Guia para fazer inóculo de grãos separado em 8 páginas, segue o sumário abaixo ou ao lado direito do artigo.

Sumário​

  1. Spawning
  2. Recipientes
  3. Receitas de substratos
  4. Esterilização
  5. Inoculação
  6. Incubação
  7. Contaminação
  8. Refrigeração

Ecuador disse:
Copiei todas as fotos. Também mudei as referências de arroz para centeio, visto que o grão usado é este.

Bom texto e grande trabalho de quem traduziu e formatou a primeira versão.

Grato pela ajuda nessa reformulação, @Insider.

:teo_atencao: Novas informações pertinentes que surjam na discussão ou de outras fontes poderão ser incorporadas a este tópico por um dos moderadores.

Spawning

O que é spawn de grãos?


Spawn de grãos são grãos totalmente colonizado por micélio de cogumelo. Serve para dois propósitos:
  1. Como um transporte de micélio para grandes quantidades de substrato;
  2. Como um substrato em si.
Nem todas as espécies frutificam diretamente em spawn de grãos. Psilocybe cubensis é uma das espécies que podem fazer isso. Espécies de Panaeolus geralmente não frutificam em grãos. Essa última requer substrato baseado em estrume para frutificar, embora seu micélio cresça bem no arroz.

O micélio da maioria das espécies de cogumelos pode crescer no centeio.

O que é spawning?


É o ato de usar um spawn para inocular substratos.

01 - grãos-de-centeio.jpg
Grãos de centeio​

Recipientes

Frascos de vidro


Uma alternativa barata é ir ao supermercado e comprar a marca mais barata de vegetais em conservas, ou maionese, etc. e retirar seu conteúdo (não no supermercado!). Esses frascos são melhores porque resistem bem a vários ciclos de esterilização. Quando esses frascos estiverem limpos e seus rótulos forem retirados, estarão prontos para uso. Entretanto, esses frascos não são feitos para serem usados em esterilização e após 2-3 esterilizações eles podem ficar mais frágeis. Tampas de metal ou feitas de polipropileno (PP) podem ser cozidas na pressão.

02 - polyproplogo.jpg
Este símbolo está pintado ou impresso na maioria dos itens de polipropileno​

Microboxes


Esses recipientes de polipropileno são uma excelente alternativa aos frascos de vidro. Eles vêm com um filtro acoplado na tampa e a tampa sela hermeticamente. Eles podem ir na panela de pressão e reutilizados. Já que são feitos de polipropileno, não há risco de ferimentos por cacos de vidro.

Bolsas com filtro embutido


Essas bolsas são especialmente desenvolvidas para a produção de spawn de grãos. Feitas de polipropileno elas têm um filtro colado num dos lados da bolsa. Tradicionalmente essas bolsas são esterilizadas abertas e seladas mais tarde, mas aqui tem algumas dicas de como esterilizá-las seladas. As bolsas precisam ser seladas com um bom selador de impulso. Seladores caseiros não funcionam porque o comprimento do selo é muito pequeno.

03 - jar_and_microbox.jpg
- Um microbox de 1000 ml e um frasco de 720 ml

04 - bolsa_com_filtro_acoplado_e_componentes_de_meio.jpg
- Bolsa com filtro acoplado e componentes de meio​

Fechando os recipientes


Frascos de vidro


Para esses frascos há algumas opções para fechá-los. É preferível usar Tyvek ou discos de filtro debaixo das tampas. Embora seja possível incubar os frascos sem qualquer tipo de filtro, apenas com as tampas soltas, é muito arriscado. Especialmente em ambientes sujos os frascos podem ser contaminados por esporos do ar.
Um buraco deve ser feito nas tampas. No caso de tampas de metal, os buracos são feitos com prego e martelo. O tamanho do buraco depende do tamanho do filtro que será usado. Se muita desidratação for observada durante a incubação, use mais filtros na próxima vez. Um pouco de experimentação será necessária até você conseguir o tamanho do buraco e material do filtro ideais.

05 - lid_with_hole.jpg
Tampa com buraco​

Os frascos são preenchidos com arroz e água e então o material é bem comprimido sob a tampa. A tampa pode ser fechada durante a esterilização já que o filtro permitirá que o vapor escape.

