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Saindo do armário

Ecuador

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Saindo do armário

j. p. cuenca

18/05/2015 01h46

Está dicionarizado em inglês o termo "outing" – o ato de explanar a orientação sexual de terceiros, normalmente celebridades e políticos até então dentro do armário.

O termo é relativamente novo e o tema, polêmico. Ativistas costumam justificar a evasão da privacidade alheia por combater a hipocrisia num mundo onde gays são alvo de preconceito e violência. Nos Estados Unidos e Inglaterra, congressistas que votavam contra direitos civis para os homossexuais já foram arrancados à força do armário. É comum que revejam suas posições.

Penso que deveríamos começar a pensar num outro tipo de "outing" que, a meu ver, é tão ou mais urgente que o primeiro. Abrir as portas do armário (ou seria a gaveta?) das drogas.

É fato que seres humanos consomem drogas desde a Idade da Pedra. É fato que a recente política de repressão falhou no mundo inteiro. Trata-se de uma das grandes tragédias do século passado que se arrasta por este: o custo social do combate armado às drogas é infinitamente superior ao custo de lidar com o uso regulamentado e legalizado dessas substâncias. A guerra não apenas não reduziu o número de usuários como matou mais do que qualquer droga seria capaz.

A militarização de um problema de saúde pública não interessa ao conjunto da sociedade e sim à indústria bélica e a vendedores de "segurança" institucional. Vivemos reféns de uma legislação que falha em resolver o problema e, no Brasil, alimenta uma guerra que elimina sistematicamente negros e pobres nas periferias. Para muita gente, essa letalidade deve fazer sentido – o tal do "gozo social", citando o Hélio Oiticica.

Conservadores não liberais costumam dizer que "o playboy do asfalto financia a bala do fuzil do traficante com o seu baseadinho". Essa falácia argumentativa desconsidera que o tráfico armado só existe por causa do proibicionismo e ignora as íntimas conexões financeiras entre respeitáveis lavadores de dinheiro, políticos, contrabandistas de armas, policiais, bancos e o tráfico. No fim das contas, quem ajuda a comprar a arma do miserável varejista na ponta do comércio é o voto na urna, via lobby da bala. A depender do caso, o dinheiro vai parar numa conta numerada do HSBC na Suíça. No morro apenas sobram os mortos, normalmente anônimos como os donos da grana –é a única coisa que têm em comum.

A grande maioria dos leitores deste texto não vive sob o estado de exceção legitimizado pela guerra às drogas e não corre o risco diário de ver o filho baleado por policiais ou traficantes. Assim fica confortável terceirizar o problema e dormir com ossadas embaixo da cama. Falta envolvimento e conscientização sobre o que é mais letal e nocivo quando se trata do tema das drogas: a própria política proibicionista.

A ideia de demonizar essas substâncias e marginalizar seus usuários é um dos pilares dessa política. Quanto mais usuários saírem do armário, mais a sociedade terá que encarar o uso de drogas recreativas com normalidade – ou ao menos como um problema cuja solução passa longe do fuzil e da prisão.

Imagine uma campanha que revele às senhorinhas eleitoras de Telhada ou Bolsonaro que seus ídolos, galãs e mocinhas das novelas, são maconheiros –e que tudo bem, levam suas vidas e decoram os textos normalmente. Ou o poder que teriam declarações de compositores, gênios da música brasileira e ídolos populares ao admitir que nas últimas décadas ingeriram consideráveis doses de cocaína e todo tipo de bolinhas?

Nos últimos dez anos perdi a conta de quantas estrelas de TV, músicos consagrados, escritores, dramaturgos, jornalistas, editores, galãs de novela, celebridades e capas de revista vi fumar unzinho ou esticar uma carreira em festinhas de apartamento ou camarins de shows. Não sou do tipo de escritor que confraterniza com políticos e autoridades, mas relatos dizem que não é muito diferente.

É muito fácil conseguir o que se quer nas esquinas e salões de qualquer cidade brasileira. Sou um fumante ocasional de maconha, skank e haxixe. Já fui mais assíduo com MDMA, minha droga preferida. Hoje tento diminuir para uma vez a cada duas ou três semanas porque a qualidade anda cada vez pior no Brasil. Aqui também é complicado encontrar bons opiáceos, ácidos e cogumelos, que só consigo no exterior.

