- 15/07/2022
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Olá psiconautas kkk, tudo bem com vocês?
Gostaria de relatar aqui minhas pouquíssimas experiencias com psicodélicos (3 trips de cogus com 2gr e 1 trip de ayahuasca). Como considerações iniciais, gostaria de dizer que não sou médico ou crente de qualquer religião, e, sou leigo nesse assunto como qualquer outra pessoa comum e que meu objetivo aqui é estabelecer uma discussão saudável de mente aberta e com respeito ao assunto sem menosprezar ou ofender a crença ou opinião de ninguém seja ela em qual área for.
Bom... há uns ~4 anos atras eu passei por um divorcio e outras situações em família que vieram simultaneamente e que me fragilizou muito, fiquei por muito tempo na fossa e tentando me encontrar tanto espiritualmente (já que não acredito em nada), quanto comigo mesmo... Amadurecer, e entender o que se passou comigo eram meus objetivos. Não vou entrar em detalhes sobre o que aconteceu no passado mas sim a jornada de lá pra frente.
Por indicação de um colega e também para fazer companhia a ele, fui convidado a participar de um curso de Gnosis (que só depois, tanto eu quanto ele vimos a entender que era uma religião), e isso foi o estopim para começar a observar mais para dentro de mim e prestar mais atenção as coisas ao meu redor. Precisava entender todos os momentos que eu havia passado e o porque de tudo e também me encontrar naquele vazio sem explicação do qual eu me encontrava.
Eu sou uma pessoa muito cética, pé no chão, racional, só acredito vendo e, apesar da minha mãe ser Espírita kardecista, e eu ter frequentado o centro espirita por algum tempo não cheguei a me encontrar. No Gnosis as pessoas falavam de gnomos, seres extraterrestres e tudo mais quanto é coisa que eu achava loucura, mas tentava manter minha mente aberta a isso e me perguntava: “por que não? talvez existam mesmo, ou estão todos num delírio coletivo?”. Enfim, terminei o curso, não quis entrar para a religião e segui caminho.
Algum tempo depois descobri que o pessoal do Gnosis se consagrava com um tal de Ayahuasca, um chá indígena “alucinógeno” (é bem essa a palavra mesmo) e fiquei curioso para saber do que se tratava, então, falei com esse meu amigo no qual fomos fazer o curso juntos e ele começou as suas pesquisas. Enquanto eu, sempre cético e desconfiado, deixei ele buscar as informações enquanto me ocupava com afazeres mais racionais.
Após quase 1 ano aproximadamente do fim do curso, ele comprou na internet os famosos “Cogumelos Mágicos” e me chamou para ser babá dele enquanto estaria em uma experiencia psicodélica. Como ele já havia usado drogas pesadas alguns anos atras, deixei ele experimentar primeiro e caso não viesse a falecer kkk eu pensaria a respeito. Bom, ele fez algumas trips e me contou coisas incríveis, em que ele conversou com o EU dele, que viajou por mundos, viu espíritos, existências, dimensões, etc e blablabla. Ele estava maravilhado, contou sobre as sensações de se sentir bem, fazer parte da existência, amor infinito e tudo mais que todos sabemos que os cogumelos trazem a nossa psiquê.
Passado alguns meses após esse relato dele, num momento onde vez ou outra eu fazia meditação e sentia gratidão pelas coisas e finalmente eu parecia ter alcançado o equilíbrio mental, comecei a pensar a respeito disso e talvez considerar uma trip de cogus também, já que a proposta do alucinógeno era para ser a droga mais segura do mundo se fosse utilizada num ambiente correto. Enfim, topei a ideia (nunca usei nenhum tipo de droga além do álcool, apenas alguns meses antes havia experimentado maconha pela primeira e única vez) e comprei 5gr de desidratados para experimentar. Como não sabia como meu corpo iria reagir e eu definitivamente não gosto de perder o controle sobre minhas ações (tal como bebidas alcoólicas), tomei num dia lindo e ensolarado, calmo e em jejum, logo de manha a quantidade de 1gr, acompanhado por uma outra pessoa de babá que conduziu a trip com musicas agradáveis psicodélicas enquanto ficava de olhos fechados e entrava na força do cogumelo. Nessa trip a experiencia foi maravilhosa e todas aquelas sensações de amor absoluto, fazer parte de algo, me unir com o todo e me “transformar em uma criança“ denovo redescobrindo as cores, gostos e sentimentos vieram a tona, foi maravilhoso. Chorei a trip inteira maravilhado pelos sentimentos e gratidão que estava sentindo, tive até um insight passado que acabou me fazendo superar uma situação que não havia reagido de forma adequada.
