Doenças causadas por fungos Competidores em Cogumelos cultivados:
1. Deformidade ou bolha seca ("dry bubble") causada por Verticillium
A bolha seca é considerada, a nível mundial, a principal doença do Agaricus bisporus. Foi relatada cientificamente desde o final do século passado por pesquisadores como Costantin & Dufour na França, em 1892 e por Veihmeyer, em 1914, na América. A doença foi também denominada de "La mole" pelos franceses e havia na ocasião uma certa confusão sobre a real identidade do agente etiológico causador das anomalidades presentes nos cultivos de cogumelo. Diversos estudos realizados por aqueles pesquisadores sobre a doença, procurando um maior esclarecimento sobre a mesma, chegaram à conclusão errônea de tratar-se de Mycogone perniciosa Magnus. Entretanto, foi Smith, em 1924, o primeiro autor que conseguiu elucidar o problema da real identidade etiológica, determinando tratar-se de Cephalosporium costantini, hoje considerado como sinônimo de Verticillium fungicola. Ware, em 1933, através de estudos morfológicos, estabeleceu um novo agente etiológico a que denominou de Verticillium malthousei Ware. Treschow, em 1941, na Dinamarca, descreveu outra espécie de Verticillium associado a sintomas semelhantes em A. bisporus e que denominou Verticillium psalliotae. Segundo os conceitos do Commonwealth Mycological Institute (CMI), Inglaterra, relatados por Brady & Waller e Brady & Gibson em 1976, duas espécies distintas de Verticillium são hoje consideradas parasitas de A. bisporus, ou seja, V. fungicola e V. psalliotae. Segundo estes autores, elas são diferentes entre si em características morfológicas e fisiológicas.
A mais recente revisão sobre a taxonomia e patogenicidade de fungos do gênero Verticillium foi feita por Gams & Zaayen e Zaayen & Gams, em 1982. Eles propuseram indevidamente a criação de 3 variedades de Verticillium fungicola, ou seja, V. fungicola var. fungicola, V. fungicola var. aleophillum e V. fungicola var. flavidum, baseados principalmente em diferenças fisiológicas. Coutinho (1994), após realização de estudos comparativos de diversos isolados obtidos a partir de cogumelos exibindo sintomas de bolha seca, na região de Mogi das Cruzes, SP, chegou à conclusão que não havia quaisquer diferenças morfológicas entre eles e que os mesmos pertenciam à espécie V. fungicola. Preferiu não adotar a proposta de Gams & Zaayen, considerando que o Código Internacional de Nomenclatura Botânica indica que diferenças fisiológicas, apenas, não justificam a utilização de taxons infra-específicos a nível de variedade.
É dada a seguir uma descrição detalhada dos diversos aspectos da sintomatologia decorrente da infecção de V. fungicola em A. bisporus.
Os sintomas variam de acordo com a fase de desenvolvimento em que o cogumelo é infectado. Quando a infecção é tardia, ou seja, aparece quando os cogumelos apresentam-se desenvolvidos ou em fase de colheita, ocorre o aparecimento de manchas escuras de tonalidade castanha, bordos irregulares e não definidos na superfície do píleo. Essas manchas são comumente pouco profundas e os tecidos situados logo abaixo da camada superficial são, em aparência, sadios. Podem ocorrer também rachaduras, fendilhamentos e conseqüente descascamento do estipe, sintoma indicativo de que houve invasão dos tecidos do mesmo. Quando tais cogumelos são cortados longitudinalmente é freqüente observar-se uma cavidade interna também escurecida. Em virtude disto, os cogumelos tornam-se secos, enrugados e inadequados para o consumo. Um segundo tipo de sintoma ocorre em uma fase intermediária do cultivo, quando em fase de botão, ou seja, quando começam a frutificar. Nesse caso, observa-se uma espécie de estiolamento, isto é, o corpo de frutificação não mais se desenvolve e adquire uma coloração amarelada. Finalmente, o terceiro tipo de sintoma é indicativo de infecções precoces e mais severas, o que significa uma pesada contaminação do composto ou do solo de cobertura. A sintomatologia é característica e bem mais marcante. Neste caso, como o micélio do Agaricus está se desenvolvendo no composto e o parasita apresentando a sua fase vegetativa bem desenvolvida, ambos os micélios se entrelaçam. Quando o Agaricus frutifica, dá origem a corpos de frutificação bastante ou totalmente deformados. Comumente não há diferenciação entre o estipe e o píleo, formando uma massa disforme e de contornos arredondados que mais se assemelha à frutificação de um gasteromiceto. Às vezes, aparecem cogumelos com estipe e píleo diferenciados mas apresentando tamanho reduzido. Outras vezes, o estipe mostra-se entumecido e disforme dando origem a cogumelos enrijecidos e com textura coriácea. O produto obtido é totalmente impróprio para comercialização.