Reconheço e assumo o risco dessas substâncias, a irresponsabilidade de comprá-las sem bula, mas nenhuma delas jamais me causou tanto dano físico e emocional quanto o álcool, a única droga legal que consumo. A única, aliás, que me gerou dependência.

O debate é urgente. Corro o risco de soar ingênuo ao esperar que figuras públicas abram suas gavetas advogando pelo fim de um proibicionismo que mata muito mais que qualquer droga.

Afinal, o meio artístico brasileiro hoje é um dos mais dóceis do planeta quando trata-se de desafiar o status quo – talvez por covardia pura e simples de contrariar quem emite seus contracheques e quem pode lhes oferecer um edital. Que tentem dormir tranquilos: para quem tem voz nesse país, ficar em silêncio é sujar as mãos.


http://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopaulocuenca/2015/05/1630249-saindo-do-armario.shtml
 
Me chamou a atenção o título do post, pensei: "Nossa, finalmente o @Ecuador "saiu do armário" ", mas é bem mais interessante o texto, muito bom, escreveu muito bem o Sr. Cuenca :)
 
Eu ainda prefiro viver à margem da lei, do que ver o consumo de cogumelos (e outros) legalizado, regulamentado, e assim transformado num comércio, lucrativo, e ao mesmo tempo perigoso.

Enquanto entendo os benefícios de uma regulamentação, em termos de redução de danos, temo que seja usada apenas como mais uma forma de arrancar dinheiro do povo, afim de enriquecer algum grupo de interessados.
Por mais que o dinheiro possa ser reinvestido em saúde pública, eu não acredito nisso, além de não precisar de orientação eu mesmo. Muito pelo contrário - a presto de graça.

Legalização aqui talvez também seja usado mais como mais pão e mais circo, do que como respeito a liberdade e educação...

Mas também achei que ia ver uma carta de apresentação do Ecuador, com nome, email e de quebra um feicemelo :roflmao:
 
Complexo. Acredito que é uma decisão muito pessoal de cada um. Yo que no soy famoso acho que não atraio muita gente para causa da regulamentação mostrando meu rostinho lindo :troll: mas o fato é que desde uns 25 anos mais ou menos, quase uma década, eu não escondo o uso de substâncias para pessoas de meu convívio.

Uma coisa eu tenho certeza; ao expor livremente minha opção pelo uso de substâncias alteradoras da consciência mais me prejudiquei do que obtive ganhos práticos.

Por um lado me incomodava demais a hipocrisia do "armário" (também na hora em que me envolvi mais diretamente com o ativismo pela legalização da cannabis ficou meio difícil esconder que não sou careta) então quando as pessoas sabem que você usa psicotrópicos isso traz uma sensação de liberdade. De ter a cara limpa.

Mas por outro lado os inconvenientes são muitos; tudo que você esquecer na vida; "eeee maconheiro" ou qualquer pisada de bola no trampo (quem nunca pisou né?); "iiii esse aí é doidão, sabia que ia fazer cagada" então o preconceito rola solto mesmo. Tem outra coisa chata que é ficar sendo escalado por tudo que é mané na fissura; "pô cê não tem um canal brother?" Realmente uma das coisas mais chatas de ter fama de maluco. Também acontecem injustiças do tipo acharem que você é muito mais pé na jaca do que você realmente é, ou creditarem sua inspiração (sou fotógrafo, ilustrador e videografista) ao mero uso de substâncias como se qualquer imbecil que usasse drogas fosse automaticamente capaz de criar por causa disso. Além da pior de todas que é ver aquela tia careta chata nas festas de família cheia de indiretas pra cima de você enquanto pensa que aquele seu primo cherador e putanheiro é um santo pq o viado se faz de bonzinho e anda por aí de barba feita e gravata! :roflmao:

Pessoalmente não me arrependo. Não gosto de fingir ser oq não sou. Quem quiser conviver comigo vai ter que aceitar o fato de que eu bebo, fumo e tomo cogumelos. As vezes tenho que enfrentar consequências duras por conta dessa minha postura de transparência (não apenas referente ao uso de psicotrópicos) mas ainda que sofrendo na pele prefiro isso à viver atuando. Coletivamente penso que o Cuenca está coberto de razão: Quanto mais pessoas saírem do armário menos forte será o tabu.
 
