Boa tarde a todos!
Se me permitem fazer algumas observações sobre a discussão, não tenho nenhuma intenção em ditar verdades, mesmo porque nem acredito que elas existam, mas sim apenas pontos de vista que neste momento acredito.
Primeiro, penso que esse tipo de discussão não é apenas boa, mas sim fundamental. É extremamente necessário que tenhamos esse tipo de conversa de coração e mente abertos, sem hipocrisias ou vaidades para que se torne mais enriquecedora.
@yuriblackd eu achei muito interessante o seu quarto de cultivo, eu tenho um projeto de fazer exatamente a mesma coisa mas com comestíveis e medicinais, a princípio com o Pleurotus (pela facilidade e porque é bom mesmo) e com o Hericium Erinaceus (esse mais pelas propriedades medicinais espetaculares e simbiose com os Psilocybe), e sem dúvida no meu caso, a intenção é a princípio como hobby mas não descarto que com a experiência e tempo, além do consumo próprio, pode se tornar comercial de pequena escala, local, tipo para abastecer a lojinha de produtos naturais do meu amigo e dar uma complementada na renda, que pra dizer bem a verdade, tá foda...E é justamente esse "tá foda" que a nossa natureza humana adaptativa e criativa usa para achar as soluções para sobreviver ao meio.
Vivemos num sistema social capitalista, hipócrita, destrutivo, predador, machista, FDP, esmagador de consciências, etc...(Neste caso estou falando do sistema e não de indivíduos). É um sistema orgânico tão complexo que é realmente impossível ter uma noção clara da sua dimensão e apenas combater, ele é invencível por fora, apenas terá seu fim por razões internas, intrínsecas à sua natureza, ou seja, enquanto não implodir, perpetuará e a História mostra muito bem isso.
Isso não impede que façamos nossa parte, que é justamente despertar para um grau um pouco acima de consciência para além desse sistema e passar a agir de acordo com essa consciência. Vejo o despertar não como algo estático, do tipo, pronto cheguei, mas sim como um movimento constante e incessante, uma eterna busca, sendo que um dos catalizadores, como primeiro motor desse movimento, pode ser uma substância enteógena, não sendo necessariamente esse o único caminho, existem infinitos, meditação, experiências religiosas, sonhos, traumas, etc...Então, o despertar muda o ponto de referência, do egocêntrico, individual separado do todo, para algo mais abrangente, conectado e interligado a tudo o que existe, a unicidade.
É muito nobre sua intenção de querer ajudar outras pessoas a buscar esse algo mais, a ir além, mas atenção, existem limites, e aí que mora o problema. Do meu ponto de vista, o limite está em reconhecer que a minha experiência é completamente distinta das experiências das outras pessoas, completamente. Cada um tem sua forma e seu caminho a ser seguido, não acredito que o Cogumelo, Ayahuasca, LSD, sejam o melhor remédio para todos, do tipo, se toda a sociedade experimentar ao menos uma vez, ela vai mudar, não, seria sim o fim e a perseguição total às substâncias enteógenas, o sistema não quer mudar, ele quer a continuidade e a perpetuação. Assim como o corpo regula a acidez do sangue e a temperatura para manter-se vivo, o sistema busca sua regulagem, ele é regido por sua própria homeostasis.
Você, nobre facilitador, será muito bem visto por muitos, não tenho dúvida, mas ao mesmo tempo será uma ameaça ao sistema estabelecido, nem todos verão com bons olhos o causador dos seres questionadores que virão à tona, nem todos ficarão contentes com o dinheiro que você vai ganhar (mesmo que pouco, tá?), com a notoriedade que terá, etc... e toda ameaça, em algum momento será combatida, isso sob um ponto de vista, mas e se alguém tiver uma bad, como bem lembrou o
@Barratorta, ou pior, embora seja extremamente raro, e se alguém morrer? Mesmo que esse alguém tenha feito uma merda astronômica do tipo cheirar cocaína, beber litros de álcool, consumir Cogumelos e morrer afogado no próprio vômito...se cai na mídia (pior forum que existe), o que é bem comum, adivinha quem será o protagonista da morte do infeliz? Você junto com o Cogumelo que você forneceu...