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- Centeio e água

07 - water_and_rye_in_jar.jpg
- Centeio e água combinados

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- Filtro em disco

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- Filtro Tyvek​

Tampas em frascos sem filtros nunca devem ser fechadas já que podem explodir/implodir durante a esterilização.

Os frascos são cobertos com uma dupla camada de papel alumínio para manter o filtro limpo e seco para a inoculação.

09a - jar_and_tyvek.jpg
- Frasco com filtro Tyvek

09b - jar_tyvek_and_lid.jpg
- Frasco tyvek com tampa

10 - jar_and_filterdisk.jpg
- Frasco com disco de filtro

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- Frasco coberto com papel alumínio​

Microbox


Esses recipientes já vêm com tampa. A tampa possui filtro, mas esse filtro não permite rápido escape do vapor. Portanto esses recipientes nunca devem ser esterilizados com a tampa fechada. Tampas fechadas resultarão em deformação ou outros danos aos frascos.

O recipiente é preenchido com arroz e água e então a tampa é deixada solta, fechando o recipiente em cerca de 3/4. Esse 1/4 da tampa deve permanecer aberta.

Os recipientes são cobertos com uma dupla camada de papel alumínio. Logo quando os recipientes forem tirados da panela devem ser imediatamente fechados.

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- Um pouco da borda deve ficar aberta

13 - microbox_foil.jpg
- Microbox pronta para esterilização​

Bolsas com filtro acoplado


Com alguns cuidados essas bolsas podem ser seladas antes de serem esterilizadas. Para mais instruções olhe aqui. Esterilizar bolsas abertas é possível, mas devem ser seladas logo que forem tiradas da panela ou deixadas numa câmara de fluxo laminar para esfriar.

14 - bag_before_sealing.jpg
- Água e centeio são combinados

15 - sealing.jpg
- A bolsa é selada com um selador de impulso

16 - good_seal.jpg
- Um bom selo duplo

17 - bag_ready.jpg
- Bolsa pronta para esterilização​

Receitas de substratos

No geral quanto mais um substrato é esterilizado num recipiente, mais seco ele deve ser. Grãos e água podem ser combinados e subsequentemente esterilizados. Não há necessidade de pré-cozinhar os grãos, a não ser no caso de sementes de pássaros. Durante o ciclo de esterilização o grão vai absorver a água, mas isso não será um pouco irregular. Os grãos debaixo ficarão mais úmidos do que os de cima, então os frascos precisam ser agitados para distribuir a umidade.
  • Frasco ou microbox de 500 ml
    125 g de centeio
    160 ml de água

  • Frasco ou microbox de 1.000 ml
    250 g de centeio
    280 ml de água

  • Bolsa com filtro acoplado (4 litros)
    1600 g de centeio
    1350 ml de água

Esterilização

Frascos e microboxes até 1000 ml são esterilizados por uma hora a 121°C. As bolsas requerem um muito mais, até três horas. Mais detalhes em como esterilizar bolsas seladas podem ser encontrados aqui.


18 - first_layer.jpg
- A primeira camada de bolsas

19 - second_layer.jpg
- A segunda camada de bolsas

20 - flaps.jpg
- As abas são dobradas

21 - rack.jpg
- O peso em cima é muito importante​

Logo quando as bolsas saírem da panela elas devem ser fechadas completamente, simplesmente apertando elas para baixo. Quando esfriarem, podem ser inoculadas.

22 - pressure_meter.jpg
- A pressão correta de esterilização

23 - jar_sterilised.jpg
- Frasco esterilizado, o centeio absorveu toda a água​

Inoculação

Possibilidades de inoculação


Agora que o substrato está esterilizado e descansando confortavelmente no recipiente é hora de inocular. Na teoria o substrato esterilizado pode ser mantido indefinidamente, mas na prática é melhor inoculá-lo o mais breve possível. À medida que o tempo passa o substrato vai secando e alguns contaminantes podem ser encontrados após algumas semanas de armazenamento.

