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Praia de água doce não mela, lava

Hellneroni

Hifa
Membro Ativo
01/06/2018
82
15
SP
Semana passada tive uma experiência muito rica com algo entre 1,5g e 2g.

Eu estava com mais 3 pessoas amigas em uma praia de água doce, todas tínhamos comido cogumelos.

Deitado como um jacaré dentro da água bem rasinha sentia as ondas vindo uma após a outra, me acertando com força suficiente pra me mover. O caos daquela situação que me veio primeiro à mente logo deu lugar à ideia de um equilíbrio dinâmico ao qual todos os seres vivos estão submetidos desde o princípio da vida.

Em algum momento um amigo compartilha seu questionamento sobre um objeto branco na areia que se parece um peixe. De forma espontânea expresso verbalmente minha indiferença, mas ele logo apresenta sua preocupação sobre a possibilidade de ser um peixe vivo que poderíamos salvar. Tomo a frente em direção ao objeto branco na areia. Verificamos que é sim um peixe, um peixe morto, entretanto. Nos afastamos enquanto um carcará passa voando sobre nós seguido de dois pequenos passarinhos que parecem atacá-lo. O carcará pousa perto do peixe, o mordisca um pouco e logo em seguida agarra-o com seus pés e voa para longe da água, ainda seguido dos dois passarinhos. Um documentário presencial.

O horizonte é imenso, o céu está coberto por uma cortina transparente com um padrão de desenhos que brilham como o arco-íris. A única coisa finita ao redor parece ser o amigo ali, próximo a mim, que está mais colorido do que antes (e não estamos aqui falando de amigo colorido, mas de amigo colorido). A mente faz muitas relações e a essa finitude da pessoa relaciono nossa simetria bilateral.

As nuvens estão posicionadas no céu como se andassem em uma linha reta que, no entanto, aparenta ser curva devido ao formato do planeta. Algumas são incrivelmente parecidas umas com as outras e isso contribui para que um trecho do horizonte pareça se repetir algumas vezes, como se uma fatia de céu, areia e água tivesse sido copiada e colada algumas vezes consecutivamente, quase como uma forma mais fácil de preencher o vazio do que criar tudo do zero. Compartilho isso com o amigo que conclui "essa é a prova que deus existe". A prova que ele existe e que é preguiçoso.

Preguiçoso. Isso é um julgamento. Ao sair da água o vento cheio de areia fina acerta meu corpo seminu. Percebo todo o julgamento que contamina nossa linguagem. Inclusive me percebo julgando os julgamentos ao dizer que "contaminam" nossa linguagem. Fico triste por nossa linguagem nos proporcionar tanto desentendimento. Fico feliz por nossa linguagem nos permitir pensar e comunicar da forma como pensamos e comunicamos usando a linguagem. Comunicar vem de comum e, logo, não é algo que se faz só.

Passamos por muito mais coisas. Percebi que eu falava como se tudo fosse surpreendente. Depois percebi que eu falava com a voz do Guilherme Briggs. Comemos comidinhas na barraca. Depois de um longo caminho até ela, o mesmo caminho de ida até a praia, porém um caminho totalmente novo na volta.

Notei que o efeito passava. Hoje acho que o efeito vai além do que eu chamava de efeito na época da semana passada. Nesse passar do efeito percebia como minha mente era limitada e tudo parecia mais sem graça. "Sem graça" é um julgamento, "limitada" é um julgamento.

Se não for pra aprender algo nem saio de casa. Ou saio. Eu saio se eu quiser.
 
O que ficou dessa experiência?

De alguma forma percebo que minhas concepções sobre o uso da linguagem e, principalmente, sobre os julgamentos, estão mais consolidadas. Não é algo super consciente e explícito, mas, subjetivamente, percebo estar lidando com minhas relações interpessoais de forma mais coerente com o que eu acredito - acredito que julgamentos feitos sem a consciência de que são julgamentos tornam, de forma geral, nossas vidas menos maravilhosas.