A fonte primária de infecção mais comum é o solo de cobertura contaminado e também a presença de grande número de esporos de Verticillium na atmosfera ao redor dos galpões de cultivo. A esterilização do solo, é portanto, indispensável para um bom programa de controle. O grau de infecção dentro das casas de cultivo pode ser significativamente reduzido pelo controle apropriado da temperatura, da umidade e da ventilação. Os esporos presentes na atmosfera e que se depositam na superfície dos cogumelos, deixam de germinar se esta for mantida seca. Assim, antes das regas, a temperatura pode ser reduzida ligeiramente e novamente elevada para facilitar a evaporação da água. Infelizmente, as condições sob as quais se desenvolvem os nossos cultivos não permitem um controle efetivo das condições ambientais.
2. Deformidade ou bolha úmida ("wet bubble") causada por fungo do gênero Mycogone
Mycogone perniciosa Magnus é considerado um dos mais antigos inimigos dos cultivadores de cogumelo e a sua distribuição é universal. A doença pode aparecer em qualquer estágio de desenvolvimento do cogumelo, mesmo quando estão presentes apenas as estruturas iniciais do corpo de frutificação. O desenvolvimento ulterior do cogumelo atacado é completamente comprometido, afetando a diferenciação entre o estipe e o píleo. Observa-se, então, o desenvolvimento de uma massa globosa, arredondada ou piriforme, que se torna recoberta por um mofo branco, denso e aveludado e que, quando mais velha, toma uma coloração "café com leite". Essa aparência irregular do píleo lembra a frutificação de um gasteromiceto. Em estado mais avançado do desenvolvimento da doença, o cogumelo afetado mostra um píleo espesso, assimétrico em relação ao eixo do estipe, vindo a seguir um processo de alteração acompanhado do aparecimento de um exsudato de aspecto castanho, oleoso e mal cheiroso. Os tecidos internos tornam-se marrom escuros, esponjosos, apresentando o mesmo odor desagradável da massa úmida que se deteriora. No caso de ataques tardios, os sintomas podem se resumir à presença do mofo branco, recobrindo as frutificações do cogumelo, as quais se tornam posteriormente escurecidas.
Uma das importantes características da doença é o fluido de cor âmbar que exsuda dos tecidos deteriorados. Quanto ao aspecto microscópico, M. perniciosa produz dois tipos de esporos. Um é unicelular e hialino, originado terminalmente sobre conidióforos verticilados e, o outro, arredondado, com dimensão muito maior, de aspecto verrugoso e ligado a uma célula basal inflada. Este tipo de esporo recebe o nome particular de aleurosporo. Usualmente, as hifas do fungo parasito desenvolvem-se entrelaçadas às hifas do cogumelo. O fungo pode ser introduzido nas casas de cultivo pelo ar, pelo manuseio, por agentes vetores e pela terra de cobertura, sendo esta a principal fonte de esporos de Mycogone.
3. Outras doenças de fungos potencialmente importantes:
Certas doenças, embora não detectadas em nosso meio, por sua importância, merecem alguns comentários. Este, por exemplo, é o caso do míldio ou "mal da teia", causado por Dactylium dendroides Fries. Esse fungo parasito cresce rapidamente sobre a superfície do solo, envolvendo todos os cogumelos que se formarem na área abrangida. Os cogumelos infectados assemelham-se, grosseiramente, a bolas de algodão, tornando-se internamente reduzidos a massas em decomposição.
Alguns biotipos de Trichoderma lignorum (Tode) Harz e T. koningii Oud. podem causar moléstia em cogumelos que é, muitas vezes, confundida com a causada por Verticillium, pela semelhança de alguns de seus sintomas. É denominada "míldio verde" e, em uma breve descrição, resume-se a aparecimento de mancha marrons, irregulares e de diversos tamanhos, na superfície do píleo. Estas tendem a aumentar de tamanho e tornam-se mais escuras do que aquelas causadas por Verticillium. Rapidamente a área afetada torna-se flácida e deprimida. A mancha não é totalmente superficial, mas atinge os "tecidos" inferiores, que são propensos a mudar de coloração.
