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Amanitas + Hidromel = ??

Agricola

Cogumelo maduro
Membro Ativo
27/03/2009
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Muito bem, dia 14 de junho colhi 14 chapéus. Sequei todos (um tempo atrás da geladeira, outro tempo em um túnel de vento, outro tempo com desumificador).

Eu e mais dois amigos combinamos de consumi-los sábado a noite. E assim foi feito.

Método de consumo: Masca-los junto de hidromel (fermentado de mel - 12% álcool)

Saímos de casa com os amanitas e fomos em direção a uma estrada que leva para o interior da cidade (colônia, plantação, potreiros). Enquanto estávamos ainda na região urbana, começamos a ingeri-los enquanto caminhava-mos.

Bebemos bem pouco hidromel. Eu mesmo só "molhava o bico" com a bebida enquanto mascava as amanitas secas.

Porém, os amanitas dos meus amigos tinham sido coletados separados dos meus. E acredito que o método de secagem deles não foi eficiente. Quero dizer, aconteceu alguns problemas e eles demoraram um pouco para irem para a secagem. Isso resultou em vários cogumelos pretos (a parte de baixo pretos). Enquanto os meus ficaram todos brancos, secos e saborosos. O que eu não esperava era que as pintinhas brancas dos amanitas se parecessem com grãos de areia ao serem mastigadas.

Eles decidiram comer os pretos mesmo assim (não queriam se desfazer deles, e nem eu iria querer em seus lugares). Comemos 5 chapéus de médios para pequenos cada um. Eu comi 5 brancos (sadios) enquanto eles comeram aproximadamente meio a meio (metade brancos e sadios e metade pretos e duvidosos).

Entramos em uma estrada de calçamento sem iluminação alguma (apenas as luz das estrelas e da cidade ao longe.. A noite estava sem lua).

Um dos meus amigos começou a dar uns gritos de guerra no meio da estrada que agora seguía pelo meio de um mato. Batendo as mãos no peito e correndo, gritando como se estivesse indo para uma batalha. Toquei minha corneta de chifre de boi nesse momento. Não estávamos nada alterados ainda, foi apenas uma inspiração natural. O outro estava muito cansado por ter acordado cedo e caminhado o dia todo, viajado de ônibus, etc.

Ao caminharmos pouco mais de 3 quilómetros pela estrada, ele resolveu tomar um pouco de hidromel e acabou vomitando.
Ver ele vomitar deu um mal estar em mim e no outro amigo, tentei evitar pensar naquilo ao máximo. Mas a sensação de ânsia já havia dado sinal, tanto em mim quanto no outro amigo.

Quanto ao que vomitou, passou a se sentir melhor depois disso.

Caminhamos mais 2 quilómetros e estávamos muito cansados. Encontramos uma araucária na beira da estrada e deitamos ao pé dela. Eu e meu amigo (que ainda não havia vomitado estávamos com ânsia.

Comecei a fazer sons estranhos com a boca. Sons que eu não iria fazer se estivesse normal. E o som foi ganhando forma nas estrelas. Os sons mais graves tinham formas arredondadas enquanto os agudos eram finos, em forma de lâminas. Aquilo estava muito legal e eu fiquei viajando um pequeno tempo nos sons se misturado com as formas.

A sensação de ânsia e mal-estar havia passado completamente (para mim). Meu amigo ainda reclamava, enquanto o outro reclamava de frio por estar apenas com uma camisa em uma noite de inverno.

Olhei para cima, rente ao tronco da árvore e parecia que eu poderia muito bem me levantar e abraça-la la no alto.. Na copa, parecia maior. Comentei com meus amigos e eles também perceberam o mesmo.

Decidimos levantar e caminhar, pois estava ficando frio ficar ali deitado na terra que em algumas partes estava molhada. O amigo que ainda não tinha vomitado falou que se levantasse achava que iria vomitar. E foi o que aconteceu, ao se levantar e dar alguns passos se sentiu mal e resolveu arrotar, foi ai que vomitou.

Mas dessa vez aquilo não me afetou, eu já estava começando a viajar muito de leve na sensação da amanita. Já havia passado uma hora desde que havíamos ingerido as amanitas.

