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Psilocibe Semilanceata e Dissolução total

eletricake

Cogumelo maduro
Membro Ativo
01/05/2007
82
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Não resisto, vendo todos esses relatos legais: vou falar aqui da primeira vez que consumi psilocibina.

2002. Havia feito uma festa de despedida na noite anterior e uma de minhas amigas, Cam, me deu um saquinho e fechou as minhas mãos em torno dele, dizendo: "divirta-se". Mal sabia eu.

No dia seguinte fui atrás do saquinho, crente que era uma inocente maria joana. Aí vejo os chapéuzinhos, tão lindos. Eram mais de 20 pequenos Liberty Caps (psilocibe semilanceata, creio), secos, minúsculos. Eu já tinha lido o Erowid.com, sabia o que poderiam causar. Estava mesmo atrás dessa expansão de consciência, e agradeci mentalmente a Cam milhares de vezes.

Decidi tomar tudo. Naquela noite, pedi a outros dois amigos, Dinnie e Paul, que cuidassem de mim enquanto eu passava por isso.

E foi assim:

Triturei os pequenos com suco de laranja de caixa e tomei o copo todo de uma vez.

15-20 minutos depois da ingestão, Dinnie me mostrava umas fotos que havia feito na cidade quando comecei a rir de alguma coisa engraçada, em uma das fotos. Racionalmente falando, nem era assim tão engraçado, mas eu simplesmente não conseguia parar de rir. Tentava explicar pra ela que não estava tirando sarro das fotos, e ela dizia: "eu sei, querida", e aí eu ria mais, até chorar de rir. Dinnie me olhava, entre divertida e levemente preocupada.

Então olhei para uma parede, limpando as lágrimas. Parecia ter detalhes intrincados, qualquer reentrância ou mofo virava uma miríade de ondas em movimento.

Aí realmente começou. Da parede de repente destacou-se um tipo de Buda mais pro feminino, sentado, em cima de uma lótus. As figuras nos quadros das paredes saltavam, se mexiam, havia tanto que olhar...

Os objetos ficavam distorcidos, e meus amigos começaram a adquirir feições de desenho animado, além de deixarem traços coloridos atrás de si quando andavam à minha volta.

Meus outros sentidos (além da visão) ficaram extremamente aguçados. Eu podia escutar conversas sussurradas como se fossem discussões em voz alta. Minha respiração soava como uma tempestade, às vezes.

Me senti claustrofóbica e desconfortável na sala, e fui cambaleando até o quarto ao lado, onde me enfiei debaixo de um edredom. O quarto parecia bem maior do que era, e parecia fazer um “hhhmmmmmwowoowowmmm” à minha volta, como se estivesse vivo. Havia um quadro de Magritte no quarto, do qual saltavam rostos.

O campo visual começou a saturar de imagens em movimento, cores, tudo convergindo em mandalas que dificultavam a minha visão do espaço normal.

A partir disso tudo começou a ficar extremamente confuso.

Eu estava com frio, mesmo debaixo do Edredom, e entre grunhidos consegui pedir aos meus sempre presente amigos que me dessem um casaco. Me deram um suéter virado do avesso! Tentei fazer sentido daquilo e simplesmente não conseguia – estava além dfas minhas capacidades lógicas naquele momento. Joguei-lhes o casaco de volta, chorando e rindo. Eles perceberam, desviraram do avesso e me ajudaram a vestir o casaco.

Aliás, “chorando e rindo” era o meu estado mais constante. Eu passava do riso às lágrimas em questão de segundos, literalmente.

Chorava porque estava tão sensível que meus amigos conversando (eles estavam sob efeito de uísque, blé) – o som de suas vozes potencializado – parecia uma agressão. Dinnie tentando impedir a gata (havia uma gata na casa, a Bijú) de sair pela janela aberta do quarto foi tão estressante!! Em dado momento tudo ficou tão absurdo e excessivo que tive que implorar para que ficassem quietos, em silêncio absoluto.

A verdade é que eu não suportava qualquer estímulo externo. E achava que qualquer som meu acordaria os vizinhos ;D

Ficamos todos em silêncio pelo que pareceram 30 minutos (Paul disse que foram 4) e então eu, que já havia regredido aos 5 anos de idade (tudo era novo, tudo), finalmente dissolvi.

Ainda não consigo descrever – o mais próximo talvez seja dizer que “me uni ao universo”, que clichê maravilhoso. Era uma com tudo. Paul disse que minhas pupilas estavam maravilhosamente dilatadas, e disse que eu olhava em, êxtase para algum ponto específico que ele não conseguia localizar. Lágrimas escorriam livremente pelo meu rosto. Não havia mais “Eu”, era inconcebível que qualquer partícula que fosse estivesse dissociada de todo aquele “Todo”. Eu, meus amigos, a gata, os vizinhos, todos parte de tudo.

Não sei quanto tempo esse pico durou (Dinnie e Paul falavam em sussurros), mas aos poucos fui voltando à criança de 5 anos. A voz calma e firma de Dinnie me trazia ao chão bem devagar, enquanto Paul e sua camisa de estrelinhas asseguravam que fosse o mais divertido possível.

