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Conflito de Consciências: A maior Bad(?) da minha vida!

Mr D.

Cogumelo maduro
Membro Ativo
12/10/2007
444
73
Inspirado pelo relato do Mr Lango, venho relatar aqui minha última trip, vivída na última segunda feira, 21 de abril. O relato foi escrito ontem à noite.

Feriadão. Fui visitar minha mãe e meus amigos de uma cidade próxima, como de costume, e no sábado de manhã descambo para os pastos em busca dos mágicos.
Geralmente a busca é frustrada, na grande maioria das vezes não acho nenhum, às vezes acho um ou dois, mas essa caçada foi espetacular nos meus padrões!
Colhí cerca de 45 cogumelos, todos com o véu aberto, deixei no pasto muitos outros para perpetuar a espécie, e voltei para casa saltitante 3 horas e meia depois de ter saído, agora com a mochila um pouco mais pesada. =)

À noite, eu e "os 45" fomos à uma festa de aniversário de um amigo, onde convidei alguns colegas para degustarem os cogus comigo.

Ao fim da festa, eu os 4 amigos eleitos fomos fazer o chá. Aqui está o erro. Coloquei oito copos de água. Resultado: 45 cogumelos jogados fora. Passaram pelo meu corpo como se fossem água. O mesmo para os meus amigos.

Decepcionadíssimo, voltei pra casa da mamãe no dia seguinte, e na tarde de segunda fui de novo à caça. É incrível como eles se multiplicaram. Dessa vez colhí só 20, novamente todos com o chapéu aberto, embora a maioria de pequeno porte. Resolví que comeria eles alí na casa da minha mãe mesmo, depois que todos fossem dormir.

Consumí-os no banheiro do meu quarto por volta das 11 horas, comí enquanto conseguí, não me lembrava de como o gosto é horrível.

Parei no décimo segundo, ou seja, comí 12 cogumelos entre pequenos e grandes, em sua maioria pequenos, esperava uma trip suave, gostosa, ouvindo pink floyd... doce engano! FOI A PIOR (BAD) TRIP DA MINHA VIDA! ...E a que mais me ensinou.

Os efeitos começaram uns 5 minutos depois que eu terminei de comê-los, levei uns 25 minutos para ingerir todos. Estava na frente do espelho observando meu olho quando tudo começou. Vou contar um pouco do começo, a parte suave. Fiquei alguns minutos (eu imagino que foram alguns minutos) olhando meus olhos, meu rosto, os padrões lindos no azulejo da parede, que dançavam e formavam fractais com temas marinhos. Meu rosto mudava o tempo todo, deformava-se, dividia-se, era bem estranho, mas eu estava com um belo sorriso estampado, me divertindo com as alucinações. De repente eu tinha dois rostos, um na frente e um atrás da cabeça (eu via isso no espelho). Comecei a sentir que estava de cabeça pra baixo, que o teto era o chão e o chão era o teto, até aí era tudo maravilhoso =P

Saí da frente do espelho e resolví ouvir um Floyd com fones de ouvido, pois, como disse, nesse momento todo mundo dormia. Tinha preparado o banheiro anteriormente, havia alí um colchonete com dois travesseiros bem fofinhos, deitei e fiquei ouvindo um pouco do Dark Side, ouvindo a melodia do vocal de Breathe, Time, e a intensidade das letras, achei que me focaria mais nos instrumenos, como de costume, mas a letra era tão importante... e quando chegou o solo, era só um momento de reflexão até a próxima aula. Devo ter ouvido mais alguma coisa, mas a partir de então me lembro de tudo muito vagamente. Lembro que coloquei Like a Roling Stone do Bob Dylan e comecei a viajar, voar em alta velocidade por um 'metrô' muito roxo, alternadamente roxo claro e escuro, eu voava ouvindo a música, e às vezes passavam por mim algumas pessoas queridas e lembro nitidamente da minha planta carnívora passando e me gritando "eeeiiii" com um belo sorriso (estranho, mas ela estava sorrindo e eu sabia que estava feliz), eu estava totalmente fora do meu corpo físico.

Tudo ótimo, até começar o inferno. Nossa, foi a maior batalha da minha vida! Foi assim que eu encarei a trip, uma BATALHA.

Creio que Like a Rolling Stone não estava nem na metade quando perdí a consciência. Sei que fiquei tendo alucinações nesse tempo, mas não me lembro o que. Retomei a consciência no fim da música, pausei o mp3 e resolví ir deitar na cama, que naquele momento era meu objetivo de vida. Pensei em como a cama era confortável e como ia ser bom deitar nela e me cobrir, apesar de eu não estar com frio, embora a temperatura estivesse beeeem baixa.