Bom, passado aproximadamente um pouco mais de um mês, me preparei para uma segunda trip, dessa vez com 2gr de cogus, fiz meditação antes, tentei estar bem naquela semana, chamei meu amigo mais uma vez para ficar de babá e conduzir todo o “ritual”, afinal, “set and setting” são importantes. Desta vez a viagem foi ainda mais intensa, uma explosão de cores fractais, tuneis sem fim, insights, desdobramento da mente, sentia que estava conversando com meu inconsciente, mas sem perder o controle, era fechar os olhos e navegar em sonhos lúcidos e deixar a onda me levar onde quer que ela fosse. Estava maravilhado por tudo aquilo e sentia que os cogumelos me traziam algo que eu deixei de sentir há alguns anos: aquele amor imenso pelas coisas, pela vida, por mim, pelas pessoas, aquele respeito imenso por tudo... Foi maravilhoso a sensação de bem estar e tudo mais. Será que eu estava encontrando a minha espiritualidade? Por que eu não via espíritos, não entendia porque outros viam e eu não, mas eu estava num encontro profundo comigo mesmo, uma viagem de cabeça para dentro de mim. Tive muitos insights positivos e significativos nessa trip.
É engraçado como os efeitos dos cogumelos são, me sentia magnifico depois da trip, pensativo, longe, mas era uma paz interior imensa, uma gratidão que não cabia dentro de mim. Como me consagrei com os cogumelos nos sábados, tive os domingos para pensar a respeito e aproveitar ainda o restinho dos efeitos do dia seguinte. Sentia as ondas e o cogumelo agindo sobre mim durante a trip no sábado, e eu sabia que ele ainda estava lá, dentro de mim, vivo, sentia no meu corpo, navegando pelas minhas veias e corrente sanguínea, era uma entidade dentro de mim, mas não espiritual, era uma força, a força da natureza. E também é engraçado quando você acorda alguns dias depois e sente que ele simplesmente se foi, não esta mais dentro de você e você se torna órfão de novo daquela experiencia linda. Fiquei deslumbrado kkk.
Passado em torno de uns 20 dias após a 2º trip, resolvi fazer minha ultima trip com o restante das 2gr de desidratados, desta vez, sozinho, seguindo a mesma linha de raciocínio, com a mesma playlist de musicas psicodélicas, num dia lindo, estando em jejum, paz interior e tudo mais. Porém, não sei se meu corpo havia acostumado com aquela substancia ou era apenas meu estado de espirito no dia... não tive nenhum insight, nenhum túnel psicodélico, nenhuma trip, apenas os efeitos do cogumelo no corpo. Desta vez não sentia o cogumelo dentro de mim, não sentia aquela força da natureza, aquele amor, aquela leveza, paz, não conseguia sentir o meu eu, nem fazer parte da conexão com a natureza e comigo mesmo. Estava sozinho com o vazio de nenhum sentimento. Estava embriagado com os efeitos, mas e só. Então, cansado de não ver as mirações e os “sonhos lúcidos” quis ficar de olhos abertos e fui explorar meu apartamento, me deliciei com chocolate, e nossa, que delicia, me saciei com apenas 4 bombons, o sabor era incrível. Depois fiquei olhando o lustre se mexendo bem devagarzinho na minha frente, as cores respirando... então peguei meu celular para falar com meu amigo e meu celular estava em 3D, as letrinhas se mexiam, estavam mais vivas e era lindo. Resolvi assistir Stranger Things no dia, via algo engraçado e ria, via algo mais sombrio e sentia um pouco de medo, via a TV em 3D, fiquei imaginando assistir Avatar no cinema em 3D sob efeitos de cogus, mas em pouca quantidade. Vi aquelas crianças do Stranger Things em grupo falando sobre algo que eu não conseguia entender qual era o sentido do papo, parecia que cada um estava falando sobre algo diferente, com sentido, mas sem conexão com o todo do assunto, foi bacana os efeitos. Esperei passar, fui no mercado e apenas me sentia eu mesmo, só eu...
Passado aproximadamente 2 meses, depois de muita, mas muita pesquisa na internet, me senti pronto para tomar o Ayahuasca pela primeira vez num ritual Xamânico a convite de um amigo. Conhecia já algumas pessoas que estariam lá, já fui uma vez neste sitio onde foi realizado o ritual, e me senti seguro em participar. Como não acredito em nada, fui de mente e corpo aberto, aceitando tudo que me falassem e pedissem, foi num domingo de tarde. Me preparei 2 dias antes com alimentos saudáveis, sem carne, sem medicamentos, no dia tomamos todos uma sopa de letrinhas (kk isso mesmo, servida antes do ritual), frutas, etc. Conversei com as pessoas antes, me enturmei, falei um pouco das minhas experiencias com psicodélicos e me senti a vontade, energia boa, pessoas boas, em sua maioria jovens, em torno de umas 25 no total. Então, a todos deram 1 cadeira para se sentar e a mim deram uma esteira caso eu quisesse deitar, como era minha primeira vez, eu “tive essa liberdade”. A moça que estava conduzindo o ritual me orientou a tentar não ficar deitado, pois ela disse que quando se deita com Ayahuasca, é difícil levantar depois, eu acatei a orientação, peguei meu balde de vomito para ficar mais próximo e fui pegar meu copo de ayahuasca graduação 5x1 (um copo de café de plástico cheio), foi