Inspirado pelo relato do Mr Lango, venho relatar aqui minha última trip, vivída na última segunda feira, 21 de abril. O relato foi escrito ontem à noite.
Feriadão. Fui visitar minha mãe e meus amigos de uma cidade próxima, como de costume, e no sábado de manhã descambo para os pastos em busca dos mágicos.
Geralmente a busca é frustrada, na grande maioria das vezes não acho nenhum, às vezes acho um ou dois, mas essa caçada foi espetacular nos meus padrões!
Colhí cerca de 45 cogumelos, todos com o véu aberto, deixei no pasto muitos outros para perpetuar a espécie, e voltei para casa saltitante 3 horas e meia depois de ter saído, agora com a mochila um pouco mais pesada. =)
À noite, eu e "os 45" fomos à uma festa de aniversário de um amigo, onde convidei alguns colegas para degustarem os cogus comigo.
Ao fim da festa, eu os 4 amigos eleitos fomos fazer o chá. Aqui está o erro. Coloquei oito copos de água. Resultado: 45 cogumelos jogados fora. Passaram pelo meu corpo como se fossem água. O mesmo para os meus amigos.
Decepcionadíssimo, voltei pra casa da mamãe no dia seguinte, e na tarde de segunda fui de novo à caça. É incrível como eles se multiplicaram. Dessa vez colhí só 20, novamente todos com o chapéu aberto, embora a maioria de pequeno porte. Resolví que comeria eles alí na casa da minha mãe mesmo, depois que todos fossem dormir.
Consumí-os no banheiro do meu quarto por volta das 11 horas, comí enquanto conseguí, não me lembrava de como o gosto é horrível.
Parei no décimo segundo, ou seja, comí 12 cogumelos entre pequenos e grandes, em sua maioria pequenos, esperava uma trip suave, gostosa, ouvindo pink floyd... doce engano! FOI A PIOR (BAD) TRIP DA MINHA VIDA! ...E a que mais me ensinou.
Os efeitos começaram uns 5 minutos depois que eu terminei de comê-los, levei uns 25 minutos para ingerir todos. Estava na frente do espelho observando meu olho quando tudo começou. Vou contar um pouco do começo, a parte suave. Fiquei alguns minutos (eu imagino que foram alguns minutos) olhando meus olhos, meu rosto, os padrões lindos no azulejo da parede, que dançavam e formavam fractais com temas marinhos. Meu rosto mudava o tempo todo, deformava-se, dividia-se, era bem estranho, mas eu estava com um belo sorriso estampado, me divertindo com as alucinações. De repente eu tinha dois rostos, um na frente e um atrás da cabeça (eu via isso no espelho). Comecei a sentir que estava de cabeça pra baixo, que o teto era o chão e o chão era o teto, até aí era tudo maravilhoso =P
Saí da frente do espelho e resolví ouvir um Floyd com fones de ouvido, pois, como disse, nesse momento todo mundo dormia. Tinha preparado o banheiro anteriormente, havia alí um colchonete com dois travesseiros bem fofinhos, deitei e fiquei ouvindo um pouco do Dark Side, ouvindo a melodia do vocal de Breathe, Time, e a intensidade das letras, achei que me focaria mais nos instrumenos, como de costume, mas a letra era tão importante... e quando chegou o solo, era só um momento de reflexão até a próxima aula. Devo ter ouvido mais alguma coisa, mas a partir de então me lembro de tudo muito vagamente. Lembro que coloquei Like a Roling Stone do Bob Dylan e comecei a viajar, voar em alta velocidade por um 'metrô' muito roxo, alternadamente roxo claro e escuro, eu voava ouvindo a música, e às vezes passavam por mim algumas pessoas queridas e lembro nitidamente da minha planta carnívora passando e me gritando "eeeiiii" com um belo sorriso (estranho, mas ela estava sorrindo e eu sabia que estava feliz), eu estava totalmente fora do meu corpo físico.
Tudo ótimo, até começar o inferno. Nossa, foi a maior batalha da minha vida! Foi assim que eu encarei a trip, uma BATALHA.
Creio que Like a Rolling Stone não estava nem na metade quando perdí a consciência. Sei que fiquei tendo alucinações nesse tempo, mas não me lembro o que. Retomei a consciência no fim da música, pausei o mp3 e resolví ir deitar na cama, que naquele momento era meu objetivo de vida. Pensei em como a cama era confortável e como ia ser bom deitar nela e me cobrir, apesar de eu não estar com frio, embora a temperatura estivesse beeeem baixa.