Outra doença, muito conhecida na Europa, é o estiolamento, o "damping off" ou ainda "murcha de Fusarium" . Espécies desse gênero fazem parte da flora normal do solo e são introduzidas nas câmaras de cultivo pelos esporos ou pelos clamidosporos (estruturas de resistência) presentes no solo de cobertura.. A literatura européia cita as espécies Fusarium martii App. & Wr. e F.oxysporum Schl., como responsáveis pela doença. Causam, inicialmente, o escurecimento interno do estipe e, posteriormente, todos os cogumelos da área atingida tornam-se atrofiados e adquirem uma coloração marrom característica. Há uma indicação de que essa doença esteja presente no Brasil não tendo, todavia, sido relatada cientificamente.
Um outro tipo de míldio do cogumelo é causado por Cladobotryum ternatum Corda. Os sintomas são mais ou menos semelhantes ao do "mal da teia", já referido. Neste caso, a doença é mais lenta e os cogumelos não mudam de cor. O micélio deste bolor é branco e não tão cotonoso e luxuriante quanto ao de Dactylium. Os esporos são hialinos, unicelulares e elipsoidais, originando-se em cadeias a partir de conidióforos ramificados. As principais causa do seu aparecimento são: os esporos trazidos pelo ar, pouco cuidados na eliminação do composto exaurido e umidade na superfície dos cogumelos.
Fungos Competidores
Os fungos competidores, embora não possam ser considerados como agentes etiológicos, uma vez que não são parasitas do cogumelo cultivado, são responsáveis por enormes decréscimos na produção. Concorrem com o cogumelo comestível e disputam espaço físico e o alimento existente no composto. Pode-se constatar a presença de vários tipos de competidores em nossas condições. Predomina a idéia de que qualquer aprimoramento na técnica de produção e esterilização do composto poderá concorrer grandemente para o aumento da produtividade de cogumelos, uma vez que o aparecimento de competidores, está intimamente ligado à baixa produtividade. Entre os principais fungos competidores existentes em nosso meio e que, segundo a literatura mundial, são cosmopolitas estão:
Trichoderma spp., (bolor verde branco), Chaetomium olivaceum Cooke & Ellis e Chaetomium sp. (bolor verde oliva), Pseudobalsamia microspora Diehl & Lambert (trufas), Myceliophtora lutea Cost.& Mart. (bolor verde-cinza), Scopulariopsis fimicola (Cost. & Matr.) Arn. & Barthelet (bolor branco farinhoso), Doratomyces stemonitis (Pres.) Morton & Smith (bolor preto), Papulospora byssina Hotson (bolor marrom pulverulento) (= Myriococcum praecox), Oedocephalum sp. (bolor rosado), Xilaria spp. (mal do esclerócio), Penicillium spp. e Aspergillus spp. (Bolores verdes), Sporotrichum sp., Sepedonium sp. (bolores amarelos), Geotrichum sp. (bolor vermelho), Phymatotrichum sp. (bolor cinza), Coprinus spp., Pleurotus spp., Peziza sp. (=Ostrachoderma sp.), Clitocybe sp., etc. Também alguns mixomicetos têm sido citados como competidores. Entretanto, serão aqui citados apenas aqueles que foram efetivamente detectados, ou aqueles já referidos na literatura nacional.
Compostagem preparada impropriamente, pasteurização inadequada, solo de cobertura contaminado, galpões mal desinfectados, são provavelmente as principais causas de aparecimento de Papulospora bissina, Peziza ostrachoderma, Coprinus sp., Pleurotus sp. Clitopilus sp., Clytocype sp. Solos ácidos e o elevado conteúdo orgânico favorecem o aparecimento de fungos do gênero Trichoderma. Fatores como superaquecimento durante o processo de pasteurização podem induzir o aparecimento de Chaetomium olivacearum. Esporos de Doratomyces stemonites costumam ser introduzidos nas camas de cultivos pelo ar e sobrevivem aos processos de pasteurização. Este fungo pode também provocar problemas respiratórios nos trabalhadores, mormente durante as operações de esvaziamento e limpeza dos galpões de cultivo. Outros bolores conhecidos por causarem problemas da mesma natureza são: Aspergillus fumigatus Fres., Aspergillus flavus Link., Mucor pusillus Lindt, Spicaria sp.