falado que após 2 e 4hrs consecutivamente iriam servir 2 outras vezes e quem quisesse poderia ir lá pegar mais em qualquer quantidade. Ingeri a bebida ao mesmo tempo que todos e não demorou mais que 15 minutos para surgirem os efeitos. Formigamento nos membros, um calor insuportável, comecei a suar e a ter muita ânsia de vomito (odeio vomitar), então senti a necessidade de me deitar, fechei os olhos e comecei ver as formas geométricas, estava em casa pois conhecia tudo aquilo. Eu me senti bem, foi deitar que a vontade de vomitar e o mal estar passou, então foi um mergulho de cabeça pra dentro de mim mesmo, passando por tuneis intermináveis caleidoscópicos de psicodelia, fui aceitando aquilo, deixei meu corpo perecer totalmente, e aos poucos fui derretendo e fundindo com a terra, virei casca de arvore, e simplesmente morri. Enquanto passava pelos tuneis, fiquei terrivelmente tonto e com mal estar de novo por conta do vomito, me sentei e quando me sentei, perdi a noção de realidade, perdi meus egos, não sabia onde eu estava nem o que eu estava fazendo, apenas me lembrei que eu deveria ficar sentado pois aquela frase “é difícil se levantar com Ayahuasca” me veio a mente. Milhares, não... milhões de anos se passaram, não sabia quanto tempo estava ali, olhava para os lados, todos vomitando muito e eu ali, segurando na força da Ayahuasca pra não vomitar tb pois odiava a sensação do vomito, me deitei denovo para passar o mal estar e entrei novamente no portal psicodélico, no loop interminável e sem fim, novamente se passaram milhões de anos, então sentei denovo, e sei que fiz esse movimento de deitar e sentar algumas vezes, eu estava em um loop, não sabia se eu estava sonhando ou se estava acordado, mas aceitei tudo, e eu estava confuso, algumas coisas eu lembrava, outras não, inclusive o objetivo de eu estar ali, e talvez eu não tivesse mesmo objetivo, apenas estava ali para “experimentar”. Vez ou outra vinha alguém e agachava e me perguntava se eu estava bem, eu dizia que sim, não queria estragar o ritual, mas eu estava confuso e a beira de loucura pois achava que tinha “estragado” meu cérebro e que nunca mais voltaria a ser eu mesmo. Mas por fora eu estava comportado, tentava meditar, fechar os olhos, abrir os olhos, era difícil demais. Após uns 20 minutos nesse estado confuso de sonho e percepção, as formas geométricas foram cessando e percebi que estava em um loop e fui saindo aos poucos e me lembrando das coisas e tentei apenas ficar em estado meditativo, mas não vinha nada na minha cabeça, silencio absoluto, não tinha ninguém lá, nada. Todos se comportando e parece que apenas eu estava naquela confusão mental. Fui me contendo e fui voltando a mim mesmo, depois disso, participando das ondas da força, musicas, fui acalmando meu coração, mas eu tomei um surra, uma surra da Ayahuasca, estava tremendamente forte, fui atropelado. Não quis tomar mais nenhuma dose depois, fiquei sob efeitos aproximadamente 7~8hrs, fui o ultimo a vomitar e só saiu saliva. Fui o ultimo a sair da força da Ayahuasca. Pensei comigo mesmo, por que eu fiz isso comigo? Pq alguém faz isso consigo mesmo? Aquele mal estar tremendo, vontade de vomitar o tempo todo, queria só ir embora, descansar. Não vi espíritos, não consegui falar comigo mesmo, não tive sensações de amor, completude, nada. Fui atropelado e não vi a placa do caminhão. Foi apenas um alucinógeno forte e só, mas muito, muito diferente dos cogus pois a psicodelia vem apenas no inicio, enquanto nos cogus ela vem durante as ondas. Depois disso partilhamos uma refeição, já era por volta das 23hrs, conversei com algumas pessoas sobre a vida e só, fui embora e dormi.
Concluindo: Estou processando todas essas viagens psicodélicas. Eu li muito antes, li muito depois, e finalmente cheguei no objetivo do tópico que é falar sobre isso:
Parece que temos dentro de nós 2 seres totalmente diferentes, o consciente que é aquele que comanda o corpo e faz as coisas pensando racionalmente e com o pé no chão, e o inconsciente, que é aquele que fica adormecido e dando pitaco nas coisas da nossa vida, é aquela voizinha lá no fundo que nos fala, “não faça isso”, “faça aquilo”. É meio que injusto pois apenas o consciente comanda toda a nossa realidade e o inconsciente nosso ser.
Quando tomamos um psicodélico, damos poder ao nosso inconsciente e ele começa a palpitar com mais vontade e mais alto. Por isso vemos um desprendimento de nós mesmos quando estamos na força, você se vê no sonho, você vê você mesmo, o consciente é aquele que apanha, e o inconsciente que é aquele que te bate, te dá bronca, te humilha, ele fica mais evidente, mais forte. Se uma pessoa acredita em espíritos, gnomos, ETs, etc, mesmo que inconscientemente lá no fundo ela acredita, quando sob efeito do psicodélico, aquilo tudo vem a tona, e seu inconsciente projeta isso na sua frente, pro consciente ver, essa é a parte da loucura, das mirações, ou alucinações (mirações e alucinações é a mesma coisa, é que um é uma palavra bonita, enquanto o outro, bem, o outro... igual alucinógeno e enteogeno).
