Bom , não tem como dizer que se possui A verdade né? Por que a realidade psíquica e a realidade concreta, dentro de suas diferenças e semelhanças, são igualmente realidade. Não se pode esperar que um ser divino transcendental surja e diga "Esta é A verdade". Então tudo que temos são modelos que conseguem lidar de forma satisfatória, na medida do possível, com as situações que o mundo nos apresenta. A pessoas que vê discos voadores realmente os vê e eu não tenho nenhum direito de chegar nela e falar "cara eu não to vendo nada então larga dessa viagem ai".
Por isso que eu acho que é andar em círculos colocar as duas realidades em confronto. Se a pessoa ta de boa e sem causar problemas pra integridade dela e dos outros, deixa ela quieta pois a psique dela já está totalmente bem adaptada para a realidade em que está inserida :s
Eu não observo o que falo apenas embasado em crenças pois não sou um homem de tanta fé assim. Eu ainda me agarro muito a uma lógica e à tentativa de entender por que algo é o que é (mas eu almejo sim olhar para as coisas e apenas entender que elas são o que são dentro da sua total falta de sentido inato).
Apesar de um indivíduo paranoico estar vivendo sua própria realidade psíquica, sua psique parece rejeita-la constantemente por não suportar os produtos de sua própria reflexão. Daí, se a pessoa sentir essa demanda, cabe sim uma intervenção pra tentar entender melhor por que motivo aquele psiquismo está tendo um gasto energético voltado apenas para prejudicar a si mesmo e qual mensagem está sendo passada com essa atitude :s
Um cristão acha constantemente que está ouvindo a voz de Deus (quando na verdade ele está ouvindo seus próprios pensamentos ou, no máximo, sua intuição) e, se as coisas começam a dar certo na sua vida, atribui isso à graça de Deus; por outro lado, se sua vida está repleta de conflitos, ele acha que isso é obra de Satanás ou então é “macumba” que fizeram para ele.
Isso, em particular, eu poso falar com um pouco mais de maestria pois minha mãe tem esse tipo de relação com o protestantismo :x
Para mim, que as vezes peco por uma racionalidade exagerada nas coisas relacionadas com a realidade concreta, é um desafio constante ver ela se utilizando de mecanismos de fuga por meio da religião para lidar com conteúdos do mundo. Mas essa é a realidade dela. E por mais que me incomode, isso não prejudica ninguém. Eu espero que um dia ela consiga internalizar essa figura divina que tanto serve de apoio para ela a fim de que ela consiga se sustentar apenas em si mesma pois essa independência é algo bem mais estável do que estar se sujeitando a fatores externos e fora do seu controle.
Esse "se sustentar em si mesmo" ou auto realizar-se é por alguns chamado de iluminação, mas na psicologia analítica esse processo é chamado de individuação. É algo a ser almejado, mas sem pretensões pois é um caminho extremamente longo e particular a jornada para se tornar uno consigo mesmo. E justamente por ser extremamente pessoal é que se deve respeitar o tempo de cada um e, por mais que eu me incomoda com minha mãe não vendo o caminho que eu vejo, eu tenho que lembrar que meu caminho não é o único nem O verdadeiro. É só mais um e eu devo respeitar o dos outros.
Eu sei que isso parece muito um discursinho de "kumbaya irmão paz e amor" mas na real é algo extremamente turbulento e complexo de se lidar e auxiliar.
Quanto a me questionar sobre minhas próprias ideias, isso é algo que faço constantemente. Até porque eu fui ensinado que ao se realizar uma pesquisa, aquilo não é um filho seu, não é fruto do seu amor e paixão pelo conteúdo (pelo menos não somente isso), qualquer conhecimento é o que é sem juízo de valor algum. Eu não devo envolver minhas ideias em sentimentos pois conhecimento é simplesmente uma ferramenta. Uma pesquisa deve ser pragmática e diversas vezes nos deparamos com resultados completamente opostos aos que esperávamos. E isso faz parte. Descobrir que uma ideia sua não tem validade deve ser visto como algo bom a ser deixado como legado pois outros vão entender que aquele caminho tem grandes possibilidades de não ser frutífero.
Contudo isso deve ser feito sem exageros pois não somos máquinas. Jung descobriu os complexos em resultados de testes que, para a academia da época, eram para ser descartados pois eram simples erros e falhas nos testes de associação de palavras.
Com tudo isso eu acho que a forma mais interessante de se percorrer esses caminhos de descoberta de conhecimentos é sempre sendo autocrítico, mas sem exageros neuróticos. É lembrar que não existe O caminho pois não existe A realidade nem A verdade assim como não existe O humano. Tudo isso são modelos idealizados que se expressam em pluralidades.