Eu caminhava pela estrada cantando sons estranhos e caminhando conforme a música, em uma espécie de caminhada dançante uivante. Produzia sons que me lembravam muito uma canto indígena xamânico. Com o tempo, voltando agora pela mesma estrada, todos começamos a sentir uma sensação parecida com a vertigem. Não era uma vertigem de álcool pois as cabeças estavam normais. Era como se as pernas ficassem pesadas e moles. Um dos meus amigos (o que vomitou primeiro) falava o tempo todo estar se sentindo pesado (até mesmo para falar [boca pesada]). Eu não estava me sentindo tão pesado assim. Ainda estava pirando com os sons e as formas.

Produzi um som de tambores muito legal no caminho. Queria muito poder me lembrar daquele som mas não consigo. Para mim, aquilo foi muito bonito. Não sei para meus amigos.. :)

Estávamos todos andando em uma forma que lembrava muito pessoas embriagadas, com as pernas se entrelaçando e tropeçando, andando de um lado para o outro e se batendo.

Cada um estava em sua viajem particular. Tinha horas que todos nós sentíamos a presença de elementais por perto. Andando juntos na estrada.

Em uma certa altura, um amigo meu começou a dar uns pulos e acabou caindo (por moleza nas pernas acredito). Achamos todos aquilo muito engraçado, quando ele tentou levantar eu empurrei ele novamente e foi como empurrar uma parede, pois acabei me empurrando fortemente para trás e cai também.

Viemos caminhando, conversando com as árvores, abraçando-as. Tudo estava muito estranho. As luzes brilhavam da cidade brilhavam de uma forma diferente. Para mim era como se estivessem explodindo, para outro amigo era como se estivessem ofuscadas e para o outro... bem, acho que ele não conseguiu descrever.. :)

Ao chegarmos nas primeiras luzes da cidade, percebemos que nossas pupilas não estavam nada dilatadas. Achei estranho, mas também não achei. Continuamos seguindo e estávamos com vontade de mijar.

Um amigo mijou em uma garrafa para poder beber a própria urina, acreditando que ali poderia haver mucimol. Segundo ele a urina estava muito forte e nós discutindo, chegamos a conclusão que essa não seria a urina adequada. Pois o mucimol tinha acabado de começara fazer efeito.

Seguimos andando e cambaleando até chegar na cada de um deles que foi buscar o celular. Não sabíamos que horas eram, eu achava que era umas duas e meia da manhã. Outro amigo achava que era ainda mais tarde e o outro achava que era em torno de uma hora da manhã (o que estava com maior razão).

Enquanto um deles foi buscar o celular em casa, esperamos do lado de fora e eu deitei no chão (virado para cima, com as pernas dobradas). Comecei a sentir minhas pernas muito maiores. Estendi a mão e toquei no meu joelho. Joelho imaginário pois estava com a mão quase um metro acima do joelho verdadeiro. E de fato, eu o toquei. Mesmo sem ele estar ali.

Nossos corpos pediam por descanso. Como se falassem: "Hey.. parem, relaxem."

Seguimos para a casa do outro amigo agora (onde estávamos planejando comer e dormir). E passamos por um lugar onde sabíamos que tinha uma torneira. Nossas bocas não estavam secas como quando se usa cannabis, muito pelo contrário, estavam salivantes, aguadas, cuspiamos seguidamente.

Fui o último a tomar água e só então entendi porque meus amigos estavam demorando tanto na torneira. A água não tinha temperatura, não tinha textura, não tinha consistência. Para mim pelo menos, a água era como uma energia transparente, como se fosse uma luz invisível, mas que ao eu jogar no meu rosto ela se fixa-se como uma camada de veludo por toda a pele. Eu não consigo explicar, acho que ninguém conseguiria.

Chegamos finalmente na casa que estávamos indo (do amigo que tinha vomitado primeiro). Ele colocou uma música do Daniel Namkhai (música que segue um estilo indígena xamânico) e o som estava muito diferente, eu escutava as notas até o fim, quando uma acabava eu sentia a outra ainda vibrando, levemente, levemente.. Já havia escutado aquela música várias vezes. Agora ela era pura, era como se aquela som de flauta estivesse saindo ali da minha frente, ao vivo. O som tocava dentro da cabeça. Meu outro amigo disse que para ele a casa inteira olhava (escutava, se direcionava) para o som.