Então, seguindo a linha de raciocínio do meu paragrafo anterior, a mente só projeta aquilo que acreditamos. Se você acredita em algo mesmo em menor grau, você vai ver, e é com isso que ficamos maravilhados numa trip ou horrorizados numa bad-trip (ou peia né, tudo questão de nome, mas é a mesma coisa). O consciente e o inconsciente ficam nessa perfeita harmonia, as vezes oscilando um pouco, até que dependendo do estado da pessoa, independente da quantidade ingerida, o inconsciente (sabe aquele que tem vontade de matar seu chefe) toma conta do seu corpo e toma as decisões por você te colocando pra dormir. Pronto, você está no meio de um surto psicótico e o que pode acontecer a seguir vai depender muito do ambiente ao seu redor e das pessoas que estão vivenciando aquilo. Pode ter volta daquilo ou não, com sequelas ou não, tudo já não depende mais de ti e sim de todo o ambiente ao seu redor.
A questão é... precisamos tomar psicodélicos para ter esse contato com o EU interior? Levar porrada do inconsciente por que fez merda lá atras, ter o risco dele assumir completamente o controle na situação. As pessoas nos falam verdades o tempo todo sobre nossos comportamentos e ações, por que não damos atenção a isso ao invés de correr o risco de ficar maluco de vez apenas para ter o EU pra nos falar as mesmas coisas? O que é diferente do olhar para dentro numa meditação ao invés de ter a experiencia real do EU ali nos dando lições?
Todos somos adultos, não podemos culpar ninguém e ninguém tem responsabilidade por nossas próprias decisões, mas acho que a linha que nos separa da loucura é muito tênue, por que deixar essa linha mais curta ainda? Não viveremos no astral se viermos a ficar loucos, não desconectaremos da matrix, se tivermos um dano cerebral ou nunca mais sair de um surto. Quem gostaria de ter o inconsciente projetado ali na sua frente por 24hrs te dando lições de moral o tempo todo? Alguns com esquizofrenia convivem as vezes até, silenciosamente com isso diariamente, outros não aguentam a carga e acabam indo parar em manicômios.
Nós não precisamos de psicodélicos para encontrar sentido na vida, para se conectar consigo mesmo e com a natureza. O que precisamos é respeitar um ao outro, viver em comunhão e acreditar nisso, isso deveria ser a nossa religião, e não espíritos e outros assuntos que não nos competem em vida, não é nosso objetivo. Se é que eles existem (o que eu não acredito muito), não faz sentido saber disso agora, pois desperdiçamos muito tempo das nossas vidas buscando algo fora da realidade que vivemos e deixando de viver o agora, o presente, com pessoas que amamos.
Meditar é a chave... é perfeitamente possível ter um papo reto com o inconsciente se você estiver num estado de bem consigo mesmo e aprender as mesmas lições que aprenderia com psicodélicos. É que com psicodélicos, que é um atalho, você vê, e as vezes, muitas vezes, as pessoas não estão preparadas para ver. Quem ainda não teve uma bad-trip, vai ter um dia. E a cada passo de expansão da consciência com substancias fortes como essas, a gente fica mais há um passo da beira da loucura e de perder o controle de si. É a mesma coisa quando nos embriagamos com álcool e esquecemos que pagamos mico no dia anterior. Enfim, nunca passei por isso, em nenhum dos dois casos. Isso falando para quem busca as respostas dentro de si.
Hoje, 2 semanas depois da Ayahuasca, tenho tido sonhos lúcidos, as vezes acordo confuso de noite pois revivo alguns momentos com psicodélicos, uma espécie de um terror noturno. Isso foi bom pra mim? Não sei, acho que não, mas em algum sentido me fez despertar essa linha de raciocínio que o que talvez tenha sido bom.
Eu acredito que quando morremos, vamos para terra... nossa consciência se fragmenta, vira natureza de novo, não deixamos de existir, mas é outra existência, uma existência inconsciente, pura, então por que não aproveitar o agora? Isso falando para quem busca respostas nos enteógenos.
Talvez também eu só tenha alcançado meu objetivo com as trips de cogumelo e ayahuasca expandindo a minha própria consciência e descobrindo o significado do meu lugar no mundo. Me entorpecer novamente com essas medicinas da floresta poderiam apenas enuviar minha auto-descoberta criando novas duvidas.
Gente, esse meu texto que levei 3hrs pra escrever é apenas para dar luz a uma discussão saudável sobre o uso de psicodélicos, não quero impor nada a ninguém, já tomei, experimentei, sei das sensações maravilhosas, mas acima de tudo sei dos riscos também. O papo sobre Ayahuasca não é para entrar no mérito da religião, mas tive que entrar no assunto apenas para exemplificar que o que vemos numa trip é apenas uma parte de nós, não tem nada de sobrenatural como alguns pensam. É apenas nosso espelho, nosso verdadeiro ser. É tudo fruto do nosso próprio inconsciente e quando prevemos algo de bom ou ruim para acontecer, pode ser a natureza nos mostrando esses sinais sutis que nos esquecemos de observar com o passar dos milhares de anos e que hoje nos acomodamos nas tecnologias e no conforto de que muitas vezes não precisamos nem pensar mais para nada.
