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Tutorial Cultivo do cogumelo shiitake em substratos – cultivo axênico e pasteurização severa

mirador

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Cadastrado
31/01/2009
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mirador: Podia colocar apenas o link mas achei que pode ser interessante estar disponível aqui para pesquisa.

Cultivo do cogumelo shiitake em substratos – cultivo axênico e pasteurização severa

Os cogumelos comestíveis são altamente apreciados em culturas orientais e européias e sua importância no mercado cresce a cada dia devido aos avanços tecnológicos. Os sistemas de crescimento e cultivo são resultados desses avanços e, por meio da modernização da produção, a qualidade, a produtividade e os custos da produção vêm sendo aprimorados.

Pode-se dizer que o cultivo do cogumelo comestível é um processo biotecnológico e utiliza resíduos da agricultura, pecuária e agroindústria. Alguns exemplos são o esterco – bovino, eqüino, de aves e outros animais domésticos – e também a palha e resíduos do trigo, arroz, milho, algodão, madeira, dentre outros.

São inúmeros os tipos de cogumelos que podem ser cultivados e utilizados na alimentação, como nutracêuticos e em fitoproteção. Em países em desenvolvimento, normalmente com alto índice de desnutrição populacional, o cogumelo, por ser rico em proteínas, vem sendo usado como incremento alimentar.

O crescimento do uso da tecnologia para o cultivo desses fungos é relativamente novo, pois até a década de 80, apenas Agaricus bisporus, mais conhecido como champignon, e algumas espécies do gênero Agaricus e Lentinula edodes, o shiitake, contavam com uma moderna tecnologia de produção. O que se vê hoje é um quadro diferenciado, uma vez que, em alguns países, já se moderniza a produção de espécies como: Volveriella volvacea, Kuhneromyces mutabiles, Flammulina velutipes, Hypholoma capnoides e Coprinos comatus.

No Brasil, é possível dizer, que o cultivo comercial de fungos comestíveis restringe-se ao Agaricus bisporus e, ainda em pouca quantidade, ao Lentinula edodes – shiitake.
Shiitake é o nome mais conhecido do Lentinula edodes e vem de uma palavra japonesa que significa “fungo da árvore Shii”. Lentinula é um fungo de madeira saprófito que absorve nutrientes que precisa de madeiras mortas, de várias espécies de árvores e em diferentes condições climáticas.

Cultivo do Shiitake

O cultivo do shiitake começa pela escolha de matrizes e sementes, pois quando mal conservadas ou velhas perdem o vigor. Como a produtividade do shiitake cultivado em toras de madeira é relativamente baixa – devido à ocorrência de pragas e contaminação das toras – outras opções vêm sendo desenvolvidas. Uma das mais promissoras é o cultivo em blocos de substratos.
As características essências do cultivo do shiitake em substratos são:

  • Os materiais utilizados como substrato podem ser serragem, bagaço de cana-de-açúcar, farelo de trigo, farelo de arroz, farelo de soja dentre outros resíduos agrícolas.
  • No cultivo em substrato a produtividade é maior e em menor tempo.
  • Maior facilidade operacional
  • No cultivo em substrato há menos probabilidade de contaminação e doenças no cogumelo.
  • É mais fácil de utilizar o espaço podendo, até mesmo, ser cultivado nos centros urbanos.
  • Apesar de terem a aparência inferior aos cultivados em toras, os cogumelos em substratos têm melhor qualidade protéica.
Como o micélio acontece mais rapidamente, a produtividade torna-se maior. A prática usada para o crescimento em câmeras de cultivo envolve a esterilização do substrato em embalagens resistentes ao calor (cultivo axênico), seguida de inoculação – que pode ser substituído pelo cultivo em substratos submetidos à pasteurização severa.

No cultivo axênico – quando o microorganismo é inoculado sozinho ou em um substrato previamente esterilizado – o cogumelo poderá ser muito enriquecido, pois não terá que competir com outros microorganismos. Mas não se esqueça: é fundamental que seja mantida a assepsia para que não venha ocorrer a biostase. Quando o shiitake tiver domínio sobre o substrato ele poderá ser exposto ao ar e sofrer induções para a frutificação. Nos casos de algumas contaminações, as hifas mortas do shiitake tornam-se matéria orgânica fresca para a invasão dos contaminadores.

Em pasteurização severa somente uma fração dos microorganismo é combatida. A pasteurização normalmente acontece quando o processo térmico acontece, normalmente, a 75ºC, de 6 a 8 horas. Como essas temperaturas são facilmente alcançadas, a pasteurização pode ser feita até em envases menos resistentes a altas temperaturas, como os sacos de polietileno. Essa técnica de pasteurização para o shiitake ainda é pouco explorada no Brasil.