Há quatro meios práticos de inoculação:

  1. Esporos em suspensão (seringa)
  2. Micélio em agar (clone ou germinação de multiesporos)
  3. Micélio em spawn de grãos esterilizado
  4. Micélio em suspensão (micélio líquido)

Esporos em suspensão


Uma seringa de esporos pode ser usada para inocular grãos esterilizados. Os esporos hidratados germinam facilmente no grão úmido e formam micélio. Geralmente os primeiros sinais de germinação podem ser notados entre 3 e 10 dias. A germinação depende da strain e idade dos esporos. Esporos bem hidratados germinam mais rápido do que os que foram raspados de um carimbo. Quando discos de filtro ou filtros Tyvek estão presentes, a seringa pode ser usada para perfurar o filtro e para injetar uma quantidade de esporos em suspensão. A quantidade de esporos em suspensão usada para um recipiente depende da disponibilidade de inoculante e da velocidade de colonização desejada. Mais inoculações frequentemente resultam em colonizações mais rápidas. Para frascos e microboxes, 1 ml de suspensão de esporos satisfaz. É claro, mais esporos em suspensão em combinação com agitação regular dos frascos resultam em desenvolvimento acelerado.

As bolsas são injetadas com 1-10 ml, mas podem muito bem ser injetadas com até 100 ml.

Injeção de esporos é um método fácil e eficiente para cultivadores novatos para inocular pequenos lotes de spawn.

Micélio em agar


Quadrados de agar podem ser cortados de uma placa Petri com um bisturi esterilizado e então colocadas dentro dos frascos. Já que o frasco tem que ser aberto, uma câmara (fluxo laminar, forno, glovebox) de inoculação é bem-vinda. Um ou mais quadrados são jogados nos frascos ou microboxes. Os recipientes são agitados e incubados.

Este método não funciona para bolsas já que não é prático cortar o selo das bolsas para pôr o quadrado de agar dentro dela.

Micélio em spawn de grãos esterilizado


Na teoria seria o melhor método e o mais rápido para propagar grandes quantidades de spawn, mas na prática não é tão fácil. Só é possível fazer essas transferências em um ambiente totalmente estéril ou grandes quantidades de contaminação serão encontradas. Achamos que este método tem potencial limitado para cultivadores caseiros.

Micélio em suspensão (micélio líquido)


Esse método é para quem pode gastar dinheiro e tem boas técnicas de esterilidade.

É possível criar grandes quantidades de spawn líquido de uma simples placa Petri talhando-o numa batedeira de laboratório e então diluindo o caldo. A quantidade total de micélio é de menor importância do que a quantidade de água que é dada a ele. Embora o crescimento inicial seja lento, começará em vários pontos do substrato.

Inoculações na prática


No geral quanto mais tempo o substrato esterilizado for exposto ao ar durante a inoculação, mais limpo deve ser o ambiente. Quando inocular frascos usando seringas, a área de trabalho deve estar limpa. Quando inocular bolsas com spawn de grãos uma câmara de fluxo laminar profissional é indispensável. Contaminantes do ar geralmente caem sobre o topo dos substratos, então quando um fungo estranho começar a crescer no topo do substrato inoculado é porque provavelmente ele foi exposto ao ar contaminado por muito tempo.

Na teoria na câmara de fluxo laminar tem-se 100% de sucesso, mas na prática, mesmo nas condições mais assépticas possíveis, contaminações são encontradas. Taxas de contaminação abaixo de 10% são consideradas boas.

Inoculação de frascos e microboxes


O modo mais fácil de se inocular frascos e microboxes é com uma seringa de esporos. A agulha é esquentada até ficar vermelha e é esfriada por 10 segundos. As camadas de papel alumínio são retiradas e o excesso de umidade é retirado com um tecido limpo. O filtro (Tyvek/discos de filtro) é perfurado com a agulha e 1 ml da suspensão é injetada no substrato. A agulha é retirada e o buraco imediatamente selado com uma gota de cola quente. (Alternativamente pode-se fazer outro buraco na tampa antes da esterilização. Esse buraco deverá ser tampado com fita, assim não será necessário perfurar o filtro dos frascos). Os frascos então podem ser agitados e incubados. Ao invés de cola, um pedaço de fita pode ser usada para tampar o buraco.

