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Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

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Hinduísmo

"Ele, cujo olho vela pelo mundo nos altos céus,"

O Olho - que alguns chamam "olho de Hórus" - já vi entre as nuvens, piscando pra mim. também era um peixe num rio, que me seguia enquanto na margem eu andava... e na forma de um grande dragão de mil olhos!

O Aleph, o olho que tudo vê.
Ou talvez nao veja.
 
Não havia então não-existência nem existência;
não havia o reino do ar nem o firmamento por trás dele.


Muito bonito o trecho. Vale lembrar que o Rig é veda que mais faz menções ao Soma, o enteógeno dos hindus. abs
 
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Não havia então não-existência nem existência;
não havia o reino do ar nem o firmamento por trás dele.


Fecho os olhos
Observo nitidamente em meio a escuridão uma fractal que se forma em linhas, semelhante uma rede de pescador
No canto direito dessas linhas percebo a presença de um olho
Perfeito....globo, palpebras e cilios
Estranho, me sinto observado, não em sentido ameaçador mas sim por um olhar misterioso porem sereno
Dificil definir.....minha ignorancia não permite esse feito
Só não me canso de adimirar os caminhos trilhados que os cogs me apresentam e que simplesmente desconhecia
Piro...mergulhando em um mar de possibilidades
 
Última edição por um moderador:
Não havia então não-existência nem existência;
não havia o reino do ar nem o firmamento por trás dele.


Eletricidade novamente, É energia elétrica mesmo! Azulada e ramificada percorrendo o infinito cego das palavras. Serão as árvores feixes de eletricidade paralisadas no tempo humano? E os bronquios e os neuronios serão flores elétricas pusando no infinito do universo, gerando vida?
Minha roupa é feita de fibras entrelaçadas de infinito condensado!
Minha pele, Meu mundo.
Fiquei louco para o homem, socorram-me os deuses do trovão! Socorram-me o mendigos iluminados!
Minha boca jamais proferiu uma verdade sequer e a partir de hoje sou mudo para o mundo!
Apenas as estrelas ouvirão a melodia correta da minha voz.

Chronos sangra hoje.
 
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O ponto de vista para ler o Gita

Nisargadatta Maharaj 05 pi.gif

"Em uma das sessões, uma distinta dama que visitava Maharaj fez uma pergunta sobre o Bhagavadgita. Enquanto ela formulava sua questão nas palavras adequadas, Maharaj, repentinamente, perguntou-lhe: “De que ponto de vista você lê o Gita?”
Visitante: Do ponto de vista de que o Gita é, talvez, o guia mais importante para o buscador espiritual.

Maharaj: Por que esta resposta absurda? Certamente, ele é um guia muito importante para o buscador espiritual; não é um livro de ficção. Minha pergunta é: Qual o ponto de vista do qual você lê o livro?

Outro visitante: Senhor, eu o li como um dos Arjunas no mundo, para cujo benefício o Senhor foi generoso o bastante para expor o Gita.
Quando Maharaj buscou em torno uma outra resposta, houve apenas um murmúrio geral de confirmação desta.
M: Por que não ler o Gita do ponto de vista do Senhor Krishna?

Esta sugestão suscitou dois tipos simultâneos de reação de assombro de dois visitantes. Uma das reações foi uma exclamação escandalizada que claramente significava que a sugestão era equivalente a um sacrilégio. A outra foi de um único e rápido bater palmas, uma ação reflexa, obviamente, indicando alguma coisa como o Eureka de Arquimedes. Ambos os visitantes interessados estavam como que embaraçados por suas reações inconscientes e pelo fato de que as duas eram o exato oposto uma da outra. Maharaj deu um rápido olhar de aprovação ao que havia batido palmas e continuou:

M: Muitos livros religiosos se supõe ser a palavra de alguma pessoa iluminada. Por mais iluminada que seja uma pessoa, ela deve falar a partir de certos conceitos que achou aceitáveis. Mas a extraordinária distinção do Gita é que o Senhor Krishna falou do ponto de vista de que ele é a fonte de toda a manifestação, isto é, não do ponto de vista de um fenômeno, mas do númeno, do ponto de vista de que ‘a manifestação total sou eu mesmo’. Esta é a exclusividade do Gita.
Agora, disse Maharaj, considerem o que deve ter acontecido antes que qualquer texto religioso antigo tenha sido escrito. Em todos os casos, a pessoa iluminada deve ter tido pensamentos, os quais colocou em palavras, e as palavras usadas podem não ter sido muito adequadas para comunicar seus pensamentos exatos. As palavras do mestre poderiam ter sido ouvidas pela pessoa que as escreveu, e o que ela escreveu, certamente, seria de acordo com seu próprio entendimento e interpretação. Depois deste primeiro registro manuscrito, várias cópias dele teriam sido feitas por diversas pessoas e tais cópias conteriam numerosos erros. Em outras palavras, o que o leitor de qualquer tempo particular lê, e tenta assimilar, pode ser totalmente diferente do que realmente o mestre original pretendeu comunicar. Acrescentem a tudo isto as interpolações inconscientes, ou deliberadas, feitas por vários eruditos no curso dos séculos, e vocês entenderão o problema que eu estou tentando comunicar a vocês.
Disseram-me que o próprio Buda falou apenas na linguagem Maghadi, enquanto seu ensinamento, como foi anotado, está em Pali ou em Sânscrito, o que poderia ter sido feito apenas muitos anos mais tarde; o que agora temos de seus ensinamentos passou por numerosas mãos. Imaginem o número de alterações e acréscimos que foram infiltradas nele por um longo período. Não seria surpreendente que haja agora diferenças de opinião e disputas sobre o que Buda realmente disse, ou quis dizer?
Nestas circunstâncias, quando peço a vocês que leiam o Gita do ponto de vista do Senhor Krishna, peço que abandonem imediatamente a identidade com o complexo corpo-mente quando o lerem. Peço que leiam de acordo com o ponto de vista de que vocês são a consciência desperta – a consciência de Krishna – e não os objetos fenomênicos aos quais ela deu sensibilidade – para que o conhecimento que está no Gita seja verdadeiramente revelado para vocês. Vocês entenderão, então, que no Vishva-rupa-darshan, o que o Senhor Krishna mostrou a Arjuna não era seu próprio Svarupa, mas o Svarupa – a verdadeira identidade – do próprio Arjuna e, por conseguinte, de todos os leitores do Gita.
Em resumo, leiam o Gita do ponto de vista do Senhor Krishna, como a consciência de Krishna; vocês então compreenderão que o fenômeno não pode ser ‘liberado’ porque ele não tem nenhuma existência independente; é apenas uma ilusão, uma sombra. Se o Gita for lido neste espírito, a consciência, a qual tem se identificado erradamente com o complexo corpo-mente, tornar-se-á consciente de sua verdadeira natureza e se fundirá com sua origem."

