Nrsimhadeva, o Protetor dos Devotos
Extraído de fontes na net, entre as quais:
http://templodenrsimhadeva.webnode.com.br/textos/ e de textos que não estão na net (pelo menos não encontrei).
Uma das formas mais deslumbrantes do Senhor Krsna é a de Sri Nrsimhadeva, Sua encarnação como meio homem meio leão. O Senhor Nrsimha aparece para proteger Seu devoto Sri Prahlada Maharaja do ateísta rei Hiranyakasipu, o próprio pai de Prahlada.
Sri Prahlada Maharaja era devoto do Senhor Krsna desde seu nascimento, tendo recebido o conhecimento acerca do serviço devocional ainda no ventre. Durante a ausência de Hiranyakasipu, que se retirou para fazer penitências a fim de ganhar favores de Brahma (ver abaixo), seus inimigos, os semideuses, servos do Senhor Supremo e responsáveis pela administração do universo, sequestraram sua esposa para matarem seu filho no nascimento. Eles temiam que aquele embrião pudesse se tornar, posteriormente, outro poderoso inimigo. Sri Narada Muni, todavia, resgatou a mãe e a criança após convencer os semideuses que aquele garoto no ventre era um grandioso devoto do Senhor Krsna.
Desde a concepção Prahlada Maharaja estava destinado a ser um devoto de Krsna. Quando seu pai Hiranyakasipu subiu até o pico do monte Kailasa, a residência do senhor Siva, e começou a praticar severas austeridades. O senhor Brahma, o criador do universo, sabendo que Hiranyakasipu aterrorizaria todo o universo com os poderes adquiridos através de suas austeridades, começou a meditar em como deter o
daitya. O sábio Narada garantiu a seu temeroso pai, Brahma, que iria distrair Hiranyakasipu de seu transe ascético.
Narada e seu amigo Parvata Muni assumiram, então, a forma de dois pássaros e voaram para o local onde Hiranyakasipu estava em profunda meditação. Lá, eles recitaram três vezes o mantra
om namo narayanaya. Ao ouvir o nome de seu inimigo Narayana, ou Visnu, Hiranyakasipu atirou uma flecha para matar os pássaros, mas os sábios voaram para longe.
Tendo já perdido a concentração em suas penitências, Hiranyakasipu se recolheu ao seu palácio, onde desfrutou da noite junto de sua rainha Kayadhu. Kayadhu perguntou a seu esposo por que ele havia abandonado sua determinação em executar penitências por dez mil anos. Ele contou para ela sobre os pássaros que lhe perturbaram cantando em voz alta o nome de Narayana. O
daityaestava desfrutando de forma íntima a companhia de sua esposa, e seu sêmen foi liberado em seu interior no exato momento em que contou para ela sobre o mantra
om namo narayanaya. Assim, o santo nome do Senhor foi recitado no momento da concepção de Sri Prahlada Maharaja.
— do
Nrsimha Purana 41.7–34
No ventre de sua mãe, enquanto ela permanecia no
asrama de Narada Muni, Prahlada ouviu os tópicos transcendentais concernentes às glorias do Senhor, refugiou-se no infalível abrigo dos pés de Krsna, e se tornou completamente destemido. Posteriormente, embora fosse apenas uma criança de cinco anos, possuía firme fé na proteção do Senhor, e invocou essa mesma devoção pura ao Senhor no coração de seus colegas de sala da escola ateísta de Sukracarya, o guru dos daityas, ou ateístas descendentes de Diti. Muito enraivecido pela indesviável devoção de seu filho por seu pior inimigo – o Senhor Visnu, a forma de quatro braços do Senhor Krsna – Hiranyakasipu sentenciou Prahlada à morte. Os servos de Hiranyakasipu tentaram de tudo para matar Prahlada. Tentaram matá-lo por fome, por envenenamento, rogando-lhe maldições, assombrando-o com demônios e fantasmas, mandando um elefante pisoteá-lo, prendendo-o com cobras venenosas, arremessando-o de altas montanhas e o atacando com pedras, fogo e gelo. Apesar de todos os esforços de Hiranyakasipu, Prahlada permanecia intocado, o que fez a ira daquele rei demoníaco crescer ainda mais.
A inimizade de Hiranyakasipu para com o Senhor Visnu começou quando o Senhor, sob Sua forma como um javali gigante, matou o irmão gêmeo de Hiranyakasipu, Hiranyaksa, que havia desequilibrado a Terra por gananciosamente minerá-la em busca de mais e mais ouro. Com a morte de seu irmão, Hiranyakasipu acusou o Senhor Visnu de parcialidade para com os semideuses: "A Suprema Personalidade de Deus abandonou Sua tendência de ser equânime para com os demônios e semideuses. Embora Ele seja a Pessoa Suprema, agora, influenciado por
maya [ilusão], Ele assumiu a forma de um javali para comprazer Seus devotos, os semideuses, assim como uma criança inquieta se inclina mais a uma pessoa do que a outra".