1. Deformidade ou bolha seca ("dry bubble") causada por Verticillium
A bolha seca é considerada, a nível mundial, a principal doença do Agaricus bisporus. Foi relatada cientificamente desde o final do século passado por pesquisadores como Costantin & Dufour na França, em 1892 e por Veihmeyer, em 1914, na América. A doença foi também denominada de "La mole" pelos franceses e havia na ocasião uma certa confusão sobre a real identidade do agente etiológico causador das anomalidades presentes nos cultivos de cogumelo. Diversos estudos realizados por aqueles pesquisadores sobre a doença, procurando um maior esclarecimento sobre a mesma, chegaram à conclusão errônea de tratar-se de Mycogone perniciosa Magnus. Entretanto, foi Smith, em 1924, o primeiro autor que conseguiu elucidar o problema da real identidade etiológica, determinando tratar-se de Cephalosporium costantini, hoje considerado como sinônimo de Verticillium fungicola. Ware, em 1933, através de estudos morfológicos, estabeleceu um novo agente etiológico a que denominou de Verticillium malthousei Ware. Treschow, em 1941, na Dinamarca, descreveu outra espécie de Verticillium associado a sintomas semelhantes em A. bisporus e que denominou Verticillium psalliotae. Segundo os conceitos do Commonwealth Mycological Institute (CMI), Inglaterra, relatados por Brady & Waller e Brady & Gibson em 1976, duas espécies distintas de Verticillium são hoje consideradas parasitas de A. bisporus, ou seja, V. fungicola e V. psalliotae. Segundo estes autores, elas são diferentes entre si em características morfológicas e fisiológicas.
A mais recente revisão sobre a taxonomia e patogenicidade de fungos do gênero Verticillium foi feita por Gams & Zaayen e Zaayen & Gams, em 1982. Eles propuseram indevidamente a criação de 3 variedades de Verticillium fungicola, ou seja, V. fungicola var. fungicola, V. fungicola var. aleophillum e V. fungicola var. flavidum, baseados principalmente em diferenças fisiológicas. Coutinho (1994), após realização de estudos comparativos de diversos isolados obtidos a partir de cogumelos exibindo sintomas de bolha seca, na região de Mogi das Cruzes, SP, chegou à conclusão que não havia quaisquer diferenças morfológicas entre eles e que os mesmos pertenciam à espécie V. fungicola. Preferiu não adotar a proposta de Gams & Zaayen, considerando que o Código Internacional de Nomenclatura Botânica indica que diferenças fisiológicas, apenas, não justificam a utilização de taxons infra-específicos a nível de variedade.
É dada a seguir uma descrição detalhada dos diversos aspectos da sintomatologia decorrente da infecção de V. fungicola em A. bisporus.
Os sintomas variam de acordo com a fase de desenvolvimento em que o cogumelo é infectado. Quando a infecção é tardia, ou seja, aparece quando os cogumelos apresentam-se desenvolvidos ou em fase de colheita, ocorre o aparecimento de manchas escuras de tonalidade castanha, bordos irregulares e não definidos na superfície do píleo. Essas manchas são comumente pouco profundas e os tecidos situados logo abaixo da camada superficial são, em aparência, sadios. Podem ocorrer também rachaduras, fendilhamentos e conseqüente descascamento do estipe, sintoma indicativo de que houve invasão dos tecidos do mesmo. Quando tais cogumelos são cortados longitudinalmente é freqüente observar-se uma cavidade interna também escurecida. Em virtude disto, os cogumelos tornam-se secos, enrugados e inadequados para o consumo. Um segundo tipo de sintoma ocorre em uma fase intermediária do cultivo, quando em fase de botão, ou seja, quando começam a frutificar. Nesse caso, observa-se uma espécie de estiolamento, isto é, o corpo de frutificação não mais se desenvolve e adquire uma coloração amarelada. Finalmente, o terceiro tipo de sintoma é indicativo de infecções precoces e mais severas, o que significa uma pesada contaminação do composto ou do solo de cobertura. A sintomatologia é característica e bem mais marcante. Neste caso, como o micélio do Agaricus está se desenvolvendo no composto e o parasita apresentando a sua fase vegetativa bem desenvolvida, ambos os micélios se entrelaçam. Quando o Agaricus frutifica, dá origem a corpos de frutificação bastante ou totalmente deformados. Comumente não há diferenciação entre o estipe e o píleo, formando uma massa disforme e de contornos arredondados que mais se assemelha à frutificação de um gasteromiceto. Às vezes, aparecem cogumelos com estipe e píleo diferenciados mas apresentando tamanho reduzido. Outras vezes, o estipe mostra-se entumecido e disforme dando origem a cogumelos enrijecidos e com textura coriácea. O produto obtido é totalmente impróprio para comercialização.