Fomos comer e foi ai que eu tive a maior viagem da minha vida. Vou contar só uma parte dela porque é apenas o que eu consegui compreender. Primeiramente minha boca estava enorme, muito larga e vasta. O alimento que eu ingeria era.. porra... não sei com descrever. Mas enfim, a sensação era de que na minha boca existia um grande e enorme vácuo. E o que entrava nesse vácuo de alguma foram ele era triturado (não pelos meus dentes e sim por meteoros que ficam andando em zigue-zague pelo espaço) e que depois eram sugados por um buraco negro e enviados sei lá para onde. :confused:

O resto que eu senti eu não sei como descrever, porém eu tinha certeza que estava entrando no pico máximo da viajem. Sentia o cérebro processando umas informação que agora eu nem sei o que é, sentia o neurónio trabalhar em dupla, como se tivesse uma dupla personalidade neurônica. :confused:

Enfim, tem coisas que eu não sei descrever. E nem os meus amigos souberam.

Um deles (o que vomitou primeiro) abraçava a árvore e dizia ser a árvore, deitava na terra e sentia-se a terra, como se estivesse derretido e se tornado um todo. Não sei.

Ou outro via coisas bizarras em sua cabeça como a imagem de uma menina correndo atrás da outra e gritando: "Pega ela, pega ela".

Depois de comermos (o que pra mim foi a maior loucura até então), fomos dormir, acreditávamos que os sonhos iam ser muito fantásticos. Bom, acontece que eu deitei e não vi mais nada. Não tive sonho algum. Meus amigos não sei mas acredito que não tiveram nada de espetacular também.

No dia seguinte, acordei normal. Meus amigos ainda se sentiam muito poderosos. E foi nesse mesmo dia que saímos procurar mais amanitas e encontramos milhares (em breve disponibilizarei os vídeos).

Curiosidades:
- Eu tenho certeza absoluta que bebi água na casa do amigo que foi busca o celular. Tenho tanta certeza porque até no momento em que eu larguei a mangueira de água nas pedras eu olhei e elas estava brancas e eu pensei: "parecem perlitas". Porém, ao mesmo tempo eu tenho certeza que não cheguei a menos de 20 metros da casa dele. Tenho certeza que não bebi aquela água pois naquele momento eu estava passando a mão no meu joelho imaginário.

- Um amigo (o que vomitou por primeiro) teve um "sonho" ou "imaginação" ou sei la o que de estar acordando no meio da noite abrindo a porta da casa para o seu pai. O que é totalmente sem sentido, sendo que seu pai estava em outra cidade e que também teria a chave da casa. Para ele isso foi muito real também.

- Ao tentar beber um copo de leite, um de meus amigos acredito que sentiu que sua boca fosse maior do que é e acabou virando o copo antes da boca, derrubando o leite na sua barba e na roupa.

Considerações aparentes:

- Amanitas pretos tem um gosto horrível e fazem mal para o estômago. Porém, mesmo assim, é possível que contenham mucimol.

- Não é porque você vomita que tudo está perdido. O que já foi absorvido fará efeito.

Considerações emocionais:

- O amanita nos trouxe uma viajem inicial de aprendizado. Ou seja, não atingimos o que realmente gostaríamos de atingir. Porém, esta foi nossa primeira experiência. Na próxima nos prepararemos melhor em espírito para tentarmos alcançar uma sabedoria maior. Isso tudo foi apenas uma "loucura primária" de quem é "noob" ainda no assunto e tem muito a aprender.

Espero que tenham gostado.
 
Belo relato agricola
você me deixou ainda mais na fissura de
experimentar as amanitas.
Espero em breve encontrá-las por aqui.
Gostaria de tomar com alguém só que por aqui
não rola.
 
ótimo relato agricola!
belissimo belissimo!
são esses os efeitos esperados mesmo delas.
talves se tivessem mascado elas por mais tempo nao teria vomitado - a absorçao ocorre em maior parte na boca mesmo, no contato com as paredes internas da gengiva lingua e bochechas.
:pos:
agora que ja tem a força parte pros cubensis que eles te mostrarão a luz.
com MUITO menos dificuldades do que as amanitas.
chega a parecer até PECADO de tao bom que é.
 
nao e qualquer um que tem a oportunidade de conhecer os amanitas...
 
agora que ja tem a força parte pros cubensis que eles te mostrarão a luz.
com MUITO menos dificuldades do que as amanitas.
chega a parecer até PECADO de tao bom que é.

Então, aqui na região é muito raro achar cubensis.. Pelo menos para mim. Mas em breve to me mudando pro litoral, e lá tendo clima quente e húmido na maior parte do ano, acho que eles me encontraram. Também pretendo iniciar um cultivo assim que minha vida se estabilizar novamente.

;D
 
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