Se você chegou até aqui, parabéns, você teve curiosidade e se abriu para ter um novo ponto de vista, isso é a verdadeira expansão da consciência, tomou a “dose heróica” só que de leitura. Kkk
Gostaria de relatar aqui minhas pouquíssimas experiencias com psicodélicos (3 trips de cogus com 2gr e 1 trip de ayahuasca). Como considerações iniciais, gostaria de dizer que não sou médico ou crente de qualquer religião, e, sou leigo nesse assunto como qualquer outra pessoa comum e que meu objetivo aqui é estabelecer uma discussão saudável de mente aberta e com respeito ao assunto sem menosprezar ou ofender a crença ou opinião de ninguém seja ela em qual área for.
Bom... há uns ~4 anos atras eu passei por um divorcio e outras situações em família que vieram simultaneamente e que me fragilizou muito, fiquei por muito tempo na fossa e tentando me encontrar tanto espiritualmente (já que não acredito em nada), quanto comigo mesmo... Amadurecer, e entender o que se passou comigo eram meus objetivos. Não vou entrar em detalhes sobre o que aconteceu no passado mas sim a jornada de lá pra frente.
Por indicação de um colega e também para fazer companhia a ele, fui convidado a participar de um curso de Gnosis (que só depois, tanto eu quanto ele vimos a entender que era uma religião), e isso foi o estopim para começar a observar mais para dentro de mim e prestar mais atenção as coisas ao meu redor. Precisava entender todos os momentos que eu havia passado e o porque de tudo e também me encontrar naquele vazio sem explicação do qual eu me encontrava.
Eu sou uma pessoa muito cética, pé no chão, racional, só acredito vendo e, apesar da minha mãe ser Espírita kardecista, e eu ter frequentado o centro espirita por algum tempo não cheguei a me encontrar. No Gnosis as pessoas falavam de gnomos, seres extraterrestres e tudo mais quanto é coisa que eu achava loucura, mas tentava manter minha mente aberta a isso e me perguntava: “por que não? talvez existam mesmo, ou estão todos num delírio coletivo?”. Enfim, terminei o curso, não quis entrar para a religião e segui caminho.
Algum tempo depois descobri que o pessoal do Gnosis se consagrava com um tal de Ayahuasca, um chá indígena “alucinógeno” (é bem essa a palavra mesmo) e fiquei curioso para saber do que se tratava, então, falei com esse meu amigo no qual fomos fazer o curso juntos e ele começou as suas pesquisas. Enquanto eu, sempre cético e desconfiado, deixei ele buscar as informações enquanto me ocupava com afazeres mais racionais.
Após quase 1 ano aproximadamente do fim do curso, ele comprou na internet os famosos “Cogumelos Mágicos” e me chamou para ser babá dele enquanto estaria em uma experiencia psicodélica. Como ele já havia usado drogas pesadas alguns anos atras, deixei ele experimentar primeiro e caso não viesse a falecer kkk eu pensaria a respeito. Bom, ele fez algumas trips e me contou coisas incríveis, em que ele conversou com o EU dele, que viajou por mundos, viu espíritos, existências, dimensões, etc e blablabla. Ele estava maravilhado, contou sobre as sensações de se sentir bem, fazer parte da existência, amor infinito e tudo mais que todos sabemos que os cogumelos trazem a nossa psiquê.
Passado alguns meses após esse relato dele, num momento onde vez ou outra eu fazia meditação e sentia gratidão pelas coisas e finalmente eu parecia ter alcançado o equilíbrio mental, comecei a pensar a respeito disso e talvez considerar uma trip de cogus também, já que a proposta do alucinógeno era para ser a droga mais segura do mundo se fosse utilizada num ambiente correto. Enfim, topei a ideia (nunca usei nenhum tipo de droga além do álcool, apenas alguns meses antes havia experimentado maconha pela primeira e única vez) e comprei 5gr de desidratados para experimentar. Como não sabia como meu corpo iria reagir e eu definitivamente não gosto de perder o controle sobre minhas ações (tal como bebidas alcoólicas), tomei num dia lindo e ensolarado, calmo e em jejum, logo de manha a quantidade de 1gr, acompanhado por uma outra pessoa de babá que conduziu a trip com musicas agradáveis psicodélicas enquanto ficava de olhos fechados e entrava na força do cogumelo. Nessa trip a experiencia foi maravilhosa e todas aquelas sensações de amor absoluto, fazer parte de algo, me unir com o todo e me “transformar em uma criança“ denovo redescobrindo as cores, gostos e sentimentos vieram a tona, foi maravilhoso. Chorei a trip inteira maravilhado pelos sentimentos e gratidão que estava sentindo, tive até um insight passado que acabou me fazendo superar uma situação que não havia reagido de forma adequada.
Bom, passado aproximadamente um pouco mais de um mês, me preparei para uma segunda trip, dessa vez com 2gr de cogus, fiz meditação antes, tentei estar bem naquela semana, chamei meu amigo mais uma vez para ficar de babá e conduzir todo o “ritual”, afinal, “set and setting” são importantes. Desta vez a viagem foi ainda mais intensa, uma explosão de cores fractais, tuneis sem fim, insights, desdobramento da mente, sentia que estava conversando com meu inconsciente, mas sem perder o controle, era fechar os olhos e navegar em sonhos lúcidos e deixar a onda me levar onde quer que ela fosse. Estava maravilhado por tudo aquilo e sentia que os cogumelos me traziam algo que eu deixei de sentir há alguns anos: aquele amor imenso pelas coisas, pela vida, por mim, pelas pessoas, aquele respeito imenso por tudo... Foi maravilhoso a sensação de bem estar e tudo mais. Será que eu estava encontrando a minha espiritualidade? Por que eu não via espíritos, não entendia porque outros viam e eu não, mas eu estava num encontro profundo comigo mesmo, uma viagem de cabeça para dentro de mim. Tive muitos insights positivos e significativos nessa trip.
