Desculpem-me a demora em atualizar a thread. Logo após a contaminação do nosso
micélio com o fungo, desanimamos com a cultura e deixamo-la ao léu das interpéries climáticas e ambientais da garagem do meu amigo por um bom tempo.
Pensamos em descartar todo o material e recomeçar, como vocês da comu aconselhavam. Depois de analisarmos nossos métodos de cultura, concluímos que a causa mais provável de contaminação foram os grãos de cereal *extra* que decidimos colocar no substrato. Chegamos a essa conclusão pois conseguimos identificar o fungo como sendo do gênero
Fusarium como o mais provável, devido às características morfologicas do micélio e sua cor de esporulação (vermelho intenso, como mostram as fotos dos outros posts).
Identificado o
contaminante e seu veículo de entrada, viemos a nos perguntar o por quê dos
esporos de
Fusaria não terem sido inativados pela etapa de autoclave que fizemos com a panela de pressão. Acho, na verdade, que foi culpa minha... Meu amigo queria autoclavar por 1h20min, mais ou menos, e eu preocupado em não hidrolisar demais o amido ou desnaturar muito as proteínas da mistura (
vermiculita+farinha de arroz+grãos de arroz integral), convenci-o a deixar só 40min... Besteira! Autoclavar bem é essencial...
fonte: The Mushroom Cultivator - A Practical guide to Growing Mushrooms at Home, por Paul Stamets
Enfim, fora esses detalhes maçantes, decidi não jogar a cultura fora. Meu amigo queria se livrar de todo o aparato do
terrário. Desmontamos as bostas de vaca e analisamos o desenvolvimento do micélio. Percebemos que existiam três micélios distintos crescendo, sendo que o micélio do
P. cubensis estava se desenvolvendo, muito fracamente, em algumas bostas de vaca. O micélio do
Fusarium estava crescendo principalmente nos
bolos de cultivo primários, mas não conseguiam crescer nas bostas de vaca, assim como, porém debilmente, o terceiro micélio contaminante. Abrimos um desses bolos e o P. cubensis estava desenvolvendo-se principalmente no centro do bolo, juntamente com o micélio do
Fusarium e o terceiro contaminante, mas perdia a competição para os dois na periferia do bolo. Assim, parece que o micélio do
P. cubensis pulou dos bolos para as bostas e perdido a competição com o
Fusarium, que era mais adaptado e especializado e crescia, somente, no substrato dos bolos de cultura.
Para confirmar tudo isso, levei amostras para o laboratório e dei uma olhada na lupa (aumento de mais ou menos 40x) para ver a morfologia dos fungos, e no microscópio de campo claro (aumento de 40x, 100x e 400x), para ver os filamentos do micélio e suas estruturas reprodutivas (conídeos) que iriam possibilitar a identificação definitiva dos contaminantes...
Conversei com um professor (o cara é gente boa, e enquanto desaprova o uso de enteógenos, dá a maior força pro cultivo. rs) e ele, como não é especialista nesses tipos de fungos, deu a ajuda que pode. Foi por ele, na verdade, que o segundo micélio contaminante foi descoberto. Até então, pensávamos que existia somente um contaminante na cultura...
Desanimados, jogamos os bolos fora (pois eram o principal foco de contaminação e disseminação do
Fusarium), assim como as bostinhas que porventura estivessem contaminadas também, porém mantivemos todas as bostas colonizadas pelo suposto
P. cubensis. Ou seja, fizemos uma limpa e transferimos alguns pedaços de bosta que, veja bem,
supúnhamos estarem infestados com o
P. cubensis. Não tínhamos certeza se o micélio que crescia era mesmo o cubensis.
Pegamos um tapower, forramos com vermiculita nova e colocamos algumas bostinhas com o micélio do cubensis no centro e em cima, colocamos alguns pedações de bosta que ainda restava do começo do experimento quando montamos o terrário.
Deixei esse tapower aqui em casa, no meu quarto. Já faz quase dois meses que acompanho a saga do bichinho para ver se ele ressuscita das cinzas... rs... Meu amigo já tinha perdido as esperanças, mas eu continuei dando água para ele e esperando... Ontem choveu muito até de tardezinha, quando o sol saiu e deixou a atmosfera muito abafada. De noite, mechi um pouco nas bostas e não encontrei nenhum cogumelo, mas joguei um pouco de água mesmo assim. Hoje de tarde, para minha surpresa, brotou esse enorme chapeludo da foto! E ele está vigorante e trincado de psilocibina (o véu está para se romper!!!).
Sabemos onde provavelmente erramos. Fica aqui o alerta quanto à "incrementar" o substrato com grãos exóticos e também quanto à etapa de esterilização, que é um dos pontos chaves para o cultivo dar certo!
É isso aew galera! Valew!