- 01/05/2007
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Não resisto, vendo todos esses relatos legais: vou falar aqui da primeira vez que consumi psilocibina.
2002. Havia feito uma festa de despedida na noite anterior e uma de minhas amigas, Cam, me deu um saquinho e fechou as minhas mãos em torno dele, dizendo: "divirta-se". Mal sabia eu.
No dia seguinte fui atrás do saquinho, crente que era uma inocente maria joana. Aí vejo os chapéuzinhos, tão lindos. Eram mais de 20 pequenos Liberty Caps (psilocibe semilanceata, creio), secos, minúsculos. Eu já tinha lido o Erowid.com, sabia o que poderiam causar. Estava mesmo atrás dessa expansão de consciência, e agradeci mentalmente a Cam milhares de vezes.
Decidi tomar tudo. Naquela noite, pedi a outros dois amigos, Dinnie e Paul, que cuidassem de mim enquanto eu passava por isso.
E foi assim:
Triturei os pequenos com suco de laranja de caixa e tomei o copo todo de uma vez.
15-20 minutos depois da ingestão, Dinnie me mostrava umas fotos que havia feito na cidade quando comecei a rir de alguma coisa engraçada, em uma das fotos. Racionalmente falando, nem era assim tão engraçado, mas eu simplesmente não conseguia parar de rir. Tentava explicar pra ela que não estava tirando sarro das fotos, e ela dizia: "eu sei, querida", e aí eu ria mais, até chorar de rir. Dinnie me olhava, entre divertida e levemente preocupada.
Então olhei para uma parede, limpando as lágrimas. Parecia ter detalhes intrincados, qualquer reentrância ou mofo virava uma miríade de ondas em movimento.
Aí realmente começou. Da parede de repente destacou-se um tipo de Buda mais pro feminino, sentado, em cima de uma lótus. As figuras nos quadros das paredes saltavam, se mexiam, havia tanto que olhar...
Os objetos ficavam distorcidos, e meus amigos começaram a adquirir feições de desenho animado, além de deixarem traços coloridos atrás de si quando andavam à minha volta.
Meus outros sentidos (além da visão) ficaram extremamente aguçados. Eu podia escutar conversas sussurradas como se fossem discussões em voz alta. Minha respiração soava como uma tempestade, às vezes.
Me senti claustrofóbica e desconfortável na sala, e fui cambaleando até o quarto ao lado, onde me enfiei debaixo de um edredom. O quarto parecia bem maior do que era, e parecia fazer um “hhhmmmmmwowoowowmmm” à minha volta, como se estivesse vivo. Havia um quadro de Magritte no quarto, do qual saltavam rostos.
O campo visual começou a saturar de imagens em movimento, cores, tudo convergindo em mandalas que dificultavam a minha visão do espaço normal.
A partir disso tudo começou a ficar extremamente confuso.
Eu estava com frio, mesmo debaixo do Edredom, e entre grunhidos consegui pedir aos meus sempre presente amigos que me dessem um casaco. Me deram um suéter virado do avesso! Tentei fazer sentido daquilo e simplesmente não conseguia – estava além dfas minhas capacidades lógicas naquele momento. Joguei-lhes o casaco de volta, chorando e rindo. Eles perceberam, desviraram do avesso e me ajudaram a vestir o casaco.
Aliás, “chorando e rindo” era o meu estado mais constante. Eu passava do riso às lágrimas em questão de segundos, literalmente.
Chorava porque estava tão sensível que meus amigos conversando (eles estavam sob efeito de uísque, blé) – o som de suas vozes potencializado – parecia uma agressão. Dinnie tentando impedir a gata (havia uma gata na casa, a Bijú) de sair pela janela aberta do quarto foi tão estressante!! Em dado momento tudo ficou tão absurdo e excessivo que tive que implorar para que ficassem quietos, em silêncio absoluto.
A verdade é que eu não suportava qualquer estímulo externo. E achava que qualquer som meu acordaria os vizinhos ;D
Ficamos todos em silêncio pelo que pareceram 30 minutos (Paul disse que foram 4) e então eu, que já havia regredido aos 5 anos de idade (tudo era novo, tudo), finalmente dissolvi.
Ainda não consigo descrever – o mais próximo talvez seja dizer que “me uni ao universo”, que clichê maravilhoso. Era uma com tudo. Paul disse que minhas pupilas estavam maravilhosamente dilatadas, e disse que eu olhava em, êxtase para algum ponto específico que ele não conseguia localizar. Lágrimas escorriam livremente pelo meu rosto. Não havia mais “Eu”, era inconcebível que qualquer partícula que fosse estivesse dissociada de todo aquele “Todo”. Eu, meus amigos, a gata, os vizinhos, todos parte de tudo.