É engraçado como os efeitos dos cogumelos são, me sentia magnifico depois da trip, pensativo, longe, mas era uma paz interior imensa, uma gratidão que não cabia dentro de mim. Como me consagrei com os cogumelos nos sábados, tive os domingos para pensar a respeito e aproveitar ainda o restinho dos efeitos do dia seguinte. Sentia as ondas e o cogumelo agindo sobre mim durante a trip no sábado, e eu sabia que ele ainda estava lá, dentro de mim, vivo, sentia no meu corpo, navegando pelas minhas veias e corrente sanguínea, era uma entidade dentro de mim, mas não espiritual, era uma força, a força da natureza. E também é engraçado quando você acorda alguns dias depois e sente que ele simplesmente se foi, não esta mais dentro de você e você se torna órfão de novo daquela experiencia linda. Fiquei deslumbrado kkk.
Passado em torno de uns 20 dias após a 2º trip, resolvi fazer minha ultima trip com o restante das 2gr de desidratados, desta vez, sozinho, seguindo a mesma linha de raciocínio, com a mesma playlist de musicas psicodélicas, num dia lindo, estando em jejum, paz interior e tudo mais. Porém, não sei se meu corpo havia acostumado com aquela substancia ou era apenas meu estado de espirito no dia... não tive nenhum insight, nenhum túnel psicodélico, nenhuma trip, apenas os efeitos do cogumelo no corpo. Desta vez não sentia o cogumelo dentro de mim, não sentia aquela força da natureza, aquele amor, aquela leveza, paz, não conseguia sentir o meu eu, nem fazer parte da conexão com a natureza e comigo mesmo. Estava sozinho com o vazio de nenhum sentimento. Estava embriagado com os efeitos, mas e só. Então, cansado de não ver as mirações e os “sonhos lúcidos” quis ficar de olhos abertos e fui explorar meu apartamento, me deliciei com chocolate, e nossa, que delicia, me saciei com apenas 4 bombons, o sabor era incrível. Depois fiquei olhando o lustre se mexendo bem devagarzinho na minha frente, as cores respirando... então peguei meu celular para falar com meu amigo e meu celular estava em 3D, as letrinhas se mexiam, estavam mais vivas e era lindo. Resolvi assistir Stranger Things no dia, via algo engraçado e ria, via algo mais sombrio e sentia um pouco de medo, via a TV em 3D, fiquei imaginando assistir Avatar no cinema em 3D sob efeitos de cogus, mas em pouca quantidade. Vi aquelas crianças do Stranger Things em grupo falando sobre algo que eu não conseguia entender qual era o sentido do papo, parecia que cada um estava falando sobre algo diferente, com sentido, mas sem conexão com o todo do assunto, foi bacana os efeitos. Esperei passar, fui no mercado e apenas me sentia eu mesmo, só eu...
Passado aproximadamente 2 meses, depois de muita, mas muita pesquisa na internet, me senti pronto para tomar o Ayahuasca pela primeira vez num ritual Xamânico a convite de um amigo. Conhecia já algumas pessoas que estariam lá, já fui uma vez neste sitio onde foi realizado o ritual, e me senti seguro em participar. Como não acredito em nada, fui de mente e corpo aberto, aceitando tudo que me falassem e pedissem, foi num domingo de tarde. Me preparei 2 dias antes com alimentos saudáveis, sem carne, sem medicamentos, no dia tomamos todos uma sopa de letrinhas (kk isso mesmo, servida antes do ritual), frutas, etc. Conversei com as pessoas antes, me enturmei, falei um pouco das minhas experiencias com psicodélicos e me senti a vontade, energia boa, pessoas boas, em sua maioria jovens, em torno de umas 25 no total. Então, a todos deram 1 cadeira para se sentar e a mim deram uma esteira caso eu quisesse deitar, como era minha primeira vez, eu “tive essa liberdade”. A moça que estava conduzindo o ritual me orientou a tentar não ficar deitado, pois ela disse que quando se deita com Ayahuasca, é difícil levantar depois, eu acatei a orientação, peguei meu balde de vomito para ficar mais próximo e fui pegar meu copo de ayahuasca graduação 5x1 (um copo de café de plástico cheio), foi falado que após 2 e 4hrs consecutivamente iriam servir 2 outras vezes e quem quisesse poderia ir lá pegar mais em qualquer quantidade. Ingeri a bebida ao mesmo tempo que todos e não demorou mais que 15 minutos para surgirem os efeitos. Formigamento nos membros, um calor insuportável, comecei a suar e a ter muita ânsia de vomito (odeio vomitar), então senti a necessidade de me deitar, fechei os olhos e comecei ver as formas geométricas, estava em casa pois conhecia tudo aquilo. Eu me senti bem, foi deitar que a vontade de vomitar e o mal estar passou, então foi um