Como número de microorganismo presente influencia no tempo e na temperatura necessário para esterilizar o substrato, é muito importante que seja analisada a qualidade microbiológica das matérias primas.

Os substratos

O substrato é o maior responsável pela fonte de nutrientes e água para o posterior desenvolvimento do cogumelo e é também o que sustenta o cultivo. Devido ao seu alto grau de importância no processo, é preciso que se tenha cuidados especiais em sua formulação. A falta de cuidados com o substrato faz com que os microorganismos o colonizem muito antes dos cogumelos. Os substratos ricos são submetidos a compostagem, pasteurização e condicionamento – esse processo demora de 21 a 30 dias e, quando chega ao fim, ele está parcialmente estabilizado e condicionado. Existem alguns organismos termófilos, antagônicos ao shiitake, que apenas são mortos quando elevados a altíssimas temperaturas. Isso faz com que os cultivos axênicos e os pasteurizados sejam eficientes, pois as temperaturas a que elevam o cultivo conseguem exterminá-los. Porém, lembre-se, que existem microorganismos que são altamente resistentes e não serão eliminados e darão biostase em ambientes onde a assepsia não for tão rigorosa.

Os substratos para o cultivo axênico em blocos precisam ser em sacos resistentes a 125ºC, ou seja, o polipropileno ou o polietileno de alta densidade, serragem enriquecida de nutrientes e condições ambientais controladas ou semi-controladas. Acompanhe a formulação de um substrato para a produção axênica no quadro abaixo:

A formulação para os substratos de pasteurização severa é menos nutritiva para que os nutrientes usados não possibilitem a proliferação de microorganismos. Com C/N entre 50 e 65/1, o que pode envolver inúmeras combinações de matérias-primas.

Preparo do substrato

Como o substrato é um dos fatores de maior importância no cultivo dos cogumelos é preciso que seu preparo seja feito com o máximo de cuidados possíveis.

Primeiramente, se escolhe o material a ser usado. No caso da serragem (quem deve estar frescos e não conter mofo), o primeiro passo é o seu peneiramento. Isso acontece porque a serragem contém pedaços de madeiras ou outros materiais duros que precisam ser retirados, pois se ficam podem causar perfurações nos sacos – essas perfurações facilitam a entrada de microorganismos contaminantes.

A composição do material deve ser bastante estável não estando nem muito fina, pois dessa forma compacta demasiadamente o bloco, e nem muito grosso, pois, dessa maneira, forma bolsões de ar que diminuem a produção.
Depois de misturados os substratos devem ser colocados nos sacos apropriados e a quantidade a ser adicionada varia de acordo com o tamanho do saco – normalmente de um quilo e meio a quatro quilos.

Depois de prontos os substratos são levados para a autoclave, máquina que funciona como uma panela de pressão, e elevados a uma temperatura de 121ºC por duas horas ou mais.

Na pasteurização severa a temperatura é aumentada a partir da emissão de vapor, mas sob pressão ambiente. Os blocos devem permanecer nesse ambiente por um período de seis a 10 horas. Essa diferença de tempo existe devido ao fato de que na pasteurização severa a temperatura é mais baixa.

A autoclavagem, no processo axênico, é de alto custo de implantação, contudo é a única forma eficiente para esterilização do material. A pasteurização severa tem custo inferior e é indicada quando o cultivo do cogumelo acontece em galpões.

A serragem é componente mais comum nos substratos, pois são ricos em nitrogênio e em outros nutrientes. Palhas de capim e bagaço de cana-de-açúcar também são materiais utilizados – ricos em carbonos e pobres em nitrogênio e fósforo.
Como existe uma interação significativa entre linhagem e substrato é fundamental que um comerciante de semente as teste antes de colocá-la em comercialização. É preciso saber sua produtividade, qualidade e características dos basidiocarpos. Saber em que tipo de substrato e qual método de cultivo elas se desenvolvem melhor também é importante.


Após o resfriamento do substrato, deve ser inoculado o micélio do fungo. As sementes devem ser de linhagem selecionadas para as condições de cultivo. Depois de selecionada as sementes, a inoculação pode acontecer em dois diferentes tipos de ambientes:

Câmaras de fluxo laminar para o cultivo axênico ou em salas de inoculação, no caso de pasteurização severa. No primeiro caso, as câmaras geram um ambiente estéril no momento de introduzir o inoculante nos sacos.

