Vou começar dizendo q a proposta é muito boa, e uma ótima deixa para irmos talvez um pouco mais a fundo na biologia desses fungos q nos interessa e com isso gerar algumas discussões produtivas para ficar aqui no fórum. Por outro lado acho q tem q rolar um pé no chão nessas discussões, pra não passarmos idéias absurdas e erradas pra outros visitantes.
Não existe mutação por poliploidia, mutação como vc mesmo definiu seria a modificação da sequência genômica, vc não tá mudando a sequencia, tá só duplicando a mesma sequencia em uma só célula. Isso não é um mutante poliploide, é um poliploide, um fungo modificado geneticamente, um "possível" "recombinante" por q foi modificado geneticamente com um propósito X e depois de isolado vai ser um clone ... mas não é um mutante, pelo menos pela definição de livro de biologia, pela definição lombra de cultivo amador, qualquer coisa diferente do original é "mutante", tipo um cogumelo cujo chapéu cresceu ao contrário (independente da sequencia de DNA), eu chamo de mutante mas relembro q aquilo dali pode ser só erro hormonal, nada necessariamente genético.
Quando disse q a colchicina poderia NÂO promover a segregação cromossomal em fungos quis dizer q o resultado final esperado (fungo poliploide) pode nunca aparecer, em primeira instância (da aplicação do composto), meia instancia (interfase e falha na kario e citocinese) até a ultima instancia (q seria o hipotetico
micélio poliploide).
Outra boa consideração é afirmar que o fungo já é, relativamente, poliploide, muitas das células (em especial a parte reprodutiva q faz
esporos na lamela, o tal do himênio) possuem 2 núcleos cada, então dizemos q o fungo é dicariótico (por ter dois núcleos e portanto DOIS agrupamentos cromossomais), dizer q é dicariótico não é a mesma coisa q dizer q é poliploide, poliploide seria um único núcleo ter duas cópias de cada cromossomo ou uma mesma célula duplicar o seu núcleo, enquanto q um fungo dicariótico pode ter dois núcleos com cromossomos identicos em cada (o q faz a célula ser relativamente poliploide) ou com cromossomos diferentes em cada núcleo (o q seria mais comum ou preferível para o fungo). Na transição essencial de monocariótico pra dicariótico o núcleo extra é passado de uma célula pra vizinha, e isso acontece por uma estrutura especial (clamp connection) q exige compatibilidade entre as
hifas e tbm exige compatibilidade do núcleo a ser transferido (pra passar fisicamente por dentro dessa estrutura especial), portanto um fungo poliploide pode ser defectivo, isto é, possuir uma falha num mecanismo fundamental pra sua sobrevivência. Isso é só uma consideração básica, os fungos tbm são bem resistentes à variaçoes intensas, portanto são capazes de sobreviver as cutucações mais sinistras.
Se isto não ocorrer normalmente não rolarão os esporos ou se rolar esporos eles provavelmente serão defectivos ou estéreis. Se vc não puder tirar um spore print do fungo poliploide, vai ser difícil "guardar" o bicho, e cultivar ele vai depender exclusivamente de clones em cultura líquida e sólida (o q exige um tanto maior de equipamento).
Também, experimentalmente, seria necessário a aquisição de um fenótipo identificável no fungo poliploide, isto é, o fungo teria q ganhar uma cor diferente do original, crescer grotescamente mais rápido (ou mais lento) do q o original e assim vai, senão vc nunca vai conseguir separar o poliploide do original, e quando separar vc vai poder diferenciar eles, sem esse isolamento não existe experimento. Como não se sabe o q vai acontecer, nao existe ganho ou perda de fenótipo identificável, portanto não tem como realizar o experimento do começo ao fim (o q torna toda a discussão especulativa).
Se o fungo ficar mais lento em termos de crescimento isso é ruim para o cultivador, o q é mais provável pq o poliploide tem mais fitas de dna genomico pra copiar portanto precisa de mais recursos (materia prima e maquinario) e mais tempo para crescer (o q equivale a se dividir). Até onde sei, pro objetivo de cultivo de cogus alucinogenos vc vai querer fazer isso no menor tempo possível (o q diminui o risco q é prioridade 1), portanto um fungo lento é pior do q um fungo rapido, a não ser q o fungo poliploide seja ultra resistente ou produza muitas vezes mais psilocibina do q o original (aí o benefício é maior q o custo). Mas preliminarmente o indício aponta para o contrário, visto q a psilocibina e psilocinas tem como precursores o triptofano, q é um aminoácido básico, parte de praticamente todas proteinas, e agora vc tem um genoma maior pra cuidar o q exige mais proteinas, portanto o fungo deve preferir usar o triptofano pra cuidar do genoma ao invés de fazer mais psilocibina, o q é uma linha de pensamento razoável.
Vou listar aqui alguns artigos q mostram a possibilidade do uso dessa tecnologia (colchicina) em fungos com aparente eficiencia:
Construction of cellulase hyperproducing strains derived from polyploids of Trichoderma reesei (esse daqui fala de um ascomiceto poliploide q superproduz a enzima celulase)
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/...nel.Pubmed_DefaultReportPanel.Pubmed_RVDocSum
Cellulase hyperproducers constructed from polyploids of Lentinus edodes (esse aqui fala da mesma coisa num basidiomiceto o q é conveniente)
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10738980?ordinalpos=1&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_Discovery_RA&linkpos=2&log$=relatedarticles&logdbfrom=pubmed
Os dois artigos servem como prova q é possível fazer basidiomicetos poliploides estáveis, mas não são isentos de crítica, a primeira seria q também são isoladas linhagens superprodutoras de celulase SEM poliploidia (o q indica q a superprodutividade não é inerente à poliploidia, então ficar tirando clones de um fungo normal pode eventualmente gerar um fungo superprodutivo) e a segunda seria q mesmo depois de isolar alguns poliploides, eles tiveram q fazer um longo processo pra a partir desses, tirar um com superprodutividade (a grande maioria era defectivo ou simplesmente igual ao normal).
Por fim, a minha maior crítica é q isso é projeto de pós graduação em biologia molecular, não é praticável em uma cozinha, pra vc fazer isso tudo precisa de um laboratório, verba e muito tempo disponível. Para conseguir a verba vc precisa de uma utilidade socioeconomica, e superprodutividade de psilinas não é algo em grande demanda (produção de celulase é).