O Senhor, de fato, nunca demonstra parcialidade para com alguém:
samo 'ham sarva-bhuteshu na me dveshyo 'sti na priyah (
Bhagavad-gita 9.29). Ele simplesmente reciproca cada entidade viva de acordou com seus desejos individuais. O Senhor Krsna diz no
Bhagavad-gita (4.11):
ye yatha mam prapadyante
tams tathaiva bhajamy aham
mama vartmanuvartante
manushyam partha sarvashah
"A todos aqueles que se rendem a Mim, Eu os recompenso proporcionalmente. Todos seguem o Meu caminho sob todos os aspectos, Ó filho de Prtha". Assim, o Senhor aparece como a morte para o ateísta e como o salvador amoroso para o Seu devoto; uma vez que está acima de qualquer ideia de afinidade material.
Para vingar a morte de seu irmão, o poderoso
daitya Hiranyakasipu prometeu satisfazer a alma de seu irmão derramando o sangue de Visnu. Para obter o poder e imortalidade que precisava, executou penitências humanamente impossíveis, através das quais obteve favores do senhor Brahma, o criador do universo. Quando Brahma se manifestou para lhe conceder os favores que interromperiam a sua penitência, Hiranyakasipu pediu em primeiro lugar a imortalidade. Mas Brahma respondeu que nem mesmo ele era imortal, e por isso não poderia conceder a imortalidade. Hiranyakasipu pediu então uma série de bençãos. Que não pudesse ser morto nem dentro ou fora de qualquer, nem durante o dia nem durante a noite, nem no céu nem na terra, nem por homem nem por animal, nem por nenhum semideus, demônio ou serpente divina, nem por qualquer arma ou entidade, corporificada ou não-corporificada. Por fim, Hiranyakasipu não poderia ser morto por nenhuma entidade viva, criada ou não criada por Brahma. Hiranyakasipu teve o cuidado de garantir que também não seria morto pelo senhor Brahma, pelo senhor Shiva ou pelo Senhor Visnu, as três deidades que presidem o universo (as três únicas personalidades que não foram criadas por Brahma). E Brahma lhe concedeu todas essas bênçãos.
Hiranyakasipu pensou que poderia se tornar Deus através de suas austeridades e penitências pessoais. Ele tolamente concluiu que, uma vez que o Senhor Visnu estava favorecendo os semideuses, Ele também era uma alma condicionada comum (influenciada por atração e rejeição) que havia se tornado Deus através de austeridades. Com seus novos poderes ele destronou Indra, o rei dos semideuses, Rei dos Céus, e lhe tomou seu cargo.
Hiranyakasipu considerava que poderia se tornar invencível e vencer o Senhor Visnu com seus poderes. Mas Prahlada desafiava seu poder.
O arrogante Hiranyakasipu rogou-lhe pragas e inquiriu: "De onde você tira forças para desafiar minha supremacia?".
"O Senhor Visnu é a fonte de minhas forças", respondeu o destemido Prahlada. "Ele é a origem da força de todos, inclusive da sua".
Ouvir que sua força era produto da graça de Visnu, seu pior inimigo, foi o pior dos insultos para Hiranyakasipu, que desafiou Prahlada: "Maldito Prahlada, você está sempre falando sobre um supremo controlador onipresente superior a mim. Se ele está em todo o lugar, por que, então, Ele não está presente diante de mim neste pilar? Se ele não aparecer deste pilar, separarei, hoje, sua cabeça de seu corpo com minha espada".
Com essas palavras, Hiranyakasipu golpeou o pilar, do qual ouviu-se um som tão alto que parecia que a cobertura do universo seria destruída.
Para comprovar a afirmação de Seu devoto Prahlada, o Senhor Supremo apareceu do pilar em uma forma jamais vista, uma forma que não era nem homem, nem leão: a forma de Sri Nrsimhadeva.
Embora Hiranyakasipu parecesse uma mariposa entrando no fogo quando foi atacar o Senhor Nrsimha, ele ridiculamente pensou que poderia derrotar o Senhor como fizera anteriormente com seus demais inimigos. Anteriormente, quando seu irmão fora morto, Hiranyakasipu, irado, se dirigiu para a residência do Senhor com um tridente em mãos. O Senhor então desapareceu entrando na narina de Hiranyakasipu. Não conseguindo achá-lO, Hiranyakasipu considerou que Deus estava morto.
Agora, Hiranyakasipu confrontava o Senhor, que brincou com ele da mesma forma que um gato brinca com um rato. Quando o sol começou a se pôr, o Senhor Nrsimha colocou Hiranyakasipu em Seu colo e enterrou Suas garras no torso do demônio.
