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As piores experiências são as mais valiosas!

Zeugeid

Cogumelo maduro
Cadastrado
28/01/2014
9
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32
Bom, depois de duas experiências , que de certo modo foram intensas mas ainda com um certo controle. Eu tive uma terceira experiência que foi uma das coisas mais intensas e ao mesmo tempo mais apavorantes da minha vida.
Já faz um tempo que ela aconteceu e eu não consegui voltar aqui para descrevê-la, confesso que fiquei com muito medo de tudo por ver até onde o potencial dos cogumelos vai. Precisei de muito tempo para refletir o que aconteceu mas finalmente eu sinto que estou pronta pra continuar com os aprendizados que os cogumelos me proporcionaram.
Bom nesse dia tomei 3 gramas de cubensis secos. Mas estava em um período de muita dúvida em relação a minha vida, um pouco triste talvez, naquele dia em vez de preparar minha lista de músicas peguei uma lista pronta na internet, não dei muita atenção a preparação do ambiente e isso refletiu em como foi minha experiência.
Bateu muito rápido e eu comecei a sentir muito frio, coloquei diversas roupas de frio e ainda sim parecia que o frio vinha de dentro, me enrolei em cobertores e implorava pra terminar aquilo sendo que tinha até começado, me arrependi profundamente da decisão. Mas como já não tinha volta decidi ficar calma e meditar, ou ao menos tentar.
Enrolada naqueles cobertores eu me vi dentro do utéro, quente, protetor mas aquele sentimento não durou muito. Eu perdi totalmente a consciência dessa vez, não tinha controle nenhum sobre nada. Comecei a chorar e as lágrimas eram quentes e doia tanto, queria acabar aquilo.
Depois do estágio do frio ter passado comecei a ter muita fome e sede, mas não tinha nada na geladeira, apenas uma sopa de lentilhas da noite anterior, esquentei e nesse ponto já não tinha noção do que estava fazendo, comi e aquilo caiu como um veneno, a comida parecia morta, não era fresca, tentei beber água e não consegui , tinha um gosto de veneno e na hora eu tinha certeza que tinha veneno na água, eu senti um gosto tão forte do que hoje acredito ter sido o cloro, chorei chorei e comecei a fazer anotações bizarras em um caderno , escrevia o veneno está na água, o veneno está na comida, chorava sem parar repetindo essa frase , gritando, na verdade nem sei como estava falando, na minha cabeça eu gritava mas duvido muito, fiquei mais de uma hora sentada no chão do quarto repetindo sobre o veneno. Resolvi tomar um banho achando que ia ajudar a passar a viagem. Mas coitada de mim, ai foi que bateu mais forte. Perdi a noção de onde eu estava, e uma música invadiu minha cabecei, comecei a cantarolar uma melodia suave, daquelas que me lembrar canções de tribos antigas , suaves, doces, no ritmo cantarolada nanana, e eu cantava, tinha certeza que era minha voz e foi a coisa mais bonita que eu já escutei na minha vida, tenho essa lembraça em mim, mas ao mesmo tempo era lindo e triste e eu fiquei um bom tempo sem sair do lugar , pensando sobre minha vida, sobre coisas da minha infância, de tudo do mundo. Até que a água começou a cair em cima da minha cabeça e eu comecei a engasgar, desesperei pensando que precisava sair dali mas ao mesmo tempo não me movia. Foi um dos momentos mais tensos porque parecia que eu ia abrir mão de tudo e ficar ali embaixo dessa água, como estava fazendo com o resto da minha vida, eu não tinha coragem pra tomar a atitude de mudar o que me fazia infeliz, e parece que por um momento eu ia me entregar mas subitamente me levantei, e senti um orgulho de mim por isso. Depois tentei vestir a roupa e ai começou uma confusão mental , ia até o quarto mas do nada quando olhava e percebia estava no banheiro de novo e não sabia como isso aconteceu, , depois de várias vezes assim finalmente consegui me deitar, fiquei o resto do dia mal, e quando vi aquele caderno senti muita dor.
Mas tudo aquilo fazia tanto sentido, sobre o veneno, sobre a água e a comida.
Foi muito tenso passar por tudo isso, não foi uma experiência bonitinha de cores e risadas como a primeira vez. E confesso que prometi não tomar mais cogumelos, fiquei com medo. Mas finalmente, o tempo me trouxe sabedoria, e eu entendi o sentido daquela viagem, o que minha mente queria dizer, o que meu corpo queria dizer. Sinto que já estou preparada pra uma nova experiência com muito mais sabedoria e entendimento. Ainda bem que eu tirei esse tempo pra entender o que aconteceu. Acho que não devemos ter medo das experiencias ruins. Elas são talvez mais valiosas que as boas experiências.
Enfim, o texto foi longo mas me sinto livre por ter conseguido contar para alguém isso. Como prefiro ter as experiências sozinhas, é bom dividir com pessoas que entendem e podem me dar conselhos.
Minha vida mudou muito a partir do momento que decidi abrir minha mente.
Enfim, quando for a hora , estarei de coração aberto para outra experiência.
 