"Sinais do Absoluto"

Postado por Editora Advaita às 20:38

http://editoraadvaita.blogspot.com/2010/03/o-ponto-de-vista-para-ler-o-gita.html
 
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O Hinduísmo é uma das religiões mais antigas do mundo.​


Up.​

Lembra-se da origem desse texto, Morta?​

Vou consertar a formatação das mensagens antigas pouco a pouco.​
 
Muito tempo atrás havia um rei chamado Janashruti que governava o reino de Mahavrisha, na Índia. Ele tinha uma disposição muito caridosa e era conhecido por sua filantropia. Sentia-se orgulhoso disso e pensava ter acumulado muitos méritos.

Ele media seus méritos pelos presentes e caridades que havia distribuído.

Certa noite, o rei descansava no terraço de seu palácio, quando um casal de cisnes passou voando. O macho disse à fêmea: “Você não viu o feixe brilhante de luz que emana do Rei Janashruti? Não cruze esse feixe, pois ficará queimada. O rei lança essa luz por causa de suas inúmeras caridades”. A fêmea riu e disse: “Por que você me ameaça? Somos peregrinos do céu. Além disso, qual é o mérito desse rei comparado ao de Raikva, o carroceiro?”

O rei ouviu essa conversa e ficou inquieto. Decidiu procurar Raikva para descobrir o que o fizera dono de mais mérito que ele, a despeito de todas as suas caridades. Depois de muita busca, o carroceiro foi encontrado em uma pequena aldeia. O rei foi ao seu encontro e levou-lhe muitos presentes, prestando-lhe homenagens.

O rei pediu a Raikva que aceitasse os presentes e lhe dissesse qual a razão de ter acumulado tão grande mérito.

Raikva, porém, disse ao rei: “Oh real amigo, por que desperdiçar essas coisas preciosas comigo? Tudo isso e uma centena de reinos não podem comprar conhecimento espiritual... Essas quinquilharias não têm valor para mim”. O rei sentiu-se muito ferido com as palavras de Raikva e voltou para o seu palácio, desapontado.

Como na história do rei Janashruti, nossa jornada espiritual é pontilhada de desapontamentos e perdas - e aí está o crescimento, já que a tônica dessa aventura é o paradoxo. Nela, as leis são exatamente opostas às que regem o sucesso no mundo. Ao dizer “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” Jesus nos ensinou isso.

Na obra “O Chamado dos Upanixades” - onde a história acima se encontra - Rohit Mehta escreve: “O homem só tem certeza sobre o conhecimento quando é capaz de lhe dar um nome”. Com base nessa perspectiva, ele monta sua estrutura de valores e ela funciona no mundo externo, porque aí todas as pessoas pensam e reagem da mesma forma. Porém, o nome é apenas um rótulo, não é a coisa. No mundo interno o que conta é a essência.

“O mundo externo é governado por leis de tempo e espaço, porque todas as coisas são compostas e interagem entre si, dentro do tempo e do espaço. No mundo interno, não existe tempo nem espaço. Apenas uma única e indivisível totalidade, onde os eventos acontecem espontaneamente, de momento em momento, sem uma interação linear”, esclarece-nos o teósofo Einar Adalsteinsson. Tudo isso aponta numa só direção: o Espírito não pode ser controlado. Ou, nas palavras do apóstolo Paulo, “Com Deus não se barganha”.

Na história acima, quando o rei foi embora Raikva jogou-lhe um encanto para que ele voltasse sem arrogância, com o verdadeiro espírito de aprendiz. O rei acabou voltando humildemente ao carroceiro e foi aceito como seu discípulo, sendo-lhe ensinado que o “Espírito, em si mesmo incriado, criou tudo e tudo sustenta. O Espírito nada come, isto é, ele não precisa de nada. Ele é auto-sustentado e auto-suficiente. Tudo pertence ao Espírito, todas as coisas não passam de instrumento de sua vontade”.

Na despedida, o carroceiro disse: “Volte, grande rei, para seu palácio. Doe, mas não com orgulho, não com um olho na fama. Dê, não como algo que é seu, mas que lhe é dado pelo Espírito para dar aos outros. Aquele que vê essa verdade se torna um vidente e para ele nada falta, ele se torna o desfrutador de todas as coisas”.

Saber-se mero desfrutador - e não dono - é o estado daquele que alcança a iluminação. Contudo, estando ligado ao Espírito, paradoxalmente tudo passa a pertencer-lhe pela essência, o que corresponde à “Plenitude do Vazio” na tradição Zen. Algo que “os ladrões não roubam, nem a traça corrói”.
 
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Gayatri mantra

ॐ भूर्भुवः स्वः ।
तत् सवितुर्वरेण्यं ।
भर्गो देवस्य धीमहि ।
धियो यो नः प्रचोदयात् ॥

oṃ bhūr bhuvaḥ svaḥ
tát savitúr váreniyaṃ
bhárgo devásya dhīmahi
dhíyo yó naḥ pracodáyāt



Três versões do Gayatri mantra





 
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hanuman eh meu camarada!!! um verdadeiro oozaru.. hahahah. saudad de vcs seus loukos! :D
 
DURGA, Deusa Guerreira e Protetora

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“Por centenas de anos o mito da vitória de Durga (a Deusa que venceu as forças do mal) deu aos hindus a esperança de que o bem prevaleceria sobre o mal também em suas vidas. Na concepção moderna, o mal se apresenta para os hindus de várias formas – pode ser um político corrupto, um dirigente prepotente, um patrão agressivo, um programa imoral da TV ocidental ou os próprios impulsos individuais de egoísmo, cobiça, violência ou maldade.”
Barbara Sinha, Durga, Warrior Goddess of Índia
Mirella Faur

O mito de Durga é contado de maneira detalhada nos Purunas, relatos épicos hindus, escritos entre os séculos III e XV d.C. Considerada uma das manifestações de Devi, a Mãe Divina, e de Shakti, o todo-abrangente princípio feminino, Durga, juntamente com Uma e Parvati, fazia parte de uma tríade de Deusas. Durga personifica o espírito feroz, defensor e protetor da mãe que luta com todos os seus recursos para salvar seus filhos dos perigos e dos inimigos.