mergulho de cabeça pra dentro de mim mesmo, passando por tuneis intermináveis caleidoscópicos de psicodelia, fui aceitando aquilo, deixei meu corpo perecer totalmente, e aos poucos fui derretendo e fundindo com a terra, virei casca de arvore, e simplesmente morri. Enquanto passava pelos tuneis, fiquei terrivelmente tonto e com mal estar de novo por conta do vomito, me sentei e quando me sentei, perdi a noção de realidade, perdi meus egos, não sabia onde eu estava nem o que eu estava fazendo, apenas me lembrei que eu deveria ficar sentado pois aquela frase “é difícil se levantar com Ayahuasca” me veio a mente. Milhares, não... milhões de anos se passaram, não sabia quanto tempo estava ali, olhava para os lados, todos vomitando muito e eu ali, segurando na força da Ayahuasca pra não vomitar tb pois odiava a sensação do vomito, me deitei denovo para passar o mal estar e entrei novamente no portal psicodélico, no loop interminável e sem fim, novamente se passaram milhões de anos, então sentei denovo, e sei que fiz esse movimento de deitar e sentar algumas vezes, eu estava em um loop, não sabia se eu estava sonhando ou se estava acordado, mas aceitei tudo, e eu estava confuso, algumas coisas eu lembrava, outras não, inclusive o objetivo de eu estar ali, e talvez eu não tivesse mesmo objetivo, apenas estava ali para “experimentar”. Vez ou outra vinha alguém e agachava e me perguntava se eu estava bem, eu dizia que sim, não queria estragar o ritual, mas eu estava confuso e a beira de loucura pois achava que tinha “estragado” meu cérebro e que nunca mais voltaria a ser eu mesmo. Mas por fora eu estava comportado, tentava meditar, fechar os olhos, abrir os olhos, era difícil demais. Após uns 20 minutos nesse estado confuso de sonho e percepção, as formas geométricas foram cessando e percebi que estava em um loop e fui saindo aos poucos e me lembrando das coisas e tentei apenas ficar em estado meditativo, mas não vinha nada na minha cabeça, silencio absoluto, não tinha ninguém lá, nada. Todos se comportando e parece que apenas eu estava naquela confusão mental. Fui me contendo e fui voltando a mim mesmo, depois disso, participando das ondas da força, musicas, fui acalmando meu coração, mas eu tomei um surra, uma surra da Ayahuasca, estava tremendamente forte, fui atropelado. Não quis tomar mais nenhuma dose depois, fiquei sob efeitos aproximadamente 7~8hrs, fui o ultimo a vomitar e só saiu saliva. Fui o ultimo a sair da força da Ayahuasca. Pensei comigo mesmo, por que eu fiz isso comigo? Pq alguém faz isso consigo mesmo? Aquele mal estar tremendo, vontade de vomitar o tempo todo, queria só ir embora, descansar. Não vi espíritos, não consegui falar comigo mesmo, não tive sensações de amor, completude, nada. Fui atropelado e não vi a placa do caminhão. Foi apenas um alucinógeno forte e só, mas muito, muito diferente dos cogus pois a psicodelia vem apenas no inicio, enquanto nos cogus ela vem durante as ondas. Depois disso partilhamos uma refeição, já era por volta das 23hrs, conversei com algumas pessoas sobre a vida e só, fui embora e dormi.
Concluindo: Estou processando todas essas viagens psicodélicas. Eu li muito antes, li muito depois, e finalmente cheguei no objetivo do tópico que é falar sobre isso:
Parece que temos dentro de nós 2 seres totalmente diferentes, o consciente que é aquele que comanda o corpo e faz as coisas pensando racionalmente e com o pé no chão, e o inconsciente, que é aquele que fica adormecido e dando pitaco nas coisas da nossa vida, é aquela voizinha lá no fundo que nos fala, “não faça isso”, “faça aquilo”. É meio que injusto pois apenas o consciente comanda toda a nossa realidade e o inconsciente nosso ser.
Quando tomamos um psicodélico, damos poder ao nosso inconsciente e ele começa a palpitar com mais vontade e mais alto. Por isso vemos um desprendimento de nós mesmos quando estamos na força, você se vê no sonho, você vê você mesmo, o consciente é aquele que apanha, e o inconsciente que é aquele que te bate, te dá bronca, te humilha, ele fica mais evidente, mais forte. Se uma pessoa acredita em espíritos, gnomos, ETs, etc, mesmo que inconscientemente lá no fundo ela acredita, quando sob efeito do psicodélico, aquilo tudo vem a tona, e seu inconsciente projeta isso na sua frente, pro consciente ver, essa é a parte da loucura, das mirações, ou alucinações (mirações e alucinações é a mesma coisa, é que um é uma palavra bonita, enquanto o outro, bem, o outro... igual alucinógeno e enteogeno).
