Olá pessoal!
Que saudades dessa comunidade especial!
Muitra atribulações mas, estou tentando voltar de vagar e sempre...
Sobre o assunto, transcrevo abaixo um trecho do texto do titio gago, como diria o Morta.
Abraços a todos.
DROGAS E GOVERNOS
O envolvimento e a responsabilidade direta do governo no tráfico de drogas diminuiria, com os pagamentos por proteção substituindo os ganhos diretos, ao passo que os preços no varejo subiriam astronomicamente. A nova estrutura de preços fez o
bolo do dinheiro das drogas crescer o bastante para que todas as partes governos e sindicatos do crime - lucrassem bem.
De fato, a solução moderna foi os cartéis das drogas operarem como procuradores dos governos nacionais na questão de proporcionar narcóticos viciantes. Os governos não podem mais participar abertamente no mundo do tráfico de narcóticos e clamar legitimidade. Somente governos párias operam sem disfarces. Os governos legítimos preferem ter suas agências de informação realizando acordos secretos com os mafiosos das drogas enquanto a máquina visível da diplomacia parece preocupadíssima com o "problema das drogas" - um problema sempre apresentado em termos destinados a convencer qualquer pessoa razoável de sua absoluta insolubilidade. É significativo que as grandes áreas de produção de narcóticos pesados sejam "zonas tribais". Os imperialistas modernos querem que acreditemos que, por mais que tentassem, eles nunca conseguiriam dominar e controlar essas áreas - no Paquistão e na Birmânia, por exemplo - onde ocorre a produção de ópio. Conseqüentemente, líderes tribais sem rosto, sempre mudando e com nomes impronunciáveis, podem ser responsabilizados por tudo.
De 1914 até a Segunda Guerra Mundial, a distribuição de drogas ficou geralmente nas mãos dos mesmos gângsteres que dirigiam outras operações ilícitas que caracterizam a subcultura criminal: prostituição, agiotagem e vários tipos de mercado negro. A proibição do álcool nos Estados Unidos criara um enorme mercado para narcóticos pesados, além de oferecer a oportunidade de lucros fáceis com o álcool fabricado ilegalmente e vendido sem impostos.
A manipulação dos mercados de drogas feita pelo governo também ocorreu em outros lugares. Durante a Segunda Guerra Mundial os japoneses que ocupavam a Manchúria aprenderam as regras da opressão colonial inglesa de um século antes e produziram vastas quantidades de ópio e heroína para distribuição dentro da China. Isso não foi feito com o objetivo de lucro, como no caso: inglês, e sim com a intenção de criar tantos viciados que a vontade de resistência à ocupação fosse efetivamente destruída. Mais tarde durante a
década de 1960, a CIA usaria a mesma técnica para reduzir a dissidência política nos guetos negros dos Estados Unidos com uma avalanche de China White n° 4 - heroína de extrema pureza.
AS DROGAS E OS SERVIÇOS INTERNACIONAIS DE INFORMAÇÃO
A virulência do vício em substâncias sintéticas como a heroína e a cocaína não poderia escapar por muito tempo à atenção dos herdeiros do tráfico de escravos e das guerras do ópio - os serviços internacionais de informação e as organizações de polícia secreta Esses grupos subterrâneos têm uma necessidade insaciável de dinheiro cujas fontes não sejam detectáveis, para bancar exércitos particulares, grupos terroristas, golpes de Estado e grupos de frente que são sua mercadoria. O envolvimento e o domínio do tráfico mundial de narcóticos mostrou-se irresistível para grupos como a CIA, o Opus Dei e o serviço secreto francês: A conexão do governo dos EUA com a Máfia e os narcóticos remonta, como é bem sabido, à Segunda Guerra Mundial.
Duas controvertidas operações conjuntas entre o OSS (Departamento de Serviços Estratégicos) e a ONI (Inteligência Naval dos EUA) estabeleceram contatos (via Lucky Luciano) com a Máfia siciliana e (através de Tai Li) com os traficantes da Gangue Verde de Tu Yueh-Sheng, de Xangai. As duas conexões estenderam-se pelo período pós-guerra.
O envolvimento de instituições legítimas continua o mesmo com algumas exceções. No final da década de 1970 houve uma mudança na cultura das drogas pesadas nos Estados Unidos, passando de uma ênfase na heroína para uma ênfase na cocaína. Essa mudança foi, em parte, uma conseqüência lógica da derrota militar no Vietnã e do afastamento do sudeste da Ásia. E foi reforçada quando a agenda Reagan de apoio aos contras e ao narcoterrorismo abriu novas fronteiras para operações encobertas.
Entretanto é improvável que a virulência ou o custo social da epidemia de cocaína tenham sido previstos. Talvez ninguém tenha feito a pergunta: "Quais são as conseqüências de ligar o povo americano à cocaína?" Talvez o desenvolvimento de cocaína em forma de crack fumável, mais eficiente e mais viciante, tenha sido inesperado. É muito provável que o fenômeno do crack seja um caso de tecnologia fugindo ao controle de seus criadores. Nos anos 80 a cocaína assumiu uma forma mais virulenta do que poderia imaginar qualquer de suas vítimas e detratores.
Este é um padrão novo e perturbador na evolução das interações entre homens e drogas - um padrão que não pode ser ignorado. Se hoje estamos diante de uma forma ultraviciante de cocaína, por que não estaremos amanhã diante de uma forma ultraviciante de heroína? Na verdade, essas formas de heroínajáexistem. Felizmente elas não são fáceis de se fabricar como o crack.
O ice, uma forma fumável de metanfetamina, surgiu no submundo das drogas. Haverá outras drogas no futuro - mais viciantes, mais destrutivas do que qualquer coisa atualmente possível. Como a lei e a sociedade responderão a esse fenômeno? É de se esperar que a resposta não seja colocar os viciados como exemplos de comportamento desprezível.
De um ponto de vista histórico, restringir a disponibilidade de substâncias viciantes deve ser visto como um exemplo particularmente perverso de pensamento dominador calvinista - um sistema onde o pecador é punido neste mundo ao ser transformado num consumidor explorável e impotente, punido pelo vício ao ter seu dinheiro arrancado pela combinação entre o crime e o governo que proporcionam as substâncias viciantes. A imagem é mais horrorosa do que a da serpente que devora a si própria - é mais uma vez a imagem dionisíaca da mãe que devora os filhos, a imagem de uma casa dividida e lutando contra ela mesma.
- Terence McKenna, O Alimento dos Deuses
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