Durga surgiu durante a guerra primordial entre os deuses e demônios, quando nenhum dos oponentes conseguia vencer e os combates se prolongavam incessantemente. Sem saber o que fazer, os deuses se reuniram e concentraram seus pensamentos na busca de uma solução. Suas energias mentais plasmaram-se em forma de raios vermelhos, brancos e pretos que, ao se condensarem, deram origem a um pilar de luz brilhante. Deste pilar emergiu uma mulher de extraordinária beleza, cavalgando um leão.

Reconhecendo seu poder, os Deuses cederam a essa primeira manifestação da energia feminina, chamada de Devi, todas suas armas celestiais e lhe pediram para combater Durga, um monstro ameaçador. Após vencê-lo, Devi adotou seu nome, como comprovação de sua vitória.

No entanto, a maior ameaça era representada por Mahishasura, o terrível demônio disfarçado de búfalo. O termo “demônio” (asur) representava, para os hindus, um ser maligno causador de discórdia, violência e destruição. O “asur” Mahisha tinha escapado dos ataques dos deuses e assumido várias formas, pois somente poderia ser vencido por uma energia feminina.

Durga lutou corajosamente com Mahishasura, que usou de seus poderes para assumir várias formas aterrorizadoras. Mas Durga era imune a sua força mágica e, quando ele retornou a sua forma costumeira de búfalo, Durga o matou com sua espada, libertando assim a Terra de sua presença nociva.

Durga é representada com quatro, oito, dez ou dezesseis braços, porém sempre segurando suas insígnias, que são a espada, o tridente, o chocalho e uma vasilha de sangue ou uma flor de lótus, enquanto cavalga, ora um leão, ora um tigre. Era conhecida com “A Inacessível”, por morar em lugares longínquos e recusar-se a interagir com seus devotos. Sendo a personificação do poder conjunto dos deuses, Durga tem uma natureza complexa, difícil de compreender, devido a suas características - às vezes contraditórias.

Quando fica raivosa, ela assume o aspecto sanguinário de Kali, sendo às vezes confundida com ela. No entanto, ela também é Mataji, a Mãe do Universo, cuja natureza compassiva e amorosa pode ser invocada para restaurar a paz no mundo e acalmar as mentes e corações em tempo de crise ou violência.

Em seu aspecto mais compreensível, Durga simboliza o poder de resistência e combate às forças maléficas. Nada mais oportuno do que invocá-la nestes momentos de conturbação e ameaça à humanidade e à paz mundial.

Para as mulheres atuais, Durga oferece um modelo de poder interior por representar a inteligência criativa que sabe usar a estratégia, a prudência, a coragem e a determinação para lutar por seus objetivos, por sua independência e pela libertação das amarras dos condicionamentos passados.

No calendário hindu, outubro é o mês dedicado às comemorações de Durga. Chamadas de Durga Puja, elas duram de cinco a dez dias e envolvem toda a comunidade. Os artesãos são responsáveis pela confecção de estátuas de argila, em tamanho natural, que representam personagens e cenas da lenda de Durga.

Cada comunidade se esmera na encenação para que ela seja a mais bela e verídica. As festividades começam com a purificação das pessoas e seguem com cânticos, danças e oferendas. No último dia, chamado de Vijaya, as famílias se reúnem para celebrar seus rituais particulares e comemoram os laços de sangue e os ancestrais.

Durga Puja é, portanto, uma oportunidade para reunir a comunidade e reforçar os elos que unem as pessoas da pequena e da grande família a que pertencem - uma sugestão que também serviria bem a nós, ocidentais.

Fonte: Teia de Thea

A Deusa Kali

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Kali, do sânscrito Kālī काली (que significa, literalmente, A Negra), é uma das divindades mais cultuadas do Hinduísmo. Apresenta-se com aspecto terrível e a tradição inclui sacrifícios animais e antigamente humanos -- segundo observado ainda pelos colonizadores ingleses no século XIX.
Na mitologia hindu, Kali é uma manifestação da Deusa Durga. Segundo a lenda, no primórdios dos tempos, um demônio chamado Mahishasura ganhou a confiança de Shiva depois de uma longa meditação. Shiva ficou agradecido por sua devoção e então lhe concedeu a dádiva de que cada gota de seu sangue produziria milhares como ele, que não poderiam ser exterminados nem pelos homens, nem pelos deuses. De posse de tamanho poder, Mahishaseura iniciou um reinado de terror vandalizando pelo mundo.
As pessoas foram exterminadas cruelmente e até mesmo os deuses tiveram que fugir de seu reino sagrado. Os Deuses reuniram-se e foram se queixar para Shiva das atrocidades cometidas pelo tal demônio. Shiva ficou muito zangado ao ser informado de tais fatos. Sua cólera, por sentir-se traído em sua confiança, saiu do terceiro olho na forma de energia e transformou-se em uma mulher terrível.
Shiva aconselhou que os outros Deuses também deveriam concentrar-se em suas shaktis e liberá-las. Todos os Deuses estavam presentes quando uma nova deusa nasceu e se chamou a princípio de Durga, a Mãe Eterna. Ela tinha oito mãos e os Deuses a investiram com suas próprias armas de poder: o tridente de Shiva, o disco de Vishnu, a flecha flamejante de Agni, o cetro de Kubera, o arco de Vayu, a flecha brilhante de Surya, a lança de ferro de Yama, o machado de Visvakarman, a espada de Brahma, a concha de Varua e o leão, que é o meio de locomoção de Himavat.
Montada no leão, transformou-se em Kali, e cega pelo desejo de destruição atacou Mahishasura e seu exército. A Deusa exterminou demônio após demônio, exército após exército e um rio de sangue corria pelos campos de batalha, até que finalmente, decapitou e bebeu o sangue de Mahishasura estabelecendo novamente a ordem no mundo.
Logo após as batalhas Kali iniciou sua eufórica dança da vitória sobre os corpos dos mortos. Com esta dança todos os mundos tremiam sob o tremendo impacto de seus passos. Em muitas ocasiões, seu consorte Shiva teve de se atirar entre os demônios por ela executados e deixá-la pisoteá-lo. Esse era o único modo de trazê-la de volta à consciência e evitar que o mundo desabasse.
No entanto, no paganismo ela é a verdadeira representação da natureza e é também considerada por muitas pessoas a essência de tudo o que é realidade e a fonte da existência do ser. Deusa da morte e da sexualidade, Kali - cujo nome, em sânscrito, significa "negra" - é a "esposa" do Deus Shiva, em algumas culturas, pois segundo os Vedas, pois Shiva é trasformado em Kali, que seria um de seus lados, para trazer o fim, segundo o tântrismo é a divina "Mãe" ou Pai do universo, destruidora (o) de toda a maldade. É representada (o) como uma mulher exuberante, em uma parte da India em outra como Homem de pele escura, que traz um colar de crânios em volta do pescoço e uma saia de braços decepados - expressando, assim, a implacabilidade da morte.
Kali Ma é uma deusa hindu de dupla personalidade, exibindo traços tanto de amor e delicadeza quanto de vingança e morte terrível. Era conhecida como a Mãe Negra, a Terrível, Deusa da Morte e a Mãe do Carma. Ela é mostrada agachada sobre o corpo inerte de Shiva, devorando seu pênis com sua vagina enquanto come seus intestinos. Essa imagem não deve ser entendida literalmente, ou visualmente, num plano físico. No sentido espiritual, Kali recolhia a semente em sua vagina para ser recriada em seu ventre eterno. Ela também devorava e destruía toda a vida para que fosse refeita.
Como Klika, ou Anciã, ela governa todas as espécies de morte, mas também todas as formas de vida. Ela representa as três divisões do ano hindu, as três fases da Lua, três segmentos do cosmo, três estágios da vida, três tipos de sacerdotisas (Yoginis, Matri e as Dakinis) e seus templos. O s hindus reverenciavam o trevo como emblema da divindade tríplice de Kali. Eles diziam que se não podemos amar a face negra de Kali, não podemos esperar por nossa evolução.