24 - puncture_filterdisk.jpg
- Perfurando o filtro

25 - glueing_filterdisk.jpg
- Fechando o buraco com cola​

Quando a tampa ou o filtro não puderem ser perfurados como no caso das microboxes, a tampa deve ser levantada um pouco e a agulha pode ser introduzida nesse local. A agulha é retirada, a tampa é fechada e a microbox é agitada e incubada. Já que nesse método há muito mais exposição ao ar, uma capela de fluxo laminar é desejável.

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- Um frasco inoculado com seringa

27 - inoculation_microbox.jpg
- Microbox inoculada com seringa​

Quando inocular com quadrados de agar não há escolha: tem que abrir a tampa para introduzir o agar. Novamente uma capela (improvisada) é desejável para esse tipo de trabalho.

28 - cutting_agar.jpg
Quadrados são cortados do agar

29 - agar_microbox.jpg
e jogados no substrato​

Inoculação de bolsas


Quando se trabalha com bolsas seladas a inoculação pode ser feita por injeção. Não é prático ou recomendado abrir uma bolsa esterilizada só para selá-la novamente após a inoculação. Trabalhar com bolsas abertas não é recomendado sem um laboratório e uma câmara de fluxo. Transferência de grão para grão não será discutida aqui.

O local de inoculação da bolsa é limpo com um tecido embebido em álcool, então a agulha da seringa (esterilizada no fogo) é introduzida. O líquido é injetado na bolsa (1-200ml), a agulha é retirada e o buraco fechado com fita ou cola quente. Seringas de esporos são boas para este método.

30 - bags_puncture.jpg
A bolsa é perfurada com a agulha

31 - bag_glueing.jpg
O buraco é fechado​

Incubação

Os grãos inoculados devem ser incubados a temperatura ótima da espécie cultivada. Uma temperatura muito baixa resultará em germinação e crescimento lentos. Uma temperatura muito alta vai fazer com que o micélio realize metabolismo amarelado (suor) que eventualmente adoecem o spawn.

Já que o micélio se desenvolvendo produz calor, um aumento na temperatura deve ser antecipado. Poucos frascos provavelmente não aquecerão a temperaturas críticas, mas bolsas de spawn irão, especialmente no verão. Bolsas que ficam muito quentes geralmente contaminam com bolores termofílicos (geralmente manchas pretas). Tenha muito cuidado ao manusear substratos contaminados já que algumas espécies de bolores e bactérias podem causar sérias complicações a humanos.

Para prevenir condensação nos recipientes, eles devem ser mantidos a temperatura constante o máximo possível.

Para acelerar o desenvolvimento, os frascos e as bolsas devem ser agitados regularmente por alguns dias para distribuir os grãos colonizados pelo substrato. Quando os grãos estiverem totalmente cobertos com micélio estão prontos para o uso.

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Microbox durante a colonização

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Microbox totalmente colonizado

42 - bag_growth.jpg
Bolsa durante a colonização

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Bolsa totalmente colonizada​

Contaminação

Com certeza spawn contaminado será encontrado. As contaminações surgem na forma de fungos e bactérias. Os fungos geralmente possuem cores como azul, verde, rosa etc. As bactérias aparecem como um filme pegajoso nos núcleos dos grãos. Quando estiver em dúvida, cheire o filtro do recipiente. Um odor medicinal ou mofado indica fungo enquanto um cheiro azedo/doce/estragado indica bactéria.

Spawn contaminado deve ser descartado. Bolsas contaminadas devem ser jogadas fora por completo. Os frascos podem ser limpos, mas só quando forem esterilizados para matar todos os contaminantes. Alguns contaminantes podem causar sérios danos em humanos e o fato de você estar lendo isso provavelmente significa que você não tem experiência suficiente para distinguir contaminações que não causam mal das que são perigosas. Nunca subestime os perigos de saúde associados a contaminantes!

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Bolsa contaminada com bolor

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Contaminação de bactéria​

Refrigeração

O spawn de muitas espécies pode ser refrigerado até a hora do uso. Embora a vitalidade decline, muitas espécies podem ser armazenadas por algumas semanas a 4-7°C. O micélio de Panaeolus, entretanto, nunca deve ser refrigerado porque ele perderá sua vitalidade em poucos dias.