Quando comecei a entender palavras de novo (Porque antes a frase mais simples não tinha o menor sentido), pedi música. Dead Can Dance.

Toda vez que eu ia ao banheiro era uma aventura. Tinham que me segurar, porque eu rodopiava e dançava – dançar era foda, era como se todo o quarto, todos os móveis e quadros e até o próprio ar fossem meus parceiros de dança – deixando trails em todo lugar. No banheiro, me olhei no espelho 2 ou três vezes, sempre com cautela. Achava que meu problema de baixa auto-estima ia trazer alguma alucinação desagradável. Imaginem: tudo o que vi foi uma rainha das fadas (que coisa hippieeeeeeeeeeeaaaahhh), uma mulher de sorriso de desenho animado cercada por fios coloridos dançantes no ar e olhos grandes e brilhantes. Eu estava fascinante ;)))

Dinnie falava com Paul sobre coisas e pessoas, mas eu era incapaz de distinguir afirmações de ironias, e os raciocínios mais complexos (como descrições de ações das pessoas mencionadas) se perdiam. Minha atenção não se fixava. A Linguagem ainda não fazia sentido.

O interessante era que toda vez em que eles mencionavam nomes era como se eu visse as pessoas correspondentes despidas de qualquer máscara – classificações de aparência e personalidade soavam sem sentido por serem superficiais. Afinal, éramos todos parte do mesmo Todo.

Emocionalmente eu estava aberta, totalmente sem qualquer proteção do Ego.

Em determinado momento iniciou-se uma música do DCD muito triste, uma antiga canção irlandesa de amor e morte. E eu fui invadida pela tristeza. Dinnie quis tirar, pular a faixa, mas implorei que deixasse, eu queria viver aquilo. “A tristeza é necessária”, balbuciei entre soluços. Ficaram ambos em silêncio enquanto eu chorava e chorava. Era como “ser” a própria tristeza, incrivelmente libertador.

Bom, além de tudo isso também falei várias coisas que não diria sóbria ;D

Quando a manhã raiou, fomos caminhar pela cidade até um cemitério antigo.
 
Adoro tripps femininas.
Elas se atêem a detalhes, que pra nós homens passam despercebidos.
Obrigado por compartilhar.
Good tripp.
very good tripp!
 
Minha primeira trip com meu esposo foi ao SOM DE DEAD CAN DANCE e a luz do luar...
Nem preciso dizer que foi fascinante!
Linda sua experiencia.
:)
 
(feliz e com vergonhinha)

(Dead Can Dance é um negócio, não?)
 
Olá, pessoal! Tudo bem?

Po, Eletricake, a sua experiência foi muito interessante. Experimentar emoções de maneira bem intensa, em ocasiões adequadas, é muito bom! Achei muito legal a sua experiência com os cogus.

É curioso como os frequentadores do CM tem um bom gosto musical. Há bandas que sempre são citadas... O Pink Floyd então! Bom, o Pink Floyd é a minha banda preferida, hehehe! Mas estou dizendo isso porque também me amarro em Dead Can Dance. Comecei a ouvir no começo desse ano, mas acho lindo! Por um acaso a música triste a qual você se referiu é a "I Am Stretched On Your Grave"? Essa música é muito triste, mas é tão linda também!
 
Bolo elétrico, adorei ler sua experiência, alias, ADORO LER EXPERIENCIAS, ainda mais as primeiras trips com os mágicos, pq elas me ajudam a me preparar para o meu novo nascimento!!!

Nossa, se com marijuana já ouço tdo absurdamente alto e acho que qquer coisa que eu faça está fazendo um barulho enorme e todos estão ouvindo; -O que será com Cogus???

Concordo com o Alienardo, as mulheres captam melhor os detalhes que os homens, por isso que adoro andar mais com elas!!! ...não só por isso...
mas, realmente, linda trip...

PERGUNTAS (se vc lembrar é claro):
1) -Quantas horas durou a trip??
2) -Teve bad??
3) -As suas companhias (sitters), influenciaram a sua trip de uma maneira direta (pro lado ruim, pro lado bom)??
4) -Vc acha que o ambiente foi legal para a trip??

Se puder me responder essas perguntas, me ajudará muito!!!

Bom, por enquanto é só...agradeço desde já por ter compartilhado esse momento!!!
 
Toda vez que como cogumelos escuto trance, psy trance e psy eletro. Fica tudo muito acelerado! Na última trip que contei aqui, duelo de mutantes, o som sumiu por horas, coisa esquisita!
 
Bela experiência! Excelente relato!

Imagino que foram poucos os filtros artificiais à sua impressão das coisas.

:pos:
 
Poxa Eu Ainda Nao Tinha Visto,maguinifico,
Tanto Tempo, Oque Vc Acha De Uma Nova Experiencia...
 
Uau, eu também só vi agora o relato, mais vi!

Otíma trip Rainha das fadas, gostei mesmo do relato, bem detalhado, afinal é bem complicado dizer oque é a trip, achei que você deu uma boa "tradução" para ela, parabéns por tudo!

