Com todo respeito aos frequentadores de locais de
Ayahuasca e com a ressalva de que os trabalhos feitos com esse chá são muito poderosos e espiritualizados, e que eu mesmo frequento e pretendo tornar a ir em um local com ritual de
Ayahuasca...
Francamente me pergunto se é
ideal e
natural usar um enteógeno que necessita de um complemento para a mente sentir os efeitos. Se o corpo humano através da evolução de milhares ou milhões de anos terminou por suprimir o DMT em sua forma natural de absorção (oral), o que não fez com a psilocibina cuja interação é ainda mais intensa, liberta e limpante; é porque teve uma razão seletiva pra tanto. Enquanto os cogumelos permaneceram psicoativos por si mesmos, assim como outros enteógenos na natureza (a mescalina dos índios norte-americanos, por exemplo), a interação dos antepassados dos Humanos com o DMT gerou sua inefetividade por si mesmo, o que indica um resultado evolutivo que devia gerar uma reflexão se deve ser persistido seu uso diante de outras opções ainda mais eficazes.
O
Ayahuasca é poderosíssimo, sim. Mas o fato de gerar uma "vontade de retornar e tomar de novo", que inexiste nos cogumelos, é para mim no mínimo preocupante (
30ª exp):
Felizmente os cogumelos conseguem não somente libertar a pessoa dos grilhões de outras drogas e de outros vícios ou dependências, mas também liberta a pessoa até dele mesmo. O
Ayahuasca funciona com tanto poder porque dentro de um
setting com várias pessoas num ritual, enquanto os cogumelos podem fazer a mesma coisa dentro de casa e até em
settings contrários a reflexões. Acho uma pena que o desenvolvimento do Daime tenha sido com o DMT, e não com a psilocibina. Seria muito mais poderoso, mas talvez não tivesse tantos adeptos - tanto porque o cogumelo não pede retorno, quanto porque a forma como ele joga tudo na cara é muito mais dolorida, assim como a efetividade de seus resultados positivos.
Não que não pense em voltar ao Daime, e não que o âmbito mais "racional-espiritual" do
Ayahuasca não tenha me apresentado pensamentos e elaborações que com o cogumelo não consegui - dizer isso seria ingratidão com a ajuda recebida pelo chá do
Ayahuasca. Mas também atribuo a isso o cenário religioso do sacramento. Mas ainda assim lamento que os índios brasileiros não tenham se envolvido com o cogumelo, e que a tradição Daimista use DMT ao invés de psilocibina. Esta seria o ideal.
Apenas um organismo acostumado com cogumelos consegue sentir a imperfeição do sagrado
Ayahuasca, porque a psilocibina consegue ter resultados orgânicos muito mais poderosos, limpantes e libertos de "continuar com os trabalhos". Há pessoas que vão pra mata com amigos e tomam cogumelo apenas uma vez na vida - e daí nunca mais fumam ou bebem, tampouco precisam tomar cogumelo de novo; há (mais de um?) relato neste sentido aqui no fórum. O mesmo não ocorre com o
Ayahuasca. A pessoa pode ter os mesmos resultados que alguém tem com cogumelos, mas a tendência é se tornar um frequentador assíduo de locais de
Ayahuasca. Já os cogumelos, a pessoa se cura (física ou mentalmente) e, não muito raro, nunca mais toma.
Tive um amigo que virou Daimista e depois foi se isolar do mundo no interior do Brasil num sítio com cultos de Daime. Consigo imaginar isso tranquilamente com quem toma
Ayahuasca. Não consigo imaginar essa tendência espiritual-alienante com quem toma cogumelos: eles nos situam na realidade com muito mais veemência. O DMT - partícula do espírito - cria a possibilidade de alienar da vida concreta. Já a psilocibina - partícula dos sentimentos - tende a trazer pra realidade e atuar no mundo ao invés de se isolar deste.
É como penso, quando faço a comparação. Isso não anula o fato de que, no entanto, pretendo continuar com meus trabalhos no Daime e atuar na melhora de meu espírito e corpo com sua força poderosa de trabalho, que é diversa da do cogumelo.
Por fim, se é também pra marcar a diferença, o DMT cria um ambiente de
comunicação calma e pacífica após o uso, mas não se aproxima da
conexão instintiva e emocional entre pessoas que tomar cogumelos junto cria. Há algo de educado e manso no DMT, mas não se assemelha à real conexão que a psilocibina parece estabelecer entre os envolvidos numa experiência em conjunto, acompanhada de uma profunda disposição em colaborar. Não consigo imaginar alguém logo após o uso de cogumelos se negar a prestar ajuda a um recém-chegado no local - enquanto com DMT isso aconteceu entre sorrisos de mansidão (com a justa ressalva de que outro membro antigo do local me deu a ajuda de boa-vontade). É uma das consequências do âmbito mais "racional-espiritual" do DMT, enquanto a psilocibina fica na área "emocional-espiritual", com resultados mais profundos.
Ou seja, DMT é excelente? Psilocibina é perfeita. E ambos são sagrados.