Que bom que você optou em trabalhar em cima dos ensinamentos. Às vezes o impacto é grande, mas conforme vamos refletindo, as coisas vão se encaixando.

Minha vida mudou muito a partir do momento que decidi abrir minha mente.

Continue assim. Por isso eu digo... Quem foi, nunca mais voltou. Amém! :D

Obrigado por compartilhar sua experiência. :)
 
Comecei a ficar preocupado, ultimamente as revelações de pânico em relação ao uso de cogumelos tem sido muito constante, já passei por experiências muito difíceis no uso de outros alucinógenos e em uma delas passei por umas 2 hs em companhia da morte, a princípio me apavorei, mas mantive a calma, me acostumei com a ideia e por último comecei até a achar a sua presença interessante, acredito que cada viagem tenha um ensinamento diferente e não gostaria de passar por este sufoco novamente e para aliviar e dar uma força para o amigo, procure refletir e tirar o melhor desse aprendizado, infelizmente a vida não é um mar de rosas, a dor e o sofrimento fazem parte da jornada.
 
Durante uma trip, eu também senti algo parecido. Não era exatamente companhia da morte, mas parece que o cogumelo me mostrou como é morrer... Fiquei tranquilo, durou pouco tempo, depois da trip não lembrava direito. Mas ficou uma sensação boa, de que a morte não tem nada de ruim! Algo como estar desconectado de tudo e conectado a todo o universo ao mesmo tempo. Difícil explicar ou até lembrar mas foi um belo ensinamento...
 
engraçado que moveram meu tópico pra bad trip e como não sou praticante assídua não sei se entendi ao certo o conceito de bad trip. Mas na minha visão o que aconteceu comigo não foi uma bad trip, pelo contrário foi dolorosa mas intensa e importante.. humm, fiquei até curiosa pra saber a opinião de vocês sobre o que é ou não uma bad trip
:)
 
engraçado que moveram meu tópico pra bad trip e como não sou praticante assídua não sei se entendi ao certo o conceito de bad trip. Mas na minha visão o que aconteceu comigo não foi uma bad trip, pelo contrário foi dolorosa mas intensa e importante.. humm, fiquei até curiosa pra saber a opinião de vocês sobre o que é ou não uma bad trip
:)
Salve salve, gostei muito do seu relato. Sobre a bad, bom, consumi cogumelos apenas duas vezes, e não foram experiências significativas, mas bad trip é fruto de muita discussão. Tem até um tópico aqui no CM sobre essa questão que é interessante. Pessoalmente não curto muito não, porque bad trip é só uma palavra pra rotularmos aquilo que nos trouxe medo e desagregação psíquica. O camarada acima, Tutcho, escreveu que o cogumelo mostrou como é morrer. Acho que esse pode ser um dos objetivos da enteogenia. Já vi como é 'morrer' com a sálvia, e não interpreto esse momento como bad, é como você mesmo disse: as piores experiências são as mais valiosas. Obrigado por compartilhar com a turma!
 
