Além do Psilocybe cubensis ter sido introduzido aqui pelos colonizadores, nada impede que haja espécies endêmicas com psilocibina/psilocina e baeocistina. O certo é que o conhecimento dos URUPÊS (nome genérico tupi-guarani para cogumelos) entre os índigenas se perdeu, seja para alimento ou medicina. Há muitas espécies ainda a descobrir que são nativas e não há pesquisadores nem mesmo científicos em profusão.
Veja que os indígenas nem mesmo detinham mais o segredo para alquimia da Jurema e que não me venha ninguém aqui falar de que o vinho só com a Jurema funciona igual ayahuasca. Quem veio trazer a ligação de volta foram os estrangeiros com a arruda-da-síria. Ainda assim, vê-se que a Jurema funcionava até mesmo por registros literários (v. Iracema).
Além disso, o povo indígena é muito desconfiado, na tentativa de se autopreservar. Agora é que ele está percebendo que há brancos bem intencionados e que a preservação só será efetiva se sua cultura for compartilhada. Pode ser que haja algum conhecimento entre tribos.
Sei que há entre ciganos e caboclos, pois em MG onde fui batizado no cogumelo, estive entre esses e o consumo de cogumelos era corrente.
Há um forte preconceito por causa dos abusos dos pseudo-hippies dos anos 60 aqui no Brasil. Eu mesmo conheço um que é imprestável até hoje, pois tinha já herança de esquizofrenia (ou seja, não é culpa de cogumelos e outras coisas que ele tenha tomado, mas ajudou com o preconceito, infelizmente).
Quanto aos neoxamãs, temos o melhor exemplo, que é o Leo Artése, um dos poucos brasileiros que escrevem sobre xamanismo e mencionam o cogumelo, inclusive com relato de experiências.
Creio que o pessoal da Paz Géia seja bem aberto também, pois eles que começaram a trazer para cá o Juan peruano, mestre de san pedrito e wachuma.
Muito está mudando. Ano passado, num curso de cogumelos em toras que fiz na AAO, o professor mencionou uma mulher que diz ter curado o filho autista com psilocybes e que estaria meio que propagando esse emprego medicinal. Já procurei, mas não achei. Precisaria falar com esse professor, devo ter o email dele, o cara é consultor terceirizado na EMBRAPA também (só fazem contratação sem concurso com caras muito bons).
cara...
a pergunta o porque nao existe seitas com a ferramenta principal os Cogumelos, como no caso da Ayahuasca para o Santo Daime?
muito simples, pelo que vejo nos relatos de experiencias com psilocybes, os cogumelos nao fazem uma limpeza psicossomatica como ocorre com as plantas enteogenas, o cogumelo é um otimo aliado de exploraçao e auto-conhecimento, ja as plantas estao voltadas mais para a cura, alem do auto-conhecimento que esta contido na experiencia!
por isso que quem é acostumado com cogumelo, quando toma uma planta enteogena, leva uma peia, vomita tanto que nunca mais volta a usar as plantas. apesar da recompensa no final...
mas é bem pensado, deveria existir uma seita de auto-conhecimento com psilocibes, seria realmente muito interessante.
o psilocybe é muito sagrado, mas nao é recomendado pra cura, por isso que os NEOxamãs nao curtem muito usar...
isso me lembra o filme Altered States.
mas se pensarmos bem...
so a experiencia de auto-conhecimento ja é uma cura, isso se voce chegar ate onde deve chegar, sem ficar preso em jogos...
abraço
De onde você tirou que cogumelos não são indicados para cura? Acho legal estudar um pouco da história dos cogumelos de psilocibina entre os povos mesoamericanos, em especial uma nação chamada Mazateca. Procura lá uma tal de dueña Maria Sabina, quem sabe você ao menos questione de onde tirou tamanho non sense... kkkkkk
Justamente o filme Viagens Alucinantes (Altered States) mostra uma tribo mexicana micófila. Uma das cenas mais legais é ver o William Hurt ouvindo o xamã explicar o efeito do chá de cogumelos: "Usted verá una mancha. La mancha se convertirá en una grieta. Esta es la grieta entre la nada. Y deste nada saerá su alma encreada!" ahahahahaha O som dos mexicanos ficou meio tibetano, mas eu curti as pinturas iradas nas paredes da caverna! Filmaço, não fosse o final piegas... Ah, eu tenho acesso a um tanque de isolamento, mas que precisa de conserto. Estou pensando em comprá-lo, pois ele aparece na minha vida faz uns 15 anos já....
Se for pensar em limpeza como vômitos e diarréias, eu te diria que está confundindo sintomas físicos com efeitos psicodélicos. Não é possível afirmar com OBJETIVIDADE que os cogumelos realizem menos limpeza do que a ayahuasca. A questão é que a ayahuasca não é apenas o chá de cipó com folha. É o contexto cultural, que justamente falta ao cogumelo, por ele ser tão novo nestas paragens que sofreram tanto com a perda cultural nativa e por ele ser mais discreto do que as plantas. A preparação e a ambientação são tão importantes quanto o uso do catalisador psíquico.
Acho que o cogumelo não precisa de seitas ou organizações. Aliás, nenhuma planta precisaria. Uma corrente se formar é uma coisa. Outra é cristalizar essa força entre quatro paredes, o que sempre esfria e embrutece aquilo que é natural e precisa ficar LIVRE!
Para iniciar uma corrente, é preciso compreender a mensagem do cogumelo e saber disseminá-la. Uma sessão psicodélica/espiritual bem feita tem qualquer " pílula vermelha" como uma de ao menos 7 ferramentas de suas práticas, jamais como finalidade.
Acho que o cogumelo tem tudo a ver com correntes orientais, sejam elas puras ou adaptadas à umbanda (aumbandam). Isto porque sua experiência tem tudo a ver com o budismo e o taoísmo.
Já fiz vários tipos de rituais com várias plantas e adorei fazer Agni Hotra com os cogumelos como sacramento. A fogueira fica incrível! Trilha de subida a uma montanha (sem correria, claro) e/ou a uma cachoeira. Banho terapêutico acho bom, mas não recomendo nada para uma sauna sagrada. Ela já é bem psicodélica por si só!! ehehehehehe
Quanto a essa sua ideia descabida de quem come cogumelo leva peia de outros enteógenos, não posso dizer que seja nenhum santo, mas sempre comi cogumelo e bebi ayahuasca e jurema numa boa. Aliás, adoro fazer chá de cogumelo com ayahuasca, só precisa ter cuidado na dosagem... e não costumo ter peia, a não ser que exagere na dose ou descuide da alimentação (que já é bem saudável).
Por fim, talvez não se ter criado uma religião do cogumelo ainda se deva ao fato da escassa e fugaz disponibilidade do mesmo
in natura e sua aparente complexidade para cultivo.
Não seria fácil manter uma distribuição de cogumelo como a que é feita pelas religiões oasqueiras. Queria saber como a Native American Church consegue o suprimento deles, pois peyote demora pra caramba pra crescer, mesmo aplicando técnicas.
Desculpem as delongas, mas achei importante o assunto!
Abraços cósmicos a tod@s!