A Lua minguante e a Lua Negra estão associadas a Kali. Aqui, há o domínio dos instintos, do indiscriminado. Tudo pode se transformar no seu oposto. É o momento lunar mais negado no psiquismo da mulher e está severamente vigiado para que não venha à tona. É o feminino sombrio, mas que também pode trazer iluminação à consciência. É mais uma passagem, ligada a processos de transformação.A energia de Kali simboliza o poder destruidor/criador que está reprimido em muitas mulheres que nos séculos passados se adaptaram a um modelo socialmente determinado de comportamento dependente, sedutor e guiado pelo sentimento de culpa. Só nos últimos cem anos é que a força da mulher começou a retomar contato com seu poder pessoal.
Kali é a Deusa Escura, cuja escuridão nada tem a ver com o "mal". Muitos povos vêem o mundo com a dicotomia do claro/escuro, bem/mal. Entretanto, para o hinduismo não existem estas oposições. No pensamento hindu não existe o mal, mas há o carma.

Alguns Atributos da Deusa

Nos inúmeros templos dedicados a Kali, nos santuários ou locais especiais em florestas, nos campos e bosques, nas montanhas, ela é mostrada conforme descrita em textos clássicos, como uma deusa azulada ou negra, com quatro braços, sempre em uma postura desafiante, segura e radiante.
Em geral, ela aparece nua, com um corpo lindíssimo, seios fartos, símbolo da criação, da prosperidade e da mãe que alimenta e protege; quadris largos, símbolo da fertilidade, e pernas fortes e bem torneadas, símbolo da força feminina.
Seus cabelos são negros, imensos e soltos até abaixo dos quadris, símbolo da liberdade e da autonomia feminina, muktakeshi.
Sua face é avermelhada e, na maioria das ilustrações, sua língua está fora da boca, símbolo do desprezo pela vulgaridade e pelo comportamento mundano, bestial ou tamásico.
Seus dentes brancos simbolizam a pureza e a paz espiritual, ou sattva.
Ela tem três olhos, símbolo da mais profunda perfeição espiritual feminina. No pescoço, carrega um longo colar contendo 50 crânios humanos, representando as 50 letras do alfabeto sânscrito, chamadas shabda, ou o som em seu estado vibracional manifesto e do qual procede toda a criação, e símbolo do conhecimento e da sabedoria. Pode igualmente significar a destruição ambiental que o ser humano está causando no planeta.
Na mão esquerda superior, porta uma cimitarra, símbolo da justiça divina. Na mão esquerda inferior, porta a cabeça do maligno Rakta Beej, símbolo da vitória do bem sobre o mal. Na mão direita superior, mostra o Abhaya Mudra, símbolo da coragem e da segurança interior. Na mão direita inferior, mostra o Varada Mudra, símbolo da bondade, da benevolência e da concessão. Contudo, as muitas mãos simbolizam também a capacidade de realização de muitas mulheres juntas e unidas, se compreenderem tal força.
Embora nua, na cintura apresenta um avental de braços e mãos humanas, símbolo da força e da capacidade de criar e produzir. Sob este aspecto simbológico da nudez, a deusa Kali é chamada Digambara, “vestida do céu ou do espaço sideral”. Em outras palavras, significa que, quando a visão mundana é superada, obtém-se a visão divina ou da realidade sem limites e sem condicionamentos, sem medos ou inseguranças inúteis. Tudo se torna pleno, radiante e bem-aventurado. E esta é a meta e o objetivo final de todas as devotas e devotos de Digambara. Assim, Kali é a divina sabedoria que põe fim a toda ilusão, maya.
Sob seus pés pode ou não apresentar-se um ser vencido na guerra, símbolo da capacidade feminina de vencer o ego (ahamkara), a ambição, a ganância e a maldade, obtendo o equilíbrio interior e a paz espiritual, e assim resgatar a própria divindade feminina.
Kali pode também aparecer com dez cabeças ou dez braços, ou com o chamado cabelo flamejante (jvala kesha) em outras manifestações ou simbologias.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Kali
http://forum.intonses.com.br/espiritualidade-f7/deusa-kali-t2643.html
http://www.revistasextosentido.net/news/a-deusa-kali/
 
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TODO o texto abaixo foi retirado de: http://textosparareflexao.blogspot.com/2012_10_01_archive.html

A descoberta do carma



Texto de Mircea Eliade em "História das crenças e das ideias religiosas, vol. I” (Ed. Zahar) – trechos das pgs. 229 a 231. Tradução de Roberto Cortes de Lacerda. As notas ao final são minhas.

Nos Bramanas [1], os deuses védicos foram radicalmente desvalorizados em benefício de Prajapati [2]. Os autores dos Upanixades prolongaram e encerraram esse processo [3]. Vão, porém, mais longe: não hesitam em desvalorizar o todo-poderoso sacrifício. [...] Segundo a Maitri Up [4], aqueles que nutrem ilusões sobre a importância dos sacrifício são dignos de lástima; porque, depois de terem desfrutado no Céu o lugar de destaque conquistado com suas boas ações, voltarão à Terra ou descerão a um mundo inferior. Nem os deuses nem os ritos contam mais para um verdadeiro rishi [5]. Seu ideal está admiravelmente formulado na prece transmitida pelo mais antigo Upanixade, o Brhadaranyaka: “Do não ser (asat) conduz-me ao ser (sat), da escuridão conduz-me à luz, da morte conduz-me à imortalidade!”