isso é verdade falado acima de acordo com o que eu penso.
eu antes era mais triste, e hj sou um triste mais alegre, mas preferia ser triste sem alegria
o que fez ser mais triste alegre foi exatamente isso ai. como um guarda chuva, a merda do cabo do guarda chuva fica no meio no melhor lugar do guarda chuva

foi muito legal o relato
 
Boa noite.
Me identifiquei muito comeu relato, passei por algo parecido à algumas semanas atrás, porém nao com cogumelos. Fui para uma festa sozinho, longe da minha casa, longe da minha zona de conforto, durante o tempo em que estava no ônibus eu tomei um acido inteiro( acostumei com metade, porém decidi arriscar) desci do ônibus já com as pernas um pouco bambas... Chegando na festa a onda começou a ficar forte demais, a noite começou a chegar, foi quando eu comecei a ficar sem controle. Me vi longe de casa, despreparado, sem ninem do lado, só eu e deus... Tem muito mais historia para falar sobre esse dia, porém o mais importante foi que de alguma forma parecia que o acido me mostrava onde estavam todos os meus defeitos, passei muito perrengue nesse dia, porém quando eu cheguei em casa eu estava num estado de paz absurdo e agradecido por ter passado por aquilo.
 
Me identifiquei muito comeu relato, passei por algo parecido à algumas semanas atrás, porém nao com cogumelos.

Bem, se não era com cogumelos, então por favor evite o assunto. Leia as regras do fórum para se alinhar com as normas da casa. Obrigado!
 
Concordo que as "piores" XP podem ser muito valiosas. Faz um ano tive uma viagem que foi bem punk. Pus meu relato no PE, mas foi bem aquela coisa que muitos descrevem: a sensação de morte, depois a certeza da loucura, a culpa absurda (se fudeu, se fudeu, eu me escutava falando. "Não quis tomar cogu? agora tá se fudendo, bem feito"). Me lembro de ter pensado: "é isso? é a morte? vou deixar esse mundo assim?" e pensava nas pessoas que ia deixar, e que ficaria conhecido como aquele cara acima de qualquer suspeita que se ferrou com cogumelos.
Fora isso, coisas mais malucas, como uma perspectiva que mudava a cada passo, distorcidíssima, a visão meio azulada (tinha tomado 2g de cyanescens), o medo absurdo, injustificável. Na hora em que me entreguei de fato, aceitando a morte, a loucura e tudo mais, daí perdi a consciência e virei ameba, virei uma conta de divisão que recomeçava a toda hora, virei um joguinho de game que também era perpétuo. O último estágio foi ver-me preso dentro da minha própria casa.
Por isso, quando voltei da viagem, me vi no meu sofá, deitado, vivo, chorei pra caralho. Era bom estar de volta, era bom ter vivido tudo aquilo, me fazendo apreciar mais o presente, as coisas que valem a pena, as pessoas. De fato acredito que os enteógenos na minha vida tem sentido se me ajudam a levar esta vida com mais propósito, mais significado, mais amor.
Neste ano, algumas semanas atrás, tomei 1g de cubensis seco, pensando mais para uma coisa mais leve e recreativa. Essas 1g me renderam outra viagem punk e nada recreativa. O domínio de um medo absurdo foi quase constante. Eu dizia pra mim mesmo "fica tranquilo, vai passar, foi só uma grama, é pouco, é pouco, vc já passou por pior" e o cagaço irracional continuava. A sensação de que de olhos fechados a coisa era ruim, mas de olhos abertos parecia que piorava. Enfim, depois houve um momento em que me encolhi na cama, enrolado, com medo de perder o controle, fazer mal às pessoas. Mas depois de algum tempo percebi que isso era eu, fazia parte da minha pessoa esse cuidado. Foi um aprendizado, foi como assumir tal coisa. E depois a viagem melhorou, e comecei a ver que tinha alguma coisa sendo transformada em mim – eu estava ganhando mais autoconfiança para a fase em que estou agora, isso foi um presente. Foi do caralho.