Bom, o intuito desse posto é outro, mas vamos lá... Eu penso diferente. Enquanto não tiverem pessoas corajosas o suficiente pra dar a cara a tapa e mostrar a sociedade "Ei, os cogumelos existem e muitas pessoas utilizam; não tem relação com o tráfico e é bem diferente de qualquer droga ilícita", sempre vamos continuar estagnados nessa pseudo clandestinidade. Sempre vamos ficar nas sombras da dúvida ou da incerteza de estarmos fazendo algo errado ou ilícito. E, sinto muito em ser bem realista, o proibicionismo é inevitável e é uma das etapas necessárias até ser atingida a liberação. Ou seja, não deixa de ser um "avanço" (me refiro a lançar essa discussão pública que será benéfica a longo prazo).
Eu também penso diferente. Não basta saber navegar, tem que navegar com sabedoria. Não acredito que para a sociedade estabelecida reconhecer os valores das medicinas sagradas, seja necessário pessoas "corajosas o suficiente para dar a cara a tapa", não é esse o caminho, existem caminhos muito melhores e muito mais eficientes, precisamos de pessoas que queiram se dedicar à pesquisa científica, pois esse é o caminho mais aceito e respeitado pela sociedade, para isso precisamos de mais investimentos em pesquisa e também mais discussões abertas, tabus precisam ser quebrados. Então, para ajudar a a causa em uma escala maior, você pode estudar medicina, biomedicina, psicologia, etc... e entrar no meio acadêmico. Pesquise sobre o trabalho do Sidarta Ribeiro (grande cientista e grande sujeito), ou pode se engajar na política e tentar propor discussões no Legislativo.
Além disso, não é "bem diferente" de qualquer droga ilícita, pois a molécula da Psilocina é muito semelhante à molécula do LSD, DMT (que isolado é ilegal), mescalina, etc...ainda, não vejo que o seu ponto de vista realista seja uma representação condizente com uma realidade mais ampla, pois o proibicionismo não é inevitável e nem necessário. Um exemplo é a Ayahuasca que não chegou a ser proibida por lei e foi diretamente regulamentada mediante estudos e pesquisas multidisciplinares por anos durante a década de 80/90. Nem o álcool foi proibido no Brasil. O proibicionismo é estritamente político, uma defesa do sistema e do seu status quo, que gera crimes e prejuízos de todas as espécies. A discussão pública está avançando muito nos últimos anos e com algumas permissões e altos investimentos em pesquisas em países como EUA, Inglaterra, Espanha, etc... está se presenciando o que é chamada "Renascença" da pesquisa psicodélica e no Brasil também, na medida do possível, está aumentando suas pesquisas. Não fosse por esse governo atual, atrasado, de imbecis, não estaríamos perdendo tanto tempo com tantas pesquisas importantes paradas pelo corte de verbas. Então, para lançar discussões públicas e colaborar com a disseminação de ideias, não é preciso fornecer (cobrando ou não), mas sim ensinar os caminhos para quem tiver interesse.
Além disso, os cogumelos tem tudo pra serem interpretados pelo poder público como a Ayahuasca pelo simples fato de ser inviável impedir que o maior rebanho comercial do mundo pare de defecar...
Não dá para entender muito bem sua comparação, porque você está comparando coisas bem distintas, não só em relação à substância mas em relação ao approach do poder público...A comercialização da Ayahuasca é estritamente proibida, seu uso e comercialização só são permitidos com fins religiosos em ambientes especialmente destinados a esse fim, (set and setting), devidamente estabelecidos com CNPJ e tudo mais (regulamentação bem restrita). Perceba que os lugares que cobram para você ter a experiência (até hoje não vi um que não cobra) chama o pagamento de "energia de troca" ou "contribuição". Ainda, nem todos os pastos são abençoados com os Cubensis.
Outro ponto interessante é o seguinte: Sem os e-shops, vendedores e etc, quem de fato teria acesso aos cogumelos? Quem teria a curiosidade de pesquisar e aprender sobre o cultivo e etc?