A crise espiritual que explode nos Upanixades parece ter sido provocada pela meditação sobre os “poderes” do sacrifício. [...] Nos Bramanas, o termo karman (karma, carma) denota a atividade ritual e suas consequências benéficas (já que, depois da morte, o sacrificante alcançava o mundo dos deuses). Mas, refletindo sobre o processo ritual de “causa e efeito”, era inevitável que se descobrisse que toda ação, pelo simples fato de obter um resultado, integrava-se numa série ilimitada de causas e efeitos. Uma vez reconhecida a lei da causalidade universal no karman, desfazia-se a certeza fundamentada nos efeitos salutares do sacrifício [6].

Porque a pós-existência da “alma” no Céu era a meta da atividade ritual do sacrificante; mas onde se “realizavam” os produtos de todos os seus outros atos, efetuados durante sua vida inteira? A pós-existência beatífica, recompensa de uma atividade ritual correta, devia portanto ter um fim. Mas, então, o que acontecia com a “alma” (atman) desencarnada? Em hipótese alguma ela poderia desaparecer definitivamente. Restava um número ilimitado de atos efetuados durante a vida, e estes constituíam outras tantas “causas” que deviam ter “efeitos”; em outras palavras, deviam “realizar-se” numa nova existência, aqui na Terra, ou num outro mundo. A conclusão impunha-se por si mesma: depois de haver desfrutado uma pós-existência beatífica ou infeliz num mundo extraterrestre, a alma era obrigada a reencarnar-se. Foi a lei da transmigração, samsara, que, uma vez descoberta, dominou o pensamento religioso e filosófico indiano, não só “ortodoxo” como também heterodoxo (o budismo e o jainismo) [7].

O termo samsara aparece somente nos Upanixades. Quanto à doutrina, ignora-se a sua “origem”. Tentou-se inutilmente explicar a crença na transmigração de alma pela influência de elementos não arianos [8]. Seja como for, essa descoberta impôs uma visão pessimista da existência. O ideal do homem védico – viver 100 anos, etc. – mostra-se ultrapassado. Em si mesma, a vida não representa necessariamente o “mal”, desde que a utilize como meio de livrar-se dos laços do karman. O único objetivo digno de um sábio é a obtenção da libertação, moksha – outro termo que se alinha entre as palavras-chave do pensamento indiano [9].

Uma vez que todo o ato (karman), religioso ou profano, revigora e perpetua a transmigração (samsara), a libertação não pode ser alcançada pelo sacrifício nem por meio de íntimos relacionamentos com os deueses, nem através da ascese ou da caridade [10]. Em seus ermitérios, os rishis procuravam outros meios para se libertar. Uma descoberta importante foi realizada ao se meditar sobre o valor soteriológico (soteriologia – “estudo da salvação”) do conhecimento, já exaltado nos Vedas e nos Bramanas. Evidentemente, os autores dosBramanas referiam-se ao conhecimento (esotérico) das homologias implícitas na operação ritual. Era a ignorância dos mistérios sacrificais que, segundo os Bramanas, condenava os homens a uma “segunda morte”.

Mas os rishis foram mais longe; dissociaram o “conhecimento esotérico” do seu contexto ritual e teológico; a gnose é agora tida como capaz de apreender a verdade absoluta, revelando as estruturas profundas do real. Tal “ciência” acaba por eliminar literalmente a “ignorância” (avidya), que parece ser o quinhão dos seres humanos (os “não iniciados” dos Bramanas). Trata-se, certamente, de uma “ignorância” de ordem metafísica, pois ela se refere à realidade última, e não às realidades empíricas da experiência cotidiana [11].

[...] Depois de apaixonantes pesquisas e de hesitações, por vezes desfeitas por repentinas iluminações, os rishisidentificaram na avidaya (ignorância de ordem metafísica) a “causa primeira” do karman, e por conseguinte a origem e o dinamismo da transmigração. O círculo estava completo: a ignorância (avidaya) “criava” ou reforçava a lei de “causa e efeito” (karman) que, por sua vez, infligia a série ininterrupta de reencarnações (samsara). Felizmente, a libertação (moksha) desse círculo infernal era possível graças à gnose (jñana, vidya) [12].

[...] O pensamento indiano cedo se dedicou a ratificar os diferentes “caminhos” (marga) que conduzem à libertação. O esforço resultou, alguns séculos mais tarde, na famosa síntese proclamada no Bhagavad Gita (séc. IV a.C.). Mas é importante assinalar que desde já [...] a descoberta efetuada, ainda que imperfeitamente sistematizada, nos tempos dos Upanixades, constitui o essencial da filosofia indiana posterior.

Quando Brahman perguntar ao recém-chegado: “Quem és tu?”; Que ele responda: “Eu sou o que tu és”; E quando Brahman perguntar: “Quem sou eu?”; Que ele responda: “A Verdade”; Dessa forma, Brahman lhe dirá: “Aquilo que foi o meu domínio é doravante o teu” (Kausitaki Up, Upanixades)

***

[1] Comentários em prosa, costumeiramente anexados aos Vedas (obras mais antigas do hinduísmo).

[2] Citando o próprio autor, algumas páginas antes: “Tal como é apresentado pelos Bramanas, Prajapati parece ser uma criação da especulação erudita, mas a sua estrutura é arcaica. Esse ‘senhor das criaturas’ aproxima-se dos grandes deuses cósmicos. Ele se assemelha de certa forma ao ‘Um’ do Rig Veda”.
Ou seja, conforme o Rig Veda é o texto mais antigo dos Vedas (c. 1500 a.C.), foi ainda nesta época que os sábios hindus chegaram a concepção do Uno, ideia que também encontrou ressonância no hermetismo (embora provavelmente muitos séculos mais tarde), em Parmênides, em Plotino, em Espinosa, etc.

[3] Os Upanixades também são comentários posteriores acerca dos Vedas. O Bhagavad Gita, o texto mais celebrado do hinduísmo, faz parte deles.

[4] Um dos livros dos Upanixades.

[5] Termo que denota um dos autores dos Vedas ou dos Upanixades. Também pode ser entendido simplesmente como “um sábio”.