Conseguí chegar à cama com algum custo, então não me lembro do que aconteceu, até minha mãe perguntar o que eu ainda estava fazendo acordado, já que tinha sido o primeiro a ir dormir, ela dormia no quarto ao lado. Me toquei que estava me debatendo muito, braços e pernas, mas não tinha consciência de estar fazendo isso até ela me chamar a atenção. Como eu me arrependí de ter comido os cogumelos alí! Não respondí nada a ela e fiquei quieto. Percebí a burrada que tinha feito indo pra cama, e agora meu novo objetivo de vida era voltar pro banheiro, mas antes eu tinha que dar um tempo pra não chamar muito atenção da minha mãe. A casa é de madeira, exceto esse banheiro, e se alguém caminha na cozinha dá pra ouvir dos quartos. Eu fiquei meio desesperado, pensando no quanto barulho eu devia ter feito, pensando que ela devia ter percebido... Conseguí me acalmar um pouco, foi difícil, porque um monte de sons horríveis ficavam passando pela minha cabeça, os sons de uma "animação" postada pelo Fred aqui no CM ha algum tempo. Aquele foi um dos principais fatores que me levaram à bad. Eu não consegui parar de ouvir aqueles sons que me aterrorizavam!
Enfim, levantei da cama com o cobertor e os travesseiros e fui de novo pro quarto. Agora eu já estava em bad. Não sabia que horas eram, lembrei que tinha que acordar às 6 no dia seguinte e pegar ônibus pra voltar pra minha cidade (45 km) pra trabalhar. Comecei a pensar que não daria tempo da trip passar e fiquei desesperado com essa idéia, comecei a ficar na dúvida se estava falando ou fazendo algum barulho, não queria chamar a atenção de novo. Então fiquei inconsciente novamente, desesperado, só me lembro que estava desesperado, ouvindo aqueles sons horrendos e tentando me controlar pra não fazer besteira. Da parte que me recordo, não conseguia saber onde estavam meus membros, não sabia se estava com a mãos esticadas ou do lado do corpo, tinha que me tocar pra saber, eu era feito de plástico, e o cobertor que me envolvia era uma espécie de célula macroscópica rosa com cara de epiderme. Eu já não sabia em que parte do banheiro estava, só conseguia me localizar quando via a luz da lua pela janela, mas às vezes eu não conseguia enxergar nada, não sabia se estava de olhos abertos ou fechados... Não conseguia controlar meu pensamento. Tinha alguns segundos de consciência, 4 ou 5, e mergulhava na bad desesperado de novo, tentando não fazer barulho, tentando não levantar, e eu sei que tive impulsos inconscientes de fazer isso, de gritar, de falar, de sair correndo pra rua, de TENTAR pedir pra alguém chamar o bombeiros (eu tava muito mal mesmo), foi uma batalha dificílima contra esses impulsos, até que de segundos em segundos de consciência eu desenvolví uma técnica pra me controlar. Me toquei que o negócio era esperar a trip passar, lembrei que eu mesmo disse certa vez que "não importa o que aconteça, lembre-se de que vai passar", torcia pra eu estar sóbrio no dia seguinte, então meu plano era o seguinte: toda vez que ficar nos segundos conscientes, retoma a posição fetal e se controla pra ficar quieto, pra não quebrar o vaso, pelo menos. Eu sentia uma pontada de consciência ínfima em algum canto da minha mente, e com essa ponta eu repetia: respira, não grita, não fala, não se mexe... respira, não grita, não fala, não se mexe... Ficava repetindo isso, quando conseguia. Na verdade creio que a minha consciência estava dividida em duas ou mais, como se mais de uma pessoa habitasse meu corpo, houveram muitas divergências entre essas consciências. Por várias vezes eu tentava tomar decisões, mas cada uma delas tinha uma opinião diferente a respeito. Por exemplo, quando tentava me controlar, me "domar", cada uma tinha uma idéia diferente a respeito de como agir. Elas entravam em conflito, emfim, tive que me decididr por uma das consciências e escolhí a que eu estava mais familiarizado, foi com ela que conseguí vencer essa batalha.
Em algum momento tentei calcular quanto tempo de trip já tinha e quanto provavelmente ainda teria, mas eu não conseguia raciocinar ou fazer cálculos. Num dos momentos de consciência, decidí com toda clareza do mundo: "Vou jogar tudo fora, meus cultivos, minhas plantas, tudo! Nunca mais vou comer cogumelos!" Tinha decidido definitivamente.
