- 16/11/2010
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Divirei esse relato em três partes, pois consigo ver diferenças muito nítidas entre cada uma das fases da viagem.
Parte 1
Essa foi minha última experiência e, certamente, a última deste verão. Combino com dois amigos de infância fiéis de longa data uma caçada psicodélica, sendo que dos três, eu era o único que já havia tido contato com cubensis. Na verdade é um exagero dizer que foi combinado, na verdade, foi totalmente em cima da hora. Eu fui colher sozinho, e os encontraria mais tarde no sítio de um deles, onde os prepararíamos.
Chego no pasto, que é um pasto de vacas nelore, próximo a uma cachoeira, mas num lugar mais afastado, onde quase não vão humanos. Um lugar abençoado de cogumelos - cubensis, panaeolus e outros tantos que não seriam uma boa ideia ingerir - mas nesse dia em especial, haviam muito poucos. Chou muito nos dias anteriores a colheita, mas parece que por aqui o clima não favorece muito o aparecimento de cubensis em janeiro. O pasto é enorme. Em dias de boas colheitas seria possível colher um quilo de cubensis e o pasto continuaria abarrotado de cogumelos.
Andei por muito tempo pelo pasto - sob um sol quentíssimo - e os poucos cubensis que encontrei estavam tão mirrados que achei que a trip seria bem leve. No fim consegui juntar cerca de 20 chapeludos, que estavam pesando no máximo cento e cinquenta gramas. Uma caçada até bem frutífera, mas a dificuldade de encontrá-los e o fato de que no momento que saí do pasto já eram mais de três horas da tarde - num dia de semana em que eu desejava voltar cedo para a casa - me ofereciam perspectivas de uma viagem ruim.
Parti para o sítio com os cubensis que haviam se disposto a me acompanhar. Logo que encontrei com meus amigos meu mau humor passou, e começamos a prepara-los seguindo a receita do Doce de Cogumelo que postei em outro tópico. Tomamos tudo, com aproveitamento quase total, e sentamos na varanda para esperar os efeitos chegarem.
Diante da varanda havia uma boa vista dos arredores e dos outros sítios. Também soprava uma brisa gostosa e os primeiros efeitos já se manifestavam. Apesar disso, eu senti uma forte necessidade de sair da varanda e ir mais pra próximo do mato. Me sentia preso alí. Sentamo-nos no chão, entre algumas árvores e samambaias e uma cadela simpática nos acompanhava. Finalmente senti um pouco de prazer, e os efeitos já se manifestavam de forma mais forte, as cores se tornavam mais vívidas, os objetos mais nítidos, podia ouvir o vento e os sons dos arredores. Sentia-me como que indo em direção ao mundo que os cogumelos nos levam, e me entreguei, com muito prazer a experiência.
Nós conversávamos animadamente, sobre tudo que nos cercava, brincávamos com a cadela e um dos meus amigos já estava deitado no chão - ignorando o fato de que estava ficando completamente sujos de terra. Havia algo de infância alí. Quando percebemos que estávamos animados demais e que seria melhor sairmos dali - onde poderíamos inclusive, ser vistos agindo de forma por demais peculiar pelas outras pessoas - decidimos descer em direção as trilhas que levavam as áreas mais selvagens do sítio, onde haviam plantas de todos os tipos, bichos, bambuzais, árvores frondosas e até uma cascatinha e, neste momento mais importante, estaríamos mais a vontade longe dos olhos dos outros humanos.
É importante descrever um pouco o sítio nessa parte. O sítio fica numa região mais alta, rodeado por outros sítios, e descendo nos fundos, é possível chegar até uma espécie de vale onde a natureza é exuberante. Portanto, um local perfeito.
Nos levantamos e caminhamos até a trilha, completamente felizes, sentindo inúmeras sensações e vendo beleza em qualquer pedacinho de capim ou de pau que víamos. Nesse momento eu sentia que já tinha aterrissado no local mais distante onde aquela dose me levaria e me sentia muito tranquilo. Chegando na entrada da trilha, percebemos que o mato tomou conta de tudo e que seria impossível passar por ali. Então decidimos seguir na outra direção, para uma trilha mais limpa, onde poderíamos, ao menos apreciar a belíssima paisagem do sítio, de um local elevado. Creio que nesse momento já deviam ser mais de 18h, e o sol ainda brilhava forte.
Mal sabia eu que estava indo em direção a mais extraordinária experiência que já tive com os nosso companheiros cubensis.