[6] Ou, em outras palavras, os sábios hindus reconheceram que a barganha com os deuses (“eu te ofereço isto em troca disto”) não poderia ser uma solução para as questões da alma. Somente o ser em si poderia melhorar a si mesmo. Ser transportado ao Céu após a morte, para depois renascer de novo neste mesmo mundo (ou nalgum inferior a este), não solucionava a questão. Quero dizer é isto: apenas o próprio ser pode cuidar de sua gnosis dei, do conhecimento do Uno. Os deuses aos quais eram ofertados “sacrifícios” não podem lhes auxiliar neste caminho (ou, ainda que possam, não necessitariam de oferendas para tal).

[7] Se vamos considerar que a “descoberta do carma” se deu a partir dos Upanixades, podemos datá-la no início do chamado período bramânico (entre 900 e 500 a.C.). No entanto, a crença na existência de espíritos desencarnados, ou mesmo dos “espíritos dos ancestrais”, é pré-histórica, e surgiu junto com a religião primal e o xamanismo. Me parece que a ideia da reencarnação possa ser ainda mais antiga do que a ideia do carma, e que o carma surgiu como uma espécie de “desenvolvimento filosófico” acerca do tema da reencarnação. Segundo a visão do autor, entretanto, é possível que a ideia da reencarnação tenha surgido do “problema do carma” (portanto, o oposto). Em todo caso, ambas são ideias arcaicas que só encontraram um antagonismo claro na crença da ressurreição, surgida do zoroastrismo e judaísmo (em épocas posteriores).

[8] Os árias são um subgrupo étnico dos indo-europeus. Eles se estabeleceram no planalto iraniano no fim do terceiro milênio a.C., e a partir de 1.500 a.C. colonizaram a península indiana. Os árias foram o povo responsável pela composição dos Vedas. Note que, caso a ideia de reencarnação seja “não ariana”, isso significa que ela seria ainda mais arcaica que os Vedas (conforme eu postulo no comentário acima).

[9] O budismo chamou-o nirvana.

[10] No espiritismo se diz que “fora da caridade não há salvação”, mas segundo os rishis, nem mesmo a caridade garantiria a “salvação”.

[11] Porém, se estamos falando do Uno, todo o conhecimento, seja empírico (ciência) ou mental (religião) ou metafísico (filosofia), é um conhecimento do Cosmos – de seu Mecanismo ou de seu Sentido. É assim que todo conhecimento, esotérico ou exotérico, sempre irá nos auxiliar no samsara, ainda que tenhamos de voltar a este mundo muitas vezes.

[12] E o que aqueles que “se libertaram” fazem após a libertação? Buda foi um excelente exemplo: sua peregrinação e “evangelização” se iniciou após (e não antes) ele ter atingido o nirvana.

***

Crédito da imagem: The Bhaktivedanta Book Trust International
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Tu não és nascido nem morto, tampouco tens qualquer corpo. Tudo isto é Brahman. Assim declaram os Vedas para sempre.
Tu és Ventura eterna onipresente, dentro e fora. Por que, então, vagueias aqui e acolá como um fantasma?
Associação e separação, não existe qualquer delas para ti ou para mim. Não existes tu, não existo eu neste mundo. Tudo isto é Atma, sem dúvida.
Som, odor e o mais, são efeitos dos cinco sentidos. Portanto, não és. Tampouco eles te pertencem. Tu és a Verdade mais elevada. Por que, então, te lamentas?
Tu não tens nascimento, morte ou mente. Liberdade e confinamento, bem e mal não te afetam. Por que choras, criança'? Nem tu, nem eu, temos qualquer nome ou forma.
ó mente! Por que vagueias perplexa, como um fantasma? Entende o Atma (que é) incapaz de divisão. Abandona o desejo e sê feliz.

- Avadhut Gita -
(A Canção do Asceta)
Mahatma Dattatreya
 
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A Mente e o Mundo não estão Separados


Pergunta: Vejo aqui imagens de diversos santos e me disseram que são seus antepassados espirituais. Quem são eles e como tudo isto começou?

Maharaj: Somos chamados coletivamente os ‘Nove Mestres’. A lenda diz que nosso primeiro mestre foi o Rishi Dattatreya, a grande encarnação da Trindade de Brahma, Vishnu e Shiva. Mesmo os ‘Nove Mestres’ (Navnath) são mitológicos.


P: Qual é a peculiaridade de seus ensinamentos?

M: A simplicidade, tanto em teoria como na prática.


P: Como alguém se torna um Navnath? Pela iniciação ou pela sucessão?

M: Nem uma nem outra. A tradição dos ‘Nove Mestres’, Navnath Parampara, é como um rio que flui para o oceano da realidade, e quem quer que entre nele será levado junto.


P: Isto implica em ser aceito por um mestre vivo pertencente à mesma tradição?

M: Aqueles que praticam o sadhana de enfocar suas mentes no ‘Eu sou’ podem sentir-se relacionados a outros que seguiram o mesmo sadhana e foram bem-sucedidos. Eles podem decidir verbalizar seu sentido de afinidade chamando-se Navnats; isto lhes dá o prazer de pertencer a uma tradição estabelecida.


P: Eles são beneficiados de algum modo juntando-se à tradição?

M: O círculo de satsang, ‘a companhia dos santos’, expande-se em número à medida que o tempo passa.


P: Eles retêm assim uma fonte de poder e graça da qual teriam sido excluídos de outra forma?

M: O poder e a graça são para todos, basta pedi-los. Dar a si mesmo um nome particular não ajuda. Chame-se por qualquer nome – enquanto estiver intensamente atento a si mesmo, os acumulados obstáculos ao autoconhecimento estarão condenados a desaparecer.


P: Se eu gosto de seu ensinamento e aceito sua direção, posso chamar-me Navnath?

M: Satisfaça sua mente viciada às palavras! O nome não o mudará. No melhor dos casos, poderá lembrá-lo para que se comporte. Há uma sucessão de Gurus e seus discípulos, os quais por sua vez preparam outros discípulos, e assim a linha é mantida. Mas a continuidade da tradição é informal e voluntária. É como um nome de família, mas neste caso a família é espiritual.


P: Você deve realizar-se para unir-se a Sampradaya?

M: A Navnath Sampradaya é apenas uma tradição, um modo de ensinamento e de prática. Não denota um nível de consciência. Se você aceitar como Guru um mestre da Navnath Sampradaya, você se juntará a esta Sampradaya. Geralmente, você recebe um sinal da graça do Guru – um olhar, um toque, ou uma palavra, às vezes um sonho vívido ou uma forte recordação. Às vezes, o único sinal da graça é uma mudança rápida e significativa no caráter e no comportamento.