Uma percepção mais objetiva que tive foi agir, no dia a dia, como agi durante a experiência. Em alguns momentos expressei minha surpresa de forma mais genuína e soltei uns "QUE?!" em voz alta pra mim mesmo. Devo parecer louco quando faço isso em público, mas não ligo, e isso me cuida de expressão e autenticidade.

De reflexões uma das que me ficou mais forte foi uma que tive esses dias, bem depois da experiência. Um amigo me disse durante uma conversa que limpezas* podem ser feitas com lágrimas ou palavras, e foi exatamente o que eu fiz durante minha última experiência com cogumelos, falei pra caramba.

Por fim quero dizer que praia de água doce é um sonho hahaha. Imagina areia, ondas e água até o horizonte. Agora se imagina entrando na água sem a menor preocupação de ficar meladx. Abriu o olho na água, deu uma engolida? Maravilha! Agora se imagina saindo da água, secando ao vento, cabelo macio, pele soltinha.

* pra quem não está familiarizadx com o termo, limpeza é o que fazemos durante trabalhos com plantas de poder e envolvem, em geral, vômito, não sendo processos ruins, mas uma forma de colocarmos pra fora aquilo que não está nos fazendo bem física, emocional ou espiritualmente (parafraseando em alguma medida meu amigo)

Valeus
Abracius
 
Achei bem legal você voltando um tempo depois pra falar da experiência. Até hoje ainda reflito sobre a minha primeira que foi anos atrás.

Ainda não fui em praia de água doce, mas quero tanto! Nunca tomei cogu em praia nenhuma também, talvez faça isso num camping na praia quando a pandemia acabar.

Depois percebi que eu falava com a voz do Guilherme Briggs
KKKKKK
 
Ainda não fui em praia de água doce, mas quero tanto! Nunca tomei cogu em praia nenhuma também, talvez faça isso num camping na praia quando a pandemia acabar.

Você acha que pra uma segunda experiência com cogumelos, a praia seja uma boa opção ? Eu fico apreensivo em relação a gatilhos, como por exemplo outras pessoas ao redor, etc...
 
Você acha que pra uma segunda experiência com cogumelos, a praia seja uma boa opção ? Eu fico apreensivo em relação a gatilhos, como por exemplo outras pessoas ao redor, etc...
Se você já fica apreensivo, então não é um bom momento pra fazer isso na praia. É importante aplicar de verdade o set e setting. Se perguntar se está bem mentalmente e se o local te traz sensação de segurança. Os dois precisam estar alinhados.
Se a sua mente está ótima, mas o ambiente não te traz muito conforto, então não faz sentido tomar naquele local. Seu corpo e sua mente estarão vulneráveis e responderão aos estímulos externos, então que esses estímulos sejam de um lugar que você se sinta bem de verdade
 
Se você já fica apreensivo, então não é um bom momento pra fazer isso na praia. É importante aplicar de verdade o set e setting. Se perguntar se está bem mentalmente e se o local te traz sensação de segurança. Os dois precisam estar alinhados.
Se a sua mente está ótima, mas o ambiente não te traz muito conforto, então não faz sentido tomar naquele local. Seu corpo e sua mente estarão vulneráveis e responderão aos estímulos externos, então que esses estímulos sejam de um lugar que você se sinta bem de verdade
Não é que eu fique totalmente apreensivo, mas sinto muita vontade de provar em algum lugar em contato com a natureza, mas fico pensando em como iria me comportar diante dos gatilhos do mundo social. Porém só irei saber se experimentar né ?
 
Não é que eu fique totalmente apreensivo, mas sinto muita vontade de provar em algum lugar em contato com a natureza, mas fico pensando em como iria me comportar diante dos gatilhos do mundo social. Porém só irei saber se experimentar né ?

Mas se você estiver em lugar isolado sem outras pessoas, não haverá gatilhos do mundo social. :)
 
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