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Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

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Como introduzir a enteogenia a um leigo?

Sabe, um detalhe sobre este tópico é que a pergunta é sobre como introduzir a enteogenia, apesar de que caiu para "apresentar os cogumelos" desde o começo.

Bem, introduzir a enteogenia não é tanto problema. Se algum conhecido virar pra mim na rua e perguntar qual a minha religião, hoje em dia eu digo "kardecista-enteogenista", quando antigamente eu falava "kardecista-umbandista". Sabe, quando eu falava "umbandista" as reações eram piores, porque todos conhecem e tem preconceito. Quando eu digo "kardecista-enteogenista", até a presente data nenhuma santa alma me perguntou o que é isso. E eu falo isso até pra quem não pretendo falar nunca dos cogumelos!

Uma coisa não indica a outra, aliás.

Sabe, essa situação toda me lembra da época de Umbanda em que eu ouvia pessoas me dizerem que era melhor eu não contar pra todo mundo que eu era de Umbanda, por causa do preconceito. Isso foi um parâmetro que eu tentei seguir, mas minha natureza não deixou. Comecei a falar qual religião eu seguia e, bem, nada de ruim aconteceu comigo, e a mesma coisa com a enteogenia.

Sabe qual a melhor forma de acabar com o preconceito? Saindo da obscuridade.

Bem, enfim, mais outro exemplo, meu pai, ele sabe que eu sou enteogenista, que eu passei pra ele o artigo da wikipedia e falei que era minha prática religiosa atual. Ele leu, fez algum comentário e pronto. Sequer eu precisei especificar o enteógeno.

Enfim, acho que eu vou morrer sem que ninguém me pergunte "o que é enteogenista?" depois que eu me declarar "kardecista-enteogenista", dada a baixa curiosidade média e a falta de interesse genuinamente desinteressado que as pessoas possuem umas pelas vidas das outras. Mas, se me perguntarem, eu falarei assim:

"Eu utilizo substâncias que me induzem a um estado de êxtase religioso, escancaram todos meus canais mediúnicos e me conectam diretamente com a espiritualidade", ou algo neste sentido, e dependendo do contexto poderei alongar "já que não tenho tempo na vida moderna pra fazer longas meditações de mais de um mês", etc.​

Agora, e isso é muito importante. A diferença entre (a) quem tem sorte quando conta algo e não acontece nada e (b) eu, que posso contar pra quem eu quiser que vai continuar a não acontecer nada e isso não dependerá de sorte; é postura e noção real das minhas condições de vida na hora de escolher o que e a quem falar. Se o caboclo achar ruim o que eu falei... Bem, que se resolva. É minha religião neste momento e eu tenho o direito de declará-la a quem eu quiser. E, nossa!, nem preciso fundamentar muito a desumanidade que é querer forçar alguém a negar publicamente no que crê.

Aqui, se a pessoa vai calar que é enteogenista, então provavelmente ela também calaria sobre ser "Umbandista", ou qualquer outra religião que sofra preconceito. É mais questão da própria pessoa não ter disposição e/ou condições emocionais para aturar o julgamento e o preconceito alheios e devidamente suprimi-los ou ignorá-los, na maioria dos casos quando se trata de alguém que se sustente e não dependa de ninguém (mesmo link de acima), e também excepcionados aqueles que simplesmente não sentem vontade de contar pras pessoas sobre detalhes de suas vidas. Este comentário não se dirige a ninguém em particular, porque eu não tenho como saber as motivações dos demais membros que resolvem se calar, então não sei a quem se aplica isso, e nem quem tem bons motivos de verdade pra não contar.

E assim, aliás, o preconceito só vai acumular. Não bastam "doidões" ou "ex-doidões" falarem que são enteogenistas. Este tem que começar a ser o discurso das pessoas mais "sérias" da sociedade: juízes, médicos, empresários bem sucedidos, delegados de polícia, etc. Enfim, pessoas bem estabelecidas na vida, responsáveis, preferencialmente reconhecidas. Destas que ninguém vai olhar e falar "isso é coisa de vagabundo". Destas que, já gozando de boa imagem e influência entre as pessoas, podiam, ao invés de temer se expor, trazer para elas mais este aspecto da realidade e da experiência religiosa e mística. Mas, enfim, é mais doce ficar quieto e curtir a boa imagem pública.

Vejam bem o caso dos homoafetivos. Quem pior do que eles para revelar algo pra sociedade, no que diz respeito ao preconceito em geral? Até mesmo o CM, um fórum tão avançado em pensamentos e sentimentos, possui abertas z de homofobia em posts esparsos, a maioria sob o disfarce do humor - observem que tem piadas "de gay" em postagens espalhadas no CM, mas não tem "de preto", por exemplo. Histórias de gays que saíram do armário e se ferraram muito feio existem muitas, inclusive com fins fatais; mas isso seria justificativa pra recomendar a todos os homoafetivos que continuassem para sempre dentro do armário e assim jamais tentar obter em juízo o basilar direito de adotar uma criança conjuntamente ou de se casarem? Ora, tivessem ficado quietos até hoje e não teriam conquistado nenhum direito ou respeito - que não se ganha, se conquista. E, bem, com medo de se expor, os enteogenistas (que usam psicodélicos, pelo menos) jamais conseguirão sair do lugar em relação à imagem pública e ao reconhecimento estatal da instituição da Enteogenia.​

Neste ponto, acontece algo muito irônico. Enquanto nas religiões normais o sujeito é "curado" e quer levar a mensagem, com a enteogenia que efetivamente cura a pessoa, me parece que acham melhor que a mensagem só chegue via Google, num golpe de sorte de uma pesquisa qualquer sobre algum psicodélico.
 
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