Obrigada pela resposta,
@Salaam`aleik ! Foi bastante importante pra me fazer pensar sobre algumas coisas.
Tô fritando aqui pra entender mais sobre isso, hehehe. Andei lendo umas coisas nessas ultimas semanas, aceito indicações de leitura, praticas ou documentários.
Bom, juntando as coisas que você disse com as coisas que tenho lido e experienciado, me parece necessário diferenciar/definir algumas coisas.
Consciência: Muito dificil de conceituar, mas podemos inferir algumas de suas caracteristicas:
- possui diferentes camadas, ou estágios; e como você bem observou transitamos pelo espectro de consciencia-inconsciencia o tempo todo.
- a
Atenção/Concentração é o mecanismo pelo qual dirigimos/alteramos a consciência. (Dá pra fazer uma analogia com “ver e olhar”; “ver” é um mecanismo complexo que envolve muitas questãs subjetivas para além das fisicas; “olhar” é um mecanismo físico que utilizamos para “ver”)
- Podemos entrar em Estados Não comuns de consciência a partir da concentração (entrando em transe), a partir da indução por substâncias, ou experiencias de quase-morte, parto essas coisas.
Mente: Também muito dificil de definir, rsrs. Então vamos ver algumas das características da mente (ao menos como a percebo até agora):
-
Mente individual – envolve a psiqué, a dualidade consciente/inconsciente, e toda a estrutura de personalidade do indivíduo. Intrinsecametne relacionada ao corpo e às inter-relações.
Consciente e inconsciente fazem parte do mesmo continuum. O inconsciente não é apenas um “off”, ele inclusive tem bastante autonomia, influenciando (e muito) o comportamento das pessoas; ele também está intimamente conectado com o inconsciente coletivo.
-
Mente coletiva – relacionada à cultura e ao inconsciente coletivo junguiano. É de onde provém os arquétipos e símbolos, que internalizamos na mente individual através das diferentes formas de mitos.
A mente individual e coletiva funcionam de maneira dialética, ou seja, uma influenciando a outra concomitantemente.
Até ai ainda é uma visão “mundana” de “Mente”. O que acontece com ela(s) depois que a gente morre é um mistério que muitas tradições se esforçam pra compreender. Nós dois concordamos que a “mente” ainda estará por ai, mas sob qual forma ainda é um mistério pra mim (que talvez só seja sanado quando eu morrer msm

).
Pode ser que exista também uma mente maior que precede e coexiste com essas mentes individual e coletiva "mundanas”, como desconfio que exista, mas ai eu nem me arrisco a falar nada, tô penando ainda pra entender o básico hehe
Você diz que a dualidade “consciente-inconsciente” deixa de existir, que no caso tô chamando de “mente individual” , (que deve também deixar sua conexão com a mente coletiva humana-terrestre... ou será que não?). Ai cheguei nessa outra barreira de perguntas:
-
Então essa mente que continua existindo após a morte não seria consciente?
- Precisamos necessariamente da matéria para sermos conscientes?
- A mente pode não ser consciente? A consciência é uma condição da mente? Ou a consciência é condição da matéria?
Agora, a pergunta do milhão... (ou um milhão de perguntas):
O que acontece com a consciência, quando tomamos cogumelos?
Talvez você já conheça o Stanislav Grof, ele tem uma vasta experiência com sessões de terapia psicodélica, respiração holotrópica, é um dos principais estudiosos sobre Estados não-ordinários de consciência (ENOC).
Se seguirmos o raciocínio dele, quando tomamos cogumelos entramos em estados “não-ordinários” de consciência, ou seja, vivenciamos estados da consciência que não costumamos perceber, ou “entrar” normalmente.
Algumas pessoas falam em expansão da consciência, outras em alteração... tem toda uma discussão sobre qual termo seria melhor pra definir o que acontece.
Onde está a consciência durante a trip, se é que estamos conscientes?,
Onde está a consciência durante a trip? Assim como nos estados ordinários, ela também pode estar em vários níveis.
O Stanislav Groff faz uma análise da “cartografia da consciencia” a partir da observação dos seus pacientes em estados não-ordinarios de consciência. Ele conseguiu notar padrões e sistematizou esse conhecimento. No final aqui vou transcrever uma parte do livro onde ele fala sobre isso.
Se a gente entende que entra em estados não-ordinários de consciência, quer dizer que estamos conscientes, mas de maneira não usual, ou seja, a consciência não está imersa na percepção egoica do dia a dia, mas ampliada para outros níveis.