Como diz num tópico aqui no CM, e como dá a entender @Zeugeid , tb sou a favor do não uso do termo bad trip. Porque às vezes, nessas XP intensas é que a gente realmente aprende, embora seja doloroso. E me impressiona a capacidade dos cogumelos, da psilocibina, de nos permtir essas viagens tão além do ordinário e do esperado, ampliando nossa visão de mundo.
 
Mas finalmente, o tempo me trouxe sabedoria, e eu entendi o sentido daquela viagem, o que minha mente queria dizer, o que meu corpo queria dizer.

O que sua mente queria dizer afinal?

Achei que sua experiência foi uma clássica bad de preparo... A última que tive, me pôs em estado de vigilância, de não subestimar o poder dos cogumelos do valor da minha vida e continuado *tentando* pegar leve nas farras. Estou relendo um livro do Terence McKenna chamado Alucinações Reais em que ele relata a viagem dele em La Chorrera, um lugar na amazônia em por volta de 1970... O livro tem me ajudado muito a estruturar como encarar e programar uma eventual futura viagem.

Tem um audio de entrevista com Carlos Castañeda no youtube muito legal também, ajuda a entender a origem e as tradições, os costumes e o ritual de preparo...
 
O que sua mente queria dizer afinal?

Achei que sua experiência foi uma clássica bad de preparo... A última que tive, me pôs em estado de vigilância, de não subestimar o poder dos cogumelos do valor da minha vida e continuado *tentando* pegar leve nas farras. Estou relendo um livro do Terence McKenna chamado Alucinações Reais em que ele relata a viagem dele em La Chorrera, um lugar na amazônia em por volta de 1970... O livro tem me ajudado muito a estruturar como encarar e programar uma eventual futura viagem.

Tem um audio de entrevista com Carlos Castañeda no youtube muito legal também, ajuda a entender a origem e as tradições, os costumes e o ritual de preparo...

a mensagem que eu recebi foi a de que não poderia parar, desistir do que acreditava, acho que a crise durante a viagem foi uma metáfora da crise que eu estava passando na vida real, e de fim, ficou a mensagem de que tudo passa, as crises passam e você sai mais forte querendo ou não.
Depois desse experiência ainda estou esperando estar preparada para a próxima . Fiquei curiosa em relação ao livro! Vou dar uma procurada.
 
A experiência de níveis mais intensos podem transitar entre as mais variadas questões da vivencia humana. Uma experiência ruim (bad trip) ocorre com a dificuldade em aceitar que a vida transita entre vida e morte, consciente e inconsciente, controlar e perder o controle, coragem e medo, felicidade e tristeza, orgulho e humildade, culpa e perdão, desgosto, amor, etc. Tudo isto (e mais um bucado) é parte de nós, gostemos ou não, confortável ou não. Este é um dos motivos pelos quais, afirmamos que a experiência psicodélica é um dos caminhos para o autoconhecimento, a experiência do que é a vida humana só poderia ser compreendida se fosse possível experimenta-la das maneiras mais sutis e grandiosas, nos mínimos e vastos detalhes, em todos seus aspectos e características, internas e externas, dos caráteres intrapessoais e interpessoais.
E de alguma maneira, os cogumelos mágicos facilitam a percepção destes diversos elementos da vida humana.

O setting ao meu ver foi muito bom e melhor ainda a interpretação positiva da experiência posteriormente adquirido.

As vezes tenho dúvidas se o que muitos pensam ser uma experiência ruim, na verdade seja apenas a dificuldade momentânea do indivíduo em lidar com as mais diversas questões apresentadas em uma experiência completa.
 
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