P: Conheço-o há alguns anos e o encontro regularmente. Sua lembrança nunca está longe de minha mente. Isto me faz pertencer a sua Sampradaya?

M: O pertencer é uma questão de seu próprio sentimento e convicção. No final das contas, tudo é verbal e formal. Na realidade, não há nem Guru nem discípulo, nem teoria nem prática, nem ignorância nem realização. Tudo depende do que você acredita ser. Conheça-se corretamente. Não há substituto nenhum para o autoconhecimento.


P: Que prova eu terei de que me conheço corretamente?

M: Você não precisa de provas. A experiência é única e inequívoca. Aparecerá em você subitamente quando os obstáculos estiverem eliminados em certa medida. É como uma corda gasta rompendo-se. Seu esforço está nos cabos. A ruptura está destinada a acontecer. Pode ser adiada, mas não impedida.


P: Estou confuso por sua negação da causalidade. Isto quer dizer que ninguém é responsável pelo mundo como ele é?

M: A idéia de responsabilidade está em sua mente. Você pensa que deve haver algo ou alguém unicamente responsável por tudo que acontece. Há uma contradição entre um universo múltiplo e uma causa única. Ou um ou o outro deve ser falso. Ou ambos. Tal como eu o vejo, tudo é um devaneio. Não há nenhuma realidade nas ideias. O fato é que, sem você, nem o universo nem sua causa poderiam ter vindo a existir.


P: Não posso perceber se sou a criatura ou o criador do universo.

M: ‘Eu sou’ é um fato sempre presente, enquanto ‘Eu sou criado’ é uma ideia. Nem Deus nem o universo vieram a você para lhe dizer que eles o criaram. A mente, obcecada pela ideia de causalidade, inventa a criação e, então, deseja saber ‘quem é o criador?’ A própria mente é o criador. Mesmo isto não é totalmente verdadeiro, porque o criado e seu criador são um. A mente e o mundo não estão separados. Entenda que o que você pensa ser o mundo é sua própria mente.


P: Existe um mundo além, ou fora da mente?

M: Todo o espaço e todo o tempo estão na mente. Onde você localizaria um mundo além da mente? Existem muitos níveis de mente e cada um projeta sua própria versão, mesmo assim todos estão na mente e são criados por ela.


P: Qual é sua atitude quanto ao pecado? Como você vê o pecador, alguém que rompe a lei interna ou externa? Você quer que ele mude ou apenas se compadece dele? Ou você lhe é indiferente por causa de seus pecados?

M: Não conheço nenhum pecado, nem pecador. Suas distinções e avaliações não me limitam. Todos se comportam segundo sua natureza. Não se pode evitar, nem se lamentar por isto.


P: Outros sofrem.

M: A vida vive da vida. Na natureza o processo é compulsório; na sociedade, deveria ser voluntário. Não pode haver nenhuma vida sem sacrifício. O pecador nega-se ao sacrifício e atrai a morte. Isto é como é, e não há razão para condenação ou piedade.


P: Seguramente você sente ao menos compaixão quando vê um homem mergulhado no pecado.

M: Sim, sinto que sou esse homem e seus pecados são meus pecados.


P: Certo, e depois?

M: Por tornar-me um com ele, ele se torna um comigo. Não é um processo consciente, ocorre inteiramente por si mesmo. Nenhum de nós pode evitá-lo. O que necessita mudar deverá mudar de qualquer modo; basta conhecer-se tal como se é, aqui e agora. A investigação intensa e metódica, dentro da própria mente, é a Ioga.


P: O que acontece com as cadeias do destino forjadas pelo pecado?

M: Quando a ignorância, a mãe do pecado, é dissolvida, o destino, a compulsão para pecar novamente, cessa.


P: Há retribuições a fazer.

M: Quando a ignorância chega ao fim, tudo acaba. As coisas são vistas tais como elas são, e são boas.


P: Se um pecador, um infrator da lei, chegar diante de você e pedir sua graça, qual será sua resposta?

M: Ele obterá o que pede.


P: Apesar de ser um homem mau?

M: Não conheço pessoas más, só conheço a mim mesmo. Não vejo nem santos nem pecadores, só seres vivos. Eu não distribuo a graça. Não há nada que eu possa dar ou negar, o qual você já não tenha em igual medida. Simplesmente, seja consciente de suas riquezas e utiliza-as ao máximo. Enquanto imaginar que necessita minha graça estará em minha porta mendigando-a.
Se eu mendigasse sua graça, teria pouco sentido! Não estamos separados, o real é comum.


P: Uma mãe vem a você com uma história de infortúnio. Seu único filho entregou-se às drogas e ao sexo e vai de mal a pior. Ela pede sua graça. Qual será sua resposta?

M: Provavelmente, eu devo me ouvir dizendo a ela que tudo irá bem.


P: Isto é tudo?

M: Isto é tudo. O que mais você espera?


P: Mas o filho da mulher mudará?

M: Pode mudar ou não.


P: As pessoas que se reúnem ao redor de você, e que o conhecem há muitos anos, sustentam que, quando você diz que ‘ficará tudo bem’, invariavelmente, acontece como você disse.

M: Também pode ser dito que foi o coração da mãe que salvou o filho. Para tudo há inumeráveis causas.


P: Disseram-me que o homem que nada quer para si mesmo é todo-poderoso. O universo inteiro está à sua disposição.

M: Se você assim acredita, aja de acordo com isto. Abandone todo desejo pessoal e use o poder assim resgatado para mudar o mundo!


P: Todos os Budas e Rishis não foram bem sucedidos em salvar o mundo.

M: O mundo não se rende à mudança. Por sua própria natureza, é doloroso e transitório. Veja-o como ele é, e se despoje de todo o desejo e de todo o medo. Quando o mundo não o aprisiona ou o vincula mais, ele converte-se numa morada de alegria e beleza. Você pode ser feliz no mundo apenas quando é livre dele.


P: O que é certo e o que é errado?

M: Geralmente, o que causa sofrimento é errado, e o que o elimina é certo. O corpo e a mente são limitados e, portanto, vulneráveis; eles necessitam de proteção, o que dá lugar ao medo. Enquanto você se identificar com eles, estará condenado a sofrer; compreenda sua independência e fique feliz. Eu lhe digo, este é o segredo da felicidade. Acreditar que você depende de coisas e pessoas para ser feliz se deve à ignorância de sua verdadeira natureza; saber que você não necessita de nada para ser feliz, exceto o autoconhecimento, é sabedoria.


P: O que vem primeiro, o ser ou o desejo?