Crescimento do micélio

Antes que o substrato seja tomado pelo micélio, acontece a corrida micelial. Essa etapa ocorre logo após a inoculação. Logo após esse etapa, o micélio começa a atingir sua estabilidade e, finalmente, o endurecimento da capa micelial. Quando o bloco do substrato for considerado pronto para a frutificação o saco plástico deve ser retirado completamente e o bloco colocado em local úmido. Isso acontece porque a função da capa micelial é proteger a perda da umidade.

A capa micelial indica que o micélio está pronto para a frutificação.

Frutificação

Para que a frutificação aconteça com sucesso é preciso manter condições ótimas durante a fase de produção. Na fase de frutificação os fatores fundamentais são a umidade relativa do ar, temperatura e conservação de oxigênio. Essas condições só podem ser obtidas com a instalação de nebulizadores na câmara. Esses nebulizadores devem ser acionados freqüentemente, porém por um período breve. Em galpões tecnificados instale sensores para que ocorra esse controle. Para facilitar, as entradas dos galpões devem, sempre que possível, ficarem abertas para a entrada de luz e aeração.

Contaminação

As principais contaminações que acontecem com os cogumelos se dão por fungos e bactérias. E como qualquer praga, acarretam prejuízos para os produtores, pois podem limitar a produção e atrapalhar a aparência do produto final. Para manter a produção livre de fungos e bactérias o cuidado com a higiene deve ser extremo.
Os fungos competidores que contaminam os blocos são os maiores adversários dos produtores de shiitake. Os mais comuns são osTrichoderma viridi e Penicillium spp.
Comercialização

Antes de comercializar o shiitake, é preciso saber qual é o melhor momento para fazer a colheita. O mercado tem preferência por cogumelos menores, firmes e escuros, mas quanto maior o cogumelo mais ele pesa. Consequentemente, quanto maior o cogumelo maior a produtividade. A colheita deve ser feita todos os dias pela manhã, pois nesse momento a temperatura e o metabolismo do fungo são menores. Realize a colheita em recipientes rasos e limpos para que os cogumelos não fiquem um em cima do outro e sejam danificados.

o mercado tem preferência pelos cogumelos menores, firmes e escuros para evitar quebras, manchas e rachaduras. Os cogumelos totalmente aberto murcham com mais rapidez e possuem menos valor, mas podem também ser colhidos.

Os cogumelos no ponto ideal podem ser conservados por mais de 10 dias em refrigerador (4ºC) e são embalados em bandejas de isopor coberto por filme de PVC ou em pequenas caixas de papelão para que tenha maior aeração do produto.

Considerações
Confira no quadro abaixo as vantagens e desvantagens do cultivo do cogumelo em substrato em relação ao cultivo em toras de madeiras.

http://www.empregoerenda.com.br/paginas/104/1/cultivo-do-cogumelo-shiitake-em-substratos

Um estudo mais específico em cultivo axênico de Shiitake, PDF em anexo:

CULTIVO AXÊNICO DE SHIITAKE (Lentinula edodes) EM RESÍDUOS DO
PROCESSAMENTO DA PALMEIRA-REAL-DA-AUSTRÁLIA
(Archontophoenix alexandrae)
CAROLINA NILSEN VIANNA BITTENCOUR
 

Anexos

  • Diss Carolina Nilsen Vianna Bittencourt.pdf
    3.6 MB · Visualizações: 280
Última edição por um moderador:
É bom colocar a matéria, quando é interessante, é claro.

Porque senão o link morre e ficamos sem nada. Há alguns casos assim em tópicos pelo fórum.
 
É, dá para por os dois. O material e o link, como você fez aí em cima.

Dá uma garantia para os dois lados.
 
Onde tem para conseguir/comprar esporos de Shiitake?

Geralmente trabalha-se com isolamentos, esporos são difíceis de conseguir e de cultivar a partir.

Esse é um bom site: cogumelohobby.com, mas você pode comprar os fungos no mercado e cloná-los.
 
Só uma observaçã. A serragem, geralmente, tem uma relação carbono/nitrogênio (C/N) mais alta que as palhas, que são gramíneas. O bagaço de cana, por resultar do processo de extração de açúcar por prensagem lavagem com água, apresenta um teor de N menor que as outras gramíneas. Pra se ter uma idéia, o teor de N do bagaço está em torno de 0,2 a 0,3 %; na serragem, 0,1 %. A relação C/N no bagaço está em torno de uns 230/1 a 300/1; na serragem, chega perto de 500/1. Nas palhas, encontramos uma relação C/N muito variada. Dependendo do período de corte da gramínea, vc vai encontrar um teor de C variado. E o teor de N, nas gramíneas, pode variar de 0,7 a mais de 1 %. Logo, não é muito saudável dizer que a serragem é uma fonte de N e que as palhas são fonte de carbono. Vc pode cultivar Pleurotus usando apenas palha de arroz ou palha de trigo ou cevada, sem suplementação de N. Mas com serragem, sem essa suplementação, eu não recomendo. Deve-se usar um farelinho qualquer ou algum outro resíduo vegetal mais nitrogenado.
 