Não consigo expressar o tamanho do meu desespero naquele momento. Eu fiquei a ponto de chorar. Eu nunca fiquei tão desesperado, tão descontrolado em toda minha vida. Os motivo foram vários, mas não consigo me lembrar muito bem.
Com o tempo os períodos de consciência foram durando cada vez mais, eu percebia isso, era como ver uma luz no fim do túnel, até que finalmente fiquei totalmente consciente. Levantei, liguei a luz "do espelho" e comecei a refletir. Fiquei mais de uma hora alí de pé refletindo sobre várias coisas, ainda tinha fortes visões de fractais na parede, mas no momento isso não importava, eu tinha que pensar, e eu tinha muito no que pensar. Percebí que mesmo durante a bad, tive vários insights de percepção... que foi de certa forma uma viagem muito proveitosa, a mais proveitosa de todas.
Fui me deitar (no colchonete), achando que já devia ser umas 5 horas da manhã, fiquei alí deitado, pensando, olhando a luminosidade da lua na pequena janela sobre o vaso, devo ter ficado mais de uma hora assim, demorou muito pra amanhecer, portanto eu estava errado quanto a ser 5 horas da manhã, devia ser umas 3, 4 no máximo. Nesse meio tempo existem períodos dos quais não me recordo nada, eu estava deitado e de repente "despertava" como se tivesse ficado inconsciente por alguns minutos ou horas, ocorreu umas 3 vezes, talvez eu tenha cochilado, mas não tenho certeza. A última vez que "acordei" foi com a voz da minha mãe me dizendo que era hora de levantar, senão eu perderia o ônibus.
Ainda não conseguí absorver muita coisa do que ocorreu na trip, acho que vou demorar um bom tempo pra isso, pensei nela ontem o dia inteiro e boa parte do dia de hoje. Desistí da idéia de jogar todo o cultivo fora. Percebí uma coisa muito importante: cogumelos são ótimos, mas só em lugar isolado, sem preocupações, sem nada pra fazer em breve, sem pressa, sem precisar lutar contra os impulsos. Na casa da minha mãe, nunca mais.
Bad ou não, isso mudou minha vida. Me percebí como eu sou. Como "eu" sou, não como é a minha máscara. Tenho que assimilar isso melhor, vai demorar um tempo, talvez minha vida inteira, tudo bem, não tenho pressa.
Feriadão. Fui visitar minha mãe e meus amigos de uma cidade próxima, como de costume, e no sábado de manhã descambo para os pastos em busca dos mágicos.
Geralmente a busca é frustrada, na grande maioria das vezes não acho nenhum, às vezes acho um ou dois, mas essa caçada foi espetacular nos meus padrões!
Colhí cerca de 45 cogumelos, todos com o véu aberto, deixei no pasto muitos outros para perpetuar a espécie, e voltei para casa saltitante 3 horas e meia depois de ter saído, agora com a mochila um pouco mais pesada. =)
À noite, eu e "os 45" fomos à uma festa de aniversário de um amigo, onde convidei alguns colegas para degustarem os cogus comigo.
Ao fim da festa, eu os 4 amigos eleitos fomos fazer o chá. Aqui está o erro. Coloquei oito copos de água. Resultado: 45 cogumelos jogados fora. Passaram pelo meu corpo como se fossem água. O mesmo para os meus amigos.
Decepcionadíssimo, voltei pra casa da mamãe no dia seguinte, e na tarde de segunda fui de novo à caça. É incrível como eles se multiplicaram. Dessa vez colhí só 20, novamente todos com o chapéu aberto, embora a maioria de pequeno porte. Resolví que comeria eles alí na casa da minha mãe mesmo, depois que todos fossem dormir.
Consumí-os no banheiro do meu quarto por volta das 11 horas, comí enquanto conseguí, não me lembrava de como o gosto é horrível.
Parei no décimo segundo, ou seja, comí 12 cogumelos entre pequenos e grandes, em sua maioria pequenos, esperava uma trip suave, gostosa, ouvindo pink floyd... doce engano! FOI A PIOR (BAD) TRIP DA MINHA VIDA! ...E a que mais me ensinou.