Por um certo tempo achei que era em vão a minha exposição em redes sociais (diria pro-plantas e fungos de poder) pois ,poucos eram os que comentavam e curtiam, porém eu ñ tinha imaginado que pessoas poderiam estar lendo , vendo e mantendo discrição,... o tempo passou e algumas pessoas que eu nem imaginava, se manifestaram pessoalmente de forma contundente , sobre a importância ou gatilho de reflexões de meus posts, hoje procuro postar algo se acho correto, independente dos frutos.
Sei que muita gente seria demitido do emprego ou prejudicaria sua imagem profissional se postar algo do tipo no face por exemplo , esses a gente ajuda a esconder dentro do armário desde que ñ jogue contra :roflmao: forte abraço pra todos, principalmente pra quem pode dar a cara a tapa!
 
A Folha deu espaço para uma réplica:

Não precisamos que nenhuma outra droga seja legalizada
ANA CECILIA MARQUES
ESPECIAL PARA A FOLHA

20/05/2015 02h00

Quando falamos de drogas de abuso, como o THC, o etanol ou outra droga psicotrópica, não estamos falando de um produto qualquer, e muito menos de um comportamento que se restrinja aos usuários.

Quer seja o uso agudo, quer seja o uso crônico, e até dependente, tais drogas produzem consequências sociais, psicossociais e econômicas, que vão muito além do indivíduo.

O consumo de drogas no país vem crescendo e vive-se a onda das drogas sintéticas.

Estamos falando de substâncias que são mais potentes, modificadas para um mercado diversificado. Todas são substâncias que alteram o cérebro em áreas essenciais à vida, como aquela que define a capacidade de obter alimento para sobreviver, reproduzir a espécie, emocionar-se, filtrar decisões, modelar nossa capacidade de adaptação e proteção.

É por isso que discordo do artigo do colunista J.P. Cuenca, publicado nesta Folha na segunda (18), e acredito que não precisamos de nenhuma outra droga legalizada.

Aliás, deveríamos aprender com aquelas que o são e perceber que a política sobre o tema está engatinhando. A principal vítima deste cenário é o adolescente, cujo cérebro, imaturo biológica e psicossocialmente, está exposto a todas as consequências deste comportamento.

O que precisa "sair do armário" é a parte mais séria de toda esta polêmica: é preciso registrar que existem muitos grupos econômicos na expectativa de mais uma droga legal, um negócio sem precedentes que só pode ser comparado ao comércio de armas e petróleo, e mais, que abrirá espaço para a legalização de todas as drogas no país.

A banalização do consumo de substâncias só serve ao interesse desses grupos.

Enquanto isso, porém, o que enxergamos é um debate cego, reduzido àqueles que são contra ou a favor.

Por que será que não é possível ter garantidos nossos direitos de não usar drogas? E viver em um país onde os princípios humanos de proteção das crianças, adolescentes e famílias sejam prioridades de todos os governos?

Não aceitamos usuários de drogas na prisão, e esperamos que a política preventiva os ajude a desistir do consumo ou evitá-lo. Somos contra uma assistência que só intervenha quando a dependência é tão grave que necessita internação. Não podemos admitir que traficantes fiquem livres para ir e vir em nossas praças sem controle.

A história do mundo, nos últimos 200 anos, mostra que muitos países que liberaram drogas sofreram verdadeiras tragédias sociais. Sem exceção, todos tiveram que endurecer as políticas para controlar a violência, a mortalidade e o aumento do número de dependentes.

O Brasil vive um dos seus maiores problemas de saúde e segurança públicas: o abuso de drogas. É tarefa de todos os brasileiros colaborar para que este fenômeno seja controlado por meio de uma política humana, justa e baseada em evidências, com direito à vida.