M: Quando o ser surge na consciência, surgem também na mente as ideias do que você é junto com as ideias do que deveria ser. Isto causa o desejo e a ação, e o processo de transformar-se começa. O vir a ser não tem, aparentemente, nenhum início e nenhum fim, porque recomeça a cada momento. Com a cessação da imaginação e do desejo, o vir a ser cessa e o ser isto ou aquilo se funde no puro ser, o qual não é descritível e apenas pode ser experienciado.
O mundo lhe parece tão esmagadoramente real porque você pensa nele o tempo todo; deixe de pensar nele, e ele se dissolverá numa névoa sutil. Você não precisa esquecer; quando o desejo e o medo terminam, o cativeiro também termina. O que cria o cativeiro é o envolvimento emocional, o padrão estabelecido de gostos e desgostos, o que denominamos caráter e temperamento.


P: Sem desejo e medo, que motivo há para a ação?

M: Nenhum, a menos que considere motivo suficiente o amor à vida, à retidão e à beleza. Não tenha medo da liberdade do desejo e do medo. Ela permite que você viva uma vida tão diferente de tudo o que você conhece, tão muito mais intensa e interessante, que, verdadeiramente, por perder tudo você ganha tudo.


P: Desde que você conta que sua ascendência espiritual vem do Rishi Dattatreya, estou certo em acreditar que você e seus predecessores são reencarnações do Rishi?

M: Você pode acreditar no que quiser e, se agir de acordo com sua crença, você obterá seus frutos; mas, para mim, isto não tem nenhuma importância. Eu sou o que sou, e isto me basta. Não tenho o desejo de identificar-me com ninguém, por ilustre que seja. Nem necessito tomar os mitos por realidade. Estou apenas interessado na ignorância e na libertação da ignorância. O papel apropriado a um Guru é dissipar a ignorância nos corações e mentes de seus discípulos. Uma vez que o discípulo tenha entendido, a ação confirmatória dependerá dele. Ninguém pode agir por outro. E se alguém não age corretamente, apenas significa que não compreendeu e que o trabalho do Guru não terminou.


P: Deve haver também alguns casos sem esperança?

M: Nenhum caso é sem esperança. Os obstáculos podem ser superados. O que a vida não pode emendar, a morte concluirá, mas o Guru não pode falhar.


P: O que lhe dá esta segurança?

M: O Guru e a realidade interior do homem são realmente uma coisa só e trabalham juntos para a mesma meta – a redenção e salvação da mente. Eles não podem falhar. Em consequência das muitas pedras que os obstruem, eles constroem suas pontes. A consciência não é a totalidade do ser – há outros níveis nos quais o homem é muito mais cooperativo. O Guru está familiarizado com todos os níveis, e sua energia e paciência são inesgotáveis.


P: Você continua assegurando-me que estou sonhando e que já é hora de despertar. Como é que o Maharaj que veio a mim em meus sonhos não foi bem-sucedido em despertar-me? Ele continua me encorajando e lembrando, mas o sonho continua.

M: Isto é porque você realmente não entendeu que você está sonhando. Esta é a essência do cativeiro – a mistura do real com o irreal. Em seu estado presente, só o ‘Eu sou’ se refere à realidade; o ‘que’ e o ‘como eu sou’ são ilusões impostas pelo destino, ou por acidente.


P: Quando o sonho começou?

M: Parece ser sem começo, mas de fato é apenas agora. De momento a momento, você o está renovando. Uma vez que você tenha visto que está sonhando, você deverá acordar. Mas você não vê porque quer que o sonho continue. Virá o dia em que você ansiará pelo fim do sonho, com todo o seu coração e toda sua mente, e estará disposto a pagar qualquer preço; o preço será o desapego e o distanciamento, a perda do interesse no próprio sonho.


P: Quão desamparado estou. Enquanto o sonho da existência dura, eu quero que continue. Enquanto quero que continue, durará.

M: O querer que continue não é inevitável. Veja claramente sua condição, sua própria claridade o libertará.


P: Enquanto estou com você, tudo quanto diz parece óbvio; mas, logo que me afasto de você, fico inquieto e cheio de ansiedade.

M: Não é necessário ficar longe de mim, em sua mente pelo menos. Mas sua mente procura o bem-estar do mundo!


P: O mundo está cheio de problemas, não é de estranhar que minha mente também esteja.

M: Houve alguma vez um mundo sem problemas? Sua existência como uma pessoa depende da violência em relação aos outros. Seu próprio corpo é um campo de batalha, cheio de mortos e agonizantes. A existência implica violência.


P: Como corpo, sim. Como ser humano, definitivamente não. Para a humanidade, a não violência é a lei da vida; e a violência, a lei da morte.

M: Na natureza há pouca não violência.


P: Deus e a natureza não são humanos e não precisam ser. Estou interessado só no homem. Para ser humano, devo ser absolutamente compassivo.

M: Você compreende que, enquanto possuir um eu a defender, você deve ser violento?


P: Sim. Para ser verdadeiramente humano, devo ser sem eu. Enquanto for egoísta, serei subumano, apenas um ‘humanoide’.

M: Portanto, nós todos somos subumanos e só alguns poucos são humanos. Poucos ou muitos, o que nos faz humanos é novamente a ‘claridade e a caridade’. Os subumanos – os ‘humanoides’, são dominados por tamas e rajas, e os humanos, por sattva. Claridade e caridade são sattva no modo em que afetam a mente e a ação. Mas o real está além de sattva. Desde que eu o conheço, você parece estar sempre procurando ajudar o mundo. Quanto já o ajudou?


P: Nem um pouco. Nem o mundo mudou, nem eu. Mas o mundo sofre e eu sofro com ele. Lutar contra o sofrimento é uma reação natural. E o que são a civilização e a cultura, a filosofia e a religião, senão uma revolta contra o sofrimento? O mal e a cessação do mal – não são sua principal preocupação? Você pode chamar a isto de ignorância – vêm a dar no mesmo.

M: Bem, as palavras não importam, nem tampouco interessa a forma em que você está agora. Os nomes e as formas mudam sem cessar. Saiba que você é a testemunha imutável da mente que muda. Isso é o suficiente.


De: "Eu Sou Aquilo" Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj

http://editoraadvaita.blogspot.com.br/
 
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Agora vamos ao hinduísmo prático. Aquele que acontece todo dia.

Alguém já ouviu falar de castas?

Pronto, podemos jogar no lixo o hinduísmo.

Abraco!
 
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Bem, o que mais você quer jogar no lixo?

Será que com essa tática que você usou escapa algo no mundo? ;)
 
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