Acho que a não-consciência (não sei nem se da pra chamar de inconsciencia nesse caso) induzida por alguma substância estaria mais próxima de uma bebedeira daquelas que a pessoa não lembra nada no dia seguinte, ou mesmo de um coma alcoolico (não sei – nem quero saber – como são as overdoses de outras substâncias, mas com o álcool a sensação é de apagamento dos sentidos e da sua capacidade de pensar, de perceber o que está acontecendo ao redor, e de funcionar (falar, andar, etc. A pessoa vira uma plasta).
Coma alcoolico é tipo um “nem lá, nem cá”, pode ser que a pessoa esteja na beirinha da morte por ter abusado de seu próprio corpo físico. O físico continua funcionando minimamente (circulação, respiração e tal), mas a capacidade da pessoa de perceber/entender o que que tá acontecendo (consciência) simplesmente não está lá, ou está de maneira muitissimo limitada. (
Pra onde foi a conciencia? - talvez isso confirme sua visão de que a dualidade consciencia-inconsciencia deixam de existir quando a pessoa morre).
Com o cogu a gente não passa neeem perto desse tipo de inconsciência. A atenção ou a consciência podem não estar focadas no Ego, mas estão focadas em algum lugar, e a gente fica bastante aberto a essas “informações” que conseguimos acessar nos estados não-ordinários de consciência. Talvez por isso a sensação de estar “mais desperta” que o normal, ainda que lembremos pouco quando voltamos ao nível de consciência egoica comum. Enquanto que uma bebedeira aproxima a gente de um estado “bem menos desperto” que o normal, beirando o anulamento do corpo, dos sentidos, e da percepção.
Na outra direção, há algo para além, "mais consciente" do que estar plenamente consciente?
Carai, essa ai deu nó na minha cabeça!
O que seria isso? Uma consciência simultânea de todas as “camadas” de consciência? Deve ser no mínimo orgástico isso ai, hahahahaha
consciência normal > "alto" > sentidos aguçados > percepção aguçada > sinestesia > autosugestão > consciência do ego > multiplicidade > conexão ao universo > perda da individualidade > morte do ego > amnésia > inconsciência
Adorei o botãozin de spoiler, hehe
Essa “amnésia” que você tá falando é da gente esquecer a maior parte das coisas depois das trips com quantidade maior de substancia? Se sim, é bem diferente da amnésia alcoolica, por exemplo.
Creio que a amnésia “psicodelica” seria mais devido à condição da nossa memória “egoica” não conseguir gravar o tanto de informação que a gente tem acesso em estados alterados; enquanto que a amnésia alcoolica seria uma não criação de memória, já que seus sentidos estão extremamente embotados e você n consegue perceber mt coisa. A primeira é por excesso de informação percebida; a segunda por falta.
E essa “inconsciencia” a partir do psicodélico seria o que? Voltarmos para o estado comum-egoico de consciência?
Talvez eu descubra no dia em que tomar uma quantidade maior de cogu, hehehe. Até hoje esse ai foi o máximo, ainda tô tateando as possibilidades de psiconavegação.
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Pedacinhos do Livro “A tempestuosa busca do Ser” do Stanislav Grof.
Destaquei onde ele fala sobre as 3 categorias de experiências em Estados não-ordinários de consciência: Experiências biográficas; Experiências peri-natais; Experiências transpessoais.
Acho que é bastante útil para nós, que gostamos de navegar com os cogus, entendermos mais sobre as nossas experiências.
Tem o livro em PDF disponível aqui:
A Tempestuosa Busca do Ser - Download - Stanislav Grof.
“
Quando a psique inconsciente é ativada, as primeiras experiências que ficam prontamente acessíveis são reminiscências de eventos que aconteceram na vida das pessoas após o nascimento. Enquanto o processo permanece nesse nível, várias questões do passado emocionalmente não-resolvidas emergem para a consciência e tornam-se o conteúdo da experiência. É sabido através da Psiquiatria tradicional que a aproximação desse nível de consciência é importante para o trabalho terapêutico. Essa área tem sido cuidadosamente explorada e mapeada por terapeutas biograficamente orientados. No entanto, é importante notar que questões biográficas não-resolvidas são
necessariamente limitadas a traumas psicológicos.” (p.192)
[…]
“
Assim como os estados incomuns de consciência se intensificam, as experiências passam tipicamente da biografia pós-nascimento para dois aspectos críticos da vida humana: seu começo e seu fim. No nível perinatal, a morte e o renascimento estão intimamente entrelaçados, o que parece refletir o fato de que o nascimento humano é um evento difícil e de risco de vida em potencial.” (p.193)
[...]