ANA CECILIA PETTA ROSELLI MARQUES é psiquiatra, professora afiliada da Unifesp e presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

http://www1.folha.uol.com.br/equili...que-nenhuma-outra-droga-seja-legalizada.shtml
 
Não levem essa mulher a sério. Ela é cupincha do Ronaldo Laranjeiras. São da lucrativa mafia das internações. Uma gente horrorosa que envergonha a psiquiatria. Como de costume seu texto é um festival de inverdades e clichês proibicionistas. Verdadeira phd em obscurantismo.
 
Pelo menos no caso da C. Sativa, tenho curiosidade de saber quais seriam os impactos sociais da legalização.. Porque, diferente de outras substâncias sintéticas, ela é muito fácil de produzir, então imagino que parte considerável da população teria a planta em casa...
(Nem bebidas alcoólicas podemos produzir assim facilmente, e olha o impacto que elas causam!)
Será que teríamos o tempo todo pessoas andando por ai 'chapadas'?
 
Porque, diferente de outras substâncias sintéticas, ela é muito fácil de produzir, então imagino que parte considerável da população teria a planta em casa...

Pois eu acho que a maioria dos usuários optaria em comprar mesmo. Não que isso seja argumento contra a liberação, mas certamente surgiriam grandes fornecedores no mercado.


quais seriam os impactos sociais da legalização

No caso de liberação de quaisquer drogas, e olha que eu sou favorável a liberar de uma forma ou de outra todas elas, sempre há a possibilidade de aumentar a base de usuários. E de que os efeitos colaterais prejudiciais provoquem custos sociais relacionados a cuidados médicos, acidentes, etc.

Veja por exemplo o tabaco, que teve até seu uso restrito na Europa, no início, e depois foi explorado por uma indústria crescente. É tragicômico ver os anúncios de tabaco do início do século 20. E em certa época praticamente toda a população masculina do ocidente e de outras partes do mundo usava tabaco, além de boa parte das mulheres. E a batalha para provar os malefícios do mesmo foi dura, e continua. Hoje já há um consenso que faz mal, pelo menos, e o número de tabagistas está diminuindo.

Em relação a essa planta discutida, apesar do grande número de propagandistas que lhe atribuem propriedades maravilhosas (de tão maravilhosas inevitavelmente são suspeitas ...) há certos problemas conhecidos. Inalar fumaça nunca será uma boa atitude se você preza os seus pulmões. Mesmo se deixarmos de lado esse modo de uso sobram os outros efeitos colaterais conhecidos: tendência de uso uso compulsivo em pelo menos 10% dos que chegam a experimentar, e desencadeamento de sintomas paranoicos, neuróticos e psicóticos em uma parcela da população que é sensível. Imagino que com o tempo haveria uma conscientização, como ocorreu com o tabaco, e quem escolhesse usar, seja lá por qual motivo, estaria mais consciente de que tudo tem seu preço.
 
Em relação a essa planta discutida
Sem querer entrar a fundo nessa discussão, que alias não é o foco do tópico. O consumo causa queda considerável da testosterona o que pode levar a alguns problemas de saúde. Com a interrupção do uso alguns usuário que estavam habituados podem ficarem agressivos, não que ocorra em todos os casos mas é uma tendencia, já que o organismo volta ao nível "normal" de testosterona, se é que volta, até se habituar com hormônio de volta.
 
Última edição:
Rapaz minha cidade bem que poderia se beneficiar de uma queda geral nos níveis de testosterona...:roflmao:

Sou amplamente favorável a regulamentação (assim em alguns casos consequente legalização) de todas as substâncias químicas incluindo, claro, as psicotrópicas. Que THC ou psilocina podem ter potencial daninho é óbvio, mas se for pra proibir alguma substância ou controlar sua produção e comércio de forma rígida... Que seja a pólvora. (lembrei aqui daquele poema do Charles, sobre o diabo, que tem um trecho mais ou menos assim: Eu que ao homem, nas mãos da desventura um títere, ensinei a misturar o enxofre com salitre :geek:)

Eventuais custos de saúde pública seriam largamente compensados pelo corte no orçamento do aparato repressivo. As substâncias controladas seriam menos nocivas, o cartel farmacêutico JÁ explora atualmente um grande leque de alteradores de consciência legalizados, nos EUA, por exemplo, são uma praga, e não penso que a cannabis ou a cocaína teriam um impacto tão devastador em relação ao impacto que já possuem. Vejam uma droga como o crack, uma das mais nocivas à sociedade brasileira: Sequer existiria crack, que é um subproduto, se a cocaína não tivesse um preço tão alavancado pelo mercado negro.

