Deixe-me ver se entendi Vinicius... Você está afirmando que a maconha mata neurônios? (Isso não é sarcasmo, estou perguntando mesmo tá? Tenho consciência de que vivemos numa torre de Babel, então eu posso ter te interpretado mal). Bem, isso é outro mito, já derrubado pela ciência. Pode ficar tranquilo, você nunca ficará em cima de uma cama babando e sendo cuidado por uma enfermeira
. É óbvio que não faço ciência partindo apenas da minha experiência pessoal, como você interpretou. No máximo eu tento aliar o que eu vivo com o saber corrente disponível. Esse foi apenas um modo descontraído de ironizar uma informação incorreta, propagada aos quatro ventos, e que as pessoas teimam em acreditar mesmo quando ela contradiz a sua própria vivência pessoal, esse é um fórum informal e portanto me sinto livre para usar a linguagem coloquial aqui, sem floreios científicos para explicar o que quero dizer.
Conheço uma única pessoa que tem reações violentas quando por acaso ingere alho. Coceiras pelo corpo, febre, vômitos. Logo, seguindo seu raciocínio, eu posso admitir que o alho é nocivo? Essa é a maneira correta de fazer ciência? Segundo você, qual seria a maneira correta de fazer ciência? É verdade que ela se orienta por números, dados frios e sem alma. Mas entre ficar com ela ou com achismos, escolho a primeira opção. Não acho nossa ciência tão achatada, acho que fazemos o melhor que podemos. Desconfiar de tudo que a ciência diz implica em desconfiar que a Terra é redonda ou de que a água ferve a 100°C... E acho que ninguém vai ser tolo o bastante para tal. O problema da ciência, na minha opinião, é a super-especialização: O cientista atual
sabe muito sobre quase nada.
Antigamente os cientistas eram químicos, filósofos, arqueólogos, astrônomos (as vezes astrólogos) e até mesmo artistas nas horas vagas (como é o caso de Da Vinci ou Chandra Bose). Eles uniam diferentes vertentes de conhecimento, o que é praticamente impossível fazer hoje, num mundo cada vez mais cartesiano.
Li o estudo que você apontou em um dos posts acima, e acho, sempre achei, que o que falta na ciência é a interatividade entre diferentes disciplinas. Uma abordagem exclusivamente farmacológica dos casos é errada, talvez se uníssemos a psicologia à explanação destes casos, tudo ficasse mais claro. Nos parágrafos abaixo, tento fazer isso:
Leary, nos anos 60, afirmava que tanto o LSD quanto a psilocibina são incapazes de gerar distúrbios psiquiátricos por si mesmos, mas segundo ele o que ocorria é que após uma bad trip muito pronunciada, o indivíduo pode ser acometido por um trauma, semelhante à qualquer outro trauma psicológico a que podemos ser expostos no dia a dia (como um assalto, por exemplo), e que isso sim pode gerar algum psicodistúrbio, não a substância em si. Estou seriamente inclinada a concordar com ele, uma vez que eu mesma, após muito tempo fazendo uso de cogumelos, um belo dia tive uma bad trip violenta, e fiquei um tempo meio... Esquisita, mas me recuperei e voltei a fazer uso, sem nenhuma complicação.
O psicoterapeuta Stanislav Grof utilizou LSD na terapia, e coordenou por volta de 4 mil sessões utilizando o
ácido como ferramenta de exploração da consciência, sem relatar casos de distúrbios nelas. Ele confirma a afirmação de Leary, pois uma vez que os pacientes se sentiam seguros e tinham uma ligação de confiança com seu médico (que lhes permitia falar sobre o que estavam vivendo sem o medo do ridículo), não desenvolviam bad trips. Conteúdos subconscientes reprimidos da psique podem vir à tona no momento em que há o efeito da substância, e tomar conhecimento deles pode induzir o paciente a um estado depressivo ou psicótico, mas não é a substância que os causa, compreende? Tudo já estava lá, só esperando a chance para vir à tona. Se o paciente tiver calma para lidar com a situação, estiver em ambiente seguro (respeitando o bom e velho conceito de set e setting), dificilmente terá sequelas traumáticas. No meu caso, algumas 'verdadezinhas' foram jogadas na minha cara no momento da bad trip, coisas que eu não gostaria de ter visto, que doeram e me balançaram durante um tempo. Mas no fim das contas eu entendi que ter conhecimento destas coisas era extremamente necessário, fiz as pazes com meus demônios e tudo ficou bem. Se eu tivesse escolhido dar as costas para essas coisas, aí sim talvez eu estivesse mal até hoje, tentando reprimir e negar novamente o que já não dava mais para esconder ou empurrar para baixo do tapete.
Mesmo considerando os casos do seu post como válidos, isso não quer dizer que os problemas tenham se desenvolvido por conta de morte neuronal. Usando o exemplo da esquizofrenia, quem é acometido por esse mal tem um metabolismo cerebral diferente do padrão, não neurônios mortos dentro da cabeça. Aliás convivi durante um tempo com um esquizofrênico, e confesso que foi fascinante. Fantasmagórico talvez. Explico: Muito embora ele visse coisas que não tinham acontecido, tivesse cismas e manias de perseguição, as vezes relatava para mim coisas que estavam se passando na minha cabeça, dizia o que eu estava pensando... Intrigante. Isso me fez crer que ao mudarmos o metabolismo cerebral, mudamos toda a percepção da realidade à nossa volta, e talvez tenhamos acesso à outra realidade, diferente da que estamos acostumados, mas que nem por isso é menos válida.
Para resumir: O que quis dizer é que a psilocibina, assim como qualquer outro alucinógeno, não é capaz de gerar
distúrbio físico. Não mata neurônios, e só pode desencadear um mal crônico se o indivíduo já tiver pré-disposição para tal. O que ocorreu com estas pessoas deve ser analisado segundo a ótica psicológica, não física, e portanto, o caso delas é totalmente passível de recuperação, o que seria mais difícil caso o dano tivesse realmente sido neurológico.
Abraços.