Não tenho diploma de medicina, e nem faço a mínima questão de ter.
E então quer dizer que você acredita em quem tem diploma de medicina? Bom, pelo menos você reconhece que está apenas acreditando nos outros. E o que lhe garante que os outros não estão, consciente ou inconscientemente, mentindo para você?
No final das contas, é bom mesmo que você não acredite em mim, embora não adiante nada não acreditar em mim mas em compensação acreditar em outros. A coisa mais sábia que cada um pode fazer é não acreditar em ninguém, mas descobrir por si mesmo qual é a verdade.
Eu já disse: eu não sou pessimista, eu sou realista.
De fato, há vários médicos e cientistas que estudam o cérebro por acharem que, conhecendo a fundo esse órgão, eles vão poder criar e receitar a substância química perfeita para fazer o ser humano feliz.
Obviamente eles só fazem isso porque eles mesmos não sabem o que de fato é felicidade. Qualquer mudança na química cerebral não vai gerar uma felicidade verdadeira e profunda, mas apenas um temporário prazer físico e/ou mental.
Se uma pessoa depende de uma substância química para ser feliz, obviamente ela não é feliz, pois onde há dependência não pode jamais haver felicidade, mas somente medo – no caso, medo de não ter a substância química, medo de perder a substância química. E se uma pessoa depende de uma droga para ser feliz, ela se torna escrava da droga. E pode haver felicidade onde há escravidão?
Além do mais, o cérebro é uma coisa, e é da própria natureza do que é coisa mudar e chegar ao fim. Se uma pessoa tenta ser feliz mantendo o seu cérebro num determinado estado, ela só vai experimentar frustração, já que, por mais que ela se esforce e por mais que a ciência avance, elas jamais conseguirão ter total controle sobre o cérebro e evitar as mudanças que nele ocorrem. A propósito, é por isso que os cientistas estudam as coisas: porque querem ter algum controle sobre elas, e eles querem controlar as coisas porque acham que desse modo a vida do ser humano se tornará mais fácil e menos infeliz e insuportável.
E os cogumelos não podem fazer ninguém feliz porque eles não vão até a raiz da infelicidade, que é o fato de que nós pensamos ser algo que nós não somos. Por mais que uma pessoa use cogumelos, seja em microdoses ou em doses altas, ela continua acreditando e tendo a sensação de que é um indivíduo, e, enquanto ela achar que é um indivíduo, ela sempre se sentirá limitada, incompleta, insatisfeita e ameaçada, e, portanto, sua vida continuará sendo apenas dor, sofrimento, miséria, angústia, agonia, desespero, frustração, pânico, preocupação, aflição, horror, desgraça, decepção... Superficialmente ela pode até se sentir bem por um curto período de tempo, mas profundamente sempre haverá um sentimento subjacente de medo e de que algo está faltando.