Scusi pelo off topic.
 
Eu fico revoltada com a hipocrisia da sociedade, daquela próxima mesmo, nem vou entrar no âmago governo/midia.
Sou a unica de um grupo de amigas da faculdade que assume a paixão pela cannabis, por exemplo. Fumar todas fumam ou já fumaram, mas recebo uma reprovação violenta toda vez que toco no assunto. É como se eu estivesse agindo de maneira repugnante, imoral e indecente, quase como uma molestadora de óvulos.
Quando saímos, elas enchem a cara e acham lindo. Como se o álcool não fosse o mais letal entorpecente do mundo. Eu, acho que como a maioria dos amantes de enterógenos, detesto álcool. E a reprovação é dupla: -nossa, como assim vc não bebe se vc é "a" drogada?
Ninguém pergunta nem quer saber a verdade. Elas não querem saber se a cannabis é a única coisa que alivia minha enlouquecedora dor na coluna. Elas não querem saber que a Aya cura pessoas muito doentes. Isso é coisa de "nóia" que não vai ser nada na vida. Elas apontam o dedo e nada mais importa.
 
recebo uma reprovação violenta toda vez que toco no assunto.
"Sair do armário" ou não, é uma decisão pessoal e individual. Se você respeita as suas amigas, convém não entregá-las na frente de todo o mundo...

Quando saímos, elas enchem a cara e acham lindo.
...porque o álcool, assim como o café e o cigarro, é uma droga socialmente aceita. Os enteógenos em geral ainda não são. E para o resto da sociedade os usuários tanto de uns quanto de outros carregam um estigma, que independente da opinião de quem conhece do assunto, afeta, sim, as relações com a dita sociedade. (vide tópico: Ética, postura e inteligência )

Como se o álcool não fosse o mais letal entorpecente do mundo.
Causa muitos acidentes de trânsito por exemplo, mas isso porque é legalizado. Eu consigo dirigir bêbado, mas certamente não durante uma trip de psicodélicos. Com mais pessoas por aí sob efeito de outras substâncias, incluindo enteógenos, também pode ser que aumentem as fatalidades. Quem sabe?

Eu, acho que como a maioria dos amantes de enterógenos, detesto álcool.
Posso falar por mim que continuo bebendo álcool, mesmo após os enteógenos. Não encho a cara, mas ainda aprecio um licor ou um bom vinho. Às vezes, desço uma vodka ou tequila. Churrasco tem que ter cerveja.

a cannabis é a única coisa que alivia minha enlouquecedora dor na coluna. Elas não querem saber que a Aya cura pessoas muito doentes.
Não vá/venha achando que tudo são flores... Não esqueça que a cannabis têm efeitos indesejáveis, assim como até mesmo os cogumelos têm alguns riscos (neuropsiquiátricos, principalmente). Enteógenos não são apenas cura para tudo e para todos, precisam ser usados como tal apenas quando realmente necessários, e com responsabilidade.
 
Caramba Lu@, teu depoimento parece até que foi escrito pela minha mulher, que passa a mesma coisa com as amigas, também gosta de ayahuasca por suas propriedades curativas e tb tem dores na coluna muito fortes aliviadas pela cannabis (e tandrilax nas crises agudas)...Hehehehe, a única diferença é que ela gosta de beber!
 
Desculpem por responder sem nenhuma palavra foi devido a net aqui tá muito lenta. Editando...

Bom, moro em comunidade e sem bem o que passamos devido a proibição das drogas, e como as pessoas de classe mais baixas são descriminadas pelo seu uso, já o ''playboy'' ou a ''patricinha'', tá tudo bem só estão dando ''umzinho''... Inclusive a qualquer hora a polícia entra a qualquer hora em sua casa fazem o que quer... Será que fazem isso em área nobre!? claro que não! Às vezes tenho até medo de entrarem na minha casa e descofiarem sobre meu cultivo dos cubensis e implicarem com isso...