O
daitya exclamou: "Como isso é possível? Meu corpo que está sendo rasgado agora por Nrsimhadeva é o mesmo corpo que quebrou as presas de Airavata, o elefante de Indra; é o mesmo corpo que não sofreu nenhum ferimento, mesmo após ter sido golpeado pelo machado do senhor Shiva". (
Nrsimha Purana 44.30)
Nrsimhadeva rasgou o peito pétreo de Hiranyakasipu com Suas garras semelhantes a diamantes. O Senhor, então, enguirlando-se com os intestinos do rei como se fosse Sua guirlanda da vitória, e, para convencer os semideuses da morte de Hiranyakasipu, o Senhor arrancou o coração do
daitya.
Como outro aspecto de Sua peça divina, o Senhor de repente se surpreendeu ao ver que o corpo de Hiranyakasipu havia desaparecido. Quando balançou Suas mãos, todavia, os pedaços mutilados do corpo de Hiranyakasipu caíram de Suas unhas no chão (
Nrsimha Purana 44.32-35). Assim, entendemos que Hiranyakasipu era apenas um insignificante inseto se comparado com o leão transcendental, o Senhor Nrsimhadeva, como confirma Jayadeva Gosvami:
tava kara-kamala-vare nakham adbhuta-shringam
dalita-hiranyakashipu-tanu-bhringam
keshava dhrita-narahari-rupa jaya jagadisha hare
"Ó Keshava! Ó Senhor do universo! Ó Senhor Hari, que assumiu a forma metade homem, metade leão! Todas as glórias a Ti! Assim como se pode facilmente esmagar uma vespa entre as unhas, o corpo de Hiranyakasipu, um demônio parecido com uma vespa, foi dilacerado pelas afiadas unhas de Tuas belas mãos de lótus".
O Senhor Nrsimhadeva derrotou Hiranyakasipu sem contrariar nenhuma das bênçãos concedidas pelo senhor Brahma, que abençoara Hiranyakasipu para que não fosse morto:
dentro ou fora de qualquer residência (o Senhor o matou no portal de entrada)
nem durante o dia nem durante a noite (o Senhor o matou no crepúsculo)
nem no céu nem na terra (o Senhor o matou em Seu colo)
nem por homem nem por animal (o Senhor Nrsimha é meio homem, meio leão)
nem por nenhum semideus, demônio ou serpente divina (o Senhor está acima de todas essas categorias)
nem por qualquer arma ou entidade, corporificada ou não-corporificada (O Senhor Nrsimha perfurou o
daitya com Suas garras, que não são consideradas armas, e o Senhor é transcendental ao processo de corporificação e descorporificação).
Por fim, Hiranyakasipu não poderia ser morto por nenhuma entidade viva, criada ou não criada por Brahma. Hiranyakasipu teve o cuidado de garantir que também não seria morto pelo senhor Brahma, pelo senhor Shiva ou pelo Senhor Visnu, as três deidades que presidem o universo (as três únicas personalidades que não foram criadas por Brahma). O Senhor Nrsimha é um
lila-avatara, ou encarnação de passatempo do Senhor Krsna, e não está na categoria que inclui Brahma, Shiva e Visnu, que são
guna-avataras, deidades com o encargo dos três modos da natureza material.
Nrsimhadeva, após matar Hiranyakasipu, saiu do palácio e matou todo o exército do
daitya, encerrando de vez o domínio deles.
Hiranyakasipu, o ditador do universo, desejou inverter o sistema piedoso criado por Krsna. Ele queria que os impiedosos fossem recompensados e os piedosos, punidos. Assim, com a morte de Hiranyakasipu, todos os semideuses e habitantes de diversos planetas piedosos ofereceram orações ao Senhor Nrsimha, expressando gratidão por o Senhor ter matado o
daitya, que havia roubado suas esposas, riquezas e a parte das oferendas sacrificiais que lhes cabia. Apenas Prahlada Maharaja, todavia, pôde acalmar, com suas orações devocionais, a ira transcendental do Senhor Nrsimha, que está disposto a aparecer sob qualquer forma e em qualquer lugar para proteger Seus devotos puros.
O Senhor Nrsimha ficou extasiado ao ver a fé inabalável de Prahlada Maharaja, e pediu repetidas vezes para que ele Lhe pedisse alguma benção. Mas Prahlada, como o mais compassivo de todos os devotos, se interessa muito mais pelo bem dos outros do que com o seu próprio; assim, seu único pedido foi que o Senhor salvasse seu pai demoníaco. Satisfeito, o Senhor Supremo garantiu liberação para vinte e uma gerações de parentes da dinastia de Prahlada Maharaja.