- 19/01/2023
- 10
- 3
- 24
Olá pessoal!
Tenho 22 anos, ano passado iniciei o consumo de Cogumelo Cubensis. Naquela época, provavelmente deveria ter usado 2/3x micro-drosagens até que, de forma arbitrária, com pouco conhecimento e responsabilidade, ingeri 6G de Cubensis de uma só vez. Tinha 21 anos no momento e o uso foi feito em minha residência na fazenda, sozinho, sem chances de interrupções. O relato que segue abaixo é de minha autoria e completamente fidedigno. Foi escrito logo após o fim da viagem, em um espaço curto de tempo... porém, inseri no fórum apenas a parte final do relato, durante as possíveis visões da clara-luz e da dissolução total do ego. Segue o texto abaixo:
"Me deitei na sala e tentei fechar os olhos, porém, as figuras arquitetônicas estavam na minha mente, já com a percepção de espaço/tempo completamente perdida, não sabendo o que iria acontecer após a viagem e se, de fato, algum dia, voltaria ao normal.
Deitado no sofá, deveriam ser entre 1 e 2h da manhã, entrei em colapso e iniciei com os pensamentos suicidas. Esse foi o ápice, a completa dissolução e morte do meu próprio eu. Comecei com os pensamentos reflexivos sobre minha existência, me questionando: Quem sou e porque faço as coisas desse jeito? Por que as pessoas agem dessa forma? O ponto mais forte dessa reflexão foi quando, voltando à algum passado que não presenciei, visualizei o mundo antes da invenção dos celulares, viajando por uma linha do tempo até os dias atuais, pensando nas construções sociais que moldaram/moldam as pessoas, e que essas, muitas vezes, sem motivo ou propósito, aceitam e adotam como “leis” apenas para seguir o ciclo que outras pessoas também seguiram e continuarão seguindo. Quando iniciei com essa linha do tempo, me senti enraizado na natureza e na história, me questionando cada vez mais: Por que faço o que faço? Foi então, que cheguei no auge dos pensamentos suicidas, encontrando a “resposta” para tudo: Qual a resposta? Não há exatamente como defini-la, porém, tinha a sensação de a ter encontrado.
Naquele momento só queria tirar a minha vida para descansar. Tentei procurar papéis para escrever algo, talvez uma carta de despedida, mas não encontrei. A sombra do corredor parecia me chamar para atravessá-lo e pegar a arma que estava em cima do armário, atirando e tirando minha vida. Neste momento, eu já estava completamente sem roupa, sensível e com medo, talvez com certa vergonha de alguém me encontrar vivo e delirando daquele jeito, por isso, pensei que deixar de lado a vida, poderia ser a melhor saída. Pensei naquele momento: minha vida é ótima, não estou triste e nem deprimido, porém, preciso descansar, então deixarei que ela termine agora, me despedindo com cartas ou talvez áudio dos meus amigos e familiares, explicando que naquele momento, havia encontrado a resposta para todas as perguntas que poderia fazer. Ressalto que nesse momento, havia perdido completamente a noção de onde eu estava, imaginando estar em um quadro de esquizofrenia e delírio (e talvez, de fato, estivesse).
Deixo muito claro nessas linhas, que naquele momento eu realmente havia encontrado a resposta para tudo, não me lembro certo de como, mas lembro do resultado daquelas ideias e pensamentos... estava entregue. Só queria parar de ver as alucinações em minha mente, fiquei em torno de 2-3h nesse estado forte, desagradável, suicida e fascinante. No meio disso tudo, quando tirei minha roupa para me deitar no quarto, abri a janela e senti a necessidade de vomitar um pouco, não sei bem certo o motivo. Após vomitar pela janela, olhei concentrado para fora e vi as estrelas, vi todo o mato e me senti parte daquilo, estava muito forte, eu só queria pertencer a aquele lugar, aquela casa, sentia que o fim deveria ser ali mesmo. Após esse quadro de delírio e após ter encontrado todas as respostas, apenas permaneci deitado no sofá olhando para o corredor, sem medo de vultos e visagens, mas sim, horripilado pelo fato de não conseguir olhar direito para as coisas, me mexer e falar adequadamente, havia “enlouquecido” por horas. Pensei comigo mesmo: não tirar a minha vida ainda, vou aguardar mais algumas horas até amanhecer e se esses pensamentos não pararem, eu atiro em mim e acabo com tudo isso... morrerei tranquilo e feliz. Na hora pensei em algumas personalidades que tiraram a própria vida, como Kurt Cobain.
A parte interessante disso tudo, era como se todos estivéssemos interligados em uma linha do tempo, com algo nos conectando. Tanto na parte dos pensamentos suicidas, como também durante o filme, parecia que éramos todos uma “essência” só, como se nos conhecêssemos, algo nesse sentido.
Em algum momento, por volta das 4h da manhã, algo me despertou e pisquei os olhos com muita firmeza, depois de horas de alucinação e entrega total da minha vida e do meu corpo. Foi aí que de forma lenta, os pensamentos dentro da minha cabeça, com figuras arquitetônicas longas e finas pararam. Me levantei para ir ao banheiro, ainda sem medo do escuro e com tudo magicamente colorido e lindo, porém, mais leve. Me olhei no espelho e caí num choro profundo, lamentando que quase teria tirado minha vida em alguns minutos anteriores. Chorei e senti orgulho daquilo que havia passado na minha vida, assim como na experiência psicodélica. No fim das contas, poderia ser o que eu tanto estava buscando, mas de uma forma muito desagradável, assustadora e desafiadora, colocando em xeque a minha existência.
Voltei ao sofá para dormir, porém não conseguia, percebi que se mantivesse os olhos fechados iria delirar novamente, com as imagens e esculturas voltando para a minha mente. Foi então que liguei as luzes da sala novamente e comecei a andar pela casa, tomando meu sentido de realidade.
Ainda andando pela casa, peguei a caixa de álbuns fotográficos antigos que estavam no quarto, visualizei algumas fotos de mim e minha irmã na infância e caí num choro muito profundo, lamentando quase ter tirado a minha vida e prometendo dar amor a ela. Após isso, lembro de ter andado para a cozinha, aberto as cortinas, sentado no chão e me escorado com as costas na parede. Ainda chorando, coloquei de forma totalmente aleatória uma música do Alice Cooper, que não lembrava de ter ouvido na minha vida - ALICE COOPER/YOU AND ME. Isso foi importante e marcou o fim de toda aquela viagem. Ouvi toda a música escorado na parede e ainda chorando intensamente. Nesse momento, havia voltado quase que 100% para a realidade.
Após a música ter acabado, me levantei e fui organizando a sala e os outros cômodos da casa. Coloquei minha roupa completa, arrumei a cama e me deitei cansado e confortável na cama, percebendo que tudo havia acabado."