Conseguí chegar à cama com algum custo, então não me lembro do que aconteceu, até minha mãe perguntar o que eu ainda estava fazendo acordado, já que tinha sido o primeiro a ir dormir, ela dormia no quarto ao lado. Me toquei que estava me debatendo muito, braços e pernas, mas não tinha consciência de estar fazendo isso até ela me chamar a atenção. Como eu me arrependí de ter comido os cogumelos alí! Não respondí nada a ela e fiquei quieto. Percebí a burrada que tinha feito indo pra cama, e agora meu novo objetivo de vida era voltar pro banheiro, mas antes eu tinha que dar um tempo pra não chamar muito atenção da minha mãe. A casa é de madeira, exceto esse banheiro, e se alguém caminha na cozinha dá pra ouvir dos quartos. Eu fiquei meio desesperado, pensando no quanto barulho eu devia ter feito, pensando que ela devia ter percebido... Conseguí me acalmar um pouco, foi difícil, porque um monte de sons horríveis ficavam passando pela minha cabeça, os sons de uma "animação" postada pelo Fred aqui no CM ha algum tempo. Aquele foi um dos principais fatores que me levaram à bad. Eu não consegui parar de ouvir aqueles sons que me aterrorizavam!

Enfim, levantei da cama com o cobertor e os travesseiros e fui de novo pro quarto. Agora eu já estava em bad. Não sabia que horas eram, lembrei que tinha que acordar às 6 no dia seguinte e pegar ônibus pra voltar pra minha cidade (45 km) pra trabalhar. Comecei a pensar que não daria tempo da trip passar e fiquei desesperado com essa idéia, comecei a ficar na dúvida se estava falando ou fazendo algum barulho, não queria chamar a atenção de novo. Então fiquei inconsciente novamente, desesperado, só me lembro que estava desesperado, ouvindo aqueles sons horrendos e tentando me controlar pra não fazer besteira. Da parte que me recordo, não conseguia saber onde estavam meus membros, não sabia se estava com a mãos esticadas ou do lado do corpo, tinha que me tocar pra saber, eu era feito de plástico, e o cobertor que me envolvia era uma espécie de célula macroscópica rosa com cara de epiderme. Eu já não sabia em que parte do banheiro estava, só conseguia me localizar quando via a luz da lua pela janela, mas às vezes eu não conseguia enxergar nada, não sabia se estava de olhos abertos ou fechados... Não conseguia controlar meu pensamento. Tinha alguns segundos de consciência, 4 ou 5, e mergulhava na bad desesperado de novo, tentando não fazer barulho, tentando não levantar, e eu sei que tive impulsos inconscientes de fazer isso, de gritar, de falar, de sair correndo pra rua, de TENTAR pedir pra alguém chamar o bombeiros (eu tava muito mal mesmo), foi uma batalha dificílima contra esses impulsos, até que de segundos em segundos de consciência eu desenvolví uma técnica pra me controlar. Me toquei que o negócio era esperar a trip passar, lembrei que eu mesmo disse certa vez que "não importa o que aconteça, lembre-se de que vai passar", torcia pra eu estar sóbrio no dia seguinte, então meu plano era o seguinte: toda vez que ficar nos segundos conscientes, retoma a posição fetal e se controla pra ficar quieto, pra não quebrar o vaso, pelo menos. Eu sentia uma pontada de consciência ínfima em algum canto da minha mente, e com essa ponta eu repetia: respira, não grita, não fala, não se mexe... respira, não grita, não fala, não se mexe... Ficava repetindo isso, quando conseguia. Na verdade creio que a minha consciência estava dividida em duas ou mais, como se mais de uma pessoa habitasse meu corpo, houveram muitas divergências entre essas consciências. Por várias vezes eu tentava tomar decisões, mas cada uma delas tinha uma opinião diferente a respeito. Por exemplo, quando tentava me controlar, me "domar", cada uma tinha uma idéia diferente a respeito de como agir. Elas entravam em conflito, emfim, tive que me decididr por uma das consciências e escolhí a que eu estava mais familiarizado, foi com ela que conseguí vencer essa batalha.

Em algum momento tentei calcular quanto tempo de trip já tinha e quanto provavelmente ainda teria, mas eu não conseguia raciocinar ou fazer cálculos. Num dos momentos de consciência, decidí com toda clareza do mundo: "Vou jogar tudo fora, meus cultivos, minhas plantas, tudo! Nunca mais vou comer cogumelos!" Tinha decidido definitivamente.

Não consigo expressar o tamanho do meu desespero naquele momento. Eu fiquei a ponto de chorar. Eu nunca fiquei tão desesperado, tão descontrolado em toda minha vida. Os motivo foram vários, mas não consigo me lembrar muito bem.