Eu respondo: pouquíssimas pessoas teriam acesso a essa experiência seja espiritual, seja recreativa. O consumo de P. Cubensis ainda é extremamente elitizado e todos nós sabemos disso... Então, não busco entregar ao público nenhuma "medicina" especial ou mágica. Simplesmente dou a experiência às pessoas que não querem / não podem cultivar ou que não teriam acesso a essa informação sem uma "ponte".
Existe uma enorme comunidade de cultivo de Cubensis, assim como existe uma enorme comunidade de cultivo de Canabis, entre outras. Agora, essa não é uma discussão sobre o ovo e a galinha, pois não existiriam os e-shops que, no caso dos Cogumelos, começaram vendendo
esporos justamente pela demanda do cultivo, em razão dos esporos estarem livres de qualquer substância psicoativa, assim nasceu a Psylocybe Fanaticus do Professor Fanaticus, criador da REVOLUCIONÁRIA e respeitabilíssima PF TEK. Independente das e-shops o interesse das pessoas pelo cultivo sempre será uma constante crescente, eu penso que é um caminho natural a ser seguido.
De fato, cada um faz o uso que bem entender. Não devemos criticar quem faz uso medicinal, espiritual ou quem simplesmente usa pra ficar "muy borracho". Não existe uma forma errada de usar os psicodélicos ou contextos "absurdamente ruins".
Então, discordo TOTALMENTE da tua afirmação "No caso da simples venda, nada se difere do uso de qualquer outra substancia comprada no mercado ilegal pra ser utilizada em contextos absurdamente ruins". Lembre-se que nem todo mundo que faz uso psicodélicos é obrigado a pensar com você, e a pluralidade de pensamentos é extremamente benéfica pro meio.
Concordo que cada um seja totalmente livre para fazer o uso pessoal como bem entender e com os objetivos que quiser, isso é um consenso.
Mas, está bem estabelecido que a medicina tem suas qualidades melhor exploradas se forem utilizadas de uma maneira onde haja uma preparação específica, num lugar bem preparado, com muito respeito e com intenções de crescimento espiritual (o famoso set & setting). E fornecendo (vendendo ou de graça), pode ser que você não tenha controle sobre isso e até mesmo não saiba como conduzir uma sessão que fuja um pouco do comum...e é aí onde mora o problema, como bem lembrado pelo irmão na outra mensagem.
Em relação ao tipo do cultivo, percebo que a única variável diferente do que é encontrada neste fórum, é basicamente quantitativa, uma vez que não está sendo apresentada nenhuma técnica diferente do usual, apenas a dimensão é beeemm diferente, o que torna o post bem interessante, mas nada de revolucionário (estou sendo assertivo, não me entenda mal, não quero te ofender ou qualquer coisa similar a isso).
Portanto, penso que a pluralidade das opiniões é fundamental e cada um de fato é livre para fazer o que bem entender, vou além, cada um não é apenas responsável por sua caminhada mas também por suas influências na caminhada dos seus semelhantes, portanto responsável pelo bem e pelo mal que causa (sendo o bem e mal conceitos completamente abertos).
Não há dúvidas que a legislação anti-drogas permite, por um lapso dos legisladores (que eu acredito seja intencional para fins científicos e interesses da indústria farmacêutica), que cultivemos, portemos os Cogumelos em natura mas não a extração de Psilocibina. Sendo que esta lacuna axiológica na lei permite o funcionamento de e-shops que estão explorando de forma exagerada (ao meu ver) o comércio da medicina, com os dizeres hipócritas: "não destinado ao consumo humano, apenas para fins de pesquisas" e desta maneira, colocando em risco todas as atividades e certa liberdade dos cultivadores.
Sem dúvida (e sem hipocrisia) é tentadora a ideia de uma vida com renda garantida pelo cultivo dos Cubensis, mas não vejo esse como sendo o melhor caminho por todas as consequências negativas que isso pode trazer para o grupo e para a medicina sagrada em si.
A discussão saudável é sempre válida e respeito muito seus pontos de vista. Sem dúvida acompanharei o seu tópico. Abraços!