Ah, Dead can Dance é muito massa mesmo, minha quarta trip foi escutando o CD SpiritChaser, que pra falar a verdade eu só escutei no inicio da trip depois a música sumiu e só voltou no final de tudo rssrs, no mais Ótima trip!

Paz e luz em sua jornada!
 
Nossa! Que trip linda!

Me lembrei de quando me olhei no espelho em minha primeira trip, me senti o cara mais harmonioso do mundo... Tenho sardas, e elas dançavam e me divertiam.. me lembravam as estrelas e eu adoro estrelas. :)

- pro magofloyd - Pink Floyd também é minha banda preferida... meu novo objetivo é assistir o mágico de oz sincronizado com dark side of the moon durante uma boa trip de cogumelos, se possível, com um toque de cannabis...

-pro corpsebiff - Também ouço tudo absurdamente alto com marijuana! lembro que na minha primeira viajem com mary tentei descrever o que sentia no bloco de notas (foi em um parque aqui perto, quando voltei pra casa ainda tava beeeem forte!), e o que escreví foi justamente "explosão sonora nos fones".. detalhe, eles estavam a quase 2 metros de mim..

Mais uma vez, que trip linda!
 
Olá, pessoal! Tudo bem?

Po, Eletricake, a sua experiência foi muito interessante. Experimentar emoções de maneira bem intensa, em ocasiões adequadas, é muito bom! Achei muito legal a sua experiência com os cogus.

É curioso como os frequentadores do CM tem um bom gosto musical. Há bandas que sempre são citadas... O Pink Floyd então! Bom, o Pink Floyd é a minha banda preferida, hehehe! Mas estou dizendo isso porque também me amarro em Dead Can Dance. Comecei a ouvir no começo desse ano, mas acho lindo! Por um acaso a música triste a qual você se referiu é a "I Am Stretched On Your Grave"? Essa música é muito triste, mas é tão linda também!

Desculpe a demora em responder!! Eu tinha perdido esse tópico ;D
Sim, foi essa música sim!! É aaaaaaaaaaaaaahhhh de tão foda, não é?
 
Oi, corpsebiff!! Vou tentar responder, embora seja meio tarde pra isso, visto que vc já teve a sua maravilhosa experiência :)

PERGUNTAS (se vc lembrar é claro):
1) -Quantas horas durou a trip??
2) -Teve bad??
3) -As suas companhias (sitters), influenciaram a sua trip de uma maneira direta (pro lado ruim, pro lado bom)??
4) -Vc acha que o ambiente foi legal para a trip??

1) umas 6 horas
2) putz.... mesmo quando eu chorei de tristeza e senti a angústia do mundo, não posso dizer que foi bad trip, cara.

Sabe o que eu acho que é bad trip? Inventaram isso pra assustar as pessoas das experiências de expansão. Nem a "peia" da Ayahusaca eu considero bad trip. A suposta bad é apenas uma forma de experimentar o todo.

3) Nem um nem outro. O fato de que estavam bebendo uísque foi o lado ruim. Álcool TÃO nada a ver, sabe? As pessoas alcoolizadas ficam mais maliciosas, depressivas ou até agressivas - e aí, quando se está sob efeito de psilocibe, você capta tdas essas coisas de forma mais acentuada. E sofre POR eles.
Mas eles me respeitaram muito, muito.

4) Foi o ambiente mais seguro que eu poderia querer naquela época. Não conseguia me imaginar ao ar livre, precisava de um quarto confortável e familiar. Já hoje em dia não suporto lugar fechado: quanto mais perto/dentro da mata, melhor.

Espero que as respostas sejam de alguma valia.
 
Poxa Eu Ainda Nao Tinha Visto,maguinifico,
Tanto Tempo, Oque Vc Acha De Uma Nova Experiencia...

Puxa, mas eu tive outras depois dessa... Essa foi só a primeira :D
Agora que vou começar o cultivo mesmo, pretendo ter experiências de forma mais regular. Vamos ver.
 
Nossa! Que trip linda!

Me lembrei de quando me olhei no espelho em minha primeira trip, me senti o cara mais harmonioso do mundo... Tenho sardas, e elas dançavam e me divertiam.. me lembravam as estrelas e eu adoro estrelas. :)

Aaaaaaai, que graça!!! Também tenho sardas e lembro delas dançando ;D
A gente nunca deve evitar de se olhar no espelho nessas horas. Faz um bem pra auto-estima...
 
Eletricake disse:
2) putz.... mesmo quando eu chorei de tristeza e senti a angústia do mundo, não posso dizer que foi bad trip, cara.

Sabe o que eu acho que é bad trip? Inventaram isso pra assustar as pessoas das experiências de expansão. Nem a "peia" da Ayahusaca eu considero bad trip. A suposta bad é apenas uma forma de experimentar o todo.

Isso aeh, bad é uma pessoa não ter coragem de se expandir, de se olhar, de se aceitar, de mudar, bad é bloqueio...

Isso que você teve é uma coisa ótima, que muitos chamam de bad, mesmo não sendo "bad"...

Para os muitos: EU AMO "BADS", ME EXPANDEM...:rolleyes::pos:
 
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