Com o tempo os períodos de consciência foram durando cada vez mais, eu percebia isso, era como ver uma luz no fim do túnel, até que finalmente fiquei totalmente consciente. Levantei, liguei a luz "do espelho" e comecei a refletir. Fiquei mais de uma hora alí de pé refletindo sobre várias coisas, ainda tinha fortes visões de fractais na parede, mas no momento isso não importava, eu tinha que pensar, e eu tinha muito no que pensar. Percebí que mesmo durante a bad, tive vários insights de percepção... que foi de certa forma uma viagem muito proveitosa, a mais proveitosa de todas.

Fui me deitar (no colchonete), achando que já devia ser umas 5 horas da manhã, fiquei alí deitado, pensando, olhando a luminosidade da lua na pequena janela sobre o vaso, devo ter ficado mais de uma hora assim, demorou muito pra amanhecer, portanto eu estava errado quanto a ser 5 horas da manhã, devia ser umas 3, 4 no máximo. Nesse meio tempo existem períodos dos quais não me recordo nada, eu estava deitado e de repente "despertava" como se tivesse ficado inconsciente por alguns minutos ou horas, ocorreu umas 3 vezes, talvez eu tenha cochilado, mas não tenho certeza. A última vez que "acordei" foi com a voz da minha mãe me dizendo que era hora de levantar, senão eu perderia o ônibus.

Ainda não conseguí absorver muita coisa do que ocorreu na trip, acho que vou demorar um bom tempo pra isso, pensei nela ontem o dia inteiro e boa parte do dia de hoje. Desistí da idéia de jogar todo o cultivo fora. Percebí uma coisa muito importante: cogumelos são ótimos, mas só em lugar isolado, sem preocupações, sem nada pra fazer em breve, sem pressa, sem precisar lutar contra os impulsos. Na casa da minha mãe, nunca mais.

Bad ou não, isso mudou minha vida. Me percebí como eu sou. Como "eu" sou, não como é a minha máscara. Tenho que assimilar isso melhor, vai demorar um tempo, talvez minha vida inteira, tudo bem, não tenho pressa.
 
Mister D. :pos:
Legal você ter postado o seu relato aqui pro pessoal perceber também que "viagens" como essa podem acontecer, e que é sempre importante manter a calma.

Assim como é importante o set/setting, sempre me preocupo MUITO com isso. Pelo menos no meu caso, sei como isso influência. Qualquer preocupação "trabalhística ou pessoal" já me tira o chão, chego a ficar em situações similares.

Luz pra ti :pos:
 
"o banheiro era refúgio, recanto espiritual"


Fala Mr.D.

Tudo que eu queria lhe falar, é a conclusão ao final do seu texto.

Pense melhor no setting, e nos 2 dias que eu sempre cito para ter uma experiência dessas.

Se isole, e mergulhe na verdadeira essência da experiência, sem preocupação externa alguma.

Bom relato, aguarde um bom tempo antes de nova experiência, você precisa e muito digerir melhor o que aconteceu.

paz e muita luz:pos:
 
sahtanoj disse:
Mister D. :pos:
Legal você ter postado o seu relato aqui pro pessoal perceber também que "viagens" como essa podem acontecer, e que é sempre importante manter a calma.

Assim como é importante o set/setting, sempre me preocupo MUITO com isso. Pelo menos no meu caso, sei como isso influência. Qualquer preocupação "trabalhística ou pessoal" já me tira o chão, chego a ficar em situações similares.

Luz pra ti :pos:

Valeu, Sahtanoj, e como foi difícil manter a calma! Uma parte da minha consciência falava "Vai na cozinha comer açucar pra isso passar logo!" e a outra falava" Fica quieto aí e espera passar, se você levantar ainda vai acordar todo mundo e aí sim vai foder tudo!"...

Eram dois pensamentos pensados por duas pessoas diferentes, não sei expicar, mas escolhí o segundo cara, sempre que eu tinha uma idéia extravagante ele me acalmava pra não dar merda.


MuiLok disse:
Fala Mr.D.

Tudo que eu queria lhe falar, é a conclusão ao final do seu texto.

Pense melhor no setting, e nos 2 dias que eu sempre cito para ter uma experiência dessas.

Se isole, e mergulhe na verdadeira essência da experiência, sem preocupação externa alguma.

Bom relato, aguarde um bom tempo antes de nova experiência, você precisa e muito digerir melhor o que aconteceu.

Brigadão, MuiLok, de agora em diante só com um bom tempo livre mesmo, isso eu aprendí pra não esquecer nunca mais.

Abraços!
 