Jahbaa, passo por problemas parecidos com o seu, por consequência de ter exposto meu uso dos cogumelos... Uma vez eu estava dando uma lida sobre o suillos granulatus, e um cara viu a foto e comentou com outro: olha lá, toma chá de cogumelo, é ''doidão'' (mal o sabe que o suillos não é psicoativo). E essas mesmas pessoas que julgam, fumam, bebem café, tomam remédios...
 
Última edição:
Desculpem por responder sem nenhuma palavra foi devido a net aqui tá muito lenta. Editando...

Bom, moro em comunidade e sem bem o que passamos devido a proibição das drogas, e como as pessoas de classe mais baixas são descriminadas pelo seu uso, já o ''plabo'' ou a ''patricinha'', tá tudo bem só estão dando ''umzinho''... Inclusive a qualquer hora a polícia entra a qualquer hora em sua casa fazem o que quer... Será que fazem isso em área nobre!? claro que não! Às vezes tenho até medo de entrarem na minha casa e descofiarem sobre meu cultivo dos cubensis e implicarem com isso...

Jahbaa, passo por problemas parecidos com o seu, por consequência de ter exposto meu uso dos cogumelos... Uma vez eu estava dando uma lida sobre o suillos granulatus, e um cara viu a foto e comentou com outro: olha lá, toma chá de cogumelo, é ''doidão'' (mal o sabe que o suillos não é psicoativo). E essas mesmas pessoas que julgam, fumam, bebem café, tomam remédios...
Tem preconceito com cogumeleiros até em circulo daimista, etc...então não é fácil encontrar pessoas com as quais podemos abrir o coração sobre os cogus, as vezes chega a dar pena de pessoas que rejeitam sistematicamente qualquer dialogo sobre psicoativos:)
 
Outra coluna do Cuenca, sobre um desdobramento do assunto.

http://www1.folha.uol.com.br/coluna...ner-moura-e-demais-artistas-brasileiros.shtml

Wagner Moura e demais artistas brasileiros

21/08/2015 02h00

Em entrevista a "Rolling Stone" deste mês, o ator Wagner Moura foi questionado sobre o que achava de um texto meu, "Saindo do armário". Moura interpretou o Capitão Nascimento, e divulga no momento um seriado onde fez o traficante Pablo Escobar. A escolha de papéis tão simbólicos e sua opinião favorável à descriminalização das drogas fazem a pergunta do repórter André Rodrigues pertinente. Meu texto é uma convocação a personalidades como ele.

Cito a resposta inteira: "Eu li e achei que vai muito bem até o parágrafo final, que é um tanto quanto chantagista. Se você é uma pessoa pública, então tem a obrigação de sair do armário, de dizer que é gay, que fuma maconha ou cheira cocaína? Desculpa, ninguém tem a obrigação de falar da vida pessoal. Nesse sentido sou liberal. Vale a liberdade de cada um. O compromisso do artista é com a sua arte. Nenhuma pessoa tem que colocar sua vida pessoal na roda."

O ator segue: "Por um lado, não me oponho a falar de política. Mas não gosto de falar sobre a minha vida. Eu sou a favor da liberdade de cada um ser quem é. Não venha me chantagear." E ainda, sobre ser perguntado se consome drogas: "A minha vida pessoal é minha vida pessoal. Por que eu não falo com revistas de celebridades? Porque é esse o tipo de pergunta que eles iriam fazer. Então, não espero essa pergunta de outro tipo de jornalismo."

No resto da entrevista, Wagner Moura fala sobre engordar para fazer personagens, ter um pai que era sargento e uma mãe dona de casa, criar os filhos numa bolha social no Rio de Janeiro, ser rotulado como esquerda caviar e, ainda, sobre ter chorado ao fim do filme "Divertida Mente". Ele também classifica a nossa geração, que nasceu durante a ditadura militar, como alienada. Apesar disso, seus posicionamentos políticos, detalhados de forma coerente ao longo das respostas, são afinados e o discurso é progressista. Além da legalização das drogas, o ator é a favor da legalização do aborto, do casamento gay e da política de cotas raciais. Tirando o momento em que classifica meu texto de chantagista, não discordo das suas respostas bonitas. Ocupamos exatamente o mesmo espectro ideológico.