Os efeitos começaram uns 5 minutos depois que eu terminei de comê-los, levei uns 25 minutos para ingerir todos. Estava na frente do espelho observando meu olho quando tudo começou. Vou contar um pouco do começo, a parte suave. Fiquei alguns minutos (eu imagino que foram alguns minutos) olhando meus olhos, meu rosto, os padrões lindos no azulejo da parede, que dançavam e formavam fractais com temas marinhos. Meu rosto mudava o tempo todo, deformava-se, dividia-se, era bem estranho, mas eu estava com um belo sorriso estampado, me divertindo com as alucinações. De repente eu tinha dois rostos, um na frente e um atrás da cabeça (eu via isso no espelho). Comecei a sentir que estava de cabeça pra baixo, que o teto era o chão e o chão era o teto, até aí era tudo maravilhoso =P
Saí da frente do espelho e resolví ouvir um Floyd com fones de ouvido, pois, como disse, nesse momento todo mundo dormia. Tinha preparado o banheiro anteriormente, havia alí um colchonete com dois travesseiros bem fofinhos, deitei e fiquei ouvindo um pouco do Dark Side, ouvindo a melodia do vocal de Breathe, Time, e a intensidade das letras, achei que me focaria mais nos instrumenos, como de costume, mas a letra era tão importante... e quando chegou o solo, era só um momento de reflexão até a próxima aula. Devo ter ouvido mais alguma coisa, mas a partir de então me lembro de tudo muito vagamente. Lembro que coloquei Like a Roling Stone do Bob Dylan e comecei a viajar, voar em alta velocidade por um 'metrô' muito roxo, alternadamente roxo claro e escuro, eu voava ouvindo a música, e às vezes passavam por mim algumas pessoas queridas e lembro nitidamente da minha planta carnívora passando e me gritando "eeeiiii" com um belo sorriso (estranho, mas ela estava sorrindo e eu sabia que estava feliz), eu estava totalmente fora do meu corpo físico.
Tudo ótimo, até começar o inferno. Nossa, foi a maior batalha da minha vida! Foi assim que eu encarei a trip, uma BATALHA.
Creio que Like a Rolling Stone não estava nem na metade quando perdí a consciência. Sei que fiquei tendo alucinações nesse tempo, mas não me lembro o que. Retomei a consciência no fim da música, pausei o mp3 e resolví ir deitar na cama, que naquele momento era meu objetivo de vida. Pensei em como a cama era confortável e como ia ser bom deitar nela e me cobrir, apesar de eu não estar com frio, embora a temperatura estivesse beeeem baixa.
Conseguí chegar à cama com algum custo, então não me lembro do que aconteceu, até minha mãe perguntar o que eu ainda estava fazendo acordado, já que tinha sido o primeiro a ir dormir, ela dormia no quarto ao lado. Me toquei que estava me debatendo muito, braços e pernas, mas não tinha consciência de estar fazendo isso até ela me chamar a atenção. Como eu me arrependí de ter comido os cogumelos alí! Não respondí nada a ela e fiquei quieto. Percebí a burrada que tinha feito indo pra cama, e agora meu novo objetivo de vida era voltar pro banheiro, mas antes eu tinha que dar um tempo pra não chamar muito atenção da minha mãe. A casa é de madeira, exceto esse banheiro, e se alguém caminha na cozinha dá pra ouvir dos quartos. Eu fiquei meio desesperado, pensando no quanto barulho eu devia ter feito, pensando que ela devia ter percebido... Conseguí me acalmar um pouco, foi difícil, porque um monte de sons horríveis ficavam passando pela minha cabeça, os sons de uma "animação" postada pelo Fred aqui no CM ha algum tempo. Aquele foi um dos principais fatores que me levaram à bad. Eu não consegui parar de ouvir aqueles sons que me aterrorizavam!