Então, seguindo a linha de raciocínio do meu paragrafo anterior, a mente só projeta aquilo que acreditamos. Se você acredita em algo mesmo em menor grau, você vai ver, e é com isso que ficamos maravilhados numa trip ou horrorizados numa bad-trip (ou peia né, tudo questão de nome, mas é a mesma coisa). O consciente e o inconsciente ficam nessa perfeita harmonia, as vezes oscilando um pouco, até que dependendo do estado da pessoa, independente da quantidade ingerida, o inconsciente (sabe aquele que tem vontade de matar seu chefe) toma conta do seu corpo e toma as decisões por você te colocando pra dormir. Pronto, você está no meio de um surto psicótico e o que pode acontecer a seguir vai depender muito do ambiente ao seu redor e das pessoas que estão vivenciando aquilo. Pode ter volta daquilo ou não, com sequelas ou não, tudo já não depende mais de ti e sim de todo o ambiente ao seu redor.
A questão é... precisamos tomar psicodélicos para ter esse contato com o EU interior? Levar porrada do inconsciente por que fez merda lá atras, ter o risco dele assumir completamente o controle na situação. As pessoas nos falam verdades o tempo todo sobre nossos comportamentos e ações, por que não damos atenção a isso ao invés de correr o risco de ficar maluco de vez apenas para ter o EU pra nos falar as mesmas coisas? O que é diferente do olhar para dentro numa meditação ao invés de ter a experiencia real do EU ali nos dando lições?
Todos somos adultos, não podemos culpar ninguém e ninguém tem responsabilidade por nossas próprias decisões, mas acho que a linha que nos separa da loucura é muito tênue, por que deixar essa linha mais curta ainda? Não viveremos no astral se viermos a ficar loucos, não desconectaremos da matrix, se tivermos um dano cerebral ou nunca mais sair de um surto. Quem gostaria de ter o inconsciente projetado ali na sua frente por 24hrs te dando lições de moral o tempo todo? Alguns com esquizofrenia convivem as vezes até, silenciosamente com isso diariamente, outros não aguentam a carga e acabam indo parar em manicômios.
Nós não precisamos de psicodélicos para encontrar sentido na vida, para se conectar consigo mesmo e com a natureza. O que precisamos é respeitar um ao outro, viver em comunhão e acreditar nisso, isso deveria ser a nossa religião, e não espíritos e outros assuntos que não nos competem em vida, não é nosso objetivo. Se é que eles existem (o que eu não acredito muito), não faz sentido saber disso agora, pois desperdiçamos muito tempo das nossas vidas buscando algo fora da realidade que vivemos e deixando de viver o agora, o presente, com pessoas que amamos.
Meditar é a chave... é perfeitamente possível ter um papo reto com o inconsciente se você estiver num estado de bem consigo mesmo e aprender as mesmas lições que aprenderia com psicodélicos. É que com psicodélicos, que é um atalho, você vê, e as vezes, muitas vezes, as pessoas não estão preparadas para ver. Quem ainda não teve uma bad-trip, vai ter um dia. E a cada passo de expansão da consciência com substancias fortes como essas, a gente fica mais há um passo da beira da loucura e de perder o controle de si. É a mesma coisa quando nos embriagamos com álcool e esquecemos que pagamos mico no dia anterior. Enfim, nunca passei por isso, em nenhum dos dois casos. Isso falando para quem busca as respostas dentro de si.
Hoje, 2 semanas depois da Ayahuasca, tenho tido sonhos lúcidos, as vezes acordo confuso de noite pois revivo alguns momentos com psicodélicos, uma espécie de um terror noturno. Isso foi bom pra mim? Não sei, acho que não, mas em algum sentido me fez despertar essa linha de raciocínio que o que talvez tenha sido bom.
Eu acredito que quando morremos, vamos para terra... nossa consciência se fragmenta, vira natureza de novo, não deixamos de existir, mas é outra existência, uma existência inconsciente, pura, então por que não aproveitar o agora? Isso falando para quem busca respostas nos enteógenos.
Talvez também eu só tenha alcançado meu objetivo com as trips de cogumelo e ayahuasca expandindo a minha própria consciência e descobrindo o significado do meu lugar no mundo. Me entorpecer novamente com essas medicinas da floresta poderiam apenas enuviar minha auto-descoberta criando novas duvidas.
Gente, esse meu texto que levei 3hrs pra escrever é apenas para dar luz a uma discussão saudável sobre o uso de psicodélicos, não quero impor nada a ninguém, já tomei, experimentei, sei das sensações maravilhosas, mas acima de tudo sei dos riscos também. O papo sobre Ayahuasca não é para entrar no mérito da religião, mas tive que entrar no assunto apenas para exemplificar que o que vemos numa trip é apenas uma parte de nós, não tem nada de sobrenatural como alguns pensam. É apenas nosso espelho, nosso verdadeiro ser. É tudo fruto do nosso próprio inconsciente e quando prevemos algo de bom ou ruim para acontecer, pode ser a natureza nos mostrando esses sinais sutis que nos esquecemos de observar com o passar dos milhares de anos e que hoje nos acomodamos nas tecnologias e no conforto de que muitas vezes não precisamos nem pensar mais para nada.
Se você chegou até aqui, parabéns, você teve curiosidade e se abriu para ter um novo ponto de vista, isso é a verdadeira expansão da consciência, tomou a “dose heróica” só que de leitura. Kkk