A fonte primária de infecção mais comum é o solo de cobertura contaminado e também a presença de grande número de esporos de Verticillium na atmosfera ao redor dos galpões de cultivo. A esterilização do solo, é portanto, indispensável para um bom programa de controle. O grau de infecção dentro das casas de cultivo pode ser significativamente reduzido pelo controle apropriado da temperatura, da umidade e da ventilação. Os esporos presentes na atmosfera e que se depositam na superfície dos cogumelos, deixam de germinar se esta for mantida seca. Assim, antes das regas, a temperatura pode ser reduzida ligeiramente e novamente elevada para facilitar a evaporação da água. Infelizmente, as condições sob as quais se desenvolvem os nossos cultivos não permitem um controle efetivo das condições ambientais.
2. Deformidade ou bolha úmida ("wet bubble") causada por fungo do gênero Mycogone
Mycogone perniciosa Magnus é considerado um dos mais antigos inimigos dos cultivadores de cogumelo e a sua distribuição é universal. A doença pode aparecer em qualquer estágio de desenvolvimento do cogumelo, mesmo quando estão presentes apenas as estruturas iniciais do corpo de frutificação. O desenvolvimento ulterior do cogumelo atacado é completamente comprometido, afetando a diferenciação entre o estipe e o píleo. Observa-se, então, o desenvolvimento de uma massa globosa, arredondada ou piriforme, que se torna recoberta por um mofo branco, denso e aveludado e que, quando mais velha, toma uma coloração "café com leite". Essa aparência irregular do píleo lembra a frutificação de um gasteromiceto. Em estado mais avançado do desenvolvimento da doença, o cogumelo afetado mostra um píleo espesso, assimétrico em relação ao eixo do estipe, vindo a seguir um processo de alteração acompanhado do aparecimento de um exsudato de aspecto castanho, oleoso e mal cheiroso. Os tecidos internos tornam-se marrom escuros, esponjosos, apresentando o mesmo odor desagradável da massa úmida que se deteriora. No caso de ataques tardios, os sintomas podem se resumir à presença do mofo branco, recobrindo as frutificações do cogumelo, as quais se tornam posteriormente escurecidas.
Uma das importantes características da doença é o fluido de cor âmbar que exsuda dos tecidos deteriorados. Quanto ao aspecto microscópico, M. perniciosa produz dois tipos de esporos. Um é unicelular e hialino, originado terminalmente sobre conidióforos verticilados e, o outro, arredondado, com dimensão muito maior, de aspecto verrugoso e ligado a uma célula basal inflada. Este tipo de esporo recebe o nome particular de aleurosporo. Usualmente, as hifas do fungo parasito desenvolvem-se entrelaçadas às hifas do cogumelo. O fungo pode ser introduzido nas casas de cultivo pelo ar, pelo manuseio, por agentes vetores e pela terra de cobertura, sendo esta a principal fonte de esporos de Mycogone.
3. Outras doenças de fungos potencialmente importantes:
Certas doenças, embora não detectadas em nosso meio, por sua importância, merecem alguns comentários. Este, por exemplo, é o caso do míldio ou "mal da teia", causado por Dactylium dendroides Fries. Esse fungo parasito cresce rapidamente sobre a superfície do solo, envolvendo todos os cogumelos que se formarem na área abrangida. Os cogumelos infectados assemelham-se, grosseiramente, a bolas de algodão, tornando-se internamente reduzidos a massas em decomposição.
Alguns biotipos de Trichoderma lignorum (Tode) Harz e T. koningii Oud. podem causar moléstia em cogumelos que é, muitas vezes, confundida com a causada por Verticillium, pela semelhança de alguns de seus sintomas. É denominada "míldio verde" e, em uma breve descrição, resume-se a aparecimento de mancha marrons, irregulares e de diversos tamanhos, na superfície do píleo. Estas tendem a aumentar de tamanho e tornam-se mais escuras do que aquelas causadas por Verticillium. Rapidamente a área afetada torna-se flácida e deprimida. A mancha não é totalmente superficial, mas atinge os "tecidos" inferiores, que são propensos a mudar de coloração.