No entanto, há uma evidente diferença. E acredito que ela começa justamente na palavra chantagista. Segundo o dicionário Houaiss, chantagem é a "pressão exercida sobre alguém para obter dinheiro ou favores mediante ameaças de revelação de fatos criminosos ou escandalosos (verídicos ou não)". O Aurélio ainda usa, ao lado de dinheiro e favores, a palavra vantagens.

O ator Wagner Moura diz que fui chantagista em meu último parágrafo. Além de não ter ameaçado revelar nada sobre ninguém, tenho dificuldades em enxergar quais vantagens, favores ou dinheiro eu poderia ganhar com uma confissão de usuário dele ou de qualquer outro artista. Aliás, meu posicionamento político e chamadas duras e antipáticas como a feita no texto dito chantagista só tem me feito perder vantagens, favores e dinheiro. Vantagens, favores e dinheiro do tipo que os artistas brasileiros, igualmente incomodados no discurso e confortáveis em suas bolhas, morrem de medo de perder. Obrigação? Não tenho, mas prefiro não correr o risco de desconfiar que me transformei num hipócrita bem remunerado.

Eu não ganharia nada com uma declaração de usuário de um ator. Mas talvez sim a sociedade como um todo. No caso, não apenas Wagner Moura é um grande intérprete e uma celebridade, mas o sujeito que incorporou o personagem mais marcante do cinema brasileiro em décadas, o capitão do Bope Roberto Nascimento. Um homicida fardado que transformou-se na personificação máxima da política de Estado que usa o proibicionismo como pretexto para marginalizar, oprimir e assassinar milhares de jovens negros em favelas e nas periferias de todo o país. É histórico: um dos principais símbolos da naturalização desse genocídio pela sociedade brasileira é o capitão Nascimento. Se o ator que interpretou esse personagem consumisse drogas atualmente, uma saída do armário seria revolucionária. Os dois, por motivos bastante diferentes, são ídolos nacionais.

Vivemos um momento em que a discussão finalmente está em pauta nas ruas e no STF (Supremo Tribunal Federal). Como a ideia de demonizar essas substâncias e marginalizar seus usuários é o principal pilar do proibicionismo, quanto mais usuários célebres saírem do armário, mais a sociedade começará a encarar o uso de drogas recreativas com normalidade –ou ao menos como um problema cuja solução passa longe do fuzil e da prisão. Se a sociedade brasileira tem aceitado por décadas o genocídio com tanta facilidade, por que não uma política liberal de drogas?

Os posicionamentos políticos do ator que confunde pedido de posição política com jornalismo de celebridades são bonitos na fotografia, mas tomadas de posição invisíveis a sociedade se não acompanhadas justamente de uma declaração pessoal. Quem escolhe o lugar confortável de priorizar a "liberdade de não falar da vida privada", talvez tenha que seguir vivendo num país onde a maioria não tem liberdade. E vive com medos de outra ordem.

Em 2015, a sua vida é política. Acabou o conforto. Calar-se é, na melhor das hipóteses, subestimar a importância de alguém com o seu peso na sociedade brasileira. No entanto, o futuro não terá o mesmo julgamento: o silêncio dos artistas será visto como cumplicidade e omissão. Sim, Wagner Moura e demais artistas brasileiros, transformei-me num chato disparando um "j'accuse" por semana. Não é simpática a abordagem, mas sabemos que um tiroteio ou uma dura numa favela é muito menos.

Em tempo, o meu parágrafo chantagista foi esse: "Afinal, o meio artístico brasileiro hoje é um dos mais dóceis do planeta quando trata-se de desafiar o status quo –talvez por covardia pura e simples de contrariar quem emite seus contracheques e quem pode lhes oferecer um edital. Que tentem dormir tranquilos: para quem tem voz nesse país, ficar em silêncio é sujar as mãos."
 
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