Enfim, levantei da cama com o cobertor e os travesseiros e fui de novo pro quarto. Agora eu já estava em bad. Não sabia que horas eram, lembrei que tinha que acordar às 6 no dia seguinte e pegar ônibus pra voltar pra minha cidade (45 km) pra trabalhar. Comecei a pensar que não daria tempo da trip passar e fiquei desesperado com essa idéia, comecei a ficar na dúvida se estava falando ou fazendo algum barulho, não queria chamar a atenção de novo. Então fiquei inconsciente novamente, desesperado, só me lembro que estava desesperado, ouvindo aqueles sons horrendos e tentando me controlar pra não fazer besteira. Da parte que me recordo, não conseguia saber onde estavam meus membros, não sabia se estava com a mãos esticadas ou do lado do corpo, tinha que me tocar pra saber, eu era feito de plástico, e o cobertor que me envolvia era uma espécie de célula macroscópica rosa com cara de epiderme. Eu já não sabia em que parte do banheiro estava, só conseguia me localizar quando via a luz da lua pela janela, mas às vezes eu não conseguia enxergar nada, não sabia se estava de olhos abertos ou fechados... Não conseguia controlar meu pensamento. Tinha alguns segundos de consciência, 4 ou 5, e mergulhava na bad desesperado de novo, tentando não fazer barulho, tentando não levantar, e eu sei que tive impulsos inconscientes de fazer isso, de gritar, de falar, de sair correndo pra rua, de TENTAR pedir pra alguém chamar o bombeiros (eu tava muito mal mesmo), foi uma batalha dificílima contra esses impulsos, até que de segundos em segundos de consciência eu desenvolví uma técnica pra me controlar. Me toquei que o negócio era esperar a trip passar, lembrei que eu mesmo disse certa vez que "não importa o que aconteça, lembre-se de que vai passar", torcia pra eu estar sóbrio no dia seguinte, então meu plano era o seguinte: toda vez que ficar nos segundos conscientes, retoma a posição fetal e se controla pra ficar quieto, pra não quebrar o vaso, pelo menos. Eu sentia uma pontada de consciência ínfima em algum canto da minha mente, e com essa ponta eu repetia: respira, não grita, não fala, não se mexe... respira, não grita, não fala, não se mexe... Ficava repetindo isso, quando conseguia. Na verdade creio que a minha consciência estava dividida em duas ou mais, como se mais de uma pessoa habitasse meu corpo, houveram muitas divergências entre essas consciências. Por várias vezes eu tentava tomar decisões, mas cada uma delas tinha uma opinião diferente a respeito. Por exemplo, quando tentava me controlar, me "domar", cada uma tinha uma idéia diferente a respeito de como agir. Elas entravam em conflito, emfim, tive que me decididr por uma das consciências e escolhí a que eu estava mais familiarizado, foi com ela que conseguí vencer essa batalha.
Em algum momento tentei calcular quanto tempo de trip já tinha e quanto provavelmente ainda teria, mas eu não conseguia raciocinar ou fazer cálculos. Num dos momentos de consciência, decidí com toda clareza do mundo: "Vou jogar tudo fora, meus cultivos, minhas plantas, tudo! Nunca mais vou comer cogumelos!" Tinha decidido definitivamente.
Não consigo expressar o tamanho do meu desespero naquele momento. Eu fiquei a ponto de chorar. Eu nunca fiquei tão desesperado, tão descontrolado em toda minha vida. Os motivo foram vários, mas não consigo me lembrar muito bem.
Com o tempo os períodos de consciência foram durando cada vez mais, eu percebia isso, era como ver uma luz no fim do túnel, até que finalmente fiquei totalmente consciente. Levantei, liguei a luz "do espelho" e comecei a refletir. Fiquei mais de uma hora alí de pé refletindo sobre várias coisas, ainda tinha fortes visões de fractais na parede, mas no momento isso não importava, eu tinha que pensar, e eu tinha muito no que pensar. Percebí que mesmo durante a bad, tive vários insights de percepção... que foi de certa forma uma viagem muito proveitosa, a mais proveitosa de todas.
Fui me deitar (no colchonete), achando que já devia ser umas 5 horas da manhã, fiquei alí deitado, pensando, olhando a luminosidade da lua na pequena janela sobre o vaso, devo ter ficado mais de uma hora assim, demorou muito pra amanhecer, portanto eu estava errado quanto a ser 5 horas da manhã, devia ser umas 3, 4 no máximo. Nesse meio tempo existem períodos dos quais não me recordo nada, eu estava deitado e de repente "despertava" como se tivesse ficado inconsciente por alguns minutos ou horas, ocorreu umas 3 vezes, talvez eu tenha cochilado, mas não tenho certeza. A última vez que "acordei" foi com a voz da minha mãe me dizendo que era hora de levantar, senão eu perderia o ônibus.
Ainda não conseguí absorver muita coisa do que ocorreu na trip, acho que vou demorar um bom tempo pra isso, pensei nela ontem o dia inteiro e boa parte do dia de hoje. Desistí da idéia de jogar todo o cultivo fora. Percebí uma coisa muito importante: cogumelos são ótimos, mas só em lugar isolado, sem preocupações, sem nada pra fazer em breve, sem pressa, sem precisar lutar contra os impulsos. Na casa da minha mãe, nunca mais.
Bad ou não, isso mudou minha vida. Me percebí como eu sou. Como "eu" sou, não como é a minha máscara. Tenho que assimilar isso melhor, vai demorar um tempo, talvez minha vida inteira, tudo bem, não tenho pressa.