Outra doença, muito conhecida na Europa, é o estiolamento, o "damping off" ou ainda "murcha de Fusarium" . Espécies desse gênero fazem parte da flora normal do solo e são introduzidas nas câmaras de cultivo pelos esporos ou pelos clamidosporos (estruturas de resistência) presentes no solo de cobertura.. A literatura européia cita as espécies Fusarium martii App. & Wr. e F.oxysporum Schl., como responsáveis pela doença. Causam, inicialmente, o escurecimento interno do estipe e, posteriormente, todos os cogumelos da área atingida tornam-se atrofiados e adquirem uma coloração marrom característica. Há uma indicação de que essa doença esteja presente no Brasil não tendo, todavia, sido relatada cientificamente.
Um outro tipo de míldio do cogumelo é causado por Cladobotryum ternatum Corda. Os sintomas são mais ou menos semelhantes ao do "mal da teia", já referido. Neste caso, a doença é mais lenta e os cogumelos não mudam de cor. O micélio deste bolor é branco e não tão cotonoso e luxuriante quanto ao de Dactylium. Os esporos são hialinos, unicelulares e elipsoidais, originando-se em cadeias a partir de conidióforos ramificados. As principais causa do seu aparecimento são: os esporos trazidos pelo ar, pouco cuidados na eliminação do composto exaurido e umidade na superfície dos cogumelos.
Fungos Competidores
Os fungos competidores, embora não possam ser considerados como agentes etiológicos, uma vez que não são parasitas do cogumelo cultivado, são responsáveis por enormes decréscimos na produção. Concorrem com o cogumelo comestível e disputam espaço físico e o alimento existente no composto. Pode-se constatar a presença de vários tipos de competidores em nossas condições. Predomina a idéia de que qualquer aprimoramento na técnica de produção e esterilização do composto poderá concorrer grandemente para o aumento da produtividade de cogumelos, uma vez que o aparecimento de competidores, está intimamente ligado à baixa produtividade. Entre os principais fungos competidores existentes em nosso meio e que, segundo a literatura mundial, são cosmopolitas estão:
Trichoderma spp., (bolor verde branco), Chaetomium olivaceum Cooke & Ellis e Chaetomium sp. (bolor verde oliva), Pseudobalsamia microspora Diehl & Lambert (trufas), Myceliophtora lutea Cost.& Mart. (bolor verde-cinza), Scopulariopsis fimicola (Cost. & Matr.) Arn. & Barthelet (bolor branco farinhoso), Doratomyces stemonitis (Pres.) Morton & Smith (bolor preto), Papulospora byssina Hotson (bolor marrom pulverulento) (= Myriococcum praecox), Oedocephalum sp. (bolor rosado), Xilaria spp. (mal do esclerócio), Penicillium spp. e Aspergillus spp. (Bolores verdes), Sporotrichum sp., Sepedonium sp. (bolores amarelos), Geotrichum sp. (bolor vermelho), Phymatotrichum sp. (bolor cinza), Coprinus spp., Pleurotus spp., Peziza sp. (=Ostrachoderma sp.), Clitocybe sp., etc. Também alguns mixomicetos têm sido citados como competidores. Entretanto, serão aqui citados apenas aqueles que foram efetivamente detectados, ou aqueles já referidos na literatura nacional.
Compostagem preparada impropriamente, pasteurização inadequada, solo de cobertura contaminado, galpões mal desinfectados, são provavelmente as principais causas de aparecimento de Papulospora bissina, Peziza ostrachoderma, Coprinus sp., Pleurotus sp. Clitopilus sp., Clytocype sp. Solos ácidos e o elevado conteúdo orgânico favorecem o aparecimento de fungos do gênero Trichoderma. Fatores como superaquecimento durante o processo de pasteurização podem induzir o aparecimento de Chaetomium olivacearum. Esporos de Doratomyces stemonites costumam ser introduzidos nas camas de cultivos pelo ar e sobrevivem aos processos de pasteurização. Este fungo pode também provocar problemas respiratórios nos trabalhadores, mormente durante as operações de esvaziamento e limpeza dos galpões de cultivo. Outros bolores conhecidos por causarem problemas da mesma natureza são: Aspergillus fumigatus Fres., Aspergillus flavus Link., Mucor pusillus Lindt, Spicaria sp.