“
Quando o material de nível perinatal do inconsciente emerge para a consciência, as pessoas envolvidas ficam preocupadas com a morte. Podem ser tomadas por um medo intenso dela, imaginar coisas relacionadas com a morte e ficar convencidas de que suas vidas estão de fato ameaçadas biologicamente. Essas experiências se alternam ou coincidem com uma luta extraordinária para nascer ou para libertar-se a si próprias de uma forma de confinamento realmente incômoda. Nessa situação, as pessoas podem reviver o trauma do nascimento biológico. Porém, esse processo também pode ser sentido como um nascimento espiritual — uma poderosa abertura mística e a religação com o Divino."
"Essas experiências são freqüentemente entremeadas com motivos mitológicos do inconsciente coletivo, que C. G. Jung descreveu como arquétipos. Alguns deles podem ser figuras de divindades representando a morte e o renascimento; outros retratam o além e o inferno ou, ao contrário, o paraíso e os reinos celestiais. O simbolismo concreto associado com esses temas arquetípicos podem ser extraídos de qualquer cultura do mundo e não estão, de modo algum, limitados ao conhecimento intelectual anterior da pessoa sobre as áreas envolvidas. Assim, o nível perinatal do inconsciente representa a interface entre a pessoa e o inconsciente coletivo.” (p. 193, 194)
[…]
“
Além dos domínios biográficos e perinatais da psique localiza-se o campo transpessoal. Este é um termo moderno para uma ampla variedade de estados que estão em outros contextos referidos como espirituais, místicos, religiosos, mágicos, parapsicológicos ou paranormais. No passado, toda essa área foi assunto de muitas más interpretações e de distorções bárbaras.” (p.199)
[…]
“
Estamos comumente limitados em nossa percepção do mundo pelos limites as nossas impressões e pela configuração do meio. Não podemos ver barcos além do horizonte ou objetos dos quais estejamos separados por uma parede sólida. E impossível para nós observar e ouvir a interação das pessoas em localidades distantes. Não podemos sentir o gosto da comida que não esteja em nossa boca, sentir o cheiro de umaflor se o vento o estiver soprando para longe de nós ou sentir a textura de objetos sem tocá-los. Com nossos sentidos comuns podemos vivenciar o que está acontecendo aqui e agora — na nossa localização geográfica momentânea e no momento presente.
Nos estados transpessoais da mente, todas essas limitações parecem ser transcendidas. Podemos nos sentir como uma atividade energética ou um campo de consciência que não está confinado a um recipiente físico. Isso pode se desenvolver mais para a identificação com a consciência de outras pessoas, com grupos de indivíduos ou até mesmo com toda a humanidade. O processo pode se estender além dos limites humanos e incluir vários animais, plantas e até materiais inorgânicos e acontecimentos. Parece que tudo o que possa ser vivenciado no dia-a-dia como um objeto tem, nos estados incomuns de consciência, um complemento correspondente numa experiência subjetiva. O que comumente percebemos como elementos separados de nós — como pessoas, animais, árvores e pedras preciosas — podemos, na verdade, transformar e identificar num estado transpessoal.” (p.199-200)
[...]
“
Observamos muitos casos em que pessoas que estão passando por uma identificação com vários animais fizeram descobertas espantosas para seu comportamento psicológico instintivo, para hábitos específicos ou até representaram em movimentos espontâneos as danças dos animais para fazer a corte. Essa informação estava, em geral, muito longe dos seus conhecimentos nas áreas envolvidas. De vez em quando, novas informações podem emergir das experiências de identificação com plantas ou processos inorgânicos na natureza. ”
“
É até mais espantoso que as pessoas que estão em estados incomuns "visitem" vários reinos arquetípicos e encontrem seres mitológicos morando lá, e possam, com freqüência, trazer de volta informações que podem ser verificadas pela pesquisa na mitologia das culturas correspondentes. Observações desse tipo levaram Carl Gustav Jung, há muitos anos, a idéia do inconsciente coletivo e da suposição de que cada pessoa é capaz, em certas circunstâncias, de obter acesso a toda herança cultural da humanidade.” (p,203)
[...]
“
As experiências transpessoais associadas com emoções positivas, como as sensações de unicidade com a humanidade e a natureza, estados de unidade cósmica, encontros com divindades bem-aventuradas e união com Deus têm um papel especial no processo de cura e transformação. Enquanto várias experiências dolorosas e difíceis purificam a psique e abrem o caminho para experiências mais agradáveis, os estados extáticos e unitivos representam a verdadeira essência da cura real.” (p.204)