Só uma observaçã. A serragem, geralmente, tem uma relação carbono/nitrogênio (C/N) mais alta que as palhas, que são gramíneas. O bagaço de cana, por resultar do processo de extração de açúcar por prensagem lavagem com água, apresenta um teor de N menor que as outras gramíneas. Pra se ter uma idéia, o teor de N do bagaço está em torno de 0,2 a 0,3 %; na serragem, 0,1 %. A relação C/N no bagaço está em torno de uns 230/1 a 300/1; na serragem, chega perto de 500/1. Nas palhas, encontramos uma relação C/N muito variada. Dependendo do período de corte da gramínea, vc vai encontrar um teor de C variado. E o teor de N, nas gramíneas, pode variar de 0,7 a mais de 1 %. Logo, não é muito saudável dizer que a serragem é uma fonte de N e que as palhas são fonte de carbono. Vc pode cultivar Pleurotus usando apenas palha de arroz ou palha de trigo ou cevada, sem suplementação de N. Mas com serragem, sem essa suplementação, eu não recomendo. Deve-se usar um farelinho qualquer ou algum outro resíduo vegetal mais nitrogenado.

Borra de café ou café liquido bem diluido, vc acha uma boa mjcogumelo? isso para o caso de uma pquena produçao caseira de pleurotus com serragem.
 
Pode colocar borra de café, sim. A relação C/N, que pe proporção entre carbono e nitrogênio. Quanod dizemos relação C/N de 80:1, significa que, na mistura, para cada 80 g de carbono vc tem 1 g de nitrogênio. Se vc prepara substrato por pasteurização severa, a relação C/N não pode ser muito baixa, ou seja, o nível de nitrogênio não pode ser muito alta, pois substratos muito ricos em nitrogênio favorecem o crescimento de organismos competidores. Além disso, muito nitrogênio, em meios ricos em lignina, termina por inibir a ação das ligninases, favorecendo o desenvolvimento de contaminantes por inibir o crescimento do micélio (do pleurotus ou shiitake), que é produtos dessas enzimas. Quando se esteriliza, o de temperatura alta e pressão, modifica a estrutura do material celulósico, disponibilizando o os compostos de carbono. Neste caso, com o meio axênico (sem microrganismos) e com sua estrutura física e química mais propícia pela esterilização, admite-se um nível maior de nitrogênio. Deve-se ter cuidado com a formulação do meio. Deve-se conhecer bem as características ecofisiológicas da espécie que se manipula para poder fornecer-lhe o que ela precisa.
Voltando à relação C/N, é impraticável quantificar esse parâmetro foram do laboratório, pois se faz necessário métodos de análise e equipamentos adequados. O teor de carbono pode ser estimado por calcinação numa mufla ou por, oxidação ou por combustão seca; o nitrogênio, pelo método de Kjedhal. Mas a gente pode trabalhar com o teor de nitrogênio em base de matéria seca e em matéria natural (com umidade natural antes de se adicionar água).
Existem tabelas com o teor de nitrogênio de várias matérias primas, que ajudam muito.
 
Eu tenho feito afogamentos de bolo com um poquinho de nada de café diluido e tem sido muito bom pelo menos com essa linhagem que estou trabalhando, que pela minha observação prefere subsatratos nitrogenados, cases ricos em húmus e solos férteis outdoor. Tenho feito muitas experiencias com essa linhagem Mazatapec e agora estou clonando um cogu lindo em BDA, vamos ver no que dá, amei essa linhagem e quero obter uma strain linda dela, me desejem boa sorte.
 
Alguém mais já provou desse successo com Mazatapec e substratos nitrogenados (humus, esterco etc)??
 
No templo budista aqui perto de casa eles oferecem curso de cultivo de cogumelo shitake!

E por falar em N, tempo atrás tava lendo sobre shitake e vi um artigo onde se usa corrente elétrica no cultivo, afim de ajudar na fixação do Nitrogêneo.

Pena que não estou achando mais o link....:facepalm:
 
É bom colocar a matéria, quando é interessante, é claro.

Porque senão o link morre e ficamos sem nada. Há alguns casos assim em tópicos pelo fórum.
Boa tarde.
Estou começando o cultivo de shitake em substrato, porém só encontrei um fornecedor de composto/substrato. Vocês teriam contato de mais produtores de substrato para cultivo de shitake?

Obrigado.
Att,
 
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