Que lindo e ensinador! Cara, eu que nunca tive uma trip, acho que morria com uma dessas!
Fiquei com receio, a minha vai ser bem programada.
Abraço e paz Mr D.


Ps: O Eletrickasing nunca abandona o seu senso de humor, gosto disso! :D:D
 
Loucomelo disse:
Fiquei com receio, a minha vai sre bem programada.

Cara, é bom mesmo que você fique com receio... Não quero que ninguém passe o que eu passei!
 
Legal essa viagem, com o tempo a gente se acostuma e aprende a curtir. Daí você entra para o clube dos que "não existe bad".

Tive duas viagens bem estranhas:

Numa delas tive a certeza absoluta que iria morrer, pensei assim: "pois é, essa foi forte, não vou sobreviver", foi interessante é que não me desesperei, fiquei quieto num canto, resignado e triste, esperando a hora chegar, hoje acredito que não morri.

Numa outra viagem eu fui deitar com meu filho mais novo, que já estava dormindo, na época ele tinnha 3 anos, pela pouca luz que havia no quarto percebi que o rosto dele estava deformado e se deformando cada vez mais, era assustador, daí procurei me acalmar, desviar o olhar dele e pensar em outra coisa, quando olhei p ele novamente o rosto já estava normal, ufa!
 
Mas eu já sou do clube dos que não acreditam em bad!

Bad é o modo de falar, mas o aprendizado às vezes é até maior!

Bad ou não, a viagem sempre tem algo a ensinar!
 
Galera concerteza a bad do cara ai foi a mae dele e o trampo no outro dia, se a mae dele nao tivesse falado nada, e ele nao tivesse estes fatores nao teria iniciado a bad, concerteza os flashs seriam apenas mais uma coisa engracada. cara a pior coisa que tem eh a noia de "sera que vao me perceber" e a outra "sera que isso vai passar logo" essas duas juntas formam bad de qualquer forma. Eu acho que NUNCA, NUNCA da pra ficar doidao de qualquer coisa que seja com estas duas noias. entao ai vai meu conselho, nunca viagem perto dos familiares, nem com coisas importantes a fazer, do tipo voce antes calcula tenho 8 horas de viagem ai depois vo trabalhar ou qualquer coisa compremetedora. nunca se sentir preso ou etc, tipo se der vontade de sair ou perambular nada que te comprometa...

A bad ai do amigo me ajudou a perceber mais ainda estes fatores, e acho que outros tambem...eh bom sempre aprender.
 
Uma consideração psicológica.

Talvez você tenha tido um impacto tão grande, no que diz respeito a atividade cerebral, que tenha tomado contato com uma expressão mais autêntica do seu Ser, ou seja, aquilo que você É foi mais bem compreendido por você.

Você vai demorar algum tempo mesmo para assimilar de um modo mais pleno a mudança efetiva que esse momento resultou para o resto da sua vida, pois assim sucede com o contato com novos conhecimentos, conhecimentos sensíveis e psicológicos.

Sua constituição pode ter acrescido num tijolo ou perdido sua inteireza, isso o tempo dirá, embora você mesmo não perceba, e não perceberá, é importante procurar a relação da sua forma com a forma de vida dos outros a sua volta, só assim sabera calcular mais precisamente o quanto variou em você, aquilo que buscou desenvolver com o tempo.

É importante também, observar a si mesmo, porém, jamais saberá por si mesmo, o quão diferenciado foi ou está sendo suas atitudes no dia-a-dia que caracterize uma psicose ou uma loucura real; "Você, para você mesmo, encontrará não mais que uma personalidade de caráter normativo em sua avaliação".

Saiba ouvir o não-Eu, o Eu do outro, e toda profunda origem imperscrutável de todos os angulos da natureza; nelas, neles e em você, terá percebido então a resposta para a pergunta do quão proveitosa foi sua experiência, e o "quê" a mais em cada atitude na sua existência que virá, seja jogar seu cultivo e abandonar esse habito, ou comer mais mil até o fim da vida, você será.
 
yuri1 disse:
Galera concerteza a bad do cara ai foi a mae dele e o trampo no outro dia

Com certeza, Yuri!

Obrigado pelas considerações, Bruno, o pessoal do fórum tem me ajudado bastante na compreensão disso tudo!

Grande abraço a todos!
 
nossa, tava relendo isso agora... que loucura!

saudades da galera do CM, abraços a todos, good vibes e psicodália no carnaval!
 
nossa, tava relendo isso agora... que loucura!

saudades da galera do CM, abraços a todos, good vibes e psicodália no carnaval!

Pô Mr. D, vc anda sumido ein? Aparece por aqui mais vezes.:pos:

Abraços.
 
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