Soube de um caso, meteram 4g num cara. Não era nem um porra loca, já era um cara mais centrado, fazia meditação, yoga, filosofias e outros conhecimentos transcendentais, tinha umas experienciazinhas de uma coisa ou outra, mas nada aprofundado. Pois o cara surtou de uma tal forma que foi feio de ver. Subia no muro e berrava para o céu. Repetia mantras e fazia orações. Espremia frutas com as mãos sujando a casa toda. Se molhava na torneira, se esfregava, resmungava. Quatro horas feito um bixo.
O que são essas reações?
Medo. Da morte, da perda de controle. Medo da dissolução total e absoluta em um mundo incontrolável, intocável, onde perdemos as rédeas da carruagem e os cavalos nos levam como querem, aonde querem. O mundo se dissolve, nosso corpo derrete, nossas crenças e verdades viram pó e são levadas pelos ventos dos mundos de lá.
O que são essas reações?
O ego/mente/intelecto/eu inferior (nomes a gosto do freguês) se debatendo feito criança, tateando no escuro atrás do console de comando. O Sr. Egão, proprietário absoluto de si mesmo, dono por herança e direito de crenças milenares e verdades incontestáveis, homologadas pela ciência e abençoadas pela igreja.
O Sr. Egão, o cara! Desesperado, em frangalhos, tentando juntar os caquinhos de si mesmo, da casca de mentiras que usa para se pagar de importante no mundo do faz de conta. Sr. Egão heim, criado e tratado para ser importante. Doutor Egão! Orgulho da mamãe, da família, da sociedade. Desesperado, tentando reatar a conexão com o real, o material. Chorando, babando, cagando nas calça. Se espremendo, berrando, para se sentir, sentir que seu corpo ainda existe, que seus sensores ainda funcionam, que o mundo onde é rei não acabou.
E o Sr. Ego volta, quieto, cabisbaixo, rabinho no meio da perna, é um santo! Um mês para digerir, um mês para aceitar. Mas agora, na segurança de seu lar, sentado em seu trono de verdades, as desculpas não vão faltar. Meu estômago dói, minha cabeça dói. Aquilo é veneno. Deixa a pessoa louca. Sei de um cara que não voltou mais. Dizem que é usado em rituais do diabo. É isso! O diabo! Loucura, dor e lamento. Não como mais aquilo nunca mais!