SENTIDOS
Acredito que uma das coisas que existem entre nós e a realidade são nossos sentidos, o que, por si só, já faz nossa relação com o mundo ser indireta, pois não temos acesso direto à realidade, temos acesso a percepções que já foram filtradas pelos nossos órgãos sensoriais e pelo cérebro, que constrói uma percepção a partir da sensação. Então, dado que nossos órgãos captam apenas uma pequena parcela dos estímulos que nos cercam (não escutamos, em geral, sons abaixo de 20Hz e acima de 20000Hz, por exemplo) e os próprios estímulos são ondas mecânicas (audição), ondas eletromagnéticas (visão), partículas em suspensão (olfato), eletrosferas se empurrando (tato), movimento do líquido vestibular (equilíbrio) etc, que são estados reais da matéria, mas não são os objetos em si. Para ir além, não captamos nem mesmo os estímulos em si, mas a relação que nosso corpo estabelece com os estímulos, haja visto que, considerando um mesmo estímulo visual, uma pessoa daltônica, por exemplo, tem seu sistema visual estimulado de forma diferente que uma desdaltônica. (um exemplo extremo, mas mesmo duas pessoas desdaltônicas captam as mesmas ondas eletromagnéticas de forma diferencial)
Dessa forma, enquanto olhamos para um troço marrom grudado na sola do calçado, o olfato informa nosso cérebro que tem moléculas X, Y e Z no ar inalado e logo dizemos que aquilo tem cheiro de cocô. Não chegamos à conclusão que tem moléculas X,Y e Z no ar, chegamos à conclusão que aquilo tem cheiro de cocô e essa é a realidade que criamos, já que na realidade objetiva não existem coisas como cheiro.
SÍMBOLOS
Para além dos sentidos, nós, enquanto seres dotados de linguagem, temos uma relação com a realidade mediada ainda por símbolos. E esse é um dos motivos pelo qual não pensamos "que cheiro de moléculas X, Y e Z", mas pensamos "que cheiro de cocô". A palavra cocô é um símbolo, uma símbolo associado a muitas experiências prévias nossas, seja fazendo, pisando ou falando sobre cocô.
Assim, aquilo que usualmente chamamos de realidade (o que percebemos através de nossos sentidos), é uma construção que leva em conta nossa relação com o resto do mundo e as experiências acumuladas ao longo de nossa existência.
AÇÃO
Uma última coisa que eu quero citar, que media nossa relação com a realidade, são as ações. Dado que nossa percepção de mundo se dá através das relações que estabelecemos com a realidade objetiva, nossas ações assumem parte fundamental nesse processo. Isso porque, através das ações, estabelecemos outras relações com o mundo, alterando nossa percepção e o próprio mundo. Somos capazes de alterar a realidade objetiva. Considerando, então, a profunda integração entre pensamento e ação (indissociáveis, diriam algumas - e eu mesmo) , acredito que a mente seja sim capaz de alterar a realidade através das ações ou não. Não como a Jean Grey, mas próximo, já que os pensamentos possuem base fisiológica e, logo, são formados por relações entre moléculas muito reais cujos movimentos durante um pensamento provocam mudanças na realidade igualmente reais, apesar de não tão evidentes como a Jean Grey levitando carros.
[EDIT]Algo que um amigo me disse que resume bem (ou não) isso tudo: quando vemos uma paisagem bonita, ou qualquer coisa que nos leva à contemplação, estamos tendo uma miração, assim como as mirações que temos na força das plantas (e fungos hehe) de poder. Vivemos na força da vida."[EDIT]
Bora agir!