Não sei quanto tempo esse pico durou (Dinnie e Paul falavam em sussurros), mas aos poucos fui voltando à criança de 5 anos. A voz calma e firma de Dinnie me trazia ao chão bem devagar, enquanto Paul e sua camisa de estrelinhas asseguravam que fosse o mais divertido possível.
Quando comecei a entender palavras de novo (Porque antes a frase mais simples não tinha o menor sentido), pedi música. Dead Can Dance.
Toda vez que eu ia ao banheiro era uma aventura. Tinham que me segurar, porque eu rodopiava e dançava – dançar era foda, era como se todo o quarto, todos os móveis e quadros e até o próprio ar fossem meus parceiros de dança – deixando trails em todo lugar. No banheiro, me olhei no espelho 2 ou três vezes, sempre com cautela. Achava que meu problema de baixa auto-estima ia trazer alguma alucinação desagradável. Imaginem: tudo o que vi foi uma rainha das fadas (que coisa hippieeeeeeeeeeeaaaahhh), uma mulher de sorriso de desenho animado cercada por fios coloridos dançantes no ar e olhos grandes e brilhantes. Eu estava fascinante ))
Dinnie falava com Paul sobre coisas e pessoas, mas eu era incapaz de distinguir afirmações de ironias, e os raciocínios mais complexos (como descrições de ações das pessoas mencionadas) se perdiam. Minha atenção não se fixava. A Linguagem ainda não fazia sentido.
O interessante era que toda vez em que eles mencionavam nomes era como se eu visse as pessoas correspondentes despidas de qualquer máscara – classificações de aparência e personalidade soavam sem sentido por serem superficiais. Afinal, éramos todos parte do mesmo Todo.
Emocionalmente eu estava aberta, totalmente sem qualquer proteção do Ego.
Em determinado momento iniciou-se uma música do DCD muito triste, uma antiga canção irlandesa de amor e morte. E eu fui invadida pela tristeza. Dinnie quis tirar, pular a faixa, mas implorei que deixasse, eu queria viver aquilo. “A tristeza é necessária”, balbuciei entre soluços. Ficaram ambos em silêncio enquanto eu chorava e chorava. Era como “ser” a própria tristeza, incrivelmente libertador.
Bom, além de tudo isso também falei várias coisas que não diria sóbria ;D
Quando a manhã raiou, fomos caminhar pela cidade até um cemitério antigo.
2002. Havia feito uma festa de despedida na noite anterior e uma de minhas amigas, Cam, me deu um saquinho e fechou as minhas mãos em torno dele, dizendo: "divirta-se". Mal sabia eu.
No dia seguinte fui atrás do saquinho, crente que era uma inocente maria joana. Aí vejo os chapéuzinhos, tão lindos. Eram mais de 20 pequenos Liberty Caps (psilocibe semilanceata, creio), secos, minúsculos. Eu já tinha lido o Erowid.com, sabia o que poderiam causar. Estava mesmo atrás dessa expansão de consciência, e agradeci mentalmente a Cam milhares de vezes.
Decidi tomar tudo. Naquela noite, pedi a outros dois amigos, Dinnie e Paul, que cuidassem de mim enquanto eu passava por isso.
E foi assim:
Triturei os pequenos com suco de laranja de caixa e tomei o copo todo de uma vez.
15-20 minutos depois da ingestão, Dinnie me mostrava umas fotos que havia feito na cidade quando comecei a rir de alguma coisa engraçada, em uma das fotos. Racionalmente falando, nem era assim tão engraçado, mas eu simplesmente não conseguia parar de rir. Tentava explicar pra ela que não estava tirando sarro das fotos, e ela dizia: "eu sei, querida", e aí eu ria mais, até chorar de rir. Dinnie me olhava, entre divertida e levemente preocupada.
Então olhei para uma parede, limpando as lágrimas. Parecia ter detalhes intrincados, qualquer reentrância ou mofo virava uma miríade de ondas em movimento.
Aí realmente começou. Da parede de repente destacou-se um tipo de Buda mais pro feminino, sentado, em cima de uma lótus. As figuras nos quadros das paredes saltavam, se mexiam, havia tanto que olhar...
Os objetos ficavam distorcidos, e meus amigos começaram a adquirir feições de desenho animado, além de deixarem traços coloridos atrás de si quando andavam à minha volta.
Meus outros sentidos (além da visão) ficaram extremamente aguçados. Eu podia escutar conversas sussurradas como se fossem discussões em voz alta. Minha respiração soava como uma tempestade, às vezes.
Me senti claustrofóbica e desconfortável na sala, e fui cambaleando até o quarto ao lado, onde me enfiei debaixo de um edredom. O quarto parecia bem maior do que era, e parecia fazer um “hhhmmmmmwowoowowmmm” à minha volta, como se estivesse vivo. Havia um quadro de Magritte no quarto, do qual saltavam rostos.
O campo visual começou a saturar de imagens em movimento, cores, tudo convergindo em mandalas que dificultavam a minha visão do espaço normal.
A partir disso tudo começou a ficar extremamente confuso.
Eu estava com frio, mesmo debaixo do Edredom, e entre grunhidos consegui pedir aos meus sempre presente amigos que me dessem um casaco. Me deram um suéter virado do avesso! Tentei fazer sentido daquilo e simplesmente não conseguia – estava além dfas minhas capacidades lógicas naquele momento. Joguei-lhes o casaco de volta, chorando e rindo. Eles perceberam, desviraram do avesso e me ajudaram a vestir o casaco.
Aliás, “chorando e rindo” era o meu estado mais constante. Eu passava do riso às lágrimas em questão de segundos, literalmente.
Chorava porque estava tão sensível que meus amigos conversando (eles estavam sob efeito de uísque, blé) – o som de suas vozes potencializado – parecia uma agressão. Dinnie tentando impedir a gata (havia uma gata na casa, a Bijú) de sair pela janela aberta do quarto foi tão estressante!! Em dado momento tudo ficou tão absurdo e excessivo que tive que implorar para que ficassem quietos, em silêncio absoluto.
A verdade é que eu não suportava qualquer estímulo externo. E achava que qualquer som meu acordaria os vizinhos ;D
Ficamos todos em silêncio pelo que pareceram 30 minutos (Paul disse que foram 4) e então eu, que já havia regredido aos 5 anos de idade (tudo era novo, tudo), finalmente dissolvi.
Ainda não consigo descrever – o mais próximo talvez seja dizer que “me uni ao universo”, que clichê maravilhoso. Era uma com tudo. Paul disse que minhas pupilas estavam maravilhosamente dilatadas, e disse que eu olhava em, êxtase para algum ponto específico que ele não conseguia localizar. Lágrimas escorriam livremente pelo meu rosto. Não havia mais “Eu”, era inconcebível que qualquer partícula que fosse estivesse dissociada de todo aquele “Todo”. Eu, meus amigos, a gata, os vizinhos, todos parte de tudo.
Não sei quanto tempo esse pico durou (Dinnie e Paul falavam em sussurros), mas aos poucos fui voltando à criança de 5 anos. A voz calma e firma de Dinnie me trazia ao chão bem devagar, enquanto Paul e sua camisa de estrelinhas asseguravam que fosse o mais divertido possível.
Quando comecei a entender palavras de novo (Porque antes a frase mais simples não tinha o menor sentido), pedi música. Dead Can Dance.
Toda vez que eu ia ao banheiro era uma aventura. Tinham que me segurar, porque eu rodopiava e dançava – dançar era foda, era como se todo o quarto, todos os móveis e quadros e até o próprio ar fossem meus parceiros de dança – deixando trails em todo lugar. No banheiro, me olhei no espelho 2 ou três vezes, sempre com cautela. Achava que meu problema de baixa auto-estima ia trazer alguma alucinação desagradável. Imaginem: tudo o que vi foi uma rainha das fadas (que coisa hippieeeeeeeeeeeaaaahhh), uma mulher de sorriso de desenho animado cercada por fios coloridos dançantes no ar e olhos grandes e brilhantes. Eu estava fascinante ))
Dinnie falava com Paul sobre coisas e pessoas, mas eu era incapaz de distinguir afirmações de ironias, e os raciocínios mais complexos (como descrições de ações das pessoas mencionadas) se perdiam. Minha atenção não se fixava. A Linguagem ainda não fazia sentido.
O interessante era que toda vez em que eles mencionavam nomes era como se eu visse as pessoas correspondentes despidas de qualquer máscara – classificações de aparência e personalidade soavam sem sentido por serem superficiais. Afinal, éramos todos parte do mesmo Todo.
Emocionalmente eu estava aberta, totalmente sem qualquer proteção do Ego.
Em determinado momento iniciou-se uma música do DCD muito triste, uma antiga canção irlandesa de amor e morte. E eu fui invadida pela tristeza. Dinnie quis tirar, pular a faixa, mas implorei que deixasse, eu queria viver aquilo. “A tristeza é necessária”, balbuciei entre soluços. Ficaram ambos em silêncio enquanto eu chorava e chorava. Era como “ser” a própria tristeza, incrivelmente libertador.
Bom, além de tudo isso também falei várias coisas que não diria sóbria ;D
Quando a manhã raiou, fomos caminhar pela cidade até um cemitério antigo.