As escolas orientais transmitem uma sabedoria muito antiga que deveria ser vista. Os ensinamentos de Buda foram muito idealizados e é preciso ter cuidado com isso. A lenda de Buda, se olharmos bem, pode ser lamentável: um jovem rico que abandona a sua esposa e o seu filho para alcançar a serenidade, alguém que tem medo das coisas mais naturais do mundo, como a morte, a velhice, a doença e a pobreza... Então, é natural que a sua doutrina proponha a libertação do desejo como alternativa para a salvação, que consiste em não ter que nascer de novo, porque acredita na reencarnação ou na peregrinação da alma, o que é uma grande suposição, mas poderia não ser a correta.
Se eu não acredito na reencarnação, então Buda não serve para mim. Segundo ele, nós temos que escapar desta vida para não voltarmos a reencarnar, e isso é um equívoco. Nós não temos de escapar de nada. Nós temos que viver a vida. Eu não sei se existe a reencarnação, não temos como saber isso. Nós não podemos estabelecer doutrinas que comunicam coisas de crenças, assim como dizer que devemos deter toda a roda das reencarnações, o karma, etc. Essas crenças são suspeitas. Eu não as adoto, de maneira alguma. Se bem examinadas